The Dawn of Evangelion escrita por Goldfield


Capítulo 19
Macabeus




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Macabeus

Kyoto, Japão, 1999

Aquele subúrbio da cidade não tinha aparência lá muito amistosa. Entre fábricas abandonadas e armazéns caindo aos pedaços, erguiam-se bares escusos e boates cheias de depravação. Se durante o dia o lugar parecia morto, à noite ressuscitava numa profusão de neon e má fama, atraindo para seus estabelecimentos e becos os piores representantes da sociedade japonesa.

         Naquela noite não estava sendo diferente.

         O indivíduo, de sobretudo negro, caminhava sozinho pela calçada, olhos voltados para o chão como se não ousasse encarar ninguém que por ali andasse. Passou por capangas da Yakuza, prostitutas carregadas de maquiagem e outros indivíduos perdidos, de pais de família buscando um lugar limpo para cometer adultério a crianças pedintes, sacrificando sua dignidade em nome de algumas poucas moedas. O trajeto por aquele antro, felizmente, não teve de durar mais muito tempo para o estranho. Logo se deteve diante de seu destino: uma casa noturna montada numa construção caindo aos pedaços, o teto perigando desabar em cima dos freqüentadores. O letreiro luminoso em seu topo revelava o nome do recinto: “Éden”. Se ali era o Paraíso, ele não queria nem imaginar como seria o Inferno...

         À porta, dois seguranças altos e fortes, de terno, vigiavam quem entrava e saía. Após revistarem um homem careca fumando cigarro, voltaram-se para o recém-chegado. De início o examinaram de cima a baixo, seus semblantes mantendo-se tranqüilos ao constatarem que o sujeito, magro e fraco, por certo não poderia representar ameaça alguma do lado de dentro. Depois vistoriaram suas vestes em busca de armas. Nada.

         - Pode entrar... – um deles murmurou. – Aliás, como se chama? Só para controle.

         - Ayanami – o homem respondeu com um sobrenome que acabara de inventar.

         Eles assentiram, e “Ayanami”, depois de pagar sua entrada, prosseguiu.

         Descendo por uma escada, ele constatou que o estabelecimento, na verdade, funcionava no porão do prédio. Nele, luzes piscavam de forma quase frenética, nas mais variadas cores, enquanto boa parte dos clientes se sentava junto ao extenso balcão de bebidas, sorvendo drinks exóticos e conversando em voz alta. Junto a barras de metal no alto de plataformas aveludadas, jovens locais de pouca roupa se insinuavam em poses provocantes. Música eletrônica completava a mistura, soando em fortes batidas através dos alto-falantes espalhados pelo local. O visitante misturou-se ao ambiente, lançando um olhar tímido na direção de duas garotas que dançavam antes de finalmente se acomodar ao balcão.

         - Uísque, por favor – pediu ao bartender.

         Enquanto a bebida era providenciada, o rapaz varreu com a visão o interior do bar. Não procurava mulheres ou diversão, no entanto. Buscava rostos conhecidos, memorizados anteriormente por fotos. Pessoas com quem precisava falar.

         Logo se deteve na direção de um par de homens sentados também perto do balcão, a uma certa distância. Ambos musculosos, o primeiro tinha cabelo loiro levemente arrepiado, e o outro, penteado moicano roxo acompanhado de óculos escuros.

         Eram eles, sem dúvida.

         Discretamente, e sem aguardar a chegada de seu pedido, “Ayanami” levantou-se do banco e caminhou até os dois. No ziguezague entre os freqüentadores pelo trajeto, só foi percebido pela dupla quando já estava bastante perto, esta o encarando com expressão de estranhamento.

         - Boa noite – ele saudou-os.

         Entreolharam-se desconfiados, antes de o loiro replicar:

         - Cai fora, imbecil.

         O recém-chegado, todavia, permaneceu onde estava, fitando-os com seus contornos faciais que de certa forma pareciam sempre zombar de alguém, um leve sorriso de escárnio cristalizado nos lábios.

         - Sei que trabalham como seguranças para o empresário Daichi Ikari. Gostaria de saber o que tenho de fazer para que me levem até ele. Exigem algum dinheiro?

         Contraindo o cenho, o indivíduo de penteado moicano trovejou:

         - Cai fora agora se não quiser problemas, cara!

         - Vejo que são mesmo muito competentes. Recusam-se a trair seu empregador. Aparentam ser realmente fiéis a ele, motivo pelo qual eu devesse procurá-lo para elogiá-los... ou então ele apenas os paga bem, com alguma ameaça ao pescoço de vocês envolvida se o traírem. É... talvez sejam mesmo só dignos de pena.

         O loiro investiu raivoso, “Ayanami” desviando-se com um mero passo para o lado, fazendo o brutamontes escorregar numa poça de cerveja no chão e cair de costas. Clientes ao redor recuaram assustados, as mulheres gritando. O de cabelo roxo atacou com um chute alto... o oponente segurando a perna estendida no ar e torcendo-a acima do joelho.

         AAAAAAHHHHHHHRRRRRRGGGGG!

         O primeiro adversário, erguendo-se do piso, já se preparava para novo avanço, punhos cerrados numa pose semelhante à de um lutador de boxe. Deu um, dois, três socos... “Ayanami” conseguindo se esquivar. O quarto, porém, atingiu-o em cheio numa das bochechas, quase lhe partindo o maxilar. O segurança de Daichi Ikari aproveitou o instante de atordoamento do inimigo para agarrar um de seus braços... quebrando-o num movimento rápido.

         Foi a vez de o desafiante gemer. Não se deu, no entanto, por vencido. Fazendo uso do fato de o sujeito ter permanecido segurando-lhe o membro fraturado por vários segundos, como se sentisse prazer com sua dor, o magro oponente esticou a outra mão para as costas da cintura do algoz... tateando-a até encontrar uma textura familiar.

         - Precipitou-se... – ele afirmou ao forte adversário em tom calmo, apesar do calor do momento.

         E, logo em seguida, perfurou-lhe o ombro direito por trás com sua própria faca.

         Num berro seguido de violento espasmo, o loiro soltou-o, sangue tingindo-lhe a camiseta. Mesmo a ponto de desmaiar, “Ayanami” conseguiu chutá-lo no peito, empurrando-o para cima do balcão, onde desabou sobre vários copos e garrafas que se estilhaçaram, cortando sua pele.

         No chão, o indivíduo de moicano ainda se arrastava entre gemidos, a perna em estado lastimável. O oponente logrou desacordá-lo com um pontapé na testa... antes de finalmente desfalecer sentado no meio da boate.

         A última coisa que viu, antes de apagar, foi policiais nada tranqüilos invadindo o recinto, brandindo seus cassetetes...

Tornou a recobrar os sentidos, temporariamente, dentro da viatura. Jogado no assento de trás, tinha as mãos agora algemadas e uma terrível dor de cabeça – piorada com o som das sirenes. Erguendo de leve a cabeça para a dupla de oficiais nos bancos da frente, falou, consultando a memória e cuspindo sangue:

         - Professor Kozo Fuyutsuki... Universidade de Kyoto. Liguem para ele... Peçam que pague minha fiança! Digam que Gendou Rokubungi precisa de ajuda...

         Um dos homens da lei respondeu com algo que ele não compreendeu... e então voltou a dormir.

*  *  *

Ele teve a impressão que o homem diante de si era um legítimo filho da puta.

         O telefonema inesperado aquela manhã tirara-o da universidade, e agora o privava de mais uma agradável tarde de orientação na companhia de sua aluna Yui Ikari. Intrigado, dirigira-se até o Departamento de Polícia perguntando-se a razão de um homem do qual sequer ouvira falar ter pedido que ele lhe tirasse da cadeia. Lá chegando, hesitou em pagar a fiança – porém sabia que só teria as respostas desejadas se livrasse o sujeito da cela. Assim o fez. E, logo após o primeiro contato direto com o preso, já começava a se arrepender.

         O indivíduo tinha mais de trinta anos, idade mais que suficiente para um ser humano tomar vergonha e não mais se envolver em brigas de bar – motivo pelo qual fora detido e que lhe imprimira algumas marcas, como o rosto inchado e o braço engessado. A face era traiçoeira, mantendo sempre uma expressão de zombaria, como se o sujeito tirasse sarro de tudo e todos, mentalmente, a cada instante – e talvez até achasse graça em sua situação. Fuyutsuki pensava de uma maneira totalmente contrária. Era um homem da ciência e considerava-se por isso iluminado; mas, em outros tempos, sabia que teriam dado uma espada àquele tal Rokubungi para que abrisse a própria barriga...

         Ainda tivera a cara-de-pau de afirmar que costumavam apenas odiá-lo. Também, com aquele comportamento...

         - Para onde vai agora? – o professor logo questionou, ao notar o incômodo fato de que o homem o seguia pela rua. – Está livre.

         - Eu pensei em acompanhá-lo, doutor – Gendou traduziu em palavras os temores de Fuyutsuki. – O senhor talvez tenha algo que eu queira...

         Nisso, um simpático grito feminino foi ouvido do outro lado da via:

         Sensei!

         O professor esforçou-se para ocultar sua frustração. Não, não ali! Não naquele momento!

         Atravessando a rua, surgiu a cativante figura de uma jovem de cabelos castanhos curtos, em seus vinte e poucos anos. Yui Ikari, bioengenheira e a mais brilhante aluna do acadêmico.

         - Oh, olá, Ikari-chan... – Fuyutsuki saudou-a desconcertado.

         - Quem é seu amigo? – ela apontou, curiosa, para Rokubungi.

         Fitando-a nos olhos, Gendou apenas sorriu.

*  *  *

A central de pesquisas da Gehirn na Alemanha seguia em sua rotina.

         Numa das modernas salas das instalações, operadores, sentados diante de bancadas repletas de computadores, monitoravam os vários satélites da organização na órbita terrestre. Possuíam diversas funções, a maior parte delas relacionadas a questões ambientais: fotografar áreas de desmatamento pelo globo, analisar mudanças climáticas e efeitos da poluição na atmosfera, medir constantemente o tamanho do buraco na camada de ozônio sobre a Antártida...

         Foi justamente um dos satélites destinados a essa tarefa que, àquela tarde, surpreendeu toda a equipe de monitoramento. Pairando acima do continente gelado, era empregado no procedimento de rotina... quando seus sensores detectaram algo estranho, no coração do Pólo Sul geográfico.

         - Pessoal, dêem uma olhada nisto – pediu o primeiro operador a perceber a anomalia, imprimindo rapidamente um relatório.

         Distribuiu em seguida as folhas aos colegas, ao mesmo tempo em que estes verificavam o evento também em seus computadores.

         - Isto é impossível! – bradou um deles.

         - Segundo o satélite, é bem real... – outro observou. – Os gráficos também não mentem. Trabalhamos com fontes de calor.

         - Mais de duzentos petajoules! – uma cientista apontou assustada para a mancha vermelha em meio à representação azul da Antártida. – A potência energética de uma maldita bomba nuclear. Como pode? O continente já teria todo derretido!

         - O foco fica exatamente sob o Pólo Sul, aparentemente a mais de cento e cinqüenta metros de profundidade. Não está consumindo a camada de gelo, o que é mesmo curioso.

         - Eu diria um alívio... – suspirou mais um operador.

         - O que faremos a respeito disso?

         A resposta veio do rapaz que descobrira o fenômeno:

         - Contatem o doutor Katsuragi. Agora!

*  *  *

As armas Não-Nucleares, ou simplesmente N², estão sendo vistas como um grande passo à frente na questão armamentista, apesar de longe de solucioná-la completamente. Consideradas limpas devido a não expelirem radioatividade com suas explosões, além de menos destrutivas, representam ainda assim vasto poder de devastação se utilizadas em grande número. Enquanto alguns países começam a substituir suas ogivas convencionais por dispositivos N², outros alegam que os dois tipos de armamento deveriam ser totalmente banidos...

         A voz da jornalista na TV se propagava pelo restaurante. A maioria dos fregueses, entretanto, a ignorava. Comiam tranqüilamente em suas mesas, envolvidos em seus próprios assuntos. Numa delas, um homem e uma jovem terminavam seus pratos. Enquanto ele usava vestes escuras e tinha ar sério, ela, com suas roupas claras e semblante simpático, parecia ser seu total oposto. Uma aura de paz os cercava, como se ambos se complementassem. Yin e yang.

         - Foi muita gentileza sua ter me convidado para almoçar – afirmou Yui Ikari. – Obrigada.

         Gendou, por sua vez, ergueu levemente os olhos enquanto respondia, seco:

         - Não há de que.

         O silêncio à mesa tornou a predominar, apenas com o burburinho dos demais freqüentadores ao fundo e o som dos hashi apanhando o alimento dos pratos. A estudante de bioengenharia fitou Rokubungi discretamente. O inchaço em seu rosto começava a desaparecer; porém ainda assim mantinha a aparência de alguém dotado de uma alma agitada. Até problemática.

         - E então, você costuma se envolver muito em brigas de bar? – ela perguntou quase sem pensar, sua voz soando ao mesmo tempo sagaz e inocente.

         Ele aguardou alguns instantes antes de replicar, sem olhá-la:

         - Somente quando são necessárias para conseguir o que quero.

         Yui observou-o sem compreender.

         - Como assim?

         Gendou novamente hesitou, mas acabou revelando, agora ao encará-la:

         - Voltei para o Japão apenas com um objetivo: encontrar o empresário e cientista Daichi Ikari. Meti-me naquela confusão na boate devido a ter tentado arrancar informações de alguns dos seguranças dele...

         A moça empalideceu, tornando ainda mais branca sua pele já tão clara. As sobrancelhas estremeceram de leve, como se aquela fosse sua maneira de mostrar consternação. Na verdade, as feições de Yui não aparentavam ser capazes de transmitir sentimentos muito intensos. Era como se estivessem sempre fixas numa expressão de calma passividade, nada sendo realmente capaz de abalá-las.

         - Por que não me procurou antes? – ela por fim inquiriu, julgando que Rokubungi teria as melhores intenções. – É meu pai. Se houvesse me avisado, já teria pedido que ele o recebesse... A não ser que...

         A voz da jovem oscilou, seus olhos piscando diante do incômodo pensamento. Coube a Gendou completá-lo:

         - Sim. Minha intenção era me aproximar de você somente para obter acesso a Daichi, mas...

         Uma outra pessoa teria se levantado dali, chamado a polícia, batido nele ou no mínimo lhe lançado algumas palavras bem pesadas. Mas não Yui. Ele já vinha suspeitando ser ela diferente, dadas as vezes em que já haviam se encontrado naqueles últimos dias, e agora comprovava tal coisa frente à tranqüila reação da moça diante de seus motivos. Esta se remexeu em sua cadeira, porém não perdeu a disposição para ouvir. Mostrava-se mesmo cada vez mais especial.

         - Por que esse interesse todo em meu pai? – questionou, em seu direito.

         - Passei a infância num orfanato. Nunca conheci meu pai, e minha mãe me abandonou de vez quando eu tinha poucos anos de idade. Cresci cheio de perguntas, decidido a empregar minha vida em busca das respostas. Logo uma pista me levou à possível identidade de meu pai. E, conforme me aprofundei nela, vi-me num caminho sem volta de segredos e conspiração. No início da década passada, minha mãe e meu pai se reencontraram na Itália, trocando tiros até morrer. Acredito que uma organização chamada SEELE esteja por trás desse acontecimento. Seu pai trabalha para ela.

         Yui estremeceu. Visivelmente conhecia a denominação daquele misterioso grupo. Ainda sem cor, perguntou:

         - E o que pretende fazer com ele?

         - No início, desejava interrogá-lo. Fazer de tudo para descobrir a verdade a respeito de onde eu vim, sobre meu pai. Logo depois, destruir todo esse antro de manipulação, integrante por integrante. Mas agora isso já não importa tanto. Se eu comprovar minhas suspeitas acerca de quem ele era... quero assumir seu lugar na organização. Tornar-me um membro da SEELE.

         A jovem coçou o pescoço, inquirindo em seguida:

         - Algo fez com que mudasse de idéia?

         - Na verdade, sim... Desde pequeno, acreditei que eu não pudesse ser amado. Que nenhuma pessoa poderia me direcionar carinho, assim como meus pais. Estaria destinado a ser enxergado, pelas pessoas, apenas como um pária, alguém indesejado... E então a conheci. Você despontou em minha vida, Yui Ikari.

         - Eu...

         - Sei que passamos poucos dias juntos, mas durante esse tempo... senti em sua companhia coisas que imaginei jamais conhecer. Preocupação, afeto... ternura. Quero quebrar o legado de meus pais. Mais que essa verdade que tanto procurei... eu quero estar ao seu lado, Yui.

         Ela sorriu, seus olhos brilhando como jóias. Instintivamente, suas mãos se uniram sobre a mesa, os dedos se tocando e em seguida se entrelaçando... Então, com os corpos sendo projetados para frente, beijaram-se.

*  *  *

Ele odiava quartos de hospital; ainda mais estar internado em um. A débil condição do leito lhe lembrava o pai acamado em seus últimos dias, e como acabara sucumbindo à morte. Tal estado não combinava consigo. Queria se afastar dali o quanto antes, porém não conseguiria fazê-lo enquanto não se recuperasse do procedimento cirúrgico.

         Imaginou, por um momento, se Heinrich se sentiria orgulhoso de si. A grande ocasião se aproximava. Quase tudo estava pronto, mas sempre permanecia a sensação de que algo faltava. Ansiava por sair logo da cama também para cuidar disso. No entanto, se aquela operação se mostrasse mesmo um sucesso, todas as tarefas se tornariam mais fáceis... E o pai, decididamente, ficaria cheio de orgulho.

         Súbito, ouviu a porta do quarto se abrir. Passos se aproximaram do leito. A voz familiar do doutor Stewart se manifestou:

         - Bom dia, senhor.

         Lorenz deu um longo suspiro e replicou, cabeça voltada para o teto:

         - Só se for para você. Agora há uma engenhoca presa ao meu rosto e ainda estou sem enxergar. Como me explica isso?

         - Será preciso que tenha paciência. O dispositivo do visor foi ligado diretamente aos nervos do seu cérebro, porém ainda levará um pouco mais de tempo para captar estímulos visuais. Minutos, horas... talvez dias. De início verá um borrão, e pouco a pouco distinguirá formas e cores.

         - Assim espero... pelo seu bem. E quanto às minhas pernas?

         - Esse processo já é mais simples. Não se trata de algo tão delicado e complexo como a visão. A explosão da granada em 69 cortou a comunicação entre seu cérebro e os músculos a partir da cintura. Adicionamos componentes artificiais, criados em laboratório seguindo o mesmo princípio de nossos constructos orgânicos, ao longo de toda sua medula espinhal. Recuperará os movimentos de forma gradativa, mas serão necessários novos implantes nos próximos anos para finalizar o processo.

         - Ótimo. Contanto que eu não sinta dor...

         Arrastando-se sob o lençol, Keel conseguiu sentar-se à cama. Logo depois ordenou:

         - Intere-me dos acontecimentos dos últimos dias.

         - Bem, enquanto o senhor dormia, as instalações da Gehirn na Alemanha fizeram a descoberta que tanto esperávamos: um de nossos satélites detectou uma anormal fonte de energia embaixo da Antártida, correspondendo à potência de um artefato termonuclear, porém estranhamente sem consumir as camadas de gelo.

         - Santo Deus... – o alemão abriu os braços, extasiado. – Só pode ser...

         - Sim, comandante. Nós descobrimos a localização de Adão.

         Lorenz viu-se obrigado a fazer uma pausa para assimilar o fato. Após décadas de procura, eles haviam encontrado o ser que originara os Anjos poucos meses antes do ano 2000, data prevista para seu despertar! A profecia dos Manuscritos do Mar Morto mostrava-se infalível. E lograram obter tal conhecimento totalmente por acaso. Talvez a isso se referisse a passagem de um dos pergaminhos dizendo que o homem encontraria Adão e sua descendência “às cegas”. Estremecendo, imaginou se não poderia até ser uma alusão a si próprio, tomado como metáfora de toda a humanidade...

         Algo mais ficava claro, também: se antes colocavam em dúvida como ocorreria o retorno de Adão e seus filhos, agora era quase certo se dar por interferência da prole de Lilith. Ou seja: a SEELE teria de averiguar o achado para provavelmente desencadear os eventos que levariam à volta dos Anjos e à prometida “contemplação de Deus” após a destruição do último... o almejado sonho da Instrumentalidade.

         - Coloque o doutor Hideaki Katsuragi imediatamente no comando de uma expedição para examinar a descoberta – ordenou Keel. – Pela forma como está se manifestando, Adão parece ser a comprovação de que ele necessita para sua teoria da Super Solenóide. Não precisa saber mais que isso.

         - Sim senhor. Há mais uma coisa de seu interesse...

         - Diga.

         - O filho perdido de Takeo Rokubungi, que seguíamos desde a Itália. Ele retornou ao Japão, e está rondando a empresa de Daichi Ikari em Kyoto. Até mesmo se envolveu com sua filha, de acordo com o último relatório...

         - O miserável tem a quem puxar! Acha que ele já sabe sobre nós?

         - Provavelmente, senhor.

         - Bem, o pai dele serviu bem ao meu por muitos anos, e depois a mim... Se o filho está tão interessado em revirar o passado, por que não lhe dar uma chance de provar seu valor?

         - O que quer que façamos? – Stewart indagou um pouco surpreso.

         - Recrutem-no. Além do mais, se esse relacionamento com a filha de Ikari vingar...

         Enquanto falava, um borrão cinza foi captado pelo visor em seu rosto, tornando as feições do doutor vagamente distinguíveis.

         - Os filhos que vierem a ter nos interessarão, principalmente quando atingirem a Condição de Bernadette – completou, sorrindo de modo astuto.


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