Capítulo 27

Pov Nico

O dia mal amanheceu e já estávamos prontos para partir. Segundo Annie, iríamos de ônibus até nosso destino final – Minneapolis, estado de Minnesota. Finalmente chegaríamos ao nosso destino e pelo menos parte da missão já estaria completa.

O ônibus serpenteava por uma estrada cheia de buracos e aparentemente abandonada, causando a leve impressão de que estávamos perdidos. Decidi afastar esse pensamento porque certamente essa não era a melhor hora pra ficar colocando minhocas na cabeça.

Os outros estavam meio dispersos durante o caminho. É óbvio que Julie estava sentada do meu lado, lendo um livro que Annabeth emprestou a ela – algo parecido com “Mitos do Olimpo”. Ela estava tão concentrada que eu não ousei interromper. Fiquei olhando para ela e pensando em como há poucos dias atrás ela existia apenas em sonho e agora incrivelmente virou realidade. Acho que virei um bobo apaixonado...

Grover roncava e se remexia em um assento mais a frente. O barulho incomodava um pouco, mas não chegava nem perto dos estalidos vindos do banco de trás provocados por... adivinhem: Percy e Annabeth. Não que eu não goste de fazer o que eles estavam fazendo –longe disso – o problema é que esses dois não tem limite! Fui obrigado a virar e encarar tal situação obscena. Pigarreei alto.

- Haaam. Gente, vocês dois estão exagerando no agarramento aí! Acho bom que lembrem que estamos em um local público e é claro que vocês não estão sozinhos... (n/a: Olhem...Nico dando lição de moral! heheheh)

Annie se recompôs extremamente corada enquanto Percy praguejava algo que eu nem fiz questão de entender. Com a pornografia controlada – pelo menos por enquanto – virei novamente para frente e fiquei alisando os cabelos de Julie. De vez em quando beijava seu rosto, o que a deixava arrepiada. Passei algum tempo assim até que levei um cascudo.

- Ai!

- Se eu não posso, você também não pode. Entendeu Coveiro mirim? – Percy.

- Claro, não tenho problemas mentais. Lembra que não sou seu irmão...

- Epa! Entendi o sarcasmo aí! Eu sou irmã dele e nem por isso sou lesada que nem o Percy. – Paige.

Thalia, que estava ao lado dela, murmurou baixinho, mas ainda deu pra escutar.

- Não é lesada que nem ele mesmo... é mais do que ele. coitada!

- Não enche Pikachú! – Paige retrucou dando uma leve cotovelada o ombro da Caçadora. Thalia bufou de raiva, mas não respondeu. Acho que a filha de Zeus achou quem não tivesse medo de enfrenta-la.

Ela fuzilou a garota do mar com seu olhos eletrizantes e azulados e em resposta, apenas deu de ombros, como quem dissesse: “Não estou nem aí pra você...”

Vi que a confusão daria muito pano pra manga. Como uma coisa tão idiota poderia se transformar repentinamente em uma rusga sem razão? Francamente, eu desisto de entender.

Pov Deon

Toquei a campainha nervosamente. Quem está do lado de dentro deve estar imaginando que sou um louco fugindo da polícia ou algo parecido, mas eu estava ansioso demais para parar.

É fato que as coisas não saíram do jeito que planejamos, mas Sean me fez entender que ficar se martirizando pelo que não deu certo é perda de tempo. Agora precisamos dar continuidade ao plano, mesmo com o último desvio de percurso.

- Pois não rapazes? A que devo a visita de vocês?

Aquele tom extremamente cordial na fala da senhora estava me irritando. Como se ela não soubesse o que estamos fazendo aqui. Decidi ser objetivo e poupar a continuidade de toda essa presepada.

- Pauline, você sabe muito bem o por quê de estarmos aqui.

Sean me interrompeu. Bufei de raiva, porque odeio quando ele faz isso, só que ele não perde o costume.

- Kevin nos contou senhora, nem adianta tentar esconder.

Sem nem demonstrar o mínimo de surpresa em sua expressão, a senhora de um pouco mais de sessenta anos, mas com uma aparência muito jovem (n/a: por ser filha da deusa da juventude, é óbvio que estaria em boas condições... admiraria se ela fosse mal conservada.) – cabelo escuro com poucas mechas brancas e olhos verdes bem claros, além de uma pele quase sem rugas e manchas – abriu espaço concedendo o direito de entrar em sua casa.

Os móveis de madeira colonial estavam alinhados e muito limpos, o que tornavam a casa muito sofisticada, apesar de não ter luxo aparente ali. A casa pequena era suficiente para a senhora e o neto, uma vez que eram os único moradores do local, depois da tragédia de anos atrás.

A senhora, mesmo que nunca tivesse tomado conhecimento, sempre fora observada pelos seres míticos – tanto os do bem, quanto os do mal - principalmente depois de ter saído do acampamento meio-sangue. Todos queriam saber como sucedia a vida da filha de um dos únicos semideuses com coragem de desafiar o Olimpo, pois a lógica dizia que ela seguiria os passos dele. A vigilância aumentou ainda mais quando a filha dela começou a ter um romance com Apolo e quando nasceu Kevin.

Pauline O’mailan estava tranquila e serena, ao contrário de mim que estava uma pilha de nervos. Como ela pode estar tão calma sabendo que o neto está envolvido na profecia que levou o seu próprio pai à morte? Sou inteligentíssimo, mas não sou filho de Atena pra adivinhar o que se passa na cabeça dessa mulher.

- Mas eu não estava tentando esconder nada de vocês. Eu não sei o que estão querendo...

- É simples. Kevin disse que a senhora tem um diário que pertenceu a seu pai. Segundo o garoto, nele há explicações detalhadas de quando recebeu a proposta para roubar o livro oculto.

O rosto de Pauline mudou de cor. Antes, seu semblante era despreocupado, no entanto, agora estava tenso.

- Desculpem, mas onde querem chegar com isso? Digo, não vejo a importância de saber o que aconteceu antes do roubo frustrado do livro.

- Aí é que está senhora. O que todos sabem é que Phobos e Deimos propuseram o roubo a Martin, mas há indícios de que há outros envolvidos nesta história desde aquela época.

- E vocês não sabem quem são? Como isso é possível, já que estão ao lado deles?

- Eles tem uma espécie de mensageiro. Ele os diz o que devemos fazer, mas não revela a identidade dos outros. – Sean explicou.

Todos ficaram mudos repentinamente, como se a própria vida de ambos dependessem disso. Christopher estava olhando as fotografias expostas com uma expressão bem esquisita, ainda mais por ser um lestrigão. Sean trocava o peso do corpo de um pé para o outro – sinal claro de quem está incomodado com a situação, até porque parte do que estávamos escondendo foi revelado a uma estranha. Eu, pelo contrário, estou mais tranquilo quanto a tudo isso, afinal, já passei por situações mais estressantes. (n/a: Coisas importantes serão reveladas agora. Fiquem atentos.)

Flashback on

Eu era apenas mais um meio-sangue medíocre como todos os outros. Mas entre eles e eu havia uma diferença: eu faria algo para mudar a minha vida, e a oportunidade chegou quando recebi um convite um tanto peculiar.

- Você é o Deon, certo?

- Depende de quem está perguntando. –eu respondi desconfiado.

- Ah sim, não me apresentei: sou Petrus, criado de um deus grego. Tenho uma proposta que meu senhor fez a você.

Eu estava frente a frente com uma criatura incomum – sem cabelo, pele opaca e enrugada, dentes semicerrados, baixa estatura e olhos assustadoramente amigáveis. Seria um homem comum sem esses detalhes fora do padrão.

- E do que se trata? – eu perguntei interessado.

- É simples. Phobos quer que você seja seu espião no Olimpo. – Ele disse como se aquilo fosse óbvio. Como eu seria um infiltrado no Olimpo? Isso é um absurdo! Um semideus de dezenove anos totalmente esquecido nunca poderia entrar no templo sagrado dos deuses olimpianos...

- Desculpe, mas não tem como fazer isso.

- Como não? Com o dom que você tem, é muito fácil que você consiga informações privilegiadas sobre certos assuntos.

- Dom? Eu apenas herdei um rosto bonito da minha mãe só. Aliás, eu sempre praguejei contra os deuses, porque eles esquecem que tem filhos no mundo normal.

- Então você não sabe? Lembre-se que Afrodite não é apenas um rostinho bonito que cuida do amor. Você descobrirá qualquer dias desses.

- Me diga logo do que se trata. Do contrário pode ir embora e dizer ao seu chefe que não conte comigo.

Ele deu um longo suspiro.

-Tudo bem. Você possui um dom raro que apenas alguns filhos de Afrodite possuem. Na verdade, nunca houve mais de um semideus na mesma geração que o possuísse. Muitos anos atrás, um amigo de Hércules, cujo o nome era Deon e curiosamente também era filho de Afrodite. Aquele Deon possuía o dom da persuasão – o de convencer as pessoas a fazer o que lhe convém – mas teve sérias dificuldades em usá-lo.  Acredite, você é o único meio-sangue filho de Afrodite que tem esse poder dentre os que estão vivos hoje, a menos que haja algum muito bem escondido.

Eu estava pasmo. Pisquei duramente algumas vezes para me certificar de que u não estava viajando na maionese. Agora sim eu podia entender porque sempre conseguia o que queria, com uma ressalva: na maioria das vezes em que se tratavam de coisas materiais, porque no que toca ao campo pessoal, eu nunca precisei de muito para me dar bem.

- E você acha que isso poderá ajuda-los a conseguir informações sobre o Olimpo?

- Temos certeza. Você é o meio-sangue perfeito para fazer isso.

- Tá, mas o que eu devo fazer especificamente? – estreitei os olhos ao perguntar isso. Coisas absurdas passavam pela minha cabeça, porém, Petrus conseguiu me surpreender com sua resposta.

- É muito simples meu rapaz... Acha muito difícil seduzir uma deusa? (n/a: Alguns leitores perceberam a indireta aqui? Conseguiram descobrir quem é a tal deusa? Parabéns pra quem fez o nexo das ideias...)

- Só isso? Não há dificuldade nenhuma um caro. Não para um filho de Afrodite como eu.

- Você terá um filho com ela. Assim o elo de vocês se fortalecerá. – o mensageiro à minha frente falou com tanta convicção que me gelou a espinha. A ideia de ter um filho sempre foi carta fora do baralho em minha vida. Eu não faria isso apenas por um favor a um deus que eu nem conheço.

- Suponhamos que eu aceite a oferta. O que eu ganho em troca?

- Se der certo, conseguiremos derrubar os deuses, e é lógico que você teria uma parte do poder para si.

- Ta, e como vou conhecer a tal deusa?

- Isso é uma questão de tempo.

Continua...