A Bruxa De Liveway. escrita por belle_epoque


Capítulo 16
Capítulo 16 - Minha Decisão.


Notas iniciais do capítulo

Bem, caramba... Não acredito que esse é o último desta temporada... Bem, acreditem, essa foi uma das menores fics que eu já escrevi até agora xD.
E acreditem, está doendo mais em mim do que em vocês terminar essa história TT-TT
...
Agradeço aos reviews de:
> Hina
> miss yuuki
> FranHyuuga
> Nathalia S
> Lili - Emanuelle
> LuLerman
> IsisSalvatore
> Stefany_Zanone
> MirianRamos
> Lilith
...
Beijos,
EUQOPÉ-ELLE3
...
GENTE, ÚLTIMO CAPÍTULO... QUE TAL UMA CHUVA DE RECOMENDAÇÕES HEIN?! O.O PONHAM A MÃO NA CONSCIÊNCIA DE VOCÊS!...
Bem eu colocaria minhas mãos na minha consciência se ela fosse como o Thanatos *.*



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Capítulo XV – Minha Decisão.

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- Não! Não! E não! – meu pai gritou mais uma vez. – Eu já disse que você não vai dormir no mesmo quarto que a minha filha!

Franzi o cenho com tamanha gritaria, logo depois das seis horas. A verdade é que eu ainda estava cansada depois de tudo aquilo que eu passei ontem. E acordar com um garoto de dezesseis anos, que pesa uns cem quilos de puros músculos, deitado ao seu lado, não ajuda em nada quando você só quer pensar que a última semana da sua vida foi um pesadelo.

E agora... Bem, digamos que parece briga entre judeus e palestinos.

Minha casa se tornou um barril de pólvora.

- Ah, é mesmo?! Eu já dormi no mesmo quarto que Isabelle e vou voltar a dormir! Quero ver você repetir isso! – desafiou Thanatos.

- Eu já disse e volto a dizer: Você não vai dormir no mesmo quarto que a minha filha! – meu pai gritou pela milésima vez com o meu Guardião.

Bem, digamos que Henry Malback não estava reagindo bem à presença de Thanatos em nossa casa, nossa vida e, bem, em nossa família. Na verdade, eu sabia que meu pai adorara a ideia de eu ganhar um “irmão gêmeo”, ele sempre quis ter um garoto também, porém, eu sabia que ele também não estava gostando muito de esse garoto ter pulado a infância e a pré-adolescência para a fase adolescente rebelde e que adora uma discussão.

Eu sabia, também, que Thanatos adorava o meu pai. Só pelo fato de ele sempre arrumar confusão com ele. Percebi que meu Guardião tinha um jeito “peculiar” de demonstrar afeto. Comigo, ele é sincero até demais – falando aquilo que eu quero e não quero ouvir -, mas há horas em que ele fica verdadeiramente preocupado, que chega a ser fofo. Já com o meu pai, ele o provoca, e, pelo incrível que possa parecer, isso é praticamente uma declaração de amor para ele.

Thanatos é apenas indiferente com aqueles que nada representam para ele.

Thanatos era assim, mas não era de todo mal, como eu acreditava que fosse. Ele é um bom garoto cuja alma sofreu, e agora está dentro de um corpo de um “bad boy”. Eu gosto deste lado de Thanatos. Faz parecer um irmão mais velho de verdade, eu sempre quis ter um irmão. Ser filha única pode ter seus mimos, mas é sempre uma vida solitária.

- Eu já disse que, se eu ficar no mesmo quarto que Isabelle, eu vou protegê-la melhor! – ele discutiu, adorando ver meu pai vermelho de raiva.

Henry suspirou e apertou a ponte do nariz, em sinal de paciência estourando, e eu apenas sorri. Parecia realmente a cena de uma família comum, se não fosse pelo tópico da conversa que os dois tinham.

- Eu sei o que você quer proteger melhor! Mas eu mantenho olho vivo porque sei que cavalo não desce escada! – meu pai disse fazendo um tradicional gesto de “estou de olho em você”, que ele chegou até a lançar para David. – Você vai dormir no meu quarto.

Thanatos abriu a boca para rebater quando a campainha soou pela casa. Notícia boa: consegui convencer o meu pai a tirar aquela porta de vidro. Tudo bem, os créditos não são meus, mas sim de Thanatos. A personificação de meus desejos.

Nós mal havíamos chegado quando Thanatos pegou uma pedra do lado de fora e atirou na porta de vidro. Quebrando-a em incontáveis pedaços. Quando meu pai abriu a boca para brigar, Thanatos apontou para mim e disse:

“Esse era o desejo reprimido de Isabelle.”

Traidor! Eu sei. Mas meu pai só suspirou e concordou em providenciar uma porta o mais rápido possível. Agora era uma comum de mogno.

- Podem continuar brigando aí. Eu vou atender – eu disse. – Ah, mas deixem um soco para eu ver depois. Adoro Luta Livre.

Ao abrir a porta eu sorri.

- Titia! – exclamei abraçando-a.

Encontrei o sorriso dócil de Alice Franklin, minha... Tia. Ainda não me acostumei em chamá-la desta forma. Mas era incrível que, quando ela aparecia na minha frente, era a primeira palavra que parecia se formar na minha cabeça.

- Oi querida – murmurou para mim com um sorriso. – Olá Thanatos. Henry, como vai?

Os dois resmungaram cruzando os braços, com sincronia. Alice me olhou com dúvida e eu fiz sinal para que ela nem perguntasse.

- Vim para levar Isabelle e Thanatos para comprarem umas roupas – informou.

Alice admitiu que lhe incomodava me ver sempre de preto, então ela se ofereceu para me levar para fazer compras. Quando lhe contei que as roupas do meu pai não cabiam em Thanatos, ela o incluiu no programa também. Eu não culpava Thanatos por isso, meu pai era magrelo e quase sem músculos, enquanto Thanatos tinha uma altura maior e músculos brutais.

- Ah, sim. Ela me falou algo a respeito. Vão com ela e não torrem mais a minha paciência – mandou irritado.

Eu apenas ri e dei um beijo na sua bochecha, depois puxei Thanatos pelo seu braço para fora de casa. Alice riu e nos seguiu para o seu carro, que era um Land Rover prateado.

- Esse carro não combina com você, Alice – eu disse.

- É porque ele não é meu, é do Alex – ela respondeu apontando para o vampiro que estava lá dentro, esperando. – O meu é o impala, só que eu o emprestei para ele porque este estava no conserto.

Eu concordei com a cabeça e entrei no banco de trás com Thanatos.

- E aí sociopata? Sentiu saudades? – provocou o meu Guardião, dando uma tapa amiga no ombro do vampiro, que ficou revoltado com o gesto de “intimidade”.

- Sociopata? – repetiu ultrajado e me fuzilou com o seu olhar.

- Desculpe Alexander – pedi. – É que você era meio grosseiro e impulsivo... Eu tinha a ideia de que você é um sociopata. Desculpe-me.

Ele rosnou para mim, mas deu partida em seu carro.

- Bem, sem títulos pejorativos, por favor – Alice pediu.

- Se você quer saber, Isabelle, Malback nem é um sobrenome descente! Só por poucas letras e eu poderia dizer que você deveria ir plantar os seus parentes*... Não me admiro que seu pai bebesse tanto  – ele retrucou.

Fiz-me de ofendida.

- Ah, é?! Eu ouvi que Cruce é cruz em romeno! Não é um nome meio irônico para um vampiro?!

Ele rosnou para mim com um olhar assassino. Eu jurava poder sentir as mãos dele me esganando se elas não estivessem no volante do carro.

- Crianças! Crianças! – pediu Alice. – Parem com isso, por favor.

Alex apenas dobrou uma curva e resmungou:

-... Vou cavar uma cova especialmente com o seu nome.

Alice revirou os olhos.

- Está ai, uma coisa que Isabelle sempre quis saber: De onde surgem tantos corpos para você enterrar? Chegamos até a cogitar que você era um psicopata... – Thanatos comentou.

Eu respirei fundo. Havia momentos em que eu queria calar Thanatos. Com minhas mãos... Apertando o seu pescoço. Mas não podia. Eu havia dito a ele que nunca passara pela minha cabeça me livrar dele... Quase pude ouvir a minha consciência dizendo “mas isso foi antes...”. Mas me lembrei que ela havia sumido, porque Thanatos era a minha “consciência”.

Vi Alexander fuzilar-me com o olhar pelo retrovisor.

-Talvez eu realmente seja um psicopata – ele disse. – Aqueles túmulos são das mulheres que eu mato quando estou com sede.

O clima ficou tenso e eu olhei de soslaio para Thanatos. “satisfeito?” dizia o meu olhar. “Muito” dizia o seu.

- E por que você não matou aquele homem? – indaguei.

Ele abriu a boca para responder, mas a resposta veio de Alice:

- Ele não pode matar ninguém sem a minha autorização.

Ela sorriu.

Eu pensei em uma coisa... Mas não podia ser...

- Isabelle quer saber se aquele barulho no seu porta-malas quando você deu carona à ela era o corpo da ruivinha que você estava se agarrando na festa do Roman – Thanatos comentou.

- Thanatos! Cala a boca! – mandei corando de vergonha. – Acho que eu mesma posso verbalizar os meus pensamentos.

- Se você quer saber, era sim – ele respondeu. – Ela soube da transformação de Roman no dia da festa dele e me ajudou a acobertá-lo, mas acabou sendo morta por ele e eu tive que levar o corpo dela – comentou estacionando o carro. – Por isso, tome cuidado aonde se mete Malback. O perigo existe em todo o lugar.

Olhei feio para Thanatos, e ele riu.

Saímos do carro e nos separamos. Alice foi comigo para aquela loja de roupas femininas – a loja de (Urgh!) Evelyn – e Alexander e Thanatos foram para uma loja de roupa masculina do outro lado da rua.

Cecília, a ruiva atendente, havia guardado as minhas roupas daquele dia e me mostrou algumas poucas novidades, por isso, foi mais fácil escolher quais comprar. Na hora de pagar, Alice se ofereceu, mas eu pedi para que déssemos apenas esse gostinho ao meu pai, o de comprar alguma roupa colorida para mim. Então passamos tudo no cartão de crédito dele.

Os garotos demoraram mais do que nós duas. Chegamos até à cogitar que Alexander teria matado Thanatos depois de tanta besteira dita por meu Guardião. Porém, ficamos aliviadas quando eles apareceram segurando algumas sacolas. Dei as minhas para o meu “gêmeo” e ele me olhou feio.

- Ei! Por que eu tenho que levar as suas sacolas? – perguntou brabo.

- Porque você é o meu Guardião e tem que cuidar de mim – respondi com um sorriso angelical. – Sem contar que você é bem mais forte.

Ele suspirou e pegou as sacolas, dando de ombros.

- Como foi Alex? – indagou Alice, rindo da expressão de poucos amigos.

Ele me fitou com cansaço em seu olhar.

- Parabéns, Malback. Consegui encontrar alguém tão ou mais irritante do que você – ele respondeu.

Thanatos deveria ter se sentindo ofendido, mas, ao invés disto, ele sorriu com satisfação do resultado obtido e fomos para casa.

Chegados à nossa residência, a discussão sobre dormir ou não no meu quarto se reiniciou bastando o Guardião por um pé para dentro da casa. Até que Thanatos, vencido pelo cansaço e tédio, concordou em dividir o quarto com o meu pai, até fazerem um novo quarto para ele.

- Mas eu fico com a cama! – impôs correndo para o quarto do meu pai.

- Ora, seu...! – meu pai foi atrás dele como se fossem irmãos.

Alice riu e Alexander suspirou, passando as mãos pelos cabelos acobreados.

- Acho que já vamos então... – ele começou.

- Vá à frente Alex. Tenho que conversar com Isabelle a sós – Alice pediu.

Alexander prontamente atendeu indo para o carro. Parecia um cachorrinho ao atender um comando do dono. Quase consegui imaginar uma orelha e rabo de cachorro. Se ele não tivesse o temperamento que tem, seria até fofo.

Esperei Alice.

- Quero falar sobre a sua relação com Roman – suspirou.

- Como... ? – ia perguntar, mas me lembrei. – Ah, certo “Alice sabe de tudo”.

- Na verdade, Roman foi chorar suas mágoas para mim – Alice suspirou. – Mas isso não é importante. O que interessa é: Isabelle, você o ama?

Eu ruborizei com a sua pergunta clara e direta.

- Bem... eu...

- Seja sincera – pediu.

Eu abaixei a cabeça e respondi:

- Eu acho que não.

Alice passou um braço em torno de mim, abraçando-me de lado, e andou pela sala de estar comigo.

- Isabelle, Roman é um lobisomem, e você pode acabar se machucando se ficar brincando com ele desta forma – aconselhou-me.

- Mas eu não tive a intenção de brincar com ele... Ele me faz bem! – eu me defendi. Do jeito que ela colocara, parecia que eu era uma garota malvada. – Eu... Um dia vou aprender a amá-lo.

Ela se posicionou na minha frente e pôs as mãos nos meus ombros.

- Isabelle... Ninguém pode aprender a amar ninguém – ela disse suavemente. – Amor não é algo que se aprende ou se ensina. Ele pode te fazer bem agora, mas se continuar assim, ele não vai te fazer feliz e você não vai fazê-lo feliz. Um dia ainda vai aparecer alguém que te faça melhor.

- Do jeito que todos vocês falam, parece até que é errado eu namorar Roman só porque eu me sinto atraída por ele – eu disse. – Quantas garotas namoram sem amor? Parece até que um namorozinho de ensino médio vai durar a vida toda.

Alice suspirou.

- Escute, com Roman, um “namorozinho do ensino médio” pode durar a vida toda. Isabelle, ele gosta de você agora, se você o decepcionar é claro que ele vai te perdoar, mas, quando ele se transformar em lobo, poderá acabar te machucando mesmo que sua consciência não queira que ele o faça – Alice contou. – Por isso, saiba bem o que você está fazendo.

Ela estava certa.

Roman era um lobisomem e eu não podia me esquecer disso.

Ele não se lembra do que faz quando se transforma em lobo, não se lembra nem de ter visto a própria mãe morta! Ele poderia acabar cometendo um erro, mesmo que não quisesse. Eu duvido que Roman me “amasse” e duvido que ele me veja como um caso sério, mesmo assim, ia contra a minha moral me envolver com ele sem um sentimento maior do que “atração”.

Minha tia deu um beijo em minha testa e se despediu.

- Espere! – eu pedi um instante, e corei ao ver como meu tom soou petulante. – Se Roman é... Razoavelmente “perigoso”, porque você colocou um lobisomem e um vampiro para me protegerem? Ou será que era justamente por eles que você me pedia para ter cuidado à noite?

Ela suspirou.

- Isabelle... Eu sou uma bruxa. E como bruxa... Às vezes sou capaz de prever o futuro... Eu vi... Que algo muito ruim iria acontecer contigo. Só não sei com precisão o que seria ou quando seria. Por isso mandei Roman e Alexander te protegerem.

Fiquei sem ter o que dizer. Havia algo em sua voz... Que me assustava. Ela não estava doce e calorosa, ela soava calma, mas sombria. Mesmo assim, ela se aproximou de mim e pousou suas delicadas mãos pálidas em meus ombros, enquanto seus olhos azuis claros sustentavam o meu olhar.

- Isso tudo... Foi só o início – murmurou parecendo preocupada. – Infelizmente, para você, sua vida e sua mente passarão por grandes mudanças... E eu não sei durante quanto tempo mais, eu poderei continuar aqui para você. Protegendo-te e cuidando de você. Ensinando-lhe o que eu sei.

Um bolo rouco se formou em minha garganta seca. O jeito com que ela falava... Parecia a prévia de uma despedida. E eu não gostei de como isso soou.

- Alice... – Eu quis fazer uma pergunta.

Ela me interrompeu com um beijo em minha bochecha.

- Até amanhã, Isabelle – sussurrou com um sorriso afetado.

E minha vida se complicava cada vez mais... Mas eu não me preocupei com o fato de Alice, poder ou não ver o futuro. Eu pensava no modo como sua voz calorosa e receptiva soara tão frágil e triste. E eu senti um aperto enorme no peito quando ela passou pela porta. Era um aperto onde ficava o meu coração. Era um aperto de angústia.

Então decidi pensar em Roman e na escolha que eu faria.

Todos me diziam para não namorar Roman sem sentir algo intenso por ele. Eu não era do tipo de pessoa que era “Maria vai com as outras”, mas eu estava começando a achar que era realmente perigoso. Só de pensar em ele como lobo rosnando para cada garoto que se aproxime de mim... Deixa-me receosa.

Mas eu também jamais poderia dar qualquer tipo de felicidade a ele sem corresponder seus gestos na mesma intensidade, certo? E se eu fizesse tanto mal a ele quanto a mim mesma? Eu poderia acabar colocando-me em sério perigo... Deve ser realmente bem perigoso brincar com os sentimentos de um lobisomem.

Às vezes, tudo o que eu mais quero, é esquecer tudo e me trancar no meu quarto.

- Toc toc – disseram batendo na porta.

Era Roman.

- Você não morre cedo – eu disse, virando-me para encará-lo.

Roman deu um meio sorriso, encarando-me da soleira da porta.

- Alexander me contou, mesmo que de mau gosto, o que aconteceu e vim ver como você estava – ele respondeu. – Ontem recebi uma ligação e tive que ir direto para casa, nem deu para passar no trabalho, sinto muito.

- Ah – foi o que eu disse, desconfortável com a sua presença.

Ele também colocou as mãos nos bolsos de sua calça jeans, parecendo tão desconfortável por estar sem assunto, quanto eu.

– Bem... Eu estou bem.

- É. Eu estou vendo – ele sorriu para mim.

O peso na minha consciência foi enorme e ele se aproximou.

Suas mãos seguraram o meu rosto e ele se inclinou, mas eu recuei.

- Roman – eu murmurei me afastando. – Eu não quero te magoar.

Ele fez uma expressão divertida e cruzou os braços.

- Eu pensei que fosse eu quem magoasse e usasse as mulheres – ele disse.

- Eu não gosto de você como você gosta de mim – eu tentei explicar e o seu cenho se franziu. – Eu gosto de você como o bom amigo que você é não como... bem, como eu gostaria de qualquer outro garoto.

Ele sorriu e voltou a se aproximar.

- Do jeito que você está falando parece até que eu estou te pedindo em noivado ou casamento – ele disse achando engraçado. – Não é como se eu estivesse querendo ter algo sério com você.

Eu franzi o cenho e ele puxou meu rosto para mais perto do seu. Com a mão pousada em meu queixo.

- Sem compromisso? – pediu-me, embriagando-me com o seu hálito quente.

Tirei a sua mão quente de meu rosto e recuei protetoramente. Esse seria o momento em que eu diria algo do qual me arrependeria, ou não. Talvez chegasse um momento em que eu faria agora a escolha mais inteligente da minha existência, mas que, ao olhar para trás, não passasse de um erro.

- Roman, você tinha razão – eu disse convicta. – Eu não sou garota de ficar com um garoto sem sentir nada por ele. Você é o meu melhor amigo, mas não é o meu príncipe encantado. Desculpe.

Eu não sabia se ele estava com raiva e mágoa, mas – se ele sentiu – não demonstrou. Roman apenas suspirou e deu um sorriso que, para mim, foi doloroso assistir. Encolheu-se um pouco como se para se defender de mim, como se por um instante eu demonstrasse uma ameaça a ele e seu jeito de ser.

- Acho que eu já contava com isso – murmurou, mas eu duvidava que ele contasse com a minha rejeição. – Se não, o meu orgulho doeria mais do que está doendo agora.

Eu não entendi o que ele quis dizer com isso. Seu orgulho? Talvez fosse porque, depois de tantas tentativas, ele ainda tenha sido rejeitado por mim no fim. Desde que ele me conheceu, ele se insinuava com piadas galantes, com cantadas, com tentativas frustradas e quando ele estava perto de conseguir aquilo pelo qual ele havia batalhado... Eu havia estilhaçado os seus sonhos. Isso deveria ser a maior crueldade do século.

Sem mais nada para dizermos um ao outro, ele me deu um beijo na bochecha. Mostrando-me um sorriso de quem não deixaria isso abalar a nossa forte amizade. Forte, não só porque agora eu sei o que ele é não tenho medo, mas sim porque confiávamos nossas vidas um no outro.

- Acho que vou para casa chorar como uma garotinha rejeitada agora – ele disse dramaticamente, rindo em seguida para mostrar que era uma brincadeira.

Mas eu não consegui rir.

- Relaxa, era só uma brincadeira – ele informou. – Até parece que eu vou ficar deprimido porque levei um dos primeiros foras da minha vida.

- Você sorri o tempo todo e faz graça até com a sua própria dor... Como eu faço para diferenciar quando você está sofrendo de quando você está brincando? – perguntei confusa.

Ele jogou a cabeça para trás e gargalhou.

- Eu nunca sofro, Isabelle. Sabe por quê? – perguntou. Eu neguei com a cabeça. – “Sempre haverá uma moça bonita para esquentar a minha cama nos invernos”. Vivo com estoicismo – repetiu.

Ele se despediu e se dirigiu a porta.

- Mas, sabe, por um lado... É bom que você não queira namorar comigo – ele comentou se virando para mim. – Eu odiaria... Se algo acontecesse com você.

- Você se refere ao fato de você ser um...

Percebi que ele estremeceu de leve e negou vigorosamente com a cabeça.

- Não. Não é por isso – ele deu de ombros, mas havia um martírio estampado em seus olhos azuis escuros. – Eu preciso ir agora. Vejo-te mais tarde.

Quando ele saiu da sala de estar, e consequentemente de casa, caí sentada no sofá, sentindo-me aliviada por tudo sair bem.

- Você fez a coisa certa – Thanatos disse se sentando ao meu lado.

Não me admiro que ele saiba do que eu passei agora a pouco. Ele podia ler minha mente, meus pensamentos... E provavelmente estava ouvindo atrás da porta com o meu pai, porque de repente a casa ficou bem silenciosa. Sem a discussão dos dois.

- Fiz? Eu não estou com esse pressentimento – eu disse.

- Você fez sim – ele insistiu. – Pode parecer um erro agora... Mas irá se tornar um acerto no futuro.

Ele falou com segurança, mas eu realmente me questionei se, assim como Alice, ele também teria o poder de prever o que estaria a seguir.

 “Isso tudo... Foi só o início”, certo?


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Notas finais do capítulo

* Eu sei, confuso e sem graça. A verdade é que Malbec é um tipo de uva usado na fabricação de vinhos. Eu sei, não sou muito engraçada >
...
ESTE É O ÚLTIMO CAPÍTULO DE A BRUXA DE LIVEWAY
não sei se alguns de vocês sabem, mas isso é uma série então vai ter uma sequência de outras histórias também que serão continuação.
Na sequência:
2 - O Lobisomem de Liveway (Que será postado no dia 02.04.12)