A Bruxa De Liveway. escrita por belle_epoque


Capítulo 12
Capítulo 12 - Eletric Chapel.


Notas iniciais do capítulo

Bom dia!
Agradeço aos reviews de:
> LuLerman
> Emanuelle
> miss yuki
> Lívia Patrícia - bem vinda
> Lilith
> Thalia - bem vinda
> carolisle
> Hina
> Nathalia S
> VincentDeLeon
> Lucy1997
> Stefany_Zanoni - Ah, obrigada por me avisar do problema, já resolvi - pelo menos acho que sim. E seja bem vinda.
...
Talvez eu demore um pouco para responder aos reviews, mas vou responder, OK? Tenham paciência xD
Ah, antes que eu me esqueça, fiquei sabendo que no Nyah proibiram usar um capítulo para postar fotos com imagens de personagens, então eu fiz um blog com as fotos de algumas recomendações para em quem me baseei para fazer meus personagens...
http://liveway-world.blogspot.com/
Acho que até o fim do dia, eu consiga colocar todas as fotos lá
...
Beijos,
EUQOPÉ-ELLE3



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Capítulo Doze – Eletric Chapel.

Cheguei à minha casa em segurança, mas em prantos. As lágrimas eram simplesmente incontroláveis. Era muita loucura para uma só pessoa. Porém, para o meu choque, Daniel estava me esperando na frente de casa. Eu não o esperava ali. Com tudo o que aconteceu, eu havia me esquecido de nosso “encontro” no Eletric Chapel.

Ao me lembrar, senti receio.

- Daniel? - perguntei confusa.

- Oh, desculpe. Cheguei em uma má hora?  - ele perguntou desconcertado, eu não sabia se era por causa das minhas lágrimas ou por não ter me dito que apareceria na porta da minha casa.

Eu suspirei e dei de ombros. Sequei as lágrimas, me sentindo levemente mais distraída com a sua presença ali. Eu era alguém que me distraia facilmente com a presença de outra pessoa. Talvez eu ainda ir para o Eletric Chapel não fosse tão ruim.

- Não – eu disse tentando sorrir. – Desculpa, é que aconteceram muitas coisas recentemente e estou meio abalada.

Ele me olhou de cima a baixo, eu deveria estar deplorável.

- Eu entenderei se você não quiser mais ir... – ele começou.

- Não. Eu quero ir – apressei-me em dizer. – Entre, eu vou só trocar de roupa e refazer a maquiagem. O.K?

Ele deu um sorriso mais aliviado, e entrou em casa. Deixei-o na sala de estar e fui para o meu quarto. Arrumei-me novamente. Colocando a minha calça jeans preta e justa, e uma regata cinza. Tive que refazer toda a minha maquiagem básica, menos o rímel que era aprova d’água.

- O.K. Vamos lá – eu disse enquanto guardava a minha carteira na bolsa. – Seja lá onde Eletric Chapel fique... Daniel, como é que você conhece esse lugar e eu não?

- Roman me levou para dar uma volta no bairro comercial uma vez – ele explicou.

Foi instantâneo. Ao ouvir a palavra Roman, não pensei no meu amigo divertido e malicioso, pensei no lobo branco que rosnou para mim. Senti meu coração perder algumas batidas e tenho quase certeza de que empalideci.

Diversão. Diversão. Tente não pensar nessa loucura agora” minha consciência avisou e eu concordei com a cabeça.

- Certo, então vamos – eu concordei abrindo a porta de correr.

Andamos lado a lado. Como ele não era de falar nada, a caminhada foi silenciosa e calma. Ele nem tentou puxar assunto. Talvez estivesse nervoso de mais para pensar em fazê-lo. E eu apenas estava receosa me perguntando se eu era realmente a garota de que Daniel falara ou se eu era outra pessoa.

Eletric Chapel era um lugar interessante.

De portas estreitas, com placa em neon, de entrada rústica e aparência de boate. Hm, então era um bar... ou uma boate. Acho que os dois. Ele me puxou para dentro.

Lá dentro tinha um cheiro de cigarro misturado com álcool. O bar era um pedaço grosseiro de madeira polida, com bancos altos à frente. O lugar era entre o escuro e entre luzes quentes e de cor amareladas. As mesas cercavam a pista de dança onde um jogo de luz piscava intensamente.

Era um lugar que passava aconchego.

Daniel pegou a minha mão e me levou até uma mesa desocupada e nos sentamos.

Olhei ao redor, rezando fervorosamente que eu não fosse a garota que Daniel gostava. Seria constrangedor. Eu não sabia nem como agir com Roman... quanto menos com ele.

- E então? Quem é a garota? – perguntei analisando o ambiente ao redor.

Ele olhou por sobre os ombros e passou a procurá-la com os olhos verdes também. Eu sorri ao perceber que isso era um óbvio sinal de que não era eu.

Foi então que o incrível aconteceu.

- Belle! Você por aqui?! – exclamou Anabeth.

Voltei-me para ela surpresa. Pensando se ela havia feito de propósito, pois eu contara que eu viria aqui com Daniel, mas ela não o havia planejado. Ela trabalhava ali. Eu vi pelo o seu uniforme de garçonete. Um short jeans curtíssimos, salto alto de quinze centímetros, uma camiseta branca com uma guitarra e escrito: Eletric Chapel sobre o peito.

- É. Eu te contei que eu viria aqui, não? – respondi.

- Oh, claro – ela disse com uma animação fingida.

Eu franzi o cenho com essa sua atitude. Ela olhou para Daniel e disse:

- Oi Daniel.

- Oi Anabeth – ele respondeu sem tirar os olhos dela.

- O que vocês vão querer? – perguntou-nos.

- Nós vamos querer duas Coca-Colas – pediu Daniel.

Anabeth concordou com a cabeça, com um enorme sorriso direcionado à Daniel, e deu as costas e se afastou, anotando o pedido. Daniel jogou a cabeça para o lado duas vezes. Gesticulando alguma coisa. Eu não entendi o seu sinal e olhei para o lado. Não vi nada e ele fez uma careta, gesticulando de novo.

- Eu não estou compreendendo o seu sinal – eu disse sem compreender.

- É ela – ele sibilou.

Olhei ao redor. Ele tinha ideia de quantas garotas entre dezesseis e vinte e cinco anos tinham naquele lugar que ele gesticulou?

- Qual delas? – perguntei paciente.

- Anabeth – sibilou.

Eu arregalei meus olhos e, levantando-me, gritei:

- O quê?!

- Shh – ele mandou me puxando pelo braço e me fazendo sentar de novo. – Você chamou muita atenção.

Eu pisquei desnorteada, demorando em associar. Daniel e Anabeth? Ah, claro naquele dia do cinema na casa das gêmeas ele não tirava os olhos da bunda dela, sem contar que ele também parecia babar um pouco quando falava dela e eles tinham aula de cálculos e física juntos...

É, acho que ele está gostando da gêmea com mexa.

- Desculpe, mas você e Anabeth? Uau – eu disse surpresa. – Bem, acho que tem alguma lógica... E ela é bonita também. E você quer a minha ajuda por que... ?

- Vocês são amigas, não são? Arranja-me com ela, por favor – ele pediu.

- Por que você não pediu para Elizabeth? Afinal, elas são irmãs – eu sugeri.

- Porque Elizabeth acabaria contando para Anabeth que eu estou caidinho por ela antes mesmo de eu fazê-lo – ele respondeu. – Elizabeth pode não ser fofoqueira, mas é a mais próxima de Anabeth e contaria tudo para ela. Já você... bem, você inspira confiança.

Revirei os olhos.

- Tá bom, e quando você pretende se declarar à ela Don Juan? – perguntei.

- Não sei... Eu primeiro queria saber se... bem, ela gosta de mim – ele confessou.

Concordei com a cabeça.

- Eu não quero desonrar a nossa amiga, mas... Cara, é a Anabeth, ela gosta de quase todo mundo – respondi. - Além do mais tem aquele ditado de “Quem não arrisca não petisca”. Como você poderá ter uma chance com ela se nem ao menos tem coragem de dizer o que sente? Você quer que ela vire uma advinha?

Ele pensou no que eu disse e concordou com a cabeça.

- Você tem razão – ele suspirou com o olhar baixo.

Claro que você tem” minha consciência se vangloriou.

- Aqui está – Anabeth apareceu quase que magicamente ao nosso lado e colocou os refrigerantes em cima da mesa. - Pensei que você gostasse de beber cerveja, Daniel.

Só faltou o loiro queimado de sol babar em cima da gêmea com mecha rosa no cabelo, mas ele despertou e olhou para o copo. Depois para mim e depois para Anabeth.

- Achei que não pegava bem pedir bebida em um ambiente público – ele respondeu. - Mas eu estou morrendo de vontade beber cerveja mesmo. Eu fico mais corajoso depois de umas...

Ela abaixou-se para sussurrar para mim e para o garoto.

- Eu posso dar um jeito nisso – sorriu enigmaticamente e se retirou.

Daniel me lançou um olhar duvidoso e eu dei de ombros.

- Como eu vou conseguir dar um jeito de falar à sós com ela? - perguntou-se observando a garçonete, só faltando dar um suspiro apaixonado. - Pensando bem, é impressão minha ou ela está se forçando a parecer feliz e normal?

Agora que ele falou, percebi que era verdade. Ela estava dando sorrisos duros e falsos para mim e para Daniel... Então as engrenagens de meu cérebro começaram a girar. Ela fez todo aquele questionamento sobre se eu escolheria Daniel ou o Roman... e ela não parecia nenhum pouco feliz com aquele meu encontro com Daniel ali...

Então percebi: Ela gostava um pouquinho dele também.

- Ela gosta de você – eu disse com facilidade.

Daniel olhou para mim com surpresa.

- Por que você acha isso? - questionou-me.

- Porque...

Não completei porque ela se virou e trouxe mais duas latas de Coca-cola. Ela deu um sorriso maroto para mim e para Daniel. Fez um sinal de positivo e disse vitoriosamente:

- Missão cumprida.

Daniel pegou a lata avermelhada e levou aos lábios. Deu um sorriso cúmplice para a gêmea. Ela deveria ter colocado cerveja lá dentro. Só me admirei de Daniel simplesmente virar a lata como ali dentro tivesse água e ele fosse o cara mais sedento do deserto.

Fez uma careta.

- Anabeth, preciso falar com você – ele lhe disse um pouco mais seguro.

- Hm, sobre o quê? É importante?

- Sobre-...

- Anabethhhh – um dos clientes em uma mesa não muito longe chamou a gêmea.

Ela se virou para ele, chateada. Era um garoto que eu já havia visto andando pelos corredores de Liveway High School. De cabelos morenos, alto, forte e olhos amendoados. Ela revirou os olhos e se virou para nós.

- Já volto – disse.

E foi até ele.

Daniel suspirou derrotado e eu pedi paciência à ele.

- Como eu estava dizendo. Ela gosta de você sim. Hoje ela só está meio forçada porque ela pensa que você gosta de mim. Ela pensa que você queria sair comigo em um encontro e, com medo que eu fosse dizer não, inventou toda essa história de “dar apoio moral” – respondi sorrindo com alívio, afinal, ele não gostava de mim.

- Eu e você? – ele gargalhou.

Eu franzi o cenho.

Não era engraçado quando ele ria.

Isso diminuía a minha auto-estima. Até parece que eu era uma Betty, a feia ao invés da garota razoavelmente bonita que eu sabia que eu era. Meus olhos me renderam cinco declarações de garotos dizendo “Watashiwa anataga sukidesu” quando eu estudei no Japão. O que em nossa língua significa algo perto de “Eu gosto de você” ou “Eu adoro você”.

- E por que é tão improvável? Por acaso eu não sou bonita? – perguntei ofendida.

- Não – ele se apressou em responder. – É que você não faz o meu tipo.

Eu não sabia se isso era sinal de algo bom ou algo ruim. Apenas fingi que eu não estava ofendida e olhei para Anabeth. Eu entendia um pouco do que ele queria dizer. Anabeth tinha um corpo bonito, uma pele bonita, e um jeito sexy de garota fatal, tanto quanto Elizabeth. Eu não era assim. Eu era mais comportada e dizia a mim mesma que tinha amor próprio ao não dizer não para qualquer um.

Talvez não fosse amor próprio afinal. Talvez fosse apenas o medo de me aproximar de um garoto e ele ser um cafajeste comigo como David foi. Talvez por isso eu hesite tanto com Roman. Eu não quero brincar com ele, e eu não quero que ele brinque comigo como ele faz com as garotas.

- Luther, você está me dando nos nervos – Anabeth reclamou com o garoto.

- Eu quero dar outra coisa para você, gata – ele respondeu puxando-a pela cintura.

Ela o empurrou com nojo.

Acho que essa era a primeira vez que eu via Anabeth dizer não para um homem. E aquele garoto também não era feio, na verdade, era até bonitinho.

- Olha aí, Don Juan, me parece uma boa ideia de você conversar com Anabeth. Vá salvá-la do lobo mau – eu brinquei.

Ele olhou para a cena com o cenho franzido.

Eu estava brincando sobre ele ir salvá-la, mas eu não esperava que ele realmente fosse.

- Você tem razão – ele disse e se levantou.

Você estava brincando Anabelle, mas isso pode ser divertido” disse a minha consciência.

Eu não fiz nada e fiquei apenas observando. Daniel parecia levemente irritado enquanto o homem era desagradável com Anabeth. Meu amigo com problemas amoroso aproximou-se como um leão chateado ao ver outro macho dando em cima de sua fêmea. Claro que um leão pularia logo em cima do macho, mas Daniel era racional e não foi batendo logo no cara.

Ele parece estar sendo desagradável com você, Anabeth” foi o que eu li em seus lábios quando ele a puxou gentilmente pelo braço. Ela lhe disse alguma coisa que fez os músculos dele ficarem menos tensos, mas o homem disse outra que o deixou visivelmente chateado. Daniel respondeu outra coisa e o rapaz, Luther, tentou lhe acertar um soco na face.

O que eu não esperava era que Daniel tivesse reflexos rápidos e segurasse o punho do moreno, revidando-o com um soco. Eu ri com a cena. O cara recuou dizendo que não queria confusão como um cachorro com o rabo entre as patas.

Daniel respondeu algo como: “Eu também” e puxou Anabeth para um pouco mais perto da nossa mesa. Assim, deu para eu ouvir a conversinha romântica que se desenrolou.

- Daniel, você não precisava ter dado um soco nele.

- Sim, eu precisava – ele respondeu menos tenso.

- Você deveria estar se preocupando com a Anabelle. Afinal, você gosta dela, certo? – Anabeth comentou um pouco cabisbaixa.

- Anabelle? Não. Ela não faz o meu tipo – ele disse. – Ela está aqui só para me dar apoio moral. Para eu me declarar para a garota de quem eu realmente gosto.

Anabeth olhou ao redor e perguntou:

- E quem seria?

Ele sorriu.

- Você – respondeu.

Juro que eu perdi o fôlego quando ele a puxou para um beijo, que ela concedeu. Dei um suspiro aliviado ao ver que ela o aceitou e não o empurrou como fez com Luther. Sorri com o meu trabalho de cupido e peguei uma Coca-cola para eu beber. Eu queria ter um saco de pipocas para comer junto com aquela cena de livro e filme românticos.

Ela desceu rasgando minha garganta e eu tossi com o gosto ruim.

- Ah, é cerveja – eu disse fazendo uma careta e colocando no lugar. Mas então eu olhei e virei o copo. – Era o que eu estava precisando hoje.

Olhei para os dois pombinhos e dei um sorriso feliz quando Anabeth o puxou para algum canto fazer só Deus sabe o quê. Fiquei satisfeita e peguei a outra cerveja inacabada de Daniel e virando mais uma vez. Eu já senti minha cabeça latejar com o álcool. No entanto, eu acabei sozinha na mesa com duas cervejas disfarçadas de Coca-Cola para eu pagar.

- Eu mereço – resmunguei para mim mesma.

- Oi gata, está sozinha? – um garoto perguntou se aproximando da minha mesa.

- Parece que estou – eu respondi dando de ombros.

- Dia difícil? – ele perguntou se sentando na cadeira à minha frente, sem ser convidado.

- Teeeeerível – respondi rindo comigo mesma.

É. Minha vida está uma merda desde que nasci!

- Que tal eu pagar uma cerveja para você? Coca-colas certamente não servem para afogar as mágoas – ele comentou sorrindo enquanto chamava uma garçonete.

Eu acabei aceitando. Eu estava tão bêbada que já nem ouvia o que a minha consciência tinha para me dizer. Eu bebi e nem me lembro direito do que eu disse. Talvez eu tenha contado sobre as partes mutiladas que eu recebia em caixas de presente. Talvez eu tenha contado que minha suposta “tia” era uma suposta “bruxa” e que meu melhor amigo era um lobisomem.

É. Talvez houvesse sido isso mesmo, porque, ao fim, ele estava rindo me chamando de louca. Só de brincadeira. Enquanto ambos bebíamos garrafas e mais garrafas de cervejas juntos.

Então, ele se ofereceu para pagar a conta e me acompanhar até em casa. Eu estava bêbada – pela primeira ou segunda vez da minha vida... Mas antes que eu pudesse responder alguma coisa, alguém o puxou pela gola da camisa e disse:

- Não. Ela está acompanhada agora, pode ir.

Olhei incrédula para Alexander. Ele estava se vingando de mim por eu ter impedido o seu sexo garantido naquela noite, na festa do Roman, era isso? Ainda o fitei quando ele se sentava no lugar antes ocupado por Daniel e pelo garoto que eu nem saiba o nome.

- O que você está fazendo aqui?! – perguntei gritando, irritada.

- Vim conversar com você – ele respondeu cruzando as mãos em frente ao rosto, com os cotovelos em cima da mesa. – Mas parece que você não está em condições de conversar.

- Quem te contou que eu vim para cá? – perguntei mais irritada ainda.

Eu não queria conversar. Não queria conversar sobre a minha família, a aberração que eu era, ou – pior – o que Roman era. Será que Alexander era “diferente” também? Era provável. Aí o Cemitério Montecristo se converteria em um grande show de horrores. Interessante, não?

- Você fala tanto que deixou escapar – ele respondeu.

- Eu não deixei não! – disse com convicção.

Eu estava certa de que eu não havia falado sobre Eletric Chapel.

- Tanto faz, só me escuta está bem? E pare de gritar! – ele pediu batendo com força na mesa, de modo irritante. – Eu amo Alice Franklin, ela acha que eu estou confundindo gratidão com amor, mas eu sei que não estou confundindo porra nenhuma. E eu não gostei nada do jeito que você a ridicularizou com a sua ironia ou do jeito que você fugiu como se fôssemos monstros!

- E não é isso o que vocês são?! – perguntei utilizando o seu tom de voz.

- É uma questão de ponto de vista – ele respondeu friamente. – Só quero que você aja de forma racional ao invés de agir feito uma criança que descobre que Papai Noel não existe...

- Tá bom. Minha vida é cheia de mudanças súbitas, certo? Um dia quando eu tenho seis anos meu pai acorda e percebe que tem uma filha solitária e que precisa do amor dele. Um dia eu acordo e descubro que tenho uma tia que pensa que é bruxa e que alega que a mãe que eu não conheci também é uma bruxa! Ah, é mesmo, e ainda descubro que o meu melhor amigo que aparentemente está gostando de mim é um lobisomem! – eu comentei querendo chorar. – Você ainda acha que está em condições de ficar me exigindo algum tipo de reação digna?!

Levantei-me irada da mesa.

- Você quer que eu aja de forma racional? Bem, saber que a tia e a mãe são bruxas não está em condições de racionalidade! – eu gritei com ele. – Eu só quero ser uma garota normal droga! Você pode estar acostumado com esse mundo estranho, mas eu não!

Peguei as minhas coisas e fui embora.

Fugindo mais uma vez de meus problemas. Tropeçando em meus próprios pés.

Fui para casa sozinha e já era tarde. Estava crente de que Liveway não era uma cidade tão perigosa quantos todos os que eu conheciam falavam dela. Sumiços de pessoas? Isso tem em toda a cidade, não tem?

Alguém me segurou pelo braço e me arrastou para um beco escuro. Não era ninguém que eu conhecia e foi tão de súbito que eu quase gritei, mas ele tapou a minha boca. Eu mal conseguia enxergá-lo quando ele prensou seu corpo entre mim e a parede.

Meus gritos eram apenas grunhidos abafados debaixo de sua mão grande e calejada.

- Calada! – mandou-me irritado.

Mas eu não calei. Mesmo que ninguém entendesse nem ouvisse, eu gritava. E enquanto ele prensava o seu corpo sobre o meu, que se debatia, e ele rasgava com brutalidade uma parte da minha blusa, eu não deixei de gritar. Até que ele se irritou e desferiu uma tapa forte em minha face.

A ardência seguida por minhas lágrimas de desespero foi um sentimento horrível.

- Fica quieta! – mandou-me.

Por um instante, pensei que eu teria o mesmo destino de uma amiga minha, Eleonora, de Nova York. Eu a encontrei após ter sido estuprada, e posso alegar que não foi a visão mais bonita da minha vida. Por isso continuei me debatendo e gritando.

Foi quando o puxaram de cima de mim e lhe morderam o pescoço. As lágrimas pareciam ter paralisado em meu rosto e em meus olhos assim como o sangue que corria em minhas veias parecia ter paralisado dentro delas. Tudo que funcionava em mim pareceu parar de horror.

Era Alexander quem mordia o seu pescoço como um... bem, como um vampiro.

Não! Não pode ser! Você anda lendo muito Anne Rice, Anabelle” minha consciência gritou de pavor.

Ele jogou o corpo no chão e cuspiu o sangue para fora da sua boca.

- Isso vai mantê-lo inconsciente por um tempo – murmurou.

Pegou minha mão e me puxou contra seu corpo e saiu correndo e me arrastando pelas ruas não tão pacatas de Liveway. Minha vontade era de gritar, de empurrá-lo e pedir para acordar do pesadelo que começara durante aquela noite. Mas eu não tive coragem. Não depois do que ele fez por mim. Não depois de ele ter matado (?) aquele homem para – de uma forma absurda – me proteger.

Ele parou na frente de minha casa e limpou o que restava de sangue em seus lábios com a costa das suas mãos. Seus olhos, antes cinzentos – agora vermelhos como chamas vermelhas – me fitaram com raiva.

- Eu já havia dito para você não sair por aí sozinha muito tarde! – brigou-me.

Eu não tive coragem de dizer nada. Apenas olhei para a vidraça da porta e vi uma coisa que confirmou meus medos. Ou melhor, não vi nada. Ele não tinha reflexo. O vidro de casa não o refletia. Eu apenas via suas roupas flutuando, e o seu casaco caindo misteriosamente de forma autônoma ao meu redor. Mesmo que eu sentisse suas mãos o colocando em mim, sobre a blusa rasgada. Ele... ele era um... vampiro!

- V-vo-você... – eu gaguejava apontando para o vidro da porta, sentindo o medo se apoderar de mim de forma brutal e avassaladora.

- Sim, Anabelle, eu sou um vampiro – ele confirmou.

Olhei para ele. Minha visão estava turva, eu não sabia se era por conta das lágrimas acumuladas em meus olhos, ou porque o medo estava me cegando. Mas descobri assim que comecei a suar frio, sentir meu corpo dormente, e já não ser capaz de pensar em mais nada que não fosse a minha terrível queda no chão.

Acordei em minha cama.

E a ideia de que tudo foi um sonho foi quase reconfortante se não fosse pelo casaco de Alexander que me cobria, mas ele já não estava mais ali. Procurei-o por todas as sombras do meu quarto e ele não tinha nenhum sinal de vida. Só estava o seu casaco ali, abandonado.

Deitei a minha cabeça pesada na cama e respirei fundo. Senti o cheiro adocicado que tinha o seu casaco. E tentei associar tudo daquela noite.

Alice era minha tia, irmã da minha mãe.

Alice é uma bruxa e disse que eu e minha mãe também somos.

Roman, meu melhor amigo, era um lobisomem.

A mãe dele morreu e virou um fantasma invocado por Alice.

Alexander, o sociopata que ama Alice, era um vampiro.

E eu só tenho a certeza que o mundo que eu conhecia, já não existia mais.


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Notas finais do capítulo

EU PROMETO QUE ROMAN E ALEXANDER NÃO VÃO BRIGAR POR ELA xD