The Black Halo escrita por Akashitsuji


Capítulo 9
Capítulo VIII - Quoth the raven, “Nevermore.” [I]


Notas iniciais do capítulo

Novamente, desculpem-me pela demora. As férias estão aí, e os capítulos passarão a sair com mais frequência. Obrigado por acompanharem e lerem até aqui, até a próxima!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/168813/chapter/9

Madrugada à dentro, os sons repetitivos e ritmados oriundos dos incessantes impactos de uma sólida pá contra a fofa terra em algum ponto da propriedade Phantomhive entrelaçavam-se com diversos tantos outros sons que ecoavam, entoando repetidamente a história que havia transpassado algumas horas atrás. O silêncio da noite envolvia todos os ruídos, dando-lhes destaque e uma sonoridade um tanto dramática; Soavam como solitários tambores anunciando a vitória de um exército ante ao primeiro confronto de uma nova guerra – Vitoriosos, porém, apreensivos com o desenrolar futuro que a teia do destino lhes reservava.

Sebastian cavava um fundo buraco com uma expressão solene e imutável, supervisionado por Ciel. A cova de Julian Halley estava sendo criada num local de honra, próxima ao túmulo de seus pais. Por mais que não tivesse qualquer tipo de apego pessoal pelo cocheiro que frequentemente lhe prestava ótimos serviços, as circunstâncias de sua morte aturdiram a alma do pequeno conde Phantomhive, acarretando o surgimento de um sentimento de culpa, bem como o dever de lhe conceder um fim propício e honrado, um fim que não receberia.

A vida de cocheiro era difícil, mal remunerada e arriscada. Julian era um jovem de uma classe avantajada, mesmo assim, arriscara tudo pelo que amava fazer, levando uma vida dupla, sujeito a diversos infortúnios, ainda mais para um trabalhador solitário cuja identidade nada mais era que uma farsa levantada para que os rumores não se espalhassem.

Sujeitou-se a trabalhar destemidamente para um Conde sombrio do submundo incontáveis vezes, aparentando ser psicologicamente imune ao fato de que toda viagem que realizasse seria como transportar barris recheados de pólvora através de um inferno flamejante, tamanhas eram as ameaças que poderiam assolá-lo por transportar um passageiro tão visado pela laia criminosa.

Naquele fatídico dia, Julian deveria ter mantido seus hábitos costumeiros. Uma lista enorme de “deverias” podia ser traçada num papel comicamente longo, e se fosse obedecida à risca, o jovem “deveria” permanecer vivo com sua família e seu sonho. O jovem, porém, havia decidido sumariamente que aquele seria um dia diferente, e fez valer sua decisão; Decisão esta, que o levou a morte.

Julian havia meditado e resolvido tratar suas responsabilidades com mais cuidado para que sua vida secreta se mantivesse erguida durante a noite, e não trancafiada em algum quarto como punição por má conduta na faculdade. Por mais que fosse maior de idade, o homem ainda vivia sob a asa dos pais, portanto, honrar seus deveres diários seria a melhor forma de evitar qualquer risco futuro.

Durante o dia, responsavelmente levou seus deveres a suas respectivas conclusões, bem como seus deveres para com a faculdade ou qualquer tipo de trabalho que lhe fosse dado, o oposto do que faria normalmente, ignorando completamente estes fatores, ganhando tempo e o perdendo pouco depois diante da chuva de broncas e reclamações paternas. Havia percebido que agradar sua família era a forma mais rápida de se ver livre e fazer o que amava.

Tendo cumprido tudo que lhe fora repassado, o cocheiro-estudante Julian Halley permanecia de pé orgulhoso e entusiasmado de pé na praça, a luz do crepúsculo reluzindo em seu rosto e sua roupa usada, disfarce costumeiro. Caso tivesse mantido seu hábito normal, o jovem só estaria de pé no ponto habitual pouco depois do pôr-do-sol; Naquela noite, em especial, não sairia de casa.

Tendo em vista suas incontáveis falhas com suas responsabilidades, seu pai lhe preparava um castigo prendendo-o durante toda aquela noite. O cansado homem - que já exibia não os primeiros, mas os centésimos sinais de seu envelhecimento – fora presenteado com uma surpresa que lhe deixara orgulhoso, porém, que custara a morte de seu amado filho. O liberou então sem hesitação para a morte naquela noite.

O que tomava a mente do menino naquele momento como sua responsabilidade era mera decorrência de uma egoísta coincidência provida pela sua pressa pouco habitual, provavelmente nascida da sequencia contínua de acontecimentos num mero dia como aquele. Sua urgência cega naquela noite o havia feito contratar o jovem Julian, apenas para fazer o derradeiro convite de hospedaria na pensão da morte e do desespero.

A Morte para o cocheiro-estudante de Londres.

O Desespero para a família Halley.

Devido à identidade dupla do jovem, nenhum de seus clientes ou eventuais companheiros de conversa na madrugada conhecia o estudante Julian, bem como nenhum de seus colegas da faculdade ou seu pai conheciam o cocheiro Julian. Como num sublime toque final da danação, a promessa feita por Ciel em manter o segredo do homem, impedia que a verdade chegasse aos ouvidos de quem o amava.

Sua família procuraria incansavelmente sob o pranto derramado em meio à chuva por seu amado Julian, nunca o encontrando ou lançando olhares sobre seus cabelos chamativos novamente. A existência de um cocheiro solitário e sorridente cuja mente provinha estranhos aleatórios nomes sempre que perguntado seria apagada completamente; Ou melhor, seria ignorada como se nunca tivesse feito praticamente parte daquela praça durante a madrugada.

A verdade seria negada eternamente a todos aqueles que procurassem por um menino-homem sorridente que cavalgava junto a seus sonhos, deixando cada vez mais apenas a lembrança impalpável, ao mesmo tempo sólida e irreal de seus cabelos esvoaçantes contra o vento ou seus olhos destemidos encontrando a linha do horizonte.

O mundo nunca iria ouvir falar de um corredor chamado Julian Halley.

De um excelente cocheiro?

Desleixado, porém genial estudante?

Amado filho?

De um futuro criador de cavalos?

Não.

“Lembre-se, Ciel, o futuro deste jovem, afinal, não foi ceifado por mim, não, não. Foi por você. Você sabe o que se tornou, negar é completamente inútil, tal como cair em prantos pelos mortos. De uma forma ou de outra, eu viria aqui ao som da ultima badalada do novo dia, e no fundo, você sabia disso. Eu não tocaria nos soldados de meu adversário assim, não sou tão desleal... Mas um espectador é outra coisa! Afinal, humanos adoram fazer parte de espetáculos. En-tre-tan-to... Foi você que o trouxe aqui, você o recrutou para meu show macabro, e você trouxe uma alma madura para este humilde fazendeiro colher.”

As palavras de Mephistopheles permeavam sua memória, insistindo em se atar a ela através de correntes indômitas e indestrutíveis, criadas não pelo adversário, mas por sua própria consciência. Mais do que o significado profundo e aterrador que fora deflagrado em seu cérebro sem possibilidade de defesa, foi a cena seguinte que lhe marcou com o ferro quente da sua nova realidade como o selo real de uma carta antes de ser enviada para lugares longínquos.

O novo e macabro oponente meneou a cabeça para o lado de uma forma assombrosamente perturbadora, dando-lhe inclusive o aspecto de ter quebrado violentamente o pescoço. E talvez, este era exatamente o detalhe. Detalhe este que fez os grandes olhos do pequeno conde se abrirem alarmados enquanto segurava sua noiva em seus braços. O masoquismo constante e sem sentido do invasor teve seu verdadeiro sentido exposto num mero gesto final.

Ciel enfim percebeu o que provavelmente seu mordomo já tinha pleno conhecimento. Enquanto a imortal criatura residisse no corpo do cocheiro, assim também seria imortal a alma do jovem. Deste modo, assim que Mephisto liberasse o corpo, todo o dano que este havia recebido seria desferido de uma vez contra o jovem, infligindo-lhe numa fração de segundos uma dor horrível e indescritível.

O retalhamento severo e brutal que havia modificado sua aparência e lançado uma quantidade absurda de sangue pelos ares. O dedo decepado perturbadoramente. O pescoço quebrado que foi o aviso.

E a incerteza do que mais havia se passado durante o duelo do labirinto, as tantas outras dores que poderiam lhe aguardar.

O instante seguinte foi marcado por um urro de dor indescritível, um pilar escuro de sangue que aos poucos dava lugar a uma cascata carmesim, e uma luz vermelha e espectral deixando o corpo do jovem Julian, agora totalmente irreconhecível, mesmo limpado adequadamente.

Num reflexo, Ciel deslizou os olhos rapidamente para os empregados. Nenhum deles parecia ter ouvido qualquer grito ou ter ciência de uma terrível cachoeira vermelha; Todos comemoram a vitória, alegres e orgulhosos por terem levado seu mestre a vitória, ignorando totalmente a presença de um cadáver terrível.

Por um breve instante, o herdeiro Phantomhive ponderou e considerou uma possível alucinação decorrente de todo o stress daquele dia, a pressão que havia posto sobre si mesmo, além das mudanças prováveis de sua transformação. A idéia de uma alucinação no fim das contas, era estranhamente agradável e reconfortante para o menino. Talvez Julian estivesse dormindo em seu quarto tranquilamente?

Não.

Ao rolar os olhos, despreocupado, encontrou as orbes vermelhas do mordomo. Sem sequer pronunciar uma palavra, os olhos daquele que o serviu durante longos três anos lhe sentenciou novamente ao fio gélido da lâmina da guilhotina da realidade. Seus olhos frios, há muito banalizados por cenas como essa lhe negavam o reconfortante e tépido toque de uma irreal teoria de alucinação. Flashes de um passado não tão distante onde seu mordomo havia massacrado dezenas de cães imundos da nobreza lhe preenchiam a mente como em recordação a um mar de sangue. Sua vista escureceu.

Todos esses acontecimentos de horas atrás soavam para o conde como um passado distante, mas ainda tão vivo e tão presente que poderia tocá-lo. As preparações para a cova de Julian Halley estavam sendo feitas por Sebastian, enquanto Finnian dava fim a planta que causou tão grande desastre, Bard e Maylene limpavam o terreno, concertando o que fosse necessário e Tanaka cuidava de uma adormecida Elizabeth.

O jardineiro usava pouco esforço para retirar as mórbidas raízes da árvore do sagrado solo Phantomhive, recolocando terra sobre o buraco que ali jazia fundo como um poço. O que parecia barro aos olhos do menino loiro, no fundo do poço, na verdade era o sangue das diversas quimeras, isto é, do cocheiro; O avistou de relance por uma fração de segundo, tornando-se barro novamente. Ignorou e prosseguiu.

 Volta e meia a empregada e o cozinheiro avistavam de relance nos diversos buracos no solo decorrentes de explosões e afins, partes dos corpos bestiais de seus inimigos. Olhos, garras, pedaços de pele, ou até mesmo de carne que pareciam sumir como alucinação através da noite. Assim como Finny, ignoraram e prosseguiram. Na realidade, tanto as partes desmembradas quanto o pequeno poço de sangue eram reais, entretanto, invisíveis para humanos normais.

 Sebastian podia vê-las todas, mas para o mordomo, não importava. Não era a primeira vez que via algo semelhante, além disso, nunca fora humano ou havia se importado com tais cenas. Importava-se apenas em manter seu pacto, obedecer às ordens de seu mestre, não por fidelidade, mas pela estética do contrato.

Pouco tempo depois, o enterro do jovem cocheiro-estudante foi realizado com a presença de todos os servos Phantomhive, ainda na madrugada, em sigilo. O corpo era acomodado num caixão improvisado com a madeira que havia no estoque; Os servos haviam sugerido utilizar a - antes gigantesca - árvore morta, porém, a idéia fora prontamente recusada pelo mordomo.

Enquanto Finny e Bard desciam o caixão no buraco cavado anteriormente, Sebastian estava ausente. Os servos Phantomhive todos olharam altivos e pesarosos quando o caixão emitiu seu ruído final ao se encontrar com o chão firme, pouco antes do jardineiro e o cozinheiro recobrirem o buraco com a terra que o mordomo havia retirado. Ao terminarem a tarefa, depositaram uma placa de pedra previamente colocada sobre a terra, em frente a uma lápide modesta.

JH, Aquele que carregava os ventos consigo.

Nascido em 1866. - Morto em 1888.

Que possas levar o vento através do Éden com os alazões dos Céus.

Sebastian surgia no horizonte escurecido pelas sombras da madrugada carregando uma figura minuciosamente esculpida num material único e assombroso, a madeira restante da árvore amaldiçoada. A figura tornava-se cada vez mais detalhada e impecável com a aproximação do talentoso homem de preto, rapidamente deixando claro apesar da escuridão do que se tratava - A figura plenamente ornamentada de um orgulhoso cavalo.

Sem que uma palavra fosse dada, caminhou até o túmulo da jovem vítima do destino, depositando acima desta a figura recém criada em sua homenagem. O cavalo havia sido esculpido com a madeira amaldiçoada, em homenagem ao seu sonho, além de referenciar as circunstancias de sua morte e seu sacrifício durante aquela madrugada. Após acomodá-lo no topo da tampa de pedra, o mordomo virou-se para seus companheiros de serviço e seu mestre.

- Este cavalo, criado a partir da mesma árvore retirada do terreno, será a oferenda aos céus e a este jovem, será o símbolo da vitória dos Phantomhive, será a prova que não morreu em vão.

Estendeu a mão para Tanaka, num gesto que lhe pedia silenciosamente a posse do pequeno castiçal que carregava para iluminação. Assim que o tomou em mãos, levou-o lentamente até o detalhado cavalo de madeira seca, ateando-lhe fogo. Por se tratar de madeira seca, além do teor amaldiçoado da árvore, a réplica foi rapidamente engolida por brilhantes chamas vermelhas durante um curto que período de tempo que soava como a eternidade.

Os únicos ruídos além das respectivas respirações daqueles presentes eram o ruído discreto da dança do fogo e de suas fagulhas que insistiam em espalhar-se como num salão de um grande baile onde os convidados espalham-se bailando pelos cantos – Ambos servindo de solene marcha fúnebre para a partida da alma do cocheiro, agora, com um purificado cavalo nos céus.

Um a um, os empregados retiraram-se timidamente, cabisbaixos, sob autorização de Ciel. Ao fim de um grande período de silencio e partidas para o restante dos afazeres, ou para dormir, restaram apenas Sebastian e o conde.

- Muito apropriado reconfortar o espírito de todos com mentiras como aquelas. Entretanto, as vezes penso se este silêncio não é uma oferenda melhor. – Denotou o conde.

- Se me permite a liberdade, Jovem Mestre, porém não são mentiras, como diz.

- Não me faça rir, Sebastian! Um demônio falando sobre o Céu, ou escrevendo belas frases mortuárias em lápides?!

 - Não se trata de mentir, afinal, tudo que fora dito se trata na verdade, da realidade. Como o jovem mestre comentou, é deveras estranho um demônio falar a respeito destas coisas, visto que não acredita nelas. Existe uma fina linha entre acreditar em sua existência e o fato real que a comprova. Além disso, recorda-se do contrato? Eu nunca minto.

 O Conde Phantomhive calou-se e seguiu adiante em direção a porta de sua mansão. Ao alcançá-la, restando poucos passos para cruzar seu umbral virou-se para o mordomo com uma expressão diferente no rosto. Sua feição mostrava traços de uma grande determinação gerada não só pelo desenvolvimento do caso, mas alimentada pela culpa que havia posto em si mesmo.

 - Sebastian, prepare a carruagem. Vamos visitas novamente a abadia, nossa próxima pista certamente estará lá, Mephistopheles não pode ter saído sem deixar rastros.

 - Pois não, Jovem Mestre. Como devo proceder quanto à Lady Elizabeth e os outros? – O mordomo aproximou-se da porta, curvando-se lentamente diante do mestre.

 - Apenas deixe um bilhete nas mãos de Tanaka com instruções para cuidar da Lizzy e prossigamos o mais rápido possível.

 - Yes, My Lord.

 Sebastian fizera como ordenado, e assim mestre e servo rasgaram o véu de escuridão e orvalho da madrugada, viajando através da noite em direção a Londres. O vazio da madrugada possibilitava uma viagem acelerada pela ordem do conde, sem outras carruagens no percurso, reduzindo em muito o tempo que consumiriam até alcançar a cidade.

 Mesmo com pouco tempo para fazê-lo, a carruagem lhe reservou uma vez mais um novo período de confabulação e reflexão, desta vez não só para idéias previamente postas em sua cabeça seja por Sebastian ou Mephistopheles, mas uma sensação que crescia dentro de si. Um vazio que pairava dentro do seu ser, mas não por uma suposta ausência de alma ou semelhante, um vazio que ansiava ser preenchido com certa violência desconfortante.

 Ciel analisou a si mesmo em silêncio, procurando a resposta para aquela sensação de vazio que lhe queimava por dentro, que lhe consumia numa busca por algo que nem ele tinha conhecimento do que era. Seu ferimento no estômago cicatrizava em velocidade, mas não como esperado; Mais do que isso, o ferimento queimava de forma estranha, como se seu corpo buscasse energias para fechá-lo. Um flash esverdeado cruzou sua mente, porém, como a simples resposta para uma simples pergunta.

Quatro letras, duas sílabas e um significado muito mais profundo. Fome.

Não era qualquer fome comum, ela não produzia ruídos em sua barriga, muito menos era originada de lá. A fome vinha de toda a essência de seu ser, transtornando-o, aumentando sua tensão e desespero a cada segundo que corria pelo relógio do mundo, pelo relógio de sua vida. Como Ciel havia se transformado recentemente, seria natural que esta primeira fome fosse avassaladora e crescente, seu corpo não havia ainda experimentado qualquer tipo de nutrição real em sua nova vida.

Numa tentativa de se distrair, o Conde levou seu rosto até uma das janelas da carruagem, observando onde estavam. Já haviam alcançado Londres e agora cruzavam a praça onde Julian costumava oferecer seus serviços como cocheiro. Aparentemente vazia e sem muito para observar, o menino se preparava para deixar a vista noturna, quando avistou um grupo de mendigos próximos a um barril com diversos furos que permitiam que a luz da chama que queimava em seu interior transpassasse.

Num lapso de alucinação, viu a chama tornar-se esverdeada, pouco a pouco permitindo que uma imagem semelhante ao rosto do recém-falecido se formasse acima do barril. Os olhos do menino transformaram-se instantaneamente, focando o grupo de mendigos. Como se não só os olhos houvessem se transformado, mas também a forma de enxergar as coisas, a realidade, inconscientemente o cão de guarda da rainha observou o grupo não como pessoas, mas como comida, como suas presas.

Assustou-se incrivelmente quando tomou notícia de como havia os visto, revertendo seus olhos bruscamente enquanto levava a mão ao rosto, recobrindo-o e ganhando a escuridão como paisagem por um longo período de tempo.

“Que tipo de animal eu me tornei? Vou passar a caçar inocentes pela noite para saciar esta... Fome?”

- Jovem Mestre. Chegamos à abadia. Tomei a liberdade de parar a carruagem num local pouco visível. Podemos?

A porta já estava aberta, e a figura que havia se tornado seu mordomo estendia a mão para que descesse. Era estranho para o conde como uma figura negra como ele havia lhe concedido naquele momento um raio de luz em sua nova e nebulosa existência. Sebastian havia agüentado séculos sem qualquer tipo de alimento que lhe nutrisse realmente; Seu desafio seria mais difícil, considerando seu primeiro impulso para se alimentar, mas não impossível.

- Devemos, Sebastian. Vamos!

Cruzando a rua silenciosamente como dois gatunos na noite, mestre e mordomo avançaram em direção a entrada principal da igreja, aquela que haviam tomado mais cedo. Antes que cruzassem as portas abaixo dos vitrais destruídos e estátuas desprovidas de rosto, o homem de preto estendeu o braço, bloqueando o avanço de seu mestre. Ciel não argumentou, mesmo que tivesse percebido antes, seus novos instintos e afiados sentidos permitiram que notasse a presença de alguma figura camuflada na escuridão da porteira.

- Mostre-se, ou terei de fazê-lo por você.

Sebastian ordenou descrente que tal ordem de fato ganharia uma resposta, e mais, ganhasse a devida obediência.

- Hmmm Sebas-chan, eu simplesmente adoro quando você toma a iniciativa! Uma delicada dama como eu recebendo cortejos como estes, oh! Fico com-ple-ta-men-te arrepiado!

De dentro das sombras da porteira surge saltando uma figura trajada completamente com um chamativo vermelho, mesmo escurecido pela noite. O homem de cabelos ruivos vai em direção ao mordomo em meio a seu pulo, preparando um feroz ataque com sua arma, uma moto-serra alaranjada. A idéia do conde de se infiltrar silenciosamente ia por água abaixo, visto o barulho da arma, isto desconsiderando a possível luta que se daria ali.

O mordomo agilmente esquivava-se para trás com seu mestre, enquanto a lâmina rotatória da “foice” do shinigami escandaloso atingia o solo já danificado, causando grande impacto que lançou poeira para os lados, dificultando a visão do curto espaço a frente. Aproveitando a chance, desferiu um corte horizontal em linha reta, almejando atingir o mordomo, que provavelmente estaria do outro lado da nuvem de fumaça.

- Ahhn, Sebas-chan, o que é isso?! Desta vez foi tão simples... Não tive tempo de apreciar o momento e alimentar as chamas de minha paixão!

- Esta é justamente a idéia, Grell Sutcliff. Tais fantasias imundas são desnecessárias, portanto, vamos acabar logo com isso.

A voz do homem de preto, ecoava do lado oposto onde o shinigami havia atacado e presumido que estariam. Na verdade, além de vir da direção oposta, seu som vinha de mais alto. Num reflexo rápido, o ruivo virou-se para trás, observando apenas uma figura negra atingindo brutalmente seu rosto com um chute com a sola do sapato.

O ruivo foi lançado para trás, porém, rapidamente recobrou o equilíbrio, pondo-se de pé com sua arma e um rosto parcialmente inchado. Com uma das mãos, acariciava sua face, resmungando com um nariz ensangüentado.

- Sebas-chan! Não sabe que é descortês atingir o rosto de uma lady desta forma?!

- Na verdade, a expressão mais apropriada seria “pisar”.

O pálido homem de preto avançava sem trégua contra o adversário, desferindo uma sequencia rápida de chutes miravam precisamente no rosto do ruivo, que se esquivava ferozmente tentando evitar qualquer impacto direto contra sua parte mais adorada. Os golpes com as pernas, entretanto apenas distrações momentâneas que pavimentavam espaço para o verdadeiro golpe.

Com os punhos livres, Sebastian desferiu um golpe certeiro contra a boca do estômago do inimigo, fazendo-o se curvar por alguns instantes. Instantes estes aproveitados para que o mordomo lançasse seu joelho contra o rosto do ruivo através de um violento pulo. O shinigami foi então lançado contra o meio da rua com o rosto sangrando e as pernas abertas contra o alto.

Enquanto Grell preocupava-se apenas com a integridade estética de seu rosto, o hábil mordomo tomava a foice que havia sido deixada para trás, caminhando em direção ao adversário. Assim que encontrou seu campo de visão, levantou a arma contra ele numa clara referência de ameaça.

- Nãooo, isto definitivamente não está correto! Sebas-chan, não olhe para mim, eu lhe suplico! Uma dama como eu não deveria ser flagrada num momento tão íntimo e inapropriado como este, com as pernas desta maneira! ... Ah não ser que...

Antes que a frase pudesse ser finalizada, Sebastian cravou a moto-serra através da calda do longo casaco do homem de vermelho, atravessando o solo profundamente e o prendendo ali, a não ser que abrisse mão da estimada vestimenta vermelha. Por reflexo, o shinigami se calou, fechando enfim as pernas com um olhar assustado.

- Espero não ter alimentado qualquer chama que seja. De qualquer forma, se me der licença, preciso atender ao chamado do meu mestre.

Arrumando seu paletó, o homem por fim caminhou em direção a seu mestre, tencionando cruzar as portas da igreja em busca de pistas, antes de serem uma vez mais interrompidos pelo inconveniente shinigami, novamente de pé com a arma em mãos.

- Espere Sebas-chan! Vocês querem entrar aí?! AÍ?! Então creio que vão precisar da ajuda de um shinigami de MORRER!

Numa fração de segundos Grell foi surpreendido pela figura sorridente e sarcástica em sua frente que lhe chutou no rosto de forma agressiva e veloz enquanto tomava-lhe a foice da morte. O ruivo foi lançado contra uma parede criando grande estrondo, ao passo que Sebastian lançava a foice contra as portas da abadia, rompendo um selo que ali jazia. Por fim, caminhou até o desfigurado e inconveniente homem de óculos, arrastando-o para dentro da abadia.

No interior, Sebastian, Ciel e Grell se depararam com uma cena que representava completamente a extensão do poder do novo inimigo. Mesmo arrastado contra o solo, o shinigami descreveu perfeitamente a situação.

- Ahnn... Fui contratado para ceifar almas, não para limpar banhos de sangue... Lá se vai meu sono de beleza esta noite.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "The Black Halo" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.