Mr. e Mrs. Jackson escrita por Beatriz Costa


Capítulo 5
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

E aqui está mais um capitulo acabadinho de escrever. Espero que gostem!



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PDV Annabeth

A partir daqui vou escrever sobre a minha vida de hoje. Vamos lá começar…

Acho que isto vai ser um pouco difícil, mas vamos lá. Vou contar o que aconteceu no jantar de ontem.

Estava a fazer o jantar, como em todas as outras noites. O cronómetro tilintou e fui, portanto, dar uma espreitadela ao forno. Parecia tudo bem.

Mas é claro que nada estava bem.

Cinco anos é muito tempo. As coisas mudam.

A minha vida perfeita, não é assim tão perfeita. Mas eu esforço-me para que seja.

Tento dedicar-me a tudo com a mesma ambição, determinação e competitividade que o meu trabalho requer.

O jantar, por exemplo. Sou capaz de planear, organizar e preparar um jantar para cinquenta pessoas. E faço isso todas as noites para duas pessoas.

Ontem, depois de um dia de trabalho intenso, preparei um jantar delicioso, pus a mesa, resumindo fiz com que tudo saísse na perfeição.

Ouvi um carro aproximar-se e vi a luz dos faróis pela janela. Percy acabava de chegar do trabalho. Ultimamente tenho ficado nervosa sempre que o Percy chega a casa, mas não sei porquê.

Pensei comigo mesma. “Lembra-te de quem és. Uma mulher forte e inteligente, que pode fazer tudo o que quiser”.

Peguei na faca da cozinha e fiz a lâmina rodar no ar antes de atirá-la directamente para o suporte de madeira.

Eu era capaz de tudo, menos de salvar o meu casamento.

PDV Percy

Caramba, não foi fácil escrever sobre o passado. Sobre Atenas. Isso é uma coisa. Outra coisa é escrever sobre a minha vida actual, sobre o meu casamento.

A Dra. Afrodite é mulher, portanto não percebe que coisas deste tipo são difíceis para nós.

Ela acha que há um monte de coisas a perturbar-me. Coisas em que evito pensar.

Um problema: eu não sabia como começar. Eu liguei para a Dra. Afrodite e disse-lhe que a terapia não estava a resultar, mas que agradecia da mesma maneira. Uma coisa que devem saber sobre ela:

Ela é persistente. Muito persistente.

Ela sugeriu que eu falasse escrevesse sobre a noite anterior. Acabei por aceitar, um pouco relutante.

Então aqui vai.

Ontem á noite.

Quatro anos é muito tempo.

As coisas mudam. As pessoas mudam.

Ou talvez… tenha tudo enferrujado.

“É melhor entrar”, pensei. A Annabeth tem o ouvido mais apurado que uma coruja. De certeza já deu pela minha chegada.

Soltei o cinto de segurança e …

“ Raios! Onde está a minha aliança?”. Quase que me esquecia de a pôr de novo. Procurei nos bolsos do casaco e lá estava ela. Pu-la no anelar esquerdo.

Olhei para mim mesmo no espelho retrovisor. Via-se uma mancha vermelha no colarinho. Tentei esfrega-la, mas foi em vão. Tive de esconder o colarinho sob a gola do casaco. Se a Annabeth visse aquilo, era capaz de me matar.

Depois entrei a correr em casa,

Pus as chaves em cima da mesinha do hall de entrada. Ultimamente tenho ficado tenso, sempre que entro em casa, mas não sei porquê.

Annabeth apareceu do nada. Ela parece uma sombra.

- Chegaste na hora certa. – ela disse com um sorriso. – Como sempre.

Ela olhava para como se estivesse á espera de algo.

“ A manteiga. Ainda bem que não me esqueci.”. Tirei o pacote de manteiga do bolso e entreguei-lhe.

- Aqui está o que pediste.

- Como correu o teu dia?

- O mesmo de sempre. – disse eu dando de ombros.

Ia a dar-lhe um beijo, mas ela repeliu-me com uma careta. Acho que sentiu o cheiro do álcool.

- Fui tomar uma bebida com o Nico. – Ela assentiu olhando de maneira reprovadora.

Ela mudou de assunto.

- Comprei cortinas novas para a sala. – disse entusiasmada.

- A sério?

- Sim.

Ela levou-me até á sala para me mostrar a nova aquisição. Umas cortinas enormes em cor cinza, que não combinavam com nada ao redor.

- Tive de enfrentar um cabo-de-guerra quando encontrei este tecido. – disse. – Havia em baixinho que também o queria levar, mas acabei por vencer.

- Claro que sim. – “ Ela vence sempre”

- Se calhar vai ser necessário trocar o estofo dos sofás e trocar os tapetes…

Eu não aguentava mais aquela conversa. Nem sequer precisávamos de cortinas novas.

- Querida…- disse eu. – Que tal continuarmos com as cortinas velhas?

Annie franziu o cenho. Ela percebeu que estivera a falar para as paredes.

- Se não gostas delas, posso devolve-las…

- Eu não gosto delas.

- Então eu sugiro que te vás acostumando com elas!

Seguiu-se um silêncio desconfortável. Annabeth voltou para a cozinha enquanto eu fui para o jardim.

Liguei a água da mangueira e comecei a regar os canteiros. Gostava de ouvir o barulho da água a correr. Acalmava-me sempre.

Vi uma bola de basquete no meio das tulipas. Seria a minha, ou alguém se teria esquecido dela ali?

Levado pelo impulso, firmei a bola entre os dedos, e sem olhar para trás, arremessei-a para o cesto na porta da garagem.

Continuei a regar as tulipas.

Dez metros atrás de mim, ouvi a bola girar no arco e entrar.

Eu era capaz de fazer um cesto sem sequer olhar.

Mas este casamento… estava cada vez mais difícil, até mesmo  de tentar.

PDV Annabeth

Ele não deu a mínima para as cortinas. Que mal há numa pequena mudança de vez em quando? Mudar é bom. Fico entediada de estar sempre a olhar para o mesmo.

“Deixa lá” - pensei – “Vou pendurar as cortinas e provar-lhe que ficam bem”.

Subi numa poltrona para poder prender a cortina, mas esta era baixa demais. Apoiei um pé no braço da poltrona e o outro sobre o espaldar e estiquei os braços até conseguir o que queria.

Graças ao meu trabalho e ao alpinismo, era capaz de me equilibrar perfeitamente.

Foi quando ouvi o Percy a entrar. Saltei da poltrona rapidamente.

Ele tirou os olhos do correio que trazia pouco antes de eu por os pés no chão.

 Sorri para ele e disse:

- O que achas?

Olhou para as cortinas e depois para mim. Um sorriso amarelo foi o melhor que conseguiu fazer.

O jantar passou como sempre. Percy elogiava a comida, mostrava-se gentil.

Às vezes sinto-me como um fantasma. Invisível.

Às vezes fico tentada a dizer “ Queres saber o que realmente fiz hoje? Tu nem vais acreditar!”.

Em vez disso pego na faca e corto mais um pedaço de carne.

PDV Percy

Cada jantar é como um evento para a Annabeth. Será que não podíamos pedir pizza de vez em quando?

Mas não. Tem de ser o jantar perfeito todas as noites.

Sentamo-nos na cabeceira da nossa enorme mesa de jantar. Ela não gostou muito quando enchi o copo com vinho novamente.

Elogiei a comida. O prato estava bonito.

- Mas tem algo de diferente… - comentei.

- Acrescentei ervilhas.

- Ah, ervilhas. – levei uma garfada á boca. – Está uma delicia.

Pedi-lhe que me passasse o sal. Aparentemente, passar o sal não deveria ser nenhum problema, certo? Mas a Annabeth adora uma competição e odeia perder.

- Podes-me passar o sal? – pedi.

- O saleiro está no meio da mesa. – disse ela.

Reparando bem, estava mais para a metade dela. Mas foi ela que fez da situação uma disputa.

- Isso é o meio para ti?

- Está entre nós dois.

Empurrei a cadeira para trás, levantei-me, andei até á metade da mesa dela e peguei o raio do saleiro.

Dava gosto ver o seu sorriso de vitória.

Até que me tornei a sentar e derramei metade do conteúdo do saleiro na comida que ela tinha preparado.

Annabeth engoliu o sorriso na hora.

Verdade seja dita, foi difícil engolir aquela comida tão salgada. Mas valeu a pena.

Desta vez eu venci. Não sei bem o quê, mas eu venci.

1-0 para Percy Jackson.


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Notas finais do capítulo

Então, o que acharam? Comentem.