Capítulo 42

Pov Julie

Estava tudo escurecendo gradualmente. Minhas vistas ficavam cada vez mais turvas à medida que que eu recuperava o folego a cada pontada de dor. O sangue teve seu fluxo contido e agora vazava em pequena quantidade do meu ferimento. Eu ficaria bem.

Olhei para frente e vi que nossa condição da luta estava longe do melhor. Percy lutava com vários montros de uma só vez e, em vista dos outros, era o que estava menos machucado. Nico ofegava e desviava dos multiplos golpes direcionados a todo instante, e mesmo que estivesse com alguns cortes pelo corpo, seu semblante dizia que não desistira fácil. Annabeth eu não podia ver, mas vez ou outra sorrateiramente algum monstro sumia, graças a sua tática de invisibilidade. Perto de duas grandes castanheiras estava Grover, com uma lança rústica em uma mão e uma gaita de bambu na outra. Ele prendia os monstros com plantas a partir do toque da gaita e logo depois as finalizava enterrando a lança no monstro, estratégia muito boa, mas que puxava muita energia do sátiro que já estava amarelo e não aguentaria muito tempo assim.

Ainda havia Sean e Thalia. Eu me perguntava de onde teriam vindo já que Thalia estava aprisionada, segundo Medéia, mas isso era algo eu ela nos explicaria depois, caso tivéssemos oportunidade de ouví-la. Nossa, pensar sobre isso provoou um arrepio profundo em minha espinha dorsal, o que não ajudou muito devido ao estado em que me encontrava. E ainda havia o garoto que se bandeou para o nosso lado. Penso no que deve ter ocorrido para que ele traísse seus antigos aliados e resolvesse nos ajudar...

Ouvi um grande estrondo, que tornou meus pensamentos dispersos. Era Stormie, que foi lançada de encontro a uma árvore e deslizou por ela sem nenhuma proteção. A deusa tinha ficado ferida, contudo fez um grande esforço para ignorar a dor que certamente sentia – estava estampado em sua face -  e voltou a lutar com os outros, até quando suas forças aguentassem. Eles não iriam desistir, mas também não iriam vencer se uma providência não fosse tomada.

Lentamente, as tonturas começaram a me envolver. Comecei a inclinar minha cabeça para traz à procura de apoio, pois minhas últimas fagulhas de energia já estavam se esvaindo completamente. Olhei para o céu e vi um grupo grande pégasos cavalgando no ar e descendo lentamente, procurando local para aterrisagem. Ótimo, já estou até com alucinações... Foi quando me dei conta de que não podia fraquejar assim, pois uma morte fragilizaria meus amigos ao ponto de se renderem à Medeia e os outros. Apalpei lentamente o bolso e por sorte encontrei um frasco pequeno com néctar dentro. Sem demora, abri e virei todo o conteúdo goela abaixo, tentando recobrar a parte consciente que já tinha sumido. Minhas pálpebras pesavam e eu suspirei tristemente, imaginando o pior.

Um barulho forte contra o solo confirmou o efeito da bebida dos deuses. Abri os olhos e me deparei com algo quase que inimaginável por nós naquele momento: um número considerável de campistas com armaduras gregas descendo de pégasos variados e caminhando prontamente na direção do levante. À frente, estava ninguém menos que Kevin, o primeiro traidor da profecia. Paige deu um grito ensurdecedor quando o viu, não sei se de felicidade ou de espanto, mas por conta dele uma dracaenae instantaneamente explodiu. O garoto olhou-a e sorriu para ela, mas a filha de Poseidon apenas lhe deu as costas. Ele apenas abaixou a cabeça e continuou a caminhar.

Percy, suando feito um porco, aproximou-se de Paige e perguntou:

- O que foi, você está bem? – disse preocupado.

Ela assentiu insistentemente, com os olhos piscando e a surpresa a cobrir suas feições. Annabeth arqueou significativamente uma sobrancelha, mas não falou nada.

Agradeci aos olimpianos pela ajuda. Os semideuses rapidamente se infiltraram no campo de batalha e deram reinício ao embate, afinal, ainda tínhamos um exército de monstros para dissipar. Respirei fundo e me senti imensamente mais forte do que há poucos segundos atrás, mesmo que minha perna ainda doesse. Fiz o que era necessário – levantei lentamente e desembainhei Áquila. Avancei contra uma Empousa metida que dava bobeira à minha frente.

- Hora de morrer, boneca de funerária. – murmurei ao retirar minha espada de dentro dela, que um segundo depois virou apenas pó. Avancei contra outros, já que seria trabalhoso acabar com todos, mas íamos conseguir.

Ao me ver em pé, Nico correu para perto de mim.

- Julie, o que está fazendo? Você sabe...

Eu o cortei.

- Quieto Coveiro, eu já estou ótima. – Voltei novamente minha atenção para o cão infernal com quem lutava, mas ainda pude ver Nico rolar os olhos e voltar ao combate.

Ataquei de diversas formas o monstro, mas ele parecia não sofrer qualquer impacto, nem físico. Quanto a mim, bem, eu já estava começando a cansar. A respiração ofegante e o suor misturado à terra que eu tinha impregnado em minha testa me deixavam agoniada, principalmente pelo fato da bruxa líder estar apenas assistindo tudo de camarote diretamente da entrada de seu tenebroso castelo.

Todos os meus amigos continuavam lutando incessantemente, com movimentos rápidos e precisamente ensaiados nos longos dias de treino do acampamento, os quais ainda não tive a oportunidade de presenciar. Atacar e recuar, desferir e desviar, defender e golpear, novamente eram nossas palavras de ordem.

Thalia e Sean lutavam em conjunto, com uma sincronia tão perfeita que eu achei que só fosse capaz de acontecer com minha irmã e o Cabeça de Alga. Vi que estava enganada. Aqueles dois tinham uma identificação natural cativante, inimaginável até. Pensei por um momento sobre o garoto de Hécate, e concluí que apesar de tudo, ele seria uma boa pessoa, se tivesse tido boas oportunidades. Nem sempre é assim, pois a vida não sorri para todos, apenas para quem aprender com ela. E ele parecia estava aprendendo, bastava que tivesse tempo para isso. (n/a: Thalia vai sair da Caçada? Bem, isso já está decidido, mas gostaria de saber o que vocês pensam sobre...)

Talvez agora tivéssemos chances, já que o número de lutadores tornou-se praticamente o mesmo que o de criaturas monstruosas. Havia ali alguns arqueiros filhos de Apolo, espertos filhos de Hefesto, habilidosos filhos de Hermes, sábios filhos de Atena e claro, não podiam faltar os sanguinários filhos de Ares. Acabamos com muitos monstros, isso se podia ver pelos montes de poeira luminosa que se misturava à terra do chão batido. Ao todo, acho que agora éramos cerca de vinte e cinco. Um bom número, e eu espero que o suficiente.

Um lestrigão avançou pra cima de mim. O que eu podia fazer? Desviei do golpe e interpelei um ataque, sem sucesso. Ele não desistiu. Com seus quase três metros de altura, tentou me levantar do chão, e quase conseguiu, não fosse a pirueta lateral que dei em cima da hora. Estando de costas, finquei Áquila em sua panturrilha, e isso o fez fraquejar os joelhos, me dando parcial vantagem. Afastei-me um pouco com a intenção de pegar impulso, e assim que consegui, saltei para as costas do monstro. Escalei seu dorso e me segurei em seu pescoço nojento, cos a espada pendida por uma das mãos. O lestrigão chacoalhou-se, mas isso apenas facilitou meu trabalho, já que numa dessas, cortei-lhe o pescoço. Sua cabeça caiu ao chão enquanto seu corpo escorregava para o mesmo lugar, mas antes de qualquer coisa, o que restava virou pó, e eu caí. Por sorte, não me machuquei.

Olhei para os outros e me assustei com a cena. Não era algo que eu, algum dia imaginaria ver. Prestes a ser executado, o garoto jazia ajoelhado frente à feiticeira ardilosa, todo ensanguentado e com a dor estampada no rosto. Apertei os olhos e me preparei para gritar, contudo, minha garganta foi silenciada por outro poderoso berro.

Era mais uma parte da profecia se cumprindo...