The Black Halo escrita por Akashitsuji


Capítulo 10
Capítulo XIX - With such name as “Nevermore.”


Notas iniciais do capítulo

Bom, por onde começar? Fazem séculos que não posto a continuação da fic, e peço desculpas a todos que eventualmente esperavam o restante do enredo, especialmente aqueles que se deram ao trabalho de comentar e elogiar o trabalho em todos os diversos capítulos. Desde o final do ano passado, ultimo momento em que postei um capítulo, meu tempo ficou cada vez mais reduzido a diversos fatores, e sendo sincero, por vários motivos me vi sem vontade alguma de prosseguir adequadamente. Além disso, quando o tempo estava vago a história não fluía. As três primeiras páginas deste capítulo pareceram levar uma eternidade para serem escritas e as palavras nasciam em câmera lenta durante três meses. Eu poderia ter forçado seu nascimento, mas creio que um parto prematuro comprometeria a qualidade da história. Portanto, depois de tanto tempo quanto Sebastian serve Ciel, lhes apresento o novo capítulo.



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Esquerda, direita, acima, abaixo; No chão, no teto, nas paredes e nas janelas; Nas estátuas, nos bancos, nos escombros e pelas pequenas vielas. Estavam por todos os lados, por todos os cantos, espalhados, decepados, desmembrados, armas bagunçadas, quebradas, desorganizadas ornamentando a abadia de forma diferente e bizarra, redecorada pelas mãos de Mephisto. Podia ter lidado com a oposição de forma simples, num único golpe talvez; Resolvera, porém, guiado por seus incontáveis caprichos finalizar um a um por todos os lados, pelas piores formas, dando-lhes muitas vírgulas, parágrafos e reticências antes de um fúnebre ponto que finalizasse suas vidas e seu sofrimento.


O sangue espalhado por todos os lados de forma irregular e desigual dava à abadia um aspecto monstruoso, muito mais do que se estivesse plenamente pintada de vermelho escuro. O chão contava com inúmeras poças como um rio carmesim, falhado apenas próximo aos buracos criados anteriormente pela própria criatura, contribuindo de forma fúnebre para o cenário bem como os diversos cadáveres de shinigamis destruídos e destroçados nos lugares mais improváveis e impossíveis que chocassem instantaneamente quem repousasse os olhos no interior do lugar.


Diversos pendiam empalados em áreas levemente pontudas em rebaixamentos do teto, caídos pelos bancos, enterrados parcialmente pelos destroços, presos a estátuas, desmembrados por todos os lados, e a lista continuaria infinitamente. Sebastian observava a tudo indiferente e austero enquanto Grell permanecia ajoelhado com as mãos no sangue num misto de excitação por todo aquele vermelho e desanimação pela tarefa que provavelmente teria pela frente.


Ciel rolava os olhos desesperadamente através do banho de sangue em meio a uma forte alucinação que havia tomado controle de seu corpo, remetendo-o a época de seu rapto e a carnificina promovida por seu recém contratado mordomo como um carimbo oficial marcando ilustrativamente o contrato, além do próprio selo. O menino procurava desesperadamente um sinal de sanidade naquele pátio, qualquer sinal de vida; Em sua miragem insana procurava desesperado não por um sobrevivente shinigami, procurava a si mesmo, buscando vestígios de uma criança raquítica, triste e mal-tratada. Buscava seu eu passado, seu eu que fora moldado por tamanha crueldade – Mas um eu ainda humano.


Seus olhos hesitavam numa transformação forçada até sua forma sombria, alternando-se entre seu suave azul que havia herdado de seus pais e a cor espectral que havia recebido dos diversos contratos simultâneos que lhe trouxeram a perdição de forma com que seus caninos também se estendiam e retraíam bizarramente, bem como diversas plumas azuladas caíam sobre o mar de sangue, agitando-se com o líquido num horrendo turbilhão carmesim e azul, inclusive arroxeado, em alguns pontos.


“A Fome” que sentia fazendo-lhe ansiar por preencher seu vazio com inocentes almas humanas, aliada às alucinações e traumas que foram esculpidos com ferro quente pelo tempo, pelo destino e pelo mordomo causava um efeito devastador que podia ser facilmente identificado por Sebastian e até mesmo o devastado shinigami Grell. O menino estava revelando pela primeira vez em grande velocidade sua nova e amaldiçoada forma, apesar do esforço para encontrar um fio de realidade e sanidade, por menor que fosse.


O pálido mordomo arremessou o afeminado ceifador em um canto com violência e despreocupação, fazendo com que caísse em meio a uma quantidade enorme de sangue e de cadáveres num dos cantos laterais da igreja enquanto corria apressado em direção a seu mestre, posicionando-se atrás deste, virando-lhe os braços para trás e tampando os olhos habilmente. Mesmo executando o movimento com precisão e força, o antes frágil conde reagia com violência tentando escapar soltando urros de ira que faziam liberar dezenas de outras plumas que rodopiavam cada vez mais rápidas. Sebastian se esforçava para restringi-lo sem ferir-lhe ou quebrar-lhe ossos no processo.


– Ciel... – Uma voz grave, porém doce, chamava-lhe o nome. Não era, porém, de Sebastian ou Grell. O corpo do menino reagiu violentamente num espasmo enquanto o timbre lhe ressoava aos ouvidos, cruzando-lhe todo o corpo, antes que se repetisse novamente.


– Ciel, esse é você...? Vejo como cresceu, fico feliz de ver como agora sua saúde parece ter melhorado, incluindo a asma. Mas... O que anda acontecendo com você agora?


Num misto de ira e tristeza o menino reconheceu a voz que lhe falava, era a voz de seu pai, Vincent Phantomhive, morto há muito no incêndio da mansão. Por mais que não fizesse sentido ouvir aquela voz naquele momento, Ciel deixou de lutar contra a transformação para seguir o bailado dos sons da voz de seu falecido pai no meio da escuridão que lhe cobria os olhos. O turbilhão se intensificava a cada segundo que passava sem qualquer tipo de consciência para restringir o processo que mudaria mais ainda a natureza de sua alma.


Sebastian teve de aumentar ainda mais o uso de sua força para restringir os movimentos de seu mestre que agora assumia uma força descomunal e totalmente nova para aquele corpo infantil e frágil que cedia facilmente às mais diversas doenças e fraquezas. A mão do mordomo apertava fundo em seus braços, puxando para trás, enquanto a outra permanecia gentilmente em seus olhos evitando que vislumbrasse por mais tempo o massacre. Apesar dos incontáveis espasmos e esforços de seu corpo para se libertar, era claro que apenas o instinto atuava naquela situação e a verdadeira mente e consciência do Conde Phantomhive vagavam em algum lugar; Também era notável como até aquele ponto não havia se revelado completamente, evidenciando como talvez o processo só fosse finalizado no momento em que o menino cedesse às trevas.


– Meu querido filho, para de trabalhar, de lutar... Por que não brinca como as outras crianças? – Perguntou a voz num tom triste, preocupado.


– Eu não posso. Não sou mais uma criança como as outras, tampouco tenho direito de brincar e sorrir com elas. Eu sou... Eu era o cão-de-guarda da Rainha, como você; Tinha de carregar este fardo, até ser substituído por outro mais abominável.


– Esqueça todas as regras, Ciel. Não existe medo num sonho. Ou se esqueceu dos seus?


O sangue salpicava no tufão de plumas para todos os lados e com violência pintando todo o restante da igreja destruída de vermelho, e até espalhando novamente diversas partes dos cadáveres que iam se dilacerando cada vez mais em meio àquela energia terrível. O triste garoto permanecia calado ouvindo a voz de seu pai e o poder destrutivo de sua transformação crescia; Sebastian era agora forçado a utilizar uma grande dose de sua força, chegando até mesmo a revelar seus olhos espectrais e seus longos e afiados caninos.


– Recordo-me que certa vez no inverno, você me perguntou “Pai, existe um vilarejo ou pessoas, dentro dos flocos de neve? O que existe dentro deles?”. Diante de tamanha inocência e pureza, recusei-me a lhe dar uma explicação verdadeira sobre a água resfriada, optei por lhe contar como cada um dos flocos continha uma história, um lugar diferente onde os contos de fada se desenvolviam. Como um nobre das trevas que levou a vida de muitos não creio que tenha o direito de prosseguir com histórias bonitas e lendas infantis, porém... Naquele momento senti que poderia expiar meus pecados. Que podia ser outro Vincent, um digno de acalentar meu filho com mãos limpas ao invés destas ensangüentadas e cansadas... Infelizmente não tive tempo o suficiente para vê-lo crescer apropriadamente, e temo ser responsável pelo sangue que agora foi passado para as suas pequenas mãos.


O peito do pequeno menino subia e descia numa respiração acelerada e irregular entre soluços e leves gemidos não de ira, mas de tristeza, de arrependimento e de dor. O tufão sangrento movimentava-se reduzidamente de forma alterada e suspeita, assemelhando-se ao mar melancólico que reservava a energia necessária para transformar toda aquela dor e tristeza em ira e violência. Aos poucos, porém, as ondas iam quebrando-se em direção ao conde e ao mordomo como se quisesse trazê-los para seu interior assombroso.


– Pai, eu... – Ciel se interrompeu num soluçar de dor. – Não sei mais quem sou, tampouco a que ponto cheguei. Não me sinto digno do nome Phantomhive que me fora deixado já que trago desastre e desolação àqueles que se aproximam, àqueles para quem importo. Talvez fosse melhor...


As ondas se precipitavam violentamente sobre Sebastian e seu mestre arrastando-os para um fundo que não existia há pouco, cobrindo seus corpos como se todo aquele aglomerado espectral tivesse se expandido e crescido o suficiente para afogá-los brutalmente. O mordomo sabia que não poderia reagir a não ser que desejasse que a transformação do conde fosse efetiva e mais próxima da permanência do que antes; Sua única opção foi se deixar ser dominado pelo mar de sangue, tomando precaução para que caso necessário agisse.


Fez-se o silêncio na mente do menino. Por um longo período de tempo, pensou que estivesse sozinho novamente, que seu pai o tivera abandonado novamente como se assentisse com a idéia que tinha. Seu coração batia mais rápido e um gosto amargo tomava conta da sua boca enquanto as lágrimas corriam-lhe mesmo que Sebastian tapasse seus olhos completamente. As plumas liberadas se intensificavam em brilho macabro, dirigindo-se rapidamente em meio à violência do tufão em direção ao menino. Cada segundo decorrido fazia com que mais plumas se aglomerassem, bem como o sangue tomava aparência mais espessa como se estivesse se reunindo e concentrando em torno deles.


Sebastian sabia que aquilo era um terrível presságio: Assim que todas as plumas se contivessem junto à massa aglomerada de sangue provavelmente a transformação seria concluída, e sua próxima batalha seria agora para controlar o menino em sua ânsia descontrolada e cega para se alimentar com almas pseudo-inocentes através das ruas apodrecidas de Londres. Precisava reagir de alguma forma, mas não sabia como, até que a voz estridente e desagradável do shinigami ruivo lhe concedeu uma idéia arriscada, mas a única que tinha.


– SEBAS-CHAN! Você está bem?! Eu sei que você é duro na queda, mas acho que ninguém respira tanto tempo debaixo de água! ...Quer dizer, sangue! Será que se eu atacar essa geléia viva e tirá-lo daí, meu cavaleiro de armadura brilhante irá cair nos meus braços e sob meu encanto?!


O mordomo ouvira os diversos murmúrios de Ciel sobre sua família durante todo o processo, então resolvera apostar em utilizar das memórias do menino para trazê-lo a si, nem que fosse por um instante. Para isso, seria necessário que Grell os atacasse com sua foice da morte. Tomando força o suficiente para puxar a si mesmo e o mestre alto o bastante para que pudesse gritar fora do aglomerado, Sebastian iniciou seu plano.


– Grell! Ataque esta geléia repugnante se deseja ter seu rosto intacto nos próximos minutos. – Bradou o mordomo.


– Sebas-chaaaan! Não era bem este tipo de resposta o que eu esperava do meu cavaleiro, mas um pouco de violência aqui e ali apimenta a relação! Homens selvagens são de MORRER!


Os corpos do pálido servente e de seu mestre foram puxados de volta por aquele amalgamo macabro enquanto o excêntrico shinigami, agora munido de uma animação perturbadora avançava violentamente em meio a risos e pequenos gritos com sua foice da morte estendida em direção ao alvo. Sebastian sabia que não poderia deixar que o corte fosse letal, mas eficaz o suficiente para ativar o Cinematic Record. Posicionou-se junto a seu mestre de forma com que a foice atravessasse aquela massa sanguinolenta e retalhasse uma das laterais do corpo do menino; Ainda que fosse um corte perigoso, não havia perigo de vida instantâneo para um demônio.


De acordo com o improvisado, a função do Cinematic Record se ativou, lançando as memórias do menino em forma de rolo de filme até a arma do ceifador, por sua vez, o próprio Ciel que agora tinha os olhos descobertos podia vislumbrar seu passado e sua vida infantil. Ainda que a habilidade dos ceifadores fosse um sinal da morte, o servo dos Phantomhive tinha plena confiança por motivos óbvios de que a vida de seu mestre seria poupada. Para que Mephistopheles pudesse ser caçado e destruído pelos shinigamis era necessário que seu objetivo permanecesse intacto.


Em questão de segundos, Ciel Phantomhive revia com tristeza e nostalgia as fases mais felizes de sua vida, antes da grande tragédia da mansão de seus pais. O menino se contorcia internamente em dor intensa a cada frame do filme que era passado em sua mente, fazendo-o reviver risos, brincadeiras, cores vivas e brilhantes e o calor do amor de seus pais. O sangue se compactava com as plumas cada vez mais, envolvendo seu corpo e tingindo todas de vermelho ao se fixarem nele. Faltava pouco para a transformação ser concluída, visto que pouquíssimas partes de seu corpo haviam sido deixadas de fora; Um dos frames, porém, mudou tudo.


Em um dos quartos da mansão dormia seu inocente eu mais novo sob a luz do castiçal trazido pela figura imponente de seu pai, este por sua vez, parado junto à cama. Ciel não se lembrava deste momento: Talvez o torpor do sono lhe tivesse feito esquecer, mas certamente tinha vivido e presenciado aquilo. As palavras de seu pai soavam tristes e orgulhosas, e como numa resposta ao seu pensamento que fora imerso no silêncio, ele pôde ouvi-lo.



– Por mais que minhas mãos estejam manchadas com o sangue das incontáveis peças que caíram diante de meu golpe fatal, sei que você vê em mim a luz que não consigo. Sei que essa luz é verdadeira. Aprendi contigo então, que até o pior dos espectros pode chorar, que pode ter sua luz; Não importa que tipo de demônio me tornei enquanto eu guardar este brilho, que apesar de pequeno, pode iluminar a mais profunda escuridão.


O Cinematic Record se finalizou-se prematuramente, visto que Grell havia parado o processo que havia se iniciado por mero acaso; Mas foi o suficiente para trazer o orgulho conde Phantomhive de voltas às rédeas de sua sanidade. As plumas que haviam se fixado ao seu corpo iam se enrijecendo uma a uma, perdendo sua cor sangrenta, caindo e se chocando contra o solo. O som proporcionado por sua quebra era límpido e suave, diferentemente do grande estrondo produzido em todas as etapas daquela fatídica guerra mental: Era como uma harpa ressoando perfeitamente afinada e anunciando dias melhores, anunciando o retorno de algum soberano importante e amado pelo seu povo.


A figura imponente do menino-homem rapidamente se desenhou em meio a uma igreja agora mais límpida e respeitável, caminhando em direção a um Sebastian encharcado de sangue e completamente desarrumado que se apressava em recebê-lo com entusiasmo e preocupação quanto ao ferimento da arma do shinigami.


– Jovem Mestre. Regozijo-me ao vê-lo em pleno exercício de sua mente novamente. – Curvou-se diante do menino em tom de deboche, ainda que carregasse uma expressão respeitosa em seu rosto.


Sebastian, não fale asneiras! Eu devo ter cochilado devido a todo este cansaço, e como é de costume natural de muitos, devo ter balbuciado algumas palavras sem sentido enquanto dormia. A única dúvida que tenho, porém, é o motivo do surgimento deste ferimento hediondo.


– Ah, de fato. Isto é resultado da petulância deste ceifador imundo ao desvirtuar um duelo convencional, onde teria sido derrotado. Apelou para a covardia no instante de sua morte, tentando tomar a vida do jovem mestre. Fui ágil o suficiente para evitar danos maiores, entretanto, temo ter lhe falhado e causado dor graças a minha incompetência.


O mordomo abaixava sua cabeça num sinal de respeito, ainda que toda sua narração funcionasse apenas como forma de culpar o desagradável homem ruivo, bem como uma desculpa para poder se livrar dele. Como numa transmissão de pensamento, o dito cujo surgiu saltitando em direção ao servo dos Phantomhive.


– Se-bas-chan! Quem diria que a princesa salvaria seu bravo herói desta vez! Tamanhas ironias do amor me deixam cada vez mais excitada! Agora venha para os meus braços...


O ruivo se apressou gritando e se precipitou num salto com os braços estendidos em direção ao mordomo, apenas para receber um poderoso e violento chute diretamente contra os dentes. Sebastian se certificou em acertar exatamente naquele ponto para que o rosto daquela odiosa criatura fosse esculpido pelas mãos da destruição, livrando-se dele até que pudesse se recuperar do trauma. Virou-se para seu mestre então, aguardando ordens.


Sebastian. – Interpelou o menino.


Pois não, Jovem Mestre? – Respondeu o servo.


Teria a bondade de se livrar deste inseto vermelho brilhoso para que possamos retomar nossas investigações? Além disso, creio que possamos inquirir sobre o porquê de sua estadia aqui.


Um sorriso sádico e cínico então tomou o rosto de Sebastian Michaelis em par com o de Ciel Phantomhive enquanto a expressão do ceifador se convertia em puro desespero caricato ao som da velha e conhecida frase do fiel mordomo do cão de guarda da rainha.


Yes, My Lord.


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