- Nina, você andou se cortando de novo? – Aline, minha melhor amiga, dizia enquanto segurava um de meus pulsos e fitava os cortes marejados com os olhos arregalados.

- Não... Eu só... – suspirei, enquanto puxava meu pulso de volta e cobria os cortes com a manga da blusa.

- Você tem que parar com isso. – segurou um de meus ombros. Ela sempre fazia isso, sempre me dava sermões. Era Aline que cuidava de mim. – Sabe que é idiota ficar sofrendo por alguém que mal sabe que você existe. – arqueou uma das sobrancelhas. – É desnecessário. Ainda mais sabendo que ele esta super feliz sem você... – completou, enquanto se afastava um pouco de mim, dando um passo pra trás.

- Isso é o que me irrita. – bufei. – E você sabe que não é só por causa dele. – peguei alguns livros em meu armário.

- Problemas em casa?

- Você sabe que sim. – suspirei cansada.

Aline começou a me dar mais alguns sermões, me dizendo que do mesmo modo eu tinha que parar com tudo aquilo e mais um monte de blá, blá, blá. Apenas revirei os olhos e fingi estar ouvindo.

Logo ouvi o sinal da escola tocar, e Aline logo agarrou meu pulso e começou a me puxar em direção a sala. Dei um gemido, por ela estar apertando justo meus cortes, e estava doendo. Ela apenas deu de ombros, fingiu não ouvir. Infelizmente, esbarrei em alguém. Ashley.

- Olha por onde anda, sua maluca! – ela gritou, enquanto dava um soco em meu ombro.

Encolhi-me enquanto voltava a andar em direção a sala de aula. Tudo tão triste, tão vazio. Eu odiava tudo isso. Meus pais só brigavam em casa, discutiam por causa da minha guarda. Eu já estava cansada de tudo isso. Eles estavam se separando, mas, continuavam a brigar pra ver quem ficaria com os bens. Meu pai foi conversar comigo na noite passada, tentando me convencer a ficar com ele. A ir com ele. Fiz silencio e ele saiu do meu quarto batendo a porta, quebrando copos.

Eu já não tinha mais o que fazer nesse mundo. E depois, pra piorar o meu dia, eu ligo o meu computador a fim de esquecer tudo, ouvir minhas musicas e só me decepcionei mais ainda. Lendo e vendo coisas que eu não queria. Aquelas fotos, o jeito como eles ficavam juntos... Tudo me machucava profundamente. As pessoas continuavam a dizer o quanto eu era idiota. Até algumas beliebers estavam se voltando contra mim. Eu ia ao meu twitter, desabafar, dizer o que eu sentia... E acabava sendo criticada.

Eles dizem que é ciúmes, que sou louca, que eu não sei o que faço ou falo. Dizem que sou poser e coisas do tipo... Me xingam de tantos nomes, de tantas coisas... E eu só observo, só escondo todo meu sentimento e raiva. E desconto tudo nos meus pulsos. Eu já me acostumava com a dor. Enquanto eu cortava meus pulsos, eu não sentia mais nada. As lagrimas caiam, e eu apenas desejava profundamente que tudo que eu estava sentindo, passasse.

- Senhorita Audrey, que fazer o favor de sentar? – o professor me fuzilava com o olhar e apontava furiosamente para a minha carteira vazia.

Foi aí que percebi que estava em pé, no meio da sala e todos estavam dando risadinhas abafadas de mim.

- Desculpe. – falei baixo, e logo corri, me sentando rapidamente. Coloquei meus livros e cadernos sobre a carteira.

- Esta tudo bem, Audrey? – Thomas, o garoto que se sentava a minha frente, se virou, me fitando.

- Ah, claro... – coloquei minhas mãos sobre a carteira.

- O que isso? – ele fitou meu pulso. Porque todos têm que olhar para aí? – Olha, tenho algo que pude te ajudar com isso. Desenhe uma borboleta no seu pulso. – ele sorriu.

- Pra que? – franzi a testa. – Como vai ajudar?

- Dê a essa borboleta o nome de alguém especial pra você, se você cortar seu pulso... Você mata essa borboleta. – ele pegou uma caneta, a sua frente e começou a desenhar no meu pulso.

- Está de brincadeira, certo? – ri.

- Fica quieta. – ele riu junto.

Thomas era um bom amigo. Aline me enchia o saco, dizendo que ele era apaixonado por mim. Ele só era um amigo... Um bom amigo.

Ri, enquanto ele continuava a desenhar no meu pulso. Fazia cócegas e eu só via.

- Pronto. – ele murmurou quando terminou de desenhar. – Mal feita, mas, ok. Não sei desenhar muito bem. – riu.

E eu fitei a borboleta um pouco estranha desenhada no meu pulso e ri. Ele riu junto.

- Então, qual vai ser o nome dela? – fitou meus olhos.

- Justin. – sorri.

- Justin? – Thomas fez careta. – Porque Justin? – riu.

- É... Alguém muito especial pra mim.

- Tudo bem... Lembre-se, se você se cortar de novo, você o mata. – ele riu, apontando pra borboleta.

Ri junto.

- Audrey e Campbell... Vocês querem sair da sala? – o professor no fitava. Apenas balançamos a cabeça negativamente. – Então, querem, por favor, CALAR A BOCA E PRESTAR ATENÇÃO NA AULA? – gritou. E todos nos olharam.

Apenas assentimos rindo e logo Thomas se virou pra frente, me deixando ali, fitando a pequena borboleta desenhada no meu pulso.