A Bruxa De Liveway. escrita por belle_epoque


Capítulo 10
Capítulo 10 - Guardião Sombrio.


Notas iniciais do capítulo

Oi queridas ^ ^
Se vocês fizerem as contas saberão que hoje é dia de: POSTAGEM! ^ ^
...
Agradeço aos reviews de minhas queridas(os) leitoras(es):
> Lucy1997
> miss yuuki
> Hina
> Emanuelle
> VicentDeLeon
> LuLerman
> Nathalia S
> Lilith
> B_M_P_C
...
Obrigada à todas e todos ^ ^
Esse capítulo vai ser um alívio para os curiosos!



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Capítulo Dez – Guardião Sombrio.

A tarde passou-se lentamente.

Na verdade, por eu estar meio desanimada – sim, o efeito do cupcake passou – eu apenas arrumei qualquer bagunça de casa e me joguei na cama com reflexão. Meu pai estava em casa, mas estava degustando vinho com a senhora Nightray no quintal dos fundos, que eu nunca explorei. Aquele que eu já pensei em fazer um belo jardim e, até mesmo, uma piscina mais tarde. Mas estou começando a achar que o lance deles, realmente era sério.

Muitas pessoas, aparentemente, se mudavam para Liveway, pois desde que eu me mudei - a algum tempo -  garotos não deixam de aparecer na cidade. Isso me fazia pensar: então porque a cidade não fica visivelmente mais moderna ou mais cheia de habitantes?

Sem saco para esperar Roman chegar, levantei-me e fui mais cedo para o trabalho. Trocando a roupa colocando uma calça jeans preta, justa em minhas pernas não muito grossas, e camiseta cinza com a foto de uma banda de Rock qualquer que meu pai me apresentou. Estava até autografada, mas fiquei sem graça de dizer que eu nunca havia ouvido falar em “Avenged Sevenfold”.

Como não ficava longe da minha casa, eu fui andando. Eu tomei cuidado para não topar com meu pai ou com a senhorita Nightray, eu não teria coragem de olhar para a cara deles – seja lá o que eles estivessem fazendo (inocente ou não). Mas não era só por isso o porquê de eu ficar olhando para os lados constantemente. Era por tudo o que estava acontecendo.

Meu pai estava certo de que era algum fã obcecado que me e lhe perseguia, mas eu duvido que alguém se desse ao trabalho.

O que era mais absurdo: ter um cara maluco perseguindo a minha família ou que eu sou anormal?

Ahá! Anabelle, falando assim, parece até fácil decidir” zombou a minha consciência enquanto em quanto eu deixava o portão do cemitério encostado.

Ao me virar, vi aquela estátua do anjo Miguel chutando Lúcifer no topo daquela pilastra. Ele parecia bem menos assustador durante o crepúsculo. Na verdade, eu me atreveria a dizer que ele parece “Miguel, o defensor da luz” com aquela luz do sol poente lavando-lhe o branco mármore. Sumindo gradualmente. Eu encarei a estátua pensativa, e ela me encarava de volta. O engraçado era que Lúcifer significa: “aquele que traz a luz”.

- Você bem que poderia me proteger hein? – eu reclamei com um suspiro e passei por ele.

Vi o carro de Roman estacionado. O que eu achei estranho. Ele estava cedo no trabalho? Ele pretendia simplesmente deixar o lugar aqui, me pegar e voltar? Que trabalhoso. Então, nem me dei ao trabalho de mandar uma mensagem avisando que eu cheguei mais cedo ou que vim sozinha para cá.

Enquanto eu ia para o mausoléu, surpreendi-me ao ver o quão bem tratadas minhas plantas estavam. Diria que era quase como se eu não tivesse faltado. Perguntei-me se Alice ou Roman me substituíram... Ou quem sabe Alexander?

Ao entrar na grande estrutura “multiuso” – sim, pois só sendo multiuso para ser: capela, mausoléu, escritório e mais mil coisas – caindo aos pedaços,ouvi baixos murmúrios vindo do andar de cima. Aquele pequeno mirante que Roman comentou comigo no meu primeiro dia de trabalho. Algo sobre o céu e o inferno. Eram as vozes de Roman e de Alice Franklin.

-... Maldição? – ele pareceu praguejar, mas na verdade indagava. – Você acha que ela está amaldiçoada Alice?

- Creio que não.

Eu não conseguia ouvir direito, então comecei a subir alguns degraus da escada em espiral. Com cuidado, para a sola de borracha do meu sapato não fazer barulho.

- Pedi para que Alex fizesse um levantamento da vida dela... Parece que não foi a primeira vez que algo do gênero acontece.

- O quê?!

- Bem, se fosse uma maldição, ela não estaria aqui. Viva, eu digo... Não entendo, parece que está tentando ajudá-la, só que do jeito errado. Parece... Parece um Guardião Sombrio.

- Um “Guardião Sombrio”?

- É. Veja – ela disse parecendo mostrar algo a ele.

- Você quer que eu descubra algo sobre isso? – Roman se ofereceu.

- Não. Você é muito irresponsável. Ainda não te desculpei por ter dado aquela festa sem consultar o calendário antes! – ela disse como uma mãe briga com o filho.

- Foi sem querer... – ele disse arrependido.

- Foi sem querer, mas uma pessoa morreu Roman! – ela brigou e bufou quando ele ficou calado. – Não. Vou pedir para Alexander dar um jeito nisso. Ele sim é bem eficiente, discreto e responsável. É melhor você continuar sendo o bom amigo que ela precisa... Agora, mudando de assunto... Anabelle vem hoje?

- Ela me afirmou que viria... Precisamos mesmo contar a verdade à ela?

- Creio que sim. O tempo está se esgotando Roman.

Fiquei tonta.

Creio que o monte de pergunta que lampejavam em minha mente foi o motivo. Eles falavam de mim? O que é esse “Guardião Sombrio”? Ele tinha algo haver comigo? Que verdade era essa que eles queriam me dizer? Como o tempo estava se esgotando? Que tempo era esse?...

Desci os últimos degraus da escada caracol, silenciosamente.

Eu me sentia enjoada, minha cabeça começou a dar voltas e eu me obriguei a aguentar.

- Oh, é você? – Alexander Van Cruce apareceu da porta lateral, que um dia eu entrei com Alice quando torci o tornozelo, e tenho certeza de que ele estranhou o meu olhar. – O que foi? Parece que você viu um fantasma...

Alice Franklin comentou algo sobre ele, não foi? Algo sobre ele fazer um levantamento da vida dela. E eu espero que ela não fosse eu. Mesmo que fizesse grande sentido no contexto. Mas seria vergonhoso se justo ele, o insensível, soubesse de algo sobre mim.

Senti minhas pernas fraquejarem e ele me segurou para que eu não caísse. Cravei minhas unhas em sua camiseta lisa. Começando a sentir minha visão embaçada.

- Você está pálida. Vamos tomar um ar - ofereceu, puxando-me porta a fora.

Eu o segui e andamos até um salgueiro chorão com um banco de pedra entre as grossas raízes que se esticavam com possessão, cercado pelas plantas coloridas que eu bem cuidei. Ele me sentou no banco e me passou uma lata de Pepsi que eu não o vi trazer.

- Obrigada – agradeci aceitando e bebi um pouco. Senti-me melhor depois de beber algo doce – Não se ofenda, mas achei que você não se importava.

- E eu não me importo – respondeu dando de ombros -, mas Alice mandou que eu cuidasse de você. Creio que evitar o seu desmaio é válido. A propósito, o que foi que aconteceu?

Hesitei em falar. Pensando nos prós e contras. Infelizmente, os contras eram mais. Contras: ele é como um irmão para Alice, ele pode contar para Alice que eu ouvi a sua conversa, como ele não vai com a minha cara, ele não hesitaria. Prós: ... Desabafo.

- Não era nada de mais – respondi me encolhendo. – Eu acho que ainda não me recuperei do que aconteceu.

Estendi-lhe a Pepsi de volta, mas ele recusou e se sentou ao meu lado. Ignorei a sua presencia ali, ao meu lado – um lugar que nem em mil anos imaginei que ele ficaria, uma vez que ele me repudiasse -, e fitei a lua quase cheia. Talvez ela enchesse amanhã.

- Sua presença está me incomodando – confessei abaixando o olhar.

- Tudo o que você faz me incomoda, então estamos quites – ele respondeu com descaso.

- Você por acaso não tem nenhuma cova para cavar, não?

- E você não tem nenhuma planta para tratar?

- Pelo mais incrível que lhe pareça, não. As minhas plantinhas se viraram bem sem mim durante dois dias – eu retruquei.

- Claro, porque fui eu quem cuidou! – ele bufou.

Fitei-o atônita, como se ele fosse um enorme e bizarro poodle negro de um metro e oitenta e seis com duas cabeças. Aproveitei para lhe dar uma boa analisada. Ele estava lindo, com uma camiseta social com a manga dobrada até os cotovelos, com os dois primeiros botões desabotoados, calça e botas de couro com uma corrente prata balançando ao lado de sua perna. Percebi também que ele usava um brinco de um só lado em forma de cruz.

- Sério? Por quê? – nem escondi a surpresa.

Ele coçou a nuca.

- Porque eu não queria que as minhas plantas morressem – ele respondeu. – Achei que, com tudo o que você passou, não encontraria tempo nem vontade para cuidar das plantas.

Eu sorri involuntariamente e ele o interpretou errado.

- Eu não fiz isso por você! – apressou-se em concluir.

- Eu não disse que você o fez por mim – respondi rindo. – Só estava pensando que talvez eu tenha tido uma primeira impressão errada ao seu respeito. Pensei que você fosse um grosso insensível... mas fico feliz ao ver que posso tirar o “insensível” da lista.

Ele bufou.

- E eu vou continuar com as minhas ideias sobre você – foi o que ele respondeu dando de ombros com revolta.

- E quais são as ideias que você tem de mim? – perguntei com curiosidade.

Ele me olhou por um instante e desviou o olhar.

- Diferente de você, eu prefiro guardar os meus pensamentos e julgamentos para mim – respondeu depois de um tempo.

Eu quase deixei passar, mas me toquei: Como ele gosta de guardar os seus pensamentos para si mesmo, se ele adorava bater boca comigo?!

Abri a boca para reclamar e a vi.

A mesma figura translúcida daquilo que provavelmente, um dia, foi uma mulher. De cabelos curtos e ondulados, sorriso acolhedor... A mesma que eu vi na casa das gêmeas Anabeth e Elizabeth.

Meu susto foi tão grande que eu caí do banco.

Eu bati minha cabeça em uma grossa e suja raiz do salgueiro chorão, e soltei um pequeno gemido. Alexander inclinou-se no banco. Com os braços formidáveis apoiando o peso de seu corpo enquanto me fitava com uma óbvia vontade de rir. Imagino que a minha situação não estivesse das melhores.

Ele não riu da minha cara, reprimiu essa vontade - o que me surpreendeu -, e se voltou para a alma penada.

- Katharine, você a assustou – ele... Brigou?

A mulher morta respirou profundamente e abaixou a cabeça.

- Sinto muito Alexander. Como ela já havia me visto antes, pensei que eu não a assustaria aparecendo de novo – explicou-se.

Ele estendeu a mão para mim e me ajudou a sentar corretamente.

Novamente, foi como se meu peso não existisse e ele me puxou com força contra o seu peito. Sei que eu deveria estar babando sobre ele naquele momento, mas minha mente lampejava perguntas e eu gritei:

- Como assim?! Você consegue vê-la também?!

Ele revirou os olhos com a minha ignorância.

- Não, eu só estava conversando com a árvore – respondeu com ironia antes de me olhar afiadamente. – É claro que eu posso vê-la.

Assim fica difícil decidir se eu devo gostar dele ou odiá-lo” minha consciência reclamou.

Era só o que me faltava. Além de ficar recebendo caixas-presentes com resto de pessoas mutiladas, sou tão esquisita até o ponto de ser parecida com Alexander em algum aspecto!

- Meu nome é Katharine Langerark – a fantasma se apresentou.

- Langerark? – reconheci o seu sobrenome de algum lugar.

- Sim. Ela é a mãe de Roman. Morta quando ele tinha dois anos – o sociopata resolveu o mistério.

Engoli em seco e empalideci.

- Então você pediu para que eu protegesse o... Roman? – minha voz estava incrédula e ela concordou com a cabeça. Eu gargalhei. – Desculpe senhora. Você ainda não viu que não consigo nem proteger a mim mesma?

Eu ri mais ainda.

Alexander fez uma expressão insatisfeita e me cutucou com o seu cotovelo.

- Isso não é educado – repreendeu-me.

Sim, nem a fantasma parecia gostar de me ter rindo da sua cara. Eu não estava rindo dela, muito menos do seu filho, mas de seu pedido.

- Desculpe. É que me parece meio absurdo você, um fantasma, pedir-me para proteger o seu filho, sendo que eu não consigo proteger nem a mim mesma de alguma coisa que está testando a minha sanidade – eu tentei explicar.

Ela olhou para Alexander, esperando uma resposta. Ele respondeu com um dar de ombros e a alma penada suspirou pesarosamente. Passou a fitar o chão separado pelo ar. Sim, pois a figura translúcida e cinzenta flutuava.

- E do que precisaríamos protegê-lo? – perguntei.

- Do mal – ela respondeu simplesmente.

Inclinei a cabeça pensativamente, tentando encontrar alguma lógica em sua resposta vaga, mas não encontrei. O “mal” poderia ser muitas coisas, como bebida, mulheres, cigarro (eu não sabia se Roman fumava, mas eu não me surpreenderia).

Resolvi mudar de assunto.

- E por que somente eu e Alexander podemos interagir com você? – perguntei, agora, verdadeiramente curiosa.

- Porque vocês dois são especiais. Roman também, mas não tem sensibilidade... Alice Franklin também é especial e é por isso que eu estou aqui – ela respondeu e então suspirou. – Eu preciso ir agora. Alex, por favor, peço para que você e a Alice continuem cuidando do meu Roman.

Esperei alguma resposta como “Por que eu?” vindo do sociopata, mas, para a minha surpresa, ele sorriu e concordou. Acho que era uma das únicas vezes que eu vi Alexander sorrir sem ser com sarcasmo ou deboche. Exceto naquela madrugada em seu carro... Aquele Alexander sim era legal. Ele era tudo o que o Alexander com quem eu convivo não era.

Ela, a fantasma, retribuiu o sorriso e virou um pó prateado e brilhante – semelhante à purpurina.

Senti minhas pernas fraquejarem e ele me segurou pelo braço.

- Fraca – resmungou.

Ignorei a provocação e suspirei. Minha cabeça pulsava à mil.

- O que ela quis dizer que estava ali porque Alice era especial? – perguntei.

Ele deu de ombros, como se estivesse sem resposta.

- Acho que vou para a minha casa – eu disse com um suspiro cansado. – Já que acabaram com o meu trabalho por hoje. Diga a Alice... Que eu sinto muito não fazer absolutamente nada.

Ele sorriu vitorioso.

- Eu te levo – ofereceu-se por livre e espontânea vontade.

- Não – neguei. – Eu preciso muito ir sozinha...

Ele cruzou os braços, contrariado.

-... Preciso assimilar isso tudo – dei um suspiro. – Tchau.

Libertei meu braço do seu e saí portão afora. Ele não me seguiu, mas senti o seu olhar analisando minhas costas.

Sei que, com tudo o que eu passei, eu me sentiria mais segura, voltando para a casa acompanhada, mas eu não queria. Eu ainda estava confusa em poder ver fantasmas... Por que só agora? Será que eu sempre fui capaz de vê-los? E o que a doce e amiga Alice Franklin estava escondendo? O que era “Guardião Sombrio”?

A cada pergunta apareciam mais uma dúzia.

Eu teria que recorrer à minha internet naquela noite, já que eu estava sem trabalho.

Tropecei em alguma coisa no caminho e caí no meio do caminho.

- Ai – reclamei vendo as palmas de minha mão, raladas.

Ergui o olhar para ver no quê eu tropecei. Eram muletas. Bufei. Como algum idiota é capaz de ir soltando suas coisas por aí? Eu podia ter me machucado gravemente.

- Você tropeçou nas minhas muletas? – perguntou uma voz não conhecida para mim.

- Não, eu deitei para pegar sol – respondi com ironia, mas não vi ninguém perto de mim.

Foi então que ele pulou de um dos galhos da árvore.

Usando uma camiseta vermelha com um moletom azul marinho com capuz por cima. Era o aluno novo com o joelho machucado. Agora não parecia tão machucado.

- Não acha que é mais certo pegar sol durante o dia? – perguntou-me friamente estendendo a mão.

- E você não acha que ficar largando suas coisas por aí é meio estranho? – perguntei me levantando com a sua ajuda.

- É, acho que é meio culpa minha – ele concordou juntando as suas coisas. – Desculpas, é que eu gosto de subir em árvores.

- Mesmo com o joelho aparentemente machucado? – indaguei.

- Dá-se um jeito para tudo – ele respondeu dando de ombros. – Eu fiz uma cirurgia e meu joelho está se recuperando.

Olhei para o galho do qual ele pulara.

- Se você ficar pulando de alturas dessas vai precisar de mais cirurgias antes de se recuperar dessa – comentei de brincadeira, dando um sorrisinho simpático. – Preciso ir, tchau.

Vir-me-ei e passei a me afastar, mais ele segurou o meu braço.

- Meu nome é César Villanueva, e o seu? – perguntou-me.

- Anabelle Malback – respondi.

Ele me soltou. Eu me despedi mais uma vez e fui para casa.

Quando cheguei em casa, meu pai e a Senhorita Nightray já não estavam mais na varanda – provavelmente foram fazer outra coisa -, por isso fui sorrateiramente para o meu quarto. Para meu alívio, desta vez sem surpresinhas.

Eu ainda estava demorando em relacionar tudo, tanto aquela estranha conversa da Alice Franklin quanto o fato de Alexander poder ver a fantasma – que era a mãe de Roman e que, por algum motivo, queria que eu o protegesse – que eu vi (sem contar que ele foi anormalmente gentil, se compararmos ao seu estado normal).

Mas uma coisa me irritava mais do que tudo.

“Guardião Sombrio”. O que era isso?

Sentei-me na cadeira atrás da escrivaninha e puxei meu notebook para perto. A internet de casa – ou talvez seja o sinal dessa cidade – era uma porcaria, mas valia à pena esperar um pouquinho. Eu estava sem pressa de qualquer forma.

Abri o navegador do Google Chrome e nem esperei o site de pesquisar completar; digitei na barra de endereços: Guardião Sombrio. Esperei curiosa e impaciente os exatos três minutos.

E, quando completou, decepcionei-me.

Quaisquer informações presentes ali na página de busca citavam apenas um livro. “Dark Guardian”. Mas creio que não era isso ao que Alice Franklin se referiria. Não parecia ser algum livro, mas sim, alguma coisa.

Passei páginas e mais páginas, tentando encontrar algo que fizesse sentido com o teor da conversa que eu interceptei. Encontrei apenas um site: The Dark Hole. Parecia ser um site sobre monstros e mistérios, confesso que entrei somente porque eu gosto desse tipo de coisas. Se você olhar para a minha estante, verá Anne Rice e Stephen King.

O site era ridiculamente cafona (forçadamente gótico). No título lia-se “The Dark Hole” em letras pretas na fonte de Death Note, com o fundo vermelho e morceginhos animados batendo as asinhas ao redor. E isso sem contar as imagens de casas abandonadas nos cantos superiores onde um trovão caia.

Porém, fora o único que tinha algum sinal daquilo que eu procurava.

- “Guardiões Sombrios” – li o título da postagem.

Não tinha imagem alguma, apenas um texto sóbrio e sem graça.

Guardiões Sombrios são seres provenientes de magia negra. Como uma maldição, ambas as magias negras apropriam-se de espíritos antigos e torturados, porém, para fins diferentes. Enquanto a maldição encarrega-se de infernizar a vida de alguém até que essa pessoa acabe se matando; o Guardião Sombrio encarrega-se de proteger (mesmo que por meio da brutalidade) um bruxo”

Revirei os olhos e pulei alguns parágrafos inúteis.

A Aparência de Um Guardião” Li para mim mesma. “Um Guardião não possui uma aparência propriamente dita até ser dominado. É como se um animal selvagem, que não tem um nome até quando for domesticado. Sim, um Guardião Sombrio é um animal selvagem e perigoso (se não for bem domesticado) e que se alimenta principalmente do ódio, da raiva e da indignação... Algumas vezes, até mesmo da mágoa”.

Pulei alguns tópicos, lembrando-me do jogo Persona 4. Os shadows (o lado mais sombrio de nós e que negamos) possuía a aparência da pessoa até que ela o renegava e ele se transformasse em um monstro que te mataria. Porém, se você o aceitasse, ele se transformaria em um persona e lhe protegeria dos outros shadows... Eu era viciada nesse jogo de Playstation.

Como descobrir se há um Guardião Sombrio em você” pulei para esse tópico. “Muitas vezes você ouvirá a sua própria voz ecoar em sua cabeça, às vezes dando ordens, ou simplesmente te induzindo a fazer ou pensar em algo. Você pensará que é a sua consciência. Novidade: não é”.

Engoli em seco.

Sim, eu falava comigo mesma, mas quem não faz?

Você lê com ceticismo? Não acredita? Acha ‘normal’?” engoli em seco com a última indagação. Ele parecia interagir misteriosamente comigo. “Bem, meus amigos (as), então sugiro que você peça um espelho que não seja seu; um espelho com o qual você não esteja familiarizado. Diga-me então, o que você vê?”.

Engoli em seco.

Isso é loucura” a minha consciência apontou e eu concordei.

O que eu veria em um espelho que não fosse à mim própria?

Estava prestes a fechar a janela quando não tive coragem. Por algum motivo, eu a salvei nos favoritos e fechei com a consciência menos pesadas.

Por que você fez isso? É só baboseira!” indaguei a mim mesma.

Talvez seja útil à mim em algum momento” pensei dando de ombros.

Para me fazer pular da cadeira. Meu celular começou à tocar. Para a minha surpresa, não era nenhum número conhecido.

Não atenda, pode ser perigoso” alertou-me a irritante voz da consciência.

Ignorei essa voz e atendi.

- Alô? – pigarreei.

- Isabelle? Esse é o seu número? – uma conhecida voz frágil me perguntou.

- Daniel?! – perguntei surpresa quase me engasgando com minha própria saliva. – Como você conseguiu o meu número? Você nunca me ligou antes...

- Eu... er... pedi para o Roman – ele respondeu, parecia constrangido. – Eu queria muito falar com você. Na verdade, preciso de sua ajuda.

- Espere um minuto, por favor – eu pedi.

Encostei o telefone no peito e franzi o cenho. Daniel me ligando? Pensei que ele não me considerasse uma amiga sua... Será que ele veio falar sobre a garota que ele é afim? Bem, eu não me admiraria. Josh não saberia como falar de uma garota que não fosse Érika, as gêmeas passariam o ano todo zoando do pobre coitado e – talvez, se sua ousadia permitisse – poderiam até dar um livro de Kama Sutra para ele, Roman... bem, está quase no mesmo patamar que as gêmeas... Acho que eu era a única normal-anormal do nosso grupo.

- O.K. E qual é a emergência? – perguntei.

Ele custou a responder, mas acabou suspirando e dizendo:

- Eu acho melhor conversar com você amanhã à noite, que é sexta. Encontre-me em um lugar chamado Eletric Chapel – pediu apressadamente, atropelando as palavras.

- Amarelou foi? – brinquei para tentar descontrair.

- Foi – ele confessou. – Mas eu realmente acho que esse tipo de assunto deve ser tratado pessoalmente... Lá eu vou poder explicar melhor.

- Se você diz... – concordei. – Mas vai ter que ser depois das oito, porque é quando eu saio do trabalho.

Ele hesitou em responder.

- Sem problemas.

- Combinado então. Eletric Chapel às oito horas. Boa noite, Daniel.

- Boa noite, Anabelle.


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Notas finais do capítulo

Eletric Chapel xDDDD
"If you want to steal my heart away
Meet me, meet me baby in a safe place
Come on, meet me in eletric chapel..."
Se você quer roubar o meu coração
Encontre-me, encontre-me querido em um lugar seguro
Vamos lá, encontre-me na capela elétrica
xD