Changed escrita por Shiroyuki


Capítulo 11
Capítulo 11 - Mas se você me der motivos…


Notas iniciais do capítulo

"Eu nunca fui o tipo de irmão ciumento, sabe? Nunca me intrometi com o que a Utau fazia ou deixava de fazer mas isso não quer dizer que eu não me importe! "



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/168480/chapter/11

Andando pela rua, à noite, os três irmãos estavam voltando para casa depois da festa. Certamente, havia sido uma festa agitada, ainda mais considerando que era o aniversário de uma pirralha de 12 anos. Estavam todos acabados.

Era pouco mais de meia-noite, Kukai andava na frente, enquanto Utau cambaleava de sono, escorada no braço de Ikuto.  A vida na cidade pacata havia ocasionado uma verdadeira mudança nela, principalmente no que dizia a respeito aos seus horários. Enquanto vivia na capital, há essa hora, ela estaria conversando com as “amigas” pelo telefone, talvez no cinema ou qualquer outra coisa assim. Opções não faltavam. Porém, com sua nova vida de suburbana, tudo o que ela fazia era dormir. E agora, estava caindo de sono, mal conseguindo se amparar em pé.

— Ei, Utau, você consegue chegar até em casa? – Ikuto indagou, duvidando muito que ela estivesse sequer ouvindo o que ele dizia.

— … Ahn…? Ah… é claro… - ela balbuciou, fechando os olhos enquanto andava, e escorando o rosto no peito do irmão.

— Consegue nada! – Ikuto protestou.

— Deixa que eu levo você… - Kukai sugeriu, oferecendo as costas para Utau. Ela, ainda confusa e desorientada pelo sono, andou na direção dele, aceitando sua oferta, mas foi impedida no meio do caminho pelo braço de Ikuto, que se colocou protetoramente na sua frente.

— Eu levo – ele disse, decididamente, muito diferente da maneira como estava agindo há pouco tempo, na festa. Sem esforço algum, ele içou Utau e a colocou em suas costas, segurando firmemente as pernas dela enquanto ela enlaçava seu pescoço, suspirando e relaxando quase que de imediato, deixando a cabeça pender para baixo e se rendendo finalmente ao sono. O ressonar baixo indicava que ela já estava dormindo.

— Você tem algum problema comigo, Ikuto? – Kukai indagou, visualizando o rosto desacordado e amassado de Utau.

— Até agora não. Mas se você me der motivos… - Ikuto disse, e então sorriu de maneira enigmática. – Olha só, eu não estou acostumado a enrolar, vamos ser sucintos  – ele baixou o tom de voz, obrigando Kukai a se aproximar para ouvi-lo. Obviamente não queria acordar Utau, mesmo que o esforço não fosse assim tão necessário, afinal, ela estava completamente desmaiada em suas costas. – Diz logo… você e a Utau… vocês tem alguma coisa?

— A-alguma coisa? – Kukai corou, mesmo que não tivesse entendido muito bem a insinuação do mais velho – Como assim?

— Aaah, cara, você é mesmo tão baka quanto eu imaginei… - ele deixou a cabeça pender, derrotado, e logo a levantou, para uma nova tentativa – Eu quero saber se você gosta da Utau! Se vocês… sei lá, estão saindo ou qualquer coisa assim… você sabe! Eu não sou idiota, sei que a minha irmã é bonita, e vocês tem quase a mesma idade, dividem o mesmo quarto… se você não pensou em nada disso até agora, sinto muito, meu rapaz, mas ou você é muito burro… ou é gay…

— O que? – Kukai engasgou, aturdido pelas palavras de Ikuto. Ele realmente nunca havia pensado naquelas questões… Claro que sabia que Utau era uma garota atraente, não era cego afinal, e também ouvira comentários entre os seus amigos, mas nada disso era suficientemente relevante para ele.  – E-eu… a Utau… eu nunca… q-quero dizer… ela é a minha irmã… - ele balbuciou, não muito convincente. Ikuto suspirou.

— Sinto ter que informar, mas o jeito que você olha pra ela… não é igual ao jeito que eu olho. Não é jeito de irmão. E vocês nem são irmãos de verdade! – ele disse. Kukai desviou o olhar para o chão, perturbado – Eu nunca fui o tipo de irmão ciumento, sabe? Nunca me intrometi com o que a Utau fazia ou deixava de fazer… mas isso não quer dizer que eu não me importe! A Utau… o jeito que ela age quando está perto de você, a maneira que ela te olha… você nunca parou pra reparar nessas coisas?

— Eu não sei do que você está falando… ela… ela não gosta de mim! Não dessa forma! – Kukai exasperou, indignado.

— Eu não disse que ela gosta… - Ikuto rebateu, deixando o garoto ainda mais intrigado – Mas também não disse o contrário. Pensa bem… tenta prestar atenção nela, e quem sabe você descobre a verdade. Isso é um assunto que só diz respeito a vocês dois. Mas, garoto… não deixe que eu me preocupe… - Ikuto silvou, ameaçadoramente, e então se inclinou na direção do outro, até que estivesse próximo o suficiente para que ele ouvisse seu rosnado – Nem cogite a possibilidade de fazer essa garota chorar, ouviu bem? Só eu tenho esse direito. Se eu ouvir uma única reclamação sobre isso, eu te quebro em dois.

— Eu entendi, eu entendi, tá legal? – Kukai recuou, erguendo as mãos defensivamente – Mas não precisa ficar desse jeito, não tem nada disso acontecendo!

— É só um aviso – Ikuto disse por fim, erguendo-se e ajeitando Utau em suas costas, para recomeçar a andar.

Kukai o seguiu, mais devagar, perdido em seus pensamentos – o que era algo absolutamente raro. Nunca havia parado para pensar em Utau daquela forma… ou talvez tivesse, mas sendo censurado imediatamente pelo seu senso de ética, que o impedia de pensar algo mais com alguém que fosse intitulado como sua “irmã”. No entanto, agora… com outra pessoa dizendo essas coisas… Chacoalhando a cabeça, Kukai lutou para mantê-la vazia… pelo menos até chegar em casa… Aaargh, isso era complicado demais para ele raciocinar, ainda mais a essa hora da noite!

—————————————————————————————————————————

Utau abriu os olhos aturdida, sem conseguir se lembrar  de onde estava. Fitou o teto, vendo-o girar em frente a sua visão, vertiginosamente. Com a cabeça pesando, ela ergueu-se sobre o lugar, só então notando que estava em sua cama, no seu quarto, e ainda vestindo as mesmas roupas da noite anterior.

Quando enfim conseguiu focar a visão e acordar de verdade, olhou para o lado. Kukai ressonava tranquilamente, com a boca aberta e os membros espalhados pela cama. Utau riu, contidamente. Ele parecia uma criança, daquele jeito…

Aproveitando que Kukai ainda estava desacordado, Utau levantou e trocou de roupa rapidamente, para algo mais confortável, e soltou os cabelos, sentindo a cabeça latejar por ter dormido com eles presos. Antes de sair, ela deu mais uma olhada em Kukai, que não havia se mexido um milímetro. A camisa do seu pijama verde estava com os dois primeiros botões abertos, e a posição em que ele dormia só deixava mais evidente a pele exposta. Os cabelos se encontravam na desordem de sempre, e os lábios entreabertos eram como imãs, atraindo fatalmente a atenção da inocente Utau para a sua direção. Ah, ele precisava mesmo ser tão lindo?? Se o irmão falso dela fosse um barango, algum tipo ridículo ou se tivesse uma personalidade no mínimo detestável, Utau não estaria tendo que enfrentar tantos problemas assim!

— A culpa é toda sua, idiota! – ela sibilou, pegando o seu travesseiro e arremessando na direção de Kukai com toda força, sem ficar para ver se ele acordaria com isso.

Depois de usar o banheiro, ela desceu as escadas rapidamente, pulando alguns degraus. Aparentemente, Kukai não havia levantado ainda. Ikuto, no entanto, já estava de pé, não exatamente acordado, sem camisa e com um copo de leite na mão, enquanto fitava o vazio com um olhar sonolento.

— O gatinho já está tomando seu leitinho da manhã? – Utau provocou, cutucando-o nas costelas. Sabia o quanto ele ficava mal-humorado quando acordava cedo, mas era nessas situações que ela tinha a oportunidade de se vingar pelos maus tratos que sofria nas mãos do seu onii-chan.

— E a pirralha não tem que ir pro colégio? – Ikuto rebateu, sentando na cadeira mais próxima.

— Hoje é sábado! – ela exclamou, como se recitasse as palavras mágicas da liberdade. Pegou um pacote de cereais e começou a preparar seu café da manhã – Por que está acordado tão cedo?

— Eu resolvi que vou dar um jeito na vida. Acho que vou procurar um emprego… O que foi? Não me olha assim!

— Certo… - Utau, no entanto, continuou a fitar o irmão de modo questionador, como se ele fosse um alienígena, ou tivesse sido abduzido durante a noite e sofrido lavagem cerebral.

— Eu to falando sério, tá legal? Bom, isso não importa agora… - suspirou pesadamente, pensando em talvez, deixara história de emprego para mais tarde… ou para a semana seguinte…  – Você…  Dormiu bem? – Ikuto indagou, fitando com atenção desnecessária o leite.

— Como assim? Dormi do mesmo jeito de sempre! Aquela saia era meio apertada, ficou desconfortável. Mas como eu não lembro como foi que cheguei em casa, acho que não deveria reclamar disso, nee?

— Sonhou alguma coisa?

— Não que eu lembre… e que interesse repentino é esse? – ela arqueou a sobrancelha, estranhando o comportamento do garoto. Talvez a ideia dos aliens fosse mesmo plausível.

— Nada não. É que você disse umas coisas estranhas enquanto dormia… - Ikuto contou, parecendo despreocupado.

— E-eu d-disse? – Utau arquejou, despejando todo o conteúdo do pacote de cereais fora do pote.

— É. Ninguém ouviu, só eu. Enquanto te colocava na cama. O Kukai não tava junto… mas você disse o nome dele. Duas vezes. – Ikuto remexeu o conteúdo do copo, e então levantou os olhos para a garota. Ela estava pálida, e o encarava paralisada, com a caixa na mão ainda no mesmo lugar – Utau… você quer me contar o que isso significa? Nós nunca tivemos segredos entre nós… e eu não posso negar que estou curioso… então quer acabar logo com isso e me dizer logo o que está acontecendo com você e esse Souma?

— Ikuto, p-por que você…

— Utau, olha só para você – Ikuto franziu os olhos, a sua irritação multiplicada por mil pelo simples fato de ter levantado cedo – Você fica nesse estado só por eu ter citado aquele garoto em uma conversa. E eu reparei que você sempre fica toda corada quando tá perto dele. E morre de ciúmes de todas as garotas que se aproximam dele. Você está abalada, perturbada… chame como quiser, mas não tem como se esconder de mim, eu te conheço. Eu só te vi assim uma vez… e foi no primário, quando você se apaixonou pelo seu professor de artes…

— Aaaaaah!!!  - Utau desistiu de vez do cereal, derrubando o que restava dele no chão – Nunca mais repita essa história em voz alta enquanto viver, Tsukiyomi Ikuto, ou eu garantirei pessoalmente que você não viva mais para repetir a história!!! – ela berrou, completamente descontrolada, com o rosto em chamas.

— Viu?! Era disso que eu tava falando. Perturbada. Fico feliz por termos tido essa conversa – ele levantou o copo de leite em um brinde, e tomou um longo gole – Agora… o que você vai fazer, hein? Por que… diante de toda a sociedade, vocês são irmãos… o que faz de você uma personagem incestuosa… oh! – fingiu indignação, levando a mão à boca em um ato teatral e exagerado – Minha própria irmã, uma incestuosa… começo a ficar temeroso com isso… o que será da minha inocência, com esse tipo de…itaai~

Utau desferiu um golpe certeiro na cabeça do irmão, enfurecida e descompensada. Estava ofegante, também. Os cabelos soltos não ajudavam em nada para aliviar a atmosfera ao seu redor.

— Seja direto, não enrola. Enrolar não combina com você, aliás. Eu não tenho nada com aquele idiota! Ponto final.

— Tá, eu sei disso – Ikuto suspirou, frustrado por ter sua performance censurada – Aquele idiota é idiota demais pra reparar em qualquer coisa. E você é cabeça-dura demais pra tomar qualquer atitude. Desse jeito, vocês vão ficar assim para sempre, sabia?

— E daí? O que você tem a ver com isso? – Utau replicou, tentando controlar os nervos enquanto limpava a sujeira que havia feito anteriormente.

— Nada. – Ikuto deu de ombros – Mas uma hora ele vai acabar ouvindo você murmurar que ama ele enquanto dorme. Aí, até um baka como ele percebe uma coisa ou duas. E você vai fazer o que?

— Eu não faço absolutamente nada. Você já viu como a mamãe está feliz? Ela está até cantando, enquanto arruma a casa, ou quando toma banho. Tudo bem que ela cantando é um desastre total, mas… o Tohru-san é uma pessoa legal, e faz ela feliz. Eu não vou fazer nada que sacrifique essa felicidade deles, não mesmo.

— E a sua felicidade, Utau, fica como? – Ikuto indagou novamente. Utau engasgou, mordendo os lábios para controlar qualquer demonstração de fraqueza que pudesse escapar. Pensou em milhares de respostas que pudesse dar, mas nenhuma parecia convincente o suficiente.

— Por que você veio para cá, Ikuto? – ela mudou de assunto, num fio de voz, esperando que isso bastasse para desviar o foco do Tsukiyomi mais velho.

— Minhas puras intenções não são o bastante para você? Eu estava com saudade, é só isso.

— Isso não me convence – Utau ergueu-se, colocando a mão na cintura enquanto fitava o irmão diretamente – Aconteceu alguma coisa, não foi? Me conta.

— Certo. Você me conta em detalhes o que sente pelo Souma, e eu te conto por que vim. O que acha?

Utau suspirou, derrotada. Não havia como vencer Ikuto, ele tinha o dom. O melhor a fazer era fingir que essa conversa nunca existiu, e quem sabe assim, talvez, as coisas ficassem bem. Não importava realmente. Ela estava bem.

— Tem um bigode de leite bem aqui – ela disse calmamente, limpando a boca de Ikuto com um guardanapo, enquanto apoiava o rosto dele com a outra mão.

— Ohayo… ah! Desculpa!

Utau se virou, a tempo de ver um Kukai com semblante surpreso se afastar alguns passos. Ele estava inteiramente vestido, o que era raro, sobretudo nas manhãs de sábado.

— Espera aí, Kukai – Utau jogou o guardanapo para Ikuto, que murmurou algo como “fui trocado pelo pirralho” e saiu atrás de Kukai – Onde você tá indo arrumado desse jeito?

— Ahn? – ele virou-se, já na porta dos fundos, pronto para sair – Ah, o Fujisaki perguntou se eu podia ir com ele até a estação.

— O do clube de basquete…? Fazer o que?

— Parece que a irmã dele tá chegando de viagem. Ele não queria ir sozinho, e como nós ainda temos que ver o preço dos uniformes de basquete, vamos aproveitar a oportunidade.

—Sei… - Utau intrigou-se, cercando Kukai por todos os lados, como se ele fosse a presa de uma caçada – E… essa irmã do Fujiyama…

— Fujisaki.

— Que seja. Como ela é? – Utau desviou o olhar, cruzando os braços, querendo parecer desinteressada, quando na verdade, estava ardendo de curiosidade e… por que não admitir, ciúmes também.

— Como? Ah, eu sei lá! Parece que ela esteve estudando fora desde que era pequena. Pelo que disseram, ela e o Fujisaki são um a cara do outro…

— Um a cara do outro… - Utau desesperou-se. Se o capitão de basquete como garoto já era um perigo à parte, como garota então… era uma rival em potencial, e Utau tinha o direito… não, o dever de averiguar isso pessoalmente. – Eu vou junto – Ela disse, e deu a questão por encerrada.

Kukai aquiesceu. Havia alguma maneira de discutir com Utau? Se alguém soubesse de alguma, por favor, que o ajudasse. E além do mais, ele relutava em admitir, preferia ter Utau incomodando atrás dele, a vê-la cuidando de Ikuto daquela maneira.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Yoo, minna-san! Espero que tenham gostado do capítulo!!
Troquei a capa da fic, deem uma olhadinha e me digam o que acharam... Só para constar, não fui eu quem fez a montagem, achei pronta na internet, mas ela era perfeita demais para essa fic pra eu desperdiçar...
Etto... acho que era isso~ Deixem reviews, onegai *u*
Bye bye~