Acordei com os raios de sol que entravam pela minha cortina entreaberta. Meus olhos pesavam e eu só queria dormir mais... E dormiria, se não fosse impedida pelo irritante som do meu despertador que tocava sem parar. Dei-lhe um soco e abri meus olhos aos poucos encontrando meu quarto bagunçado, cheio de roupas pelo chão. Senti braços envolverem minha cintura e me assustei por um segundo, mas, logo me lembrei da festa da noite anterior e que eu havia dormido com Ryan. Pois é... Ryan. O que eu tinha na cabeça?

Me desgrudei dos seus braços e me levantei da cama. Não liguei se estava com ou sem roupas, apenas caminhei sonolenta até o banheiro, abri o chuveiro e entrei debaixo do mesmo, deixando que a água escorresse. Mal me recordava da noite anterior... Só poucas coisas. Eu me sentia cansada e sonolenta, poderia dormir até não poder mais. Talvez eu dormisse na escola, realmente. Pra falar a verdade, eu estava até que com saudades das minhas noites de farra, festas em casa, sair escondida dos pais e no outro dia cair de sono na escola.

Desliguei o registro e saí, me enrolando em uma toalha. Antes de me trocar, resolvi acordar o Ryan, aliás, ele tinha que ir embora da minha casa antes que meus pais chegassem. Ah, e ele também tinha que ir à escola, né.

– Acorda, babaca. – bati o travesseiro na sua cara. Ele apenas se mexeu. Mas, que porra. – Caralho, Ryan... Você tem que ir embora. – aumentei meu tom de voz e praticamente de um soco no seu braço.

– Bom dia pra você também. – abriu os olhos, me fitando com um sorriso sínico.

– Ta. Seja como for, porra... Levanta essa bunda daí, arruma suas coisas e vaza! – apontei pra porta.

– Seu humor é bem melhor enquanto está bêbada ou transando sabia? – ele bufou, enquanto se sentava na cama.

Mostrei-lhe me dedo do meio e logo após cruzei os braços o esperando levantar. Ele apenas me sorriu malicioso enquanto passava seus olhos meu corpo coberto pela toalha. Ah, que ótimo, tenho um loiro tarado na minha cama!

Ouvi Ryan murmurar um “já vou levantar”, enquanto tinha seus olhos pregados em meu corpo.

– Não acredito que fiquei com o loirinho tarado da escola. – bati a mão na testa, bufando e caminhando até meu closet.

– E eu não creio que fiquei com a rebeldinha problemática. – ele gritou, quando eu já estava dentro do meu closet procurando alguma roupa.

Resolvi ignorar sua presença no meu quarto. Que merda de vida a minha!

Vesti uma roupa normalzinha, afinal, hoje não teria nada de especial na escola. Calcei meus tênis e fiquei ali em pé no meio do closet, procurando por alguma bolsa que combinasse ou sei lá. A noite anterior havia sido boa, não só pelas minhas lembranças, mas, também sei disso por causa da pequena dor de cabeça que eu sentia no momento. Pois é. Era sinal que eu havia me divertido. Certo?

– Hm. Ficou gata... – senti provavelmente Ryan, me abraçar por trás, me fazendo bufar. – Mas, tenho que admitir que te prefiro sem roupas. – sussurrou no meu ouvido e depois beijou meu pescoço, me deixando pouco arrepiada. Revirei os olhos com o que eu acabara de ouvir.

Virei de frente pra ele o vendo já vestido só com suas calças jeans. Até que Ryan era bonitinho. Seus olhos azuis me seduziam, o que era engraçado de pensar.

Selei nossos lábios por alguns minutos e logo sua língua pediu pra aprofundar o beijo. Ta, eu cedi. Só porque hoje meu humor até que não estava tão ruim.

Me separei dele quando percebi que ele já passava sua mão por dentro da minha blusa e essa coisa toda.

– Figurinha repetida não completa álbum. – pisquei com um sorriso meio sarcástico.

Deixei-o ali no meu closet, o que foi uma idéia um pouco ruim e logo peguei meu estojo de maquiagem por cima da penteadeira, apenas fazendo uma maquiagem pouco leve pra esconder as olheiras e minha cara de sono. Nada especial.

– E eu achei que os meninos fossem insensíveis. – Ryan apareceu atrás de mim, vestindo sua blusa e rindo fraco.

– Não são só os meninos que podem ser insensíveis e safadinhos, ok? As garotas também podem. – deixei meu estojo de maquiagem por ali e me virei pra ele, enquanto passava por ultimo o meu gloss nos lábios.

– Tudo bem senhorita “safada” e “insensível”... – fez aspas com os dedos me fazendo rir. – Adorei a noite de ontem, se me permite dizer e... Quer que eu te carona pra escola? – perguntou, dando de ombros.

Arqueei as sobrancelhas. Não queria chegar com ele na escola...

– Não vai passar na sua casa, se trocar ou sei lá? – perguntei e o vi balançando a cabeça, dizendo que não. Suspirei. - Tudo bem, me espera lá embaixo... – dei um meio sorriso.

Ele assentiu, enquanto saía do meu quarto.

Terminei de me arrumar, peguei minha bolsa com as coisas da escola e tudo isso e logo saí dali. A casa já parecia quase arrumada, podia ver algumas faxineiras arrumando as coisas e sorrindo falsamente pra mim. Acho que elas me odiavam. Todos me odiavam. Ryan me esperava na porta, antes tomei um dos meus “comprimidos pra ressaca” e logo o acompanhei até o seu carrinho.

E logo estávamos nós lá na escola. Saí um pouco apressada do carro do Ryan, esperando que ninguém nos visse juntos para não fazerem fofoca e logo saí andando sem o esperá-lo.

– Hey, não vai dizer nem um obrigado? – Ryan apareceu ao meu lado.

– Obrigada pelo que, afinal? – bufei.

– Chel... – ele pareceu suspirar enquanto colocava um dos seus braços por volta da minha cintura. – Só do tentando ser legal. Sei que algumas meninas não gostam de serem tratadas como um nada depois da... –

– Olha, eu não sou igual elas. – parei de andar e fiquei em sua frente. – Sou melhor. E não preciso de você e de homem nenhum, ok? – arqueei as sobrancelhas. – Foi só uma noite e não pense que pode haver outra além dessa. Já disse que... –

– Ok, ok... Figurinha repetida não completa álbum. – ele disse emburrado e depois começou a rir. – Que bom que também pensa assim. – ele disse por ultimo e depois desapareceu, correndo até umas lideres de torcida logo à frente.

Que bom, pelos menos ele não ficaria no meu pé, certo? Eu sou fácil demais... Eles são assim. Os homens são todos iguais. Te querem por uma noite e depois desaparecem. Depois que tem o que querem, eles só te desprezam e ficam se achando “os caras” por terem ficado com a garota considerada a mais “gostosa” da escola. Neste caso, talvez eu. Mas, eu não vou mais dar mole. Não vou mais ser uma vadia. Eu vou me valorizar.

Tudo isso é tão idiota. Faço tudo, apenas para manter o meu status.

Caminhei pelo corredor da escola como sempre e deixei algumas coisas no meu armário e peguei meus livros para a próxima aula. Química.

Droga, vou ter que conviver com Justin, meu parceiro nesta aula. Existe coisa pior?

– Oiiii, Chel. – me assustei com a voz entusiasmada de Maddie vindo ao meu lado e a fitei, rindo.

– Animadinha hoje, Maddie? – ri, enquanto fechava meu armário e me encostava-se a ele.

– Você não sabe como! Tive uma noite ótima! Sua festa foi fantástica! – ela bateu palminhas. Revirei os olhos.

– Ué, não era você que estava reclamando dela na noite passada? – fiz cara pensativa.

– É, mas, depois que você subiu com o Ryan... –

– O QUE? Me viu com ele? – me fingi de assustada e Maddie riu.

– Todos viram. Esse era o propósito, né? Estão todos comentando que você fisgou outro gatinho do time de basquete... – ela deu uma risadinha. – Há até um debate de quem será o seu próximo. – Maddie bateu de leve no meu ombro, me fazendo bufar com um pouco de raiva.

– Que ótimo. – murmurei irritada. – Mas, e você... Como foi a festa? – perguntei.

– Promete que não vai ficar brava, pirar e nem dar a louca ou começar a gritar aqui? – ela mordeu os lábios. Sempre fazia isso quando tava nervosa.

– Não... –dei de ombros.

– Fiquei. Com. O Justin. – ela disse, um pouco rápido, um pouco devagar, mas, entendi.

E claro, eu pirei.

– COMO É QUE É MELHOR AMIGA TRAIDORA? – gritei, segurando seus ombros e ela me olhou um pouco assustada.

Talvez eu tivesse com uma cara de espanto horrível. Mas, não liguei.

– Você prometeu... –

– FODA-SE! Como você pode fazer uma BURRISSE dessas? – abri minha boca em um perfeito ‘o’, enquanto a encarava. Ela deu uma risadinha tosca.

– Amiga... –

– Não vem com essa de amiga pra cima de mim não! – cruzei os braços.

– Eu... Eu te conto depois, temos aula agora. – ela disse, rindo.

É. O sinal havia tocado e eu nem ao menos percebi.

Maddie, sua traíra! Gritei sozinha na minha mente. Peguei minha bolsa e parti para a minha sala. Pisava forte, com raiva ou sei lá. Eu ia ter uma conversinha com Justin. Ele não ia usar a minha amiga! Não ia mesmo! Garoto imbecil, canalha, idiota, que só sabe iludir 10 meninas em uma única noite. Com seu sorrisinho tosco e seus olhos lindos.

Espera! Eu pensei isso mesmo? Olhos lindos? Fala sério, Chelsea.

Enfim, entrei na sala rápido, já que o professor não havia chegado e sentei-me na única cadeira vaga na sala. Ao lado do idiota. Se tivesse outra cadeira vaga, não pensava duas vezes em ficar longe desse traste.

– Chelsea... Chelsea... – sua voz irritante soou pelos meus ouvidos me fazendo fitá-lo com a cara mais infeliz do mundo. – Como vai a minha garota malvadinha? – ouvi sua risadinha contagiante e nojenta.

Minha garota malvadinha? MINHA? Ta zoando comigo?

– Estaria muito feliz se tivesse bem longe de você. – sorri sarcástica e ele riu, de novo pra variar.

– E sua noite foi boa né? Ryan Butler... – ele disse com um tom de sarcasmo. – Ele contou todos os detalhes pros garotos do time. Disse o quanto você implorou por ele e como você foi fácil... Disse o quanto gostosa, fútil e imperdível você é... E quer que eu conte mais? Os detalhes... Quentes e... –

– Imbecil! – dei um tapa na sua cara, fazendo que ele colocasse a mão no lugar onde eu havia batido. Estava com seu rosto vermelho. Não sabia se era de raiva ou por conta do tapa. – E o que você fez com a minha amiga? Você não vai usar ela, ok? Não vai! – voltei a me sentar na cadeira, já que eu estava de pé raivosa há alguns minutos.

– Você vai me impedir? – riu

– Vou. Ela não merece ser tratada de qualquer jeito. – falei um pouco mais baixo, quando percebi o professor entrando na sala.

– Tem razão. Ela não merece.

O professor pediu silencio e logo não se ouvia mais nada na sala além de sua voz explicando alguma coisa. Peguei meu celular e fiquei checando algumas coisas. Twitter, emails... Sei lá, só queria fugir dessa aula tediosa.

Justin fazia o mesmo. Mexia no seu celular.

Guardei meu celular e voltei meu olhar pro professor. Eu não conseguia entender nada do ele dizia. Exatamente nada.

Sabe quando sua mente estava ali, mas, seu corpo parecia estar em outro lugar? Então.

Esse povo da escola era tudo duas caras. Começando por mim, a garota fraca e sem amor, escondida por trás de sarcasmo e um coração de pedra. Depois vinha Justin, o garoto com cara de anjo, mas, que de anjo na tinha nada. O garoto manipulador... Argh!

– Stromberg e Lestrange? – ouvi o professor chamar-nos ao longe.

– Hm? – murmuramos juntos olhando para o barbudinho.

– O trabalho de vocês, cadê? – perguntou e eu fitei Justin por alguns segundos que deu de ombros. – O prazo de entrega é até amanha. – o velho disse por ultimo e logo o sinal bateu, encerrando sua aula.

Eu saí da sala apressada levando minha bolsa. Caminhei pelo corredor até o meu armário, e cada passo que eu dava, as pessoas me fitavam e cochichavam... Como sempre! Tenho vontade de socar a cara de cada uma delas. Ah, como tenho vontade.

– Chel! – senti alguém segurar meu braço e me virei, vendo Justin.

– O que você quer? – bufei de raiva.

– O trabalho. Pra amanha... – franziu a testa.

– Não sou muito de fazer trabalhos. – dei de ombros enquanto ia até meu armário e o abria.

– Nem eu, mas, temos que fazer, malvadinha. – ele deu uma risadinha. Qual é, ele ainda tava do meu lado?

– Podemos conversar sobre isso depois? Tenho que me trocar pra educação física. – revirei os olhos, enquanto colocava minha bolsa no armário e essa coisa toda.

– Tudo bem. Também tenho educação física agora... Nos vemos na quadra. – sorriu de canto.

Dei de ombros enquanto fechava meu armário e ia até o vestiário.

Tive que colocar aquela mini roupinha de líder de torcida. Uma mini saia e um top, ambos vermelhos e brancos. Até que era bonitinho.

Depois, me dirigi até a quadra onde as meninas estavam. Podia ver todas separadas. Algumas conversando com os meninos, outras se alongando, outras sentadas.

Enfim, fui até Maddie que conversava com uma menina desconhecida por mim.

– Hey, amiguinha traíra. – bati no seu ombro.

– Chelsea. – ela me fitou, com um sorriso. – Você ficou ótima. – me olhou, rindo.

– Desde quando você é irônica, queridinha? – ela riu.

Bufei.

– Bom garotas... Estamos todas aqui? – a nojentinha da Clarisse apareceu, e todas já estávamos numa roda. – Vejo que a queridinha Lestrange veio... – sorriu sínica.

– Com toda certeza, Kingston. – retribui o sorriso falso.

– Vamos nos alongar então. – disse com as mãos na cintura.

Ah, deus... O que eu fazia aqui?

Enfim, antes de vomitar com a nojentisse dessas garotas, me coloquei ao lado de Maddie e fiquei me alongando com ela. Ela me contava de algumas coisas da noite passada, mas, eu não entedia nada.

Aí, vi ela acenar pra alguém... Segui seu olhar e lá estava Justin, acenando pra minha amiga.

– Maddie! – gritei.

– O que foi? To tentando ser educada! Ele acenou primeiro! – ela disse em defesa.

Revirei os olhos. Terminei de me alongar e dei uma corridinha até Justin que tava sentado em um banco ali perto da arquibancada, ou sei lá.

Esse garoto me dá ódio. E ele não vai brincar com a minha amiga!

– Não consegue ficar longe de mim, certo? – ele mordeu os lábios, me fitando de cima abaixo. Como eu odeio essa roupinha de líder de torcida.

– Vai se fuder. – coloquei as mãos na cintura. – E eu já mandei parar de brincar com a Maddie, ok? – arqueei as sobrancelhas.

– Ok, ok. Venceu. – ele disse, se levantado com sua risadinha sarcástica e idiota. – ah, e você ficou uma delicia com essa roupinha de líder de torcida. – ouvi o mesmo sussurrar no meu ouvido.

– Tarado. – dei um soco no seu ombro.

– Mas, você me adora, fala a verdade.

– Porque eu gasto meu tempo falando com você? – bufei, enquanto dava de costas e voltava a andar até as meninas.

– Até a noite então, Chel. – o ouvi gritar. Canalha.

Logo pude ouvir risadinhas e as vozes dos garotos. Apenas me virei e mostrei meu dedo do meio pro Justin, que riu.

– Já marcou seu encontro, vadiazinha? – Clarisse me perguntou, sarcástica.

– Aposto que tem inveja de mim. – ri sarcástica.

Ela não disse nada, só nos disse o que iríamos fazer e essa coisa toda.

Ótimo. Treino.

Eu já disse o quanto odeio essa torcida? Pois é. Odeio. O pior são os garotos, que fingem estar jogando e ficam só de olho nas garotinhas aqui. Claro, com essa mini roupa.

Esse povo precisa de algumas lições. Quem sabe alguns dedos ou cabelos cortados não sejam boa idéia? Clarisse, se prepare, você é a próxima da minha lista negra. Depois que eu cuidar do senhor idiota, é claro.