Σ Thalia Grace – Olhos azuis. A conversa.

Não estava nos meus planos gostar de alguém tão rápido depois de entrar na Caçada, não mesmo. Eu mesma, nunca achei que alguém com sanidade poderia fazer isso. Eu sou durona, cabeça-quente, estourada como a Suze era.

E olha só agora. Ela está totalmente caída por Hector, ou Jesse, de Silva. Tudo bem, o cara é lindo e fofo, a respeita como uma princesa e tudo mais. O meu caso é bem diferente. Ele, pelo que fiquei sabendo, não é nem de longe o cavalheiro que Jesse é, mas está tentando mudar por alguém e esse alguém, provavelmente, sou eu.

Pois é, já dá pra ter uma idéia de quem eu estou falando. Mas, sinceramente, todo o meu coração estava confuso antes da Grande Profecia ser cumprida. Eu precisava de um tempo. De tudo e de todos. Luke estava hospedando um titã do mal e isso me deixou abalada demais pra pensar em me apaixonar e então aceitei a oferta de renegar os garotos para viver pra sempre.

Quando cheguei ao acampamento da Caçada percebi que Artemis recrutava somente garotas com o coração partido, sejam elas mortais ou meio sangues, dríades ou praticantes de magia [feiticeiras como, por exemplo, Calipso e Circe]. Fiquei pensando o porquê de Artemis querer a companhia de garotas abaladas como eu.

O tempo foi passando e fui tocando a vida. A Grande Profecia passou e vi Luke morrer. Passei por todo o país em busca de animais perigosos. Quando recebi uma folga vim direto pro Acampamento: minha segunda casa depois da Caçada. Pra que, cai de pára-quedas bem no meio de uma missão! Nunca vi tantas pessoas juntas em uma única viagem.

Isso me aterrorizava, mas não deixei transparecer. Mandava mensagens para as meninas avisando que entraria em uma missão.

– Hey, Thalia tem um minuto? Gostaria de conversar a sós com você. – ele me disse.

– No seu caso, Slater, agora são 57 segundos. – sua cara de dor me deu pena. Eu realmente me esforçava pra não me apaixonar enquanto estava na Caçada.  Respirei fundo e respondi: – Claro, por que não? – respondi andando na direção dele, o seguindo.

Esse Slater mexe com meu coração. O faz dar saltinhos quando o vê sorrir. Tem alguma coisa nele que me chama atenção e não é apenas a aparência irresistível e seus olhos azuis como o mar, é também como ele faz me sentir especial quando me olha. É algo que eu simplesmente não consigo explicar. Paul pegou minha mão e me levou para a floresta perto do laguinho.

– Tudo bem, vou ser curto e grosso. – ele respondeu.

– Ótimo, gosto de praticidade.

Ele começou a andar em minha direção. Cada vez mais perto. Eu recuava a cada passo que ele dava, era um reflexo muito antigo. Eu bati minhas costas em uma arvore. Agora não teria como escapar. Ele me prendeu com seus braços surpreendentemente fortes. Meu corpo queria reagir aquele toque, mas minha mente não deixava.

– Diga o que você quer. – eu disse ofegando. – Ou então te mandarei para o Tártaro com um dos meus raios.

– Não faça isso Thalia. Você é a única que pode me dar o que eu quero. – a dor em sua voz fez meu coração se apertar. Eu queria abraçá-lo, beijá-lo, tocá-lo. Mas não podia. Graças a minha inteligência rara que em um momento de fraqueza se juntou as garotas imortais de coração partido.

– Você ainda não respondeu a minha pergunta. O que você quer?

– Ah, você ainda não percebeu, não é? Eu te quero. Desde que eu te vi em Carmel. Você se lembra? Estava com as caçadoras em uma praia deserta caçando algum tipo de monstro. Você me viu, eu sei. Nossos olhares se encontraram. Eu te quis. Sabe por que Thalia? Eu te amo. – aquelas palavras me perfuraram.

Eu me lembrei do primeiro dia em Carmel. Montava nossas tendas quando o vi. Paul Slater. Nós nos olhamos por poucos segundos, mas que já queria conhecê-lo. Havia muitas emoções nos nossos olhares. Quando fui embora estava certa de que ia algum dia encontrá-lo novamente. Só não esperava que fosse tão cedo assim.

Ai. Meus. Deuses! Ele me ama! Ama-me de verdade! Tudo bem, meu momento patricinha no shopping quando vê um sapato na liquidação acabou.

– Co- co -como é? Você me- me- me... – gaguejei.

– Ama. Sim, é verdade. Acho que nunca falei isso pra ninguém. Deixe eu te mostrar que é verdade. – ele completou com seus lábios cada vez mais perto. Dessa vez eu não recuei. Seu beijo era doce e cheio de paixão, era carinhoso e eu gostei. Quando acabamos o ar nos falta.

Eu estava com as mãos em volta de seu pescoço e suas mãos em minha cintura. Eu respirei fundo e deixei meus sentimentos falarem:

– Eu também, Paul. Eu te amo. Mas temos um problema, Artemis e... Zeus.

– Eu vou te dar um tempo pra pensar. Na Captura a Bandeira. Nós nos encontramos lá. – e então ele sumiu no meio das arvores. Ouvi um barulho do outro lado e gritei.

– Quem está ai?

– Thalia. – a voz me chamou. Eu me virei e vi a ultima pessoa que eu gostaria de encontrar: Zeus, meu pai. Eu quase tive um ataque cardíaco e perguntei:

– O que você está fazendo aqui? Fugiu do Olimpo pra que? Me dar lição de moral? Obrigada mas eu não preciso. – todas as palavras se atropelavam e eu disse tudo que estava sentindo. Não queria ouvir uma lição ensaiada. Queria ter apoio, uma ajuda. – Eu sei que o que eu fiz foi errado, mas... – Zeus me interrompeu.

– Thalia, eu posso não ser o exemplo de pai perfeito, mas eu estou aqui para ajudá-la, mesmo que secretamente, quando você tiver problemas. Quero que guarde o que eu vou falar tudo bem? Não tenha medo.  Quebre as regras, lute, ame, viva intensamente sempre guiada pelos seus sentimentos. Se você se apaixonar, por mais difícil que seja a situação, tudo vai dar certo. Se ainda não deu certo, é porque não é o final. – ele suspirou e disse: – Estão sentindo minha falta no Olimpo. Terei que voltar. Até mais minha filha. – e então desviei o olhar quando ele assumiu a forma divina.

Nesse momento eu queria chorar, mas fui forte o suficiente para seguir em frente. O vento bateu em meu rosto trazendo uma sensação enorme de alivio. Agora, sei que mais nada vai me atingir, sei também, que Zeus está comigo.

Cresci desconfiando do mundo. Agora é hora de tocar a vida pra frente.

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