Aos pouco nós nos separamos. Fiquei sem entender muito o que acontecera ali. E não se engane, eu gostei, gostei muito, mas aquilo é extremamente errado, eu amo o Josh, mas ele é meu melhor amigo, e não passará disso. Eu não posso nos iludir. Ficamos nos encarando, ainda próximos. Eu abria a boca para falar, mas nenhum saía dela, aquilo estava começando a incomodar.

- Ela já está pronta? – ouvi a voz de Mattew e me afastei rapidamente de Josh, ficando atrás dele e olhando para o chão.

- Já. – Josh respondeu secamente. – Nós já estamos indo embora. – ele ainda estava frio.

- Tudo bem. – Mattew respondeu calmo. – Er... Josh, eu quero falar com a Maria. – Mattew estava sem jeito.

Senti o olhar de Josh sobre mim. Não consegui encará-lo, mas assenti, concordando em conversar com Mattew. Josh suspirou alto e saiu do quarto. Continuei olhando para baixo.

- Maria... – ele começou.

- Fala logo. – falei rudemente. Olhei em seus olhos e não sei de onde eu tirei esta coragem toda. Acho que da raiva que eu tinha de mim. – Eu tenho que ir embora.

- Tudo bem. – ele suspirou. – Eu quero te pedir desculpas por tudo o que eu te falei. – arqueei a sobrancelhas. – Eu sinto muita raiva do que você fez, mas eu posso te perdoar e nós podemos ser amigos.

Olhei-o perplexa.

- Não há nada o que perdoar Mattew! – ele se fez de confuso. – Eu não me culpo pelo que aconteceu com a sua mãe, ninguém tem culpa, então eu não necessito do seu perdão. Nem da sua amizade porque ela seria falsa. Você não é maturo o suficiente para entender que acidentes acontecem, você não é maturo o suficiente para parar de querer culpar alguém pela sua dor. – ele me olhava surpreso e com raiva nos olhos. Eu não me deixei intimidar. – E não me olhe deste jeito. Eu sei que errei em esconder de você. Eu queria fazer uma coisa impossível, e só agora eu entendo isso, você é um egoísta idiota que só pensa na sua dor. Mas agora eu entendi e te agradeço pelos momentos mais felizes da minha vida que foram ao seu lado. E é só isso que eu estou sentindo por você. Bom, eu ainda te amo, mas isso vai passar porque eu não vou me permitir sofrer.

Não deixei que ele falasse nada, apenas saí daquele quarto e me deparei com um Josh surpreso atrás da porta. Passei rapidamente por ele também e saí daquela festa. Apesar de tudo o que eu disse para Mattew ser verdade eu queria chorar, de tristeza e felicidade. Tristeza porque agora está mais que concreto, tudo o que eu tinha com Mattew acabou e vai ficar no passado. Feliz por conseguir me defender e dizer o que estava preso em minha garganta a muito tempo, mas que eu não consegui dizer com medo de magoá-lo, com medo do sofrimento dele. Mas agora eu disse e senti um alívio, agora sim eu poderia mudar o meu jeito de viver, pois eu terminei esta fase e agora eu estou pronta pra começar outra, desta vez com mais segurança e com as experiências de um passado que não deu certo.

Logo Josh chegou e nós entramos no carro. Ele dirigiu, durante toda a viagem nós ficamos calados. Ele estacionou em frente a sua casa, mas eu não me importei já que eu morava ao lado dele. Quando ia sair do carro ele me parou.

- Então acabou mesmo? – eu assenti. Eu sabia o que ele queria dizer. – Eu não acredito que você disse tudo aquilo para ele. – desta vez surgiu um sorriso de orgulho em seus lábios. Sorri de volta. – Estou orgulhoso de você. Percebe-se o quanto você evoluiu.

- Eu também estou orgulhosa de mim. Mas agora eu preciso descansar. – ele assentiu e eu dei um beijo em sua bochecha.

Saí do carro e entrei em casa. Fui até o meu quarto e joguei-me na cama. Logo o meu sono chegou e foi melhor do que o esperado. Desde a morte de meus pais eu não durmo tão bem assim. Sem pesadelos, sem sonhos, apenas a escuridão e isto já faz uma noite perfeitamente dormida.

No domingo eu acordei antes das dez horas e com uma disposição incrível. Fiquei rolando na cama pensando no que eu iria fazer. Até que me lembrei do que aconteceu ontem no quarto de Mattew, eu havia beijado Josh e depois nós havíamos agido normalmente, mas isso não poderia ficar assim, eu precisava conversar com ele, já ouvi muitos casos de amizades que acabaram por causa de um beijo entre os amigos, e acredite, eu não quero em hipótese nenhuma acabar com a minha amizade com Josh.

Levantei-me e fui tomar banho. Vesti um short jeans e uma camiseta longa e calcei meu all star já que eu não pretendia ficar o dia inteiro em casa e desci. Avisei Alice que eu não comeria em casa e fui até a casa de Josh. Bati a campainha e novamente a empregada me atendeu. Ela pediu que eu entrasse e foi chamar Josh.

- Maria? – sua voz tinha o tom do sono.

- Bom dia. – respondi sem graça ao vê-lo só de shorts. Tudo bem que eu já tinha o visto de tal maneira, mas parece que... Ah! Eu não sei explicar.

- Bom dia. A que devo a sua visita? – ele sorriu vindo em minha direção.

- Er... Bom... Eu acho que a gente tem que conversar. – falei olhando para os meus pés.

Fez-se silencio. Ele suspirou, mas não disse nada.

- Josh, o café da manhã está na mesa. – a empregada quebrou o silencio.

- Tudo bem Glória. Já estou indo. – ele respondeu calmamente. Olhou para mim. – Já tomou café da manhã? – minha barriga roncou.

- Não. – respondi tímida. – Eu estava pensando na gente tomar café naquela lanchonete perto do parque. – eu ainda olhava para o chão.

- Tudo bem. Espera que falar com a Glória que não vou tomar café da manhã aqui e vestir um blusa.

Ele nem esperou por uma resposta e foi em direção a cozinha. Sentei-me no sofá e fitei a televisão. Droga de timidez. Eu não sabia o que e como falar com Josh, tomara que ele já tenha em mente o que eu quero falar e me ajude, ele é sempre bom nisso. Minutos depois nós já estávamos na lanchonete, por todo o caminho o silêncio foi absoluto. Compramos Milk Shakes e sanduíches, e eu sei que este não é o café da manhã ideal, e andamos até uma parte deserta do parque.

- E então o que quer falar comigo?- ele foi direto enquanto abocanhava o seu sanduíche.

- Quero conversar sobre ontem. – fui direta ao assunto, mas não foi muito bom, pois depois de minha fala ficamos em silencio.

- Em que parte? – ele perguntou com um sorriso malicioso. Revirei os olhos. – Não se preocupe com aquilo Maria, não afeta em nada a nossa amizade. Eu te amo de verdade, mas você é minha chatinha, irmã, melhor amiga. Se bem que se quiser ser minha namorada eu não vou me importar. – ele sorriu de canto. Tive vontade de pular em cima de Josh.

- Idiota. – mostrei a língua.

- Confessa que me ama também. – bufei sorrindo. – Bom, eu confesso que até alguns dias atrás eu não sabia o que sentia por você, mas bem... eu me... eu estou gostando de outra menina. – arqueei a sobrancelhas. – E desde então eu percebi que você é minha melhor amiga e não tem como nós passarmos disto. E por favor não pense que eu não gostei daquele beijo de ontem porque sinceramente foi o melhor de toda a minha existência. – ele corou. Eu corei. Nós nos encaramos sérios, nos aproximamos e no segundo depois caímos na grama de tanto rir.

[...]

E o domingo passou assim, eu tentando descobrir quem era a tal menina que Josh gostava e ele tentando me enrolar. Acabou que eu nem tenho pistas da garota que roubou o coração do meu melhor amigo. Só espero que ela seja uma boa pessoa, porque se não for eu dou um chute na bunda dela e ela vai parar em Marte e ser comida pelos ETs.

Voltei para casa e dormi. Na segunda feira acordei cedo por causa da escola. Me arrumei e tomei café com Alice que estava um pouco mais feliz. Me despedi e fui para escola com Josh.

Encontrei-me com meus amigos. Brunna veio logo me esmagando e deu um olhar estranho para Josh. Talvez fosse um olhar normal, mas eu tenho que reparar mais se quiser saber que menina é esta que Josh está gostando. Fomos para nossas salas, as aulas passaram rápidas. No final da aula, combinamos de fazer uma sessão de cinema à noite na casa de Brunna. Fui para casa e a ajeitei. Durante a tarde eu fiz os meus deveres, depois tomei um banho demorado e me vesti.

Logo Josh bateu a campainha e fomos para a casa de Brunna. No caminho percebi que Josh estava nervoso, fiquei séria pensando em quem ele estaria pensando. Chegamos e nos acomodamos, o resto do pessoal chegou e a sessão de filmes começou. Acabei pegando no sono, quando acordei o resto do povo também dormia. Me levantei para tomar água e quando cheguei na cozinha tive uma surpresa.