A Bruxa De Liveway. escrita por belle_epoque


Capítulo 6
Capítulo 6 - Fantasma?


Notas iniciais do capítulo

Agradeço aos reviews de:
> LuLerman
> VincentDeLeon
> Nathalia S
> carolisle
> Hina
> B_M_P_C
> Lilith
...
Beijos,
EUQOPÉ-ELLE3



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Capítulo Seis – Fantasma?



– Anabelle, você está exagerando – meu pai reclamou enquanto me via passar tudo quanto era tipo de produtos de limpeza na mesa que ontem presenciara algo que nem eu queria ter presenciado.

– Estou exagerando?! – eu gritei alarmada. – Você dormiu com a Mery aí. Você acha que isso é exagero?! Na verdade, estou até surpresa de como você conseguiu fazer isso com ela. Logo ela que parece ser tão doce e inocente... Mais do que eu mesma!

Ele virou o rosto e murmurou:

– Ela é doce sim, mas não é tão inocente.

Revirei os olhos não querendo mais ouvir isso. Que nojo, nojo, nojo... Meu pai e uma mulher, em cima da mesa? Isso já aconteceu antes nas outras cidades? Quantas vezes algo assim teria acontecido e eu não sei? Meu Deus, e se eu tiver comido em cima de onde eles... URGH!

– Você está ficando verde – meu pai disse preocupado.

– Acho que é melhor eu fazer umas compras – respondi. – Você vai tratar de desinfetar cada canto dessa mesa! E, quando eu voltar, não quero ver nenhuma... marca nela!

Peguei minha bolsa e saí de casa. Eu estava sentindo tanta raiva do meu pai... Claro que não era porque ele havia dormido com uma mulher – ele também merecia um recomeço -, mas era porque ele havia feito aquilo em cima da mesa! Custava ele se segurar e ir para o seu quarto que nem ficava tão longe dali?!

Comprei algumas coisas que faltava para casa e acabei me esbarrando com as garotas, que compravam docinhos, chocolates, refrigerantes... Elas sorriram para mim ao me verem e vieram até mim.

– Belle! Você por aqui? – Elizabeth disse surpresa.

– Estou fazendo compras para casa – respondi.

– Ah – as gêmeas disseram esclarecidas. – Bem, nós vamos fazer uma festinha particular lá em casa. Você quer vir? Convidamos Érika também.

– Na verdade, queremos mais é que ela conte onde se meteu e o que estava fazendo com Joshua – Anabeth murmurou para mim dando uma piscadela.

Fácil. Essa até eu podia responder.

– Bem, eu certamente não quero voltar para casa agora – eu disse dando de ombros.

Elas sorriram vitoriosas e fomos para o caixa. Enquanto eu contava-lhes sobre o meu pai e a senhorita Nightray. Qual é? Eu sabia de uma fofoca dessas e eu guardaria só para mim? Claro que não!

– Em cima da mesa é? – as gêmeas disseram rindo de surpresas. – Seu pai é bem safadinho, hein.

Elas explodiram em gargalhadas. Claro, não havia sido elas quem pegou seu pai dormindo com uma mulher com cara de santinha em cima da mesa. Rir das desgraças dos outros é mais fácil do que rir das próprias. Mas no fim, eu acabei sendo contagiada pelas risadas das garotas e acabei rindo também.

A casa das garotas era um daqueles casarões bonitos e restaurados de aparência velha. Com pilares em forma de parafuso, cerca branca, grama verde, uma enorme construção branca com belas janelas... A casa era perfeita. Era aquela cara que você adoraria morar com seus filhos e viver “o sonho americano”.

– Vamos! – elas me puxaram para dentro.

Érika já nos esperava no alpendre da casa e sorriu para nós, quando nos viu.

– Olá – cumprimentou-nos.

– Ficou esperando por muito tempo? – as gêmeas perguntaram juntas.

– Não, acabei de chegar – a garota disse e corou ao me olhar.

Ela deveria ter me visto. Dei um sorriso maldoso.

– Vamos começar essa festa! – Anabeth exclamou com um sorriso largo enquanto destrancava a porta.

A casa era incrivelmente espaçosa. Na sala, as garotas arredaram o sofá cor de creme, encostando-o contra a parede. Deixando um enorme espaço vago na frente da televisão, que foi coberto quando elas pegaram um bando de colchões e jogaram no espaço vazio. Sim, iríamos assistir alguns filmes na sala.

– Que tipo de filmes nós vamos ver? – perguntei às gêmeas, que começaram a fechar as cortinas.

– De Terror – ambas responderam virando-se com um sorriso macabro nos beatíficos semblantes, tudo ao mesmo tempo.

Olhei engolindo o seco para olhar para Érika, que também ficou assustada. Na verdade, ela ficou pálida.

– Alugamos muitos filmes interessantes – Elizabeth comentou animada, vindo se sentar conosco. – O Advogado do Diabo, O Diário do Diabo, O Sexto Sentido, O Chamado, O Grito... Falta só uma coisa para ser perfeito!

Temerosa, Érika perguntou:

– E o que seria?

– Garotos! – Responderam as gêmeas ao mesmo tempo.

A campainha tocou.

– Não mais! – Exclamou Anabeth indo atender a porta.

Estiquei-me para tentar ver quem ela tinha convidado. Claro que haviam sido Roman, Josh e mais um que eu não soube dizer quem era. Ele tinha pele branca, olhos profundos e verdes com partículas castanhas, cabelos loiros queimados e uma bela fisionomia. Vestia-se com uma regata branca e uma camiseta xadrez vermelho, com uma calça jeans skinny preta e coturnos.

Assim como Roman, que vestia uma camisa justa em gola V vermelha, calça jeans preta e, também, coturnos.

– Bom dia garotas – cumprimentou-nos entrando na casa, depois de dar um beijo na testa de Anabeth.

– Boa tarde, você quer dizer – Elizabeth corrigiu indo cumprimentá-lo com um abraço.

– Sim, é que faz apenas uma hora que eu acordei, então, para mim é bom dia – Roman explicou rindo, bagunçando os cabelos daquela que lhe abraçou. – Anabelle, eu sinto muito ter te abandonado no meio da dança.

– Sem problemas – respondi dando de ombros, mas com um sorriso amigável.

– “Sem problemas”?! – Anabeth riu. – Você tinha que ter visto Roman, o idiota do Rudolph simplesmente deu em cima da Anabelle um pouco depois de você ter ido fazer sei lá o quê. Ele estava tão idiota e ignorante que se não fosse por tal de Alexander Van Gostosão Cruce, acho que ele iria puxá-la para algum canto escuro e estuprá-la.

Quando elas o sugeriram, acabei sentido um tremor perpassar por meu corpo e flashes de uma imagem conhecida piscar em minha cabeça.

– Cruz credo – eu disse me levantando e fazendo o sinal da cruz. – Não é para tanto.

Mas Roman pareceu preocupado.

– Bem, fazer o quê? Anabelle é bem bonitinha. Só me admiro que Alexander tenha protegido ela – ele disse surpreso. – Pensei que ele te odiava.

– Ele disse que Alice mandou que ele me protegesse – eu bufei.

A ideia de que a Senhorita Franklin tenha mandado que ele me protegesse como se eu fosse uma criança me deixava com uma pontada de raiva. Roman assentiu com a cabeça. Provavelmente se lembrando de suas próprias palavras. Quando ele disse que Alexander faria até o mais repugnante dos trabalhos só para deixar Alice contente.

– Mas quem é o seu amigo? – perguntou Elizabeth, mudando de assunto e piscando para o garoto.

Roman olhou para o garoto que veio lhe acompanhando e explicou:

– Oh, certo. Ele é Daniel Goddart. Veio essa manhã e é meu vizinho. Como eu achei que seria injusto ter quatro adoráveis damas com apenas dois garotos, resolvi convidá-lo. Para ao menos se entrosar com as pessoas da cidade... o que me fez pensar... Por que esses colchões aqui? Por acaso vai rolar uma orgia é?

Sua brincadeira foi de mau gosto, mas apenas Anabeth e Elizabeth riram.

– Como você é maldoso Roman – as gêmeas disseram, dando levemente uma tapa no braço do amigo. – Nós vamos apenas assistir alguns filmes de terror.

– Ah, eu adoro – ele disse animado.

– Eu vou fazer a pipoca enquanto Anabeth coloca o filme – Elizabeth disse. – Érika, você quer me ajudar?

– Hm, claro – ela concordou se levantando e seguindo a gêmea sem mecha.

Voltei a me sentar no lugar onde eu estava antes, Roman sentou-se do meu lado esquerdo e seu novo amigo, Daniel, sentou-se ao meu lado direito. O pobre coitado estava tão tímido por estar com pessoas que ele nem conhece, que ficou caladinho e encolhidinho no cantinho dele. Ou era timidez ou era porque seu olhar estava ocupado de mais perdido na bunda de Anabeth, que engatinhava até o DVD não muito distante.

– E aí? Como foi o seu dia hoje? – Roman puxou conversa comigo.

– Você não faz ideia; foi um pesadelo – eu respondi e ele pareceu assustado. Claro, eu quase nunca tivera um dia tão ruim da minha vida. – Cheguei da sua festa em casa, completamente sóbria e acabada, quando eu encontro ninguém mais e ninguém menos do que meu pai e a senhorita Nightray agarrados em cima da mesa – fiz uma careta.

Roman se matou de rir.

– Agarrados em que sentido? – perguntou rindo.

– No sentido de que eu descobri que ela tem uma marca de nascença no seio esquerdo – respondi.

– Logo ela que tem cara de santinha... – ele murmurou com certo pesar.

– Eu sabia que, para o meu pai, era apenas uma questão de tempo – suspirei. – E você? Onde se meteu durante a sua própria festa?

Roman ficou pensativo por um tempo, bagunçando os cabelos loiros razoavelmente curtos.

– Era meio que... um assunto pessoal – ele respondeu evasivo. – Acho melhor ainda não te contar; fica para mais tarde.

Não é da sua conta Anabelle. Quanto menos você souber sobre as pessoas, é melhor” mandou-me a minha consciência.

Por quê? Por que é melhor quando eu souber menos das pessoas?” indaguei a mim mesma.

Porque eu sei das coisas” foi o que a minha consciência me respondeu.

Dei de ombros. Eu não era nenhuma garota muito curiosa. Na verdade, sempre me disseram que eu era conformada. Porém, eu só penso que se não é da minha conta, não há porque eu insistir, se dizem que é assim, não há porque contrariar. Eu sempre vi dessa forma.

– Muito bem! – Elizabeth voltou para a sala escura, junto com Érika, com várias vasilhas enormes de pipoca. – Qual vai ser o primeiro filme da noite?

A gêmea sem mecha sentou-se ao lado de Daniel, que honrava seu sexo e não tirava os olhos da retaguarda de Anabeth, e essa logo se sentou ao lado da irmã com o controle na mão.

– Vamos começar com algo leve. O Sexto Sentido – Avisou a gêmea com mecha.

Érika se sentou entre Anabeth e Josh. Claro. Uma das gêmeas selecionava as opções no DVD enquanto a outra servia seus dois copos com Vodka. Já, Roman e Daniel, se serviram de cerveja. Érika, Joshua e eu tivemos que ficar sem bebida porque as gêmeas só compraram bebidas alcoólicas. Desculpem se existem pessoas que obedecem à lei.

Roman fazia brincadeirinhas com o filme de vez em quando. Ele chegou até a imitar o garotinho quando ele disse “Eu vejo gente morta”. Fazendo com que Anabeth e Elizabeth revirassem os olhos e dissessem:

– Roman, você já passou dessa fase.

Para Joshua e Érika, não fazia diferença. Afinal, da metade para o fim do filme eles começaram a se pegar feito dois desesperados, quase se comendo em cima do colchão.

– Ei, os quartos ficam lá em cima – brincou Roman bebendo cerveja.

– Se o colchão está aqui, qual é o problema de improvisar? – Daniel brincou.

Roman riu e bateu na mão do novo amigo.

Quando o filme acabou, Elizabeth se levantou para trocar.

– Espere, deixe eu ver se eu entendi – pediu Daniel. – O cara que nos fez passar o filme todo acreditando que estava vivo, estava morto na verdade. E enquanto ele estava morto, ele ficava ajudando o garotinho à lidar com os poderes dele de ver fantasmas?

– Basicamente isso – respondi.

Ele ergueu um dedo e tomou um gole da cerveja.

– E que filme vamos ver agora?

O Chamado! – Elizabeth respondeu enquanto trocava de DVD e batia palminhas.

Eu odiava esse filme. Dava-me muito medo quando a Samara rastejava daquele jeito ou quando ela aparecia. Eu tinha fobia dela. Eu sabia que eu ia gritar muito nesse filme. Só de pensar me arrepiei toda. Dei um pulo ao ouvir a música Suna No Oshiro da cantora Kanon Wakeshima. Bem, era uma música de dar medo.

Roman riu da minha cara. Era apenas o meu celular tocando em uma mensagem do meu pai.

[Onde você está? Esse seu supermercado fica do outro lado do mundo? Ò Ó]

Olha quem está reclamando. O comedor de santinhas.

[Estou na casa de umas amigas. Ontem o dia foi estressante e... Traumatizante para mim > <]

Respondi.

[Volte antes das dez]

Encerrou.

Eu podia ver Roman fungando em meu pescoço enquanto lia minha conversa com meu pai. Ele prendia o riso. Claro, ele é um daqueles garotos que não têm limites, pelo que o seu perfil aponta. Ele, Anabeth e Elizabeth não parecem ter muitos limites, então era ridículo para eles ver uma garota da mesma idade sendo mandada pelo papai.

– Que fofa, a menininha do papai – zombou rindo enquanto apertava uma das minhas bochechas.

– Há há há, vai rindo Roman – eu disse enquanto guardava o meu celular.

– Shhh, o filme vai começar – pediu Elizabeth se sentando e selecionando tudo no menu principal.

Eu queria passar o filme todo de olhos fechados. Eu disse que tinha uma fobia enorme da Samara. Vê-la rastejando me dava pânico. Vê-la escalando aquele poço me dava pânico. A aparência dela me dava pânico. As ligações me davam pânico. As pessoas morrendo no sétimo dia me dava pânico... Tudo me dava pânico!

E para piorar, Roman percebeu meu desespero para ter mais um motivo para rir de mim. Quando eu estava petrificada de medo, comendo pipoca, ele levou uma mão dele vagarosamente ao meu ombro e sussurrou: “Você tem sete dias”. Claro que eu dei um pulo, gritei e joguei pipoca para tudo quanto era lado enquanto ele se dobrava de rir.

– Droga Roman! Isso não teve graça! – eu menti, deveria ter sido engraçado.

– Teve sim! – ele contradisse enquanto todo mundo começava a rir também.

Se ele não fosse meu amigo, teria partido para a briga com ele.

– Shh, essa é a melhor parte – Daniel pediu tirando algumas pipocas de seu cabelo e com o olhar grudado na tela.

Cobri meus olhos com as mãos, totalmente traumatizada. Não queria ver aquele filme, e sabia que pior seria com O Grito, outro filme de meus maiores pavores.

– Tá, acabou Anabelle, já pode parar de agir feito uma criancinha assustada – Anabeth disse enquanto ia trocar de filme, rindo da minha cara. – Agora vamos ver O Grito.

Roman e Daniel riram de mim. Como se eu tivesse culpa de ser medrosa. Àquela altura, Joshua estava praticamente em cima de Érika, ambos se beijando, quase se comendo.

– Pelo amor de Deus, aqui ainda é uma casa de família, mesmo que não pareça – Elizabeth disse revirando os olhos e como resposta recebeu um gesto obsceno com o dedo vindo de Josh. – Ei, aqui ainda é nossa casa!

– Hm, vocês tem refrigerante aqui? – perguntei para as garotas.

– Na cozinha – bufaram as gêmeas em conjunto.

– Ah, trás para nós também, por favor, Isabelle – Érika pediu envergonhada.

– O.K. – Eu disse me levantando.

Andei até um arco largo que se encontrava atrás de onde os garotos estavam, e que levava a cozinha. Ela, diferente da sala que estava sombria e escura, era completamente branca e preta. O chão de ladrilhos brancos, as paredes de ladrilhos pretos até a metade, onde começava uma pintura branca. Fui até a geladeira e peguei três latas de Coca-Cola.

Vir-me-ei para a sala e pelo arco vi algo que me encheu de tanto medo que deixei uma latinha cair de minhas mãos. Enquanto meu coração se enchia de pavor.

Você sabe quando pensa que vê uma coisa assustadora, e depois você fica se perguntando se é apenas sua imaginação ou se é real? E nesse meio tempo o seu coração perde várias batidas somente porque você está crente do que viu e não quer acreditar?

No caso, eu estava olhando-a e ela me olhava de volta. Mas parecia que ninguém mais a via.

Ela estava ali.

Parada bem atrás de Roman. Uma translúcida silhueta branca e levemente brilhosa, com formas poucos nítidas, mas que deixavam claro o seu sexo feminino. Foram apenas por segundos, mas eu tinha certeza que foram horas de sua figura me encarando e eu encarando-a de volta.

Mas foi quando ela sumiu misteriosamente que meu coração entrou de desespero, principalmente depois de ela ter se materializado à minha frente. Cabelos ondulados e longos, olhos claros, sorriso estranho nos lábios, tocou no meu rosto e eu nada senti além de uma leve brisa.

Cuide dele” me pediu e sumiu.

Demorei um tempo para raciocinar. Fiquei em choque. Já nenhuma latinha de Coca-Cola estava na minha mão e ainda sim segurava o vento. E depois, depois de ter absorvido todos os absurdos daquele momento, gritei feito uma louca quando a ficha caiu. E eu não sabia que ficha havia caído.

– Caramba o filme ainda nem foi ao play e o grito já começou – Érika fez a brincadeira sem graça.

Mas isso não me fez parar de gritar feito uma desesperada.

– Anabelle, o que houve?! – Roman perguntou assustado. Parei para tentar responder e respirar, mas eu não consegui. – Que foi? Ainda está traumatizada com O Chamado?

Pensei se deveria contar. Eu estava tremendo, tinha consciência disso, e sabia que ele também deveria estar sentindo minha mão tremendo enquanto a segurava, mas ele acabaria dizendo que eu sou louca se dissesse que uma figura estranha havia se aproximado de mim e me tocado. Pedido para eu tomar conta de alguém. E eu não queria acreditar no que aquilo poderia ser.

Um fantasma?

Só em pensar na palavra eu me arrepiei toda.

Fantasmas não existem Anabelle” minha consciência apitou.

– Preciso ir para casa – eu disse trêmula, querendo ir embora.

Roman não soltou a minha mão, portanto não me deixou ir.

– Aconteceu alguma coisa? – perguntou preocupado.

– Você vai dizer que eu sou louca – respondi com um suspiro.

– Então aconteceu alguma coisa – ele declarou cruzando os braços.

– Eu acho que vi um fantasma – contei desesperadamente séria.

Eu vi que ele ficou calado, mas seus olhos expressavam o quanto ele queria rir da minha cara e fazer uma piadinha que me deixaria constrangida. No entanto, esperei uma reação digna dele ou de qualquer outra pessoa que me olhava como se eu fosse louca.

– Fantasma é? – pareceu despreocupado, então me puxou pelo ombro para um canto da cozinha. – Será que sobrou um desses que você fumou para mim também?

Empurrei-o chateada.

– Roman, é verdade! – eu exclamei. – Você não a viu? Ela estava parada bem atrás de você!

– Não – ele respondeu e se matou de rir, mas então parou bruscamente. – Bem, não precisa ficar assustada. Se ela não fez nada a você, vai ver ela não é muito perigosa.

– E-eu... – gaguejei. – Ela me pediu para cuidar dele. Só que eu não sei quem é ele. Mas estou assustada. Eu a vi tão claramente, tinha cabelos ondulados, olhos claros... chegou até a me tocar! Claro que eu não senti quase nada além de uma brisa, mas...

– Shhhh – interrompeu-me bruscamente pondo o indicador na minha boca. – Anabelle, eu acredito em muitas coisas. Vampiros, lobisomens, bruxas, anjos, demônios e até mesmo zumbis, mas eu não acredito em fantasmas. Nunca vi um e creio que eu não vá ver agora. Acho que você deve ter imaginado coisas por causa do filme de terror...

– Mas eu vi! – teimei batendo o pé.

Sua boca se transformou em uma linha divertida enquanto ele tentava conter a risada que provocava soluços em seu peito.

– Qual é a graça? – perguntei chateada, cruzando os braços.

– Você parece uma criancinha – ele respondeu explodindo em gargalhadas.

Dei um soco em seu ombro.

Caramba eu vi um fantasma e ele fica rindo da minha cara? Roman é tão... Gostoso, divertido, com ótimo senso de humor, cabeça dura, mas muito irritante às vezes. Eu pensei que ia ter um ataque cardíaco quando vi aquela figura translúcida na minha frente.

– Vou embora – disse perdendo a paciência.

­- Ah, espera, não precisa ficar chateada. Você pode ser uma louca que vê alucinações, mas ainda é minha amiga – ele disse, abraçando-me, como se quisesse que eu me sentisse melhor com sua declaração. – Posso te internar em uma clínica e te visitar todos os finais de semana... – Tá agora ele estava me provocando.

Dei uma tapa em seu peito, levemente musculoso e me livrei de seus braços.

– Vou para casa – disse recolhendo os refrigerantes que deixei cair na hora do susto.

– Não fique magoada, eu estava só brincando – ele pediu pegando uma latinha das minhas mãos. – Vamos voltar para a sala e ver o filme, sim? – pediu fazendo cara de cachorrinho pidão.

Suspirei contrariada. Fiquei encarando aquele brilho de permissão nos olhos do garoto incrivelmente lindo à minha frente. Acabei suspirando e cedendo. Ele, claro, sorriu vitorioso e me rebocou para a sala. Entreguei os refrigerantes para Érika e Josh, enquanto Roman segurava o meu. Olhei ao redor para ver se aquele Gasparzinho havia sumido, e percebi que sim. Quando passei pelas gêmeas, elas me lançaram um olhar assustadoramente malicioso e me fiz de desentendida.

E isso me fez pensar se eu realmente estava louca.

Sentei-me ao lado de Roman, que ainda segurava o meu refrigerante, e que agora dava pequenos petelecos ao redor da latinha de Coca-Cola. Arqueei uma sobrancelha com aquela frescura.

– O que você está fazendo? – perguntei com incredulidade.

Ele deu um meio sorriso e apontou para Josh e Érika.

O casal abriu o refrigerante ao mesmo tempo, e, no mesmo instante, o refrigerante explodiu na cara de ambos os meus amigos. Caímos na gargalhada, Roman, eu – mesmo que me sentisse incrivelmente culpada -, Daniel e as gêmeas.

– Desculpem – pedi entre risadas. – Esqueci de dizer que lá na cozinha, a Coca-cola caiu da minha mão.

O casal me lançou um olhar de puro ódio, como se dissessem que ia ter volta. Engoli em seco e olhei para Roman. Ele apenas voltou a dar petelecos em volta da Coca-Cola e eu me encolhi quando vi sua mão ir para o anel do refrigerante e puxá-lo. Mas não explodiu e ele riu da minha cara me passando o refrigerante.

Dei um gole e olhei para a televisão, porém, uma hora não consegui me concentrar no filme. Cara, como eu era frouxa! Passei o filme todo olhando para a parede ou para qualquer outra coisa que não fosse o maldito filme. Até Roman segurar a minha mão e sussurrar no meu ouvido: “Medrosa”.

Quando consegui assistir a todos os filmes, resolvi ir embora para casa. Roman e Daniel, claro, me acompanharam até a minha casa, que ficava no caminho de ambas.

– De onde você veio? – perguntei aquilo que qualquer um perguntaria à Daniel.

– Nova York – ele respondeu timidamente.

– Eu também – respondi sorrindo amigavelmente. – Me mudei semana passada.

– Então você não nasceu aqui? – perguntou curioso.

– Não – respondi. – Mas meu pai sim. Ele é um guitarrista de uma banda famosa dos anos 80, saiu de casa quando tinha dezenove anos para fazer sucesso. Conheci quase o mundo todo com ele, mas nunca ficávamos tempo suficiente para criarmos raízes – eu dizia. – E você? A que veio?

– Minha mãe se separou do meu pai e precisava de um tempo – ele respondeu dando de ombros.

– Oh – foi tudo o que eu disse parando enfrente à minha casa. – Bem, foi legal te conhecer. Até amanhã Roman.

Meu amigo, um pouquinho enciumado pela conversinha com Daniel, deu um tchauzinho com um sorriso duro e eu entrei em casa. Aliviada pela casa estar sem papai e sem nenhuma senhorita bancando mamãe e com a mesa completamente limpa.



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