MANUELA

Quando minha visão saiu do fundo de escuridão, a primeira coisa que vi foi o oceano passando por baixo de mim a quilômetros de velocidade, dei um pulo agarrando na primeira coisa que eu vi e a primeira coisa era um... Cavalo?! Arregalei os olhos olhando em volta com meu cérebro voltando a funcionar aos poucos, eu estava realmente voando nas costas de um cavalo, um enorme cavalo branco com asas. meu coração pulou, eu não acreditava no que via, aquela era a coisa mais linda do mundo. O vento batia em meu rosto e o cavalo trotava em pleno ar, a sensação de liberdade tomou conta de mim, aquilo era maravilhoso, eu havia morrido? Olhei para trás vendo mais três Pégasos trazendo Murilo e Luis que estava apagado nas costas de um deles... Não eu ainda estava bem viva e a caminho de um lugar desconhecido... Mas talvez não tão louco quanto pensei. Mordi o lábio, então quer dizer que tudo aquilo nas aulas de mitologia que sempre ignorei eram reais? Estávamos vivendo em meio de semideuses e monstros? Passei a mão na crina do cavalo curtindo o momento e apoiando meu rosto em seu pescoço, se tem uma coisa que sempre adorei fazer foi andar a cavalo, desde pequena corria pelos campos sem rumo, sempre amei a sensação.

A paisagem dos mares passava em baixo de mim, sem fim, até que lá no fundo, um pedaço de grama apareceu, e vi sobrevoando uma maravilhosa floresta de árvores verdes, eu jurava que se me esticasse um pouco conseguiria toca-las com o pé. Abri os braços e fechei os olhos aproveitando o vento, aproveitando aquele momento que poderia ser mais um delírio louco.

- Acordou dorminhoca!!!

Murilo gritou chegando com o Pégaso perto do meu, olhei para o lado abrindo o meu primeiro sorriso na semana toda, eu estava me sentindo bem além de tudo

-O que eu pedi?!

- Você sabe, o de sempre, voando a milhares km/h sobre o oceanos e cavalos voadores da mitologia grega.

Ele falou soando mais animado do que assustado, dei risada olhando em volta.

-Onde estamos indo, estranho?

- Não sei nenhum ponto especifico só sei que estamos indo para o acampamento meio - sangue.

Ele falou dando de ombros.

-Acampamento meio sangue? -Engoli em seco só pensando. Eu sempre adorei ser aluna nova, em começar as amizades do zero, mas ir em um lugar onde eu seria uma completa noob não me parecia reconfortante... Fora que eu nem sabia o que fazer no acampamento, alias, eu não sabia se realmente era o que diziam. Franzi a testa observando Murilo cuidadosamente. -O que você está achando de tudo isso?

- Um dos meus maiores sonhos se tornando realidade? Bem chato. -Ele falou sarcasticamente. -E você, oque esta achando de sobrevoar sobre o oceano?

-Não quero dizer sobre isso... Sobre... Eu não sei... Esse tal acampamento. Não está nervoso?

Perguntei meio sem graça já que não tinha certeza se era a única que me sentia assim, a verdade é que o meu maior medo era de me sentir deslocada. E se eu for filha de um Deus fraco como Dionisio ou talvez Thanos. Eu não aguentaria a humilhação. Eu nunca me senti superior a ninguém, mas a questão é que eu nunca gostei de ser inferior e eu não poderia começar por baixo assim, qual seria a chance de uma filha do deus do vinho?

- Claro que estou nervoso, tipo, quem será meu pai ou mãe? São perguntas que me deixam nervoso.

Ele falou e devo admitir que isso me tranquilizou um pouco, eu sei que era um pouco egoísta da minha parte, mas eu me sentia melhor sabendo que não era a única com problemas de nervosismo ali. Suspirei ainda me sentindo ansiosa, a verdade era que eu só queria sobreviver à proclamação, depois disso ficaria no meu canto longe de problemas e tentando aprender para sobreviver... me parecia um bom plano. Olhei para Murilo mais uma vez respirando fundo.

-Tem alguma suspeita?

Perguntei tentando fugi dos meus pensamentos.

- Tenho alguns, mais não sei ao certo. E você alguma suspeita?

Ele perguntou, mordi o lábio. Eu tinha?

-Tenho esperanças. –Sorri, mas o sorriso durou pouco porque meu coração disparou quando olhei ao longe. Algumas montanhas surgiram e logo atrás e cabanas se ergueram, cabanas de mármore, todas muito bem estruturadas, um campo de vôlei passou abaixo de nossos pés, campos de morangos, uma árvore enfeitava a entrada onde havia algo brilhante pendurado no galho, em outro canto algumas canoas podiam ser vistas e conforme nos aproximávamos os Pégasos foram perdendo altura. Meu estomago se embrulhou em um só nó de ansiedade e nervosismo, olhei para Murilo quase como um olha de socorro. -Acho que chegamos.

- Uau, Isso e Lindo!

Ele falou, seus olhos brilhavam como o de um filhotinho de cachorro que havia acabado de ganhar um novo brinquedinho, Já eu? Eu estava uma pilha.

- Você esta bem Manu?

Os cascos dos Pégasos tocaram a areia e logo pararam completamente. Algumas pessoas caminharam até nós, todas elas usavam camisetas laranjas e pareciam curiosos ao nos observar, desci do Pégaso junto com Murilo torcendo para minhas pernas aguentarem o meu peso, então Luis foi cumprimentar os amigos que estavam vindo, respirei fundo olhando para Murilo.

-Sabe que eu não tenho certeza?

- E eu sei como você se sente.

Murilo falou me olhando igualmente aflito.

- Olá vocês 3, demoraram. Quiron apareceu entre os campistas

Olhei para Murilo com os olhos arregalados. Como ele havia conseguido chegar antes da gente se ele havia vindo galopando. E outra coisa... Aonde estávamos afinal?! Havíamos saído do brasil? Pensei por um momento no ataque de nervos que minha mãe deveria estar sofrendo em São Paulo. Olhei para Quiron tentando não desmaiar mais uma vez e pagar o maior mico da historia, então foquei meus olhos nos cabelos castanhos e óculos redondos de Murilo que me olhava também. Eu tentei ficar na minha, eu juro, mas a curiosidade falou um pouquinho mais forte.

-Como... Você... Você saiu junto com a gente!

Falei olhando completamente perdida para p homem metade cavalo parado na minha frente.

Dei um passo para frente, mas assim que fiz isso senti os olhares virados todos para mim e eu não gostei nada daquilo, será que eu tinha feito alguma coisa errada? Uma luz brilhou no chão o que me fez franzir a testa, até que vi os olhos de Luis brilharem ao meu lado e ele levar a mão até a boca.

-Eu resgatei uma criança dos três grandes.

Franzi a testa confusa. Do que eles estavam falando? Os campistas se curvaram para mim... Era para mim? Eu estava confusa até que finalmente percebi que a luz vinha de cima de mim, olhei para cima e logo em cima da minha cabeça havia o desenho de um tridente na cor azul turquesa brilhando e rodando, arregalei os olhos. Eu conhecia aquele símbolo.... Mas de onde?

-O símbolo de Posseidon...

Murilo falou do meu lado, ele parecia tão surpreso quanto todos... Espere aí... Em cima da sua cabeça a mesma luz brilhava, mas eu poderia jurar que aquilo era uma...

Na real, eu odiava aquele tipo de atenção. Odiava ver aquelas pessoas curvadas para mim. Abri um sorriso sem graça e apontei para ele.

-Olhem uma... Coruja?

Franzi a testa, mas mesmo assim ninguém pareceu ligar.

bati o pé me sentindo constrangida e acenei para o pessoal se levantar, Quiron deu uma leve risada e apontou para a multidão

- Onde? Murilo Falou

-Annabeth, será que poderia mostrar o acampamento para nossos novos campistas? eu mesmo mostraria, mas tenho coisas a tratar

Quiron se dirigiu para uma garota de cabelos loiros que saiu da multidão.

Ela era até bonita, tinha grandes olhos cinzas e uma expressão intimidadora, mas mesmo assim parecia ser muito simpática.

-Hum.... Interessante, uma filha de Posseidon, e um irmão, legal. Falou a garota loira com um sorriso no rosto. -Uma outra cabeça de alga no acampamento agora.

Levantei a sobrancelha, eu não tinha certeza, mas ela havia me chamado de cabeça de alga? AAAH ela ia ver o que eu faria com a cabeça dela.

-Como?

Perguntei com a testa franzida.

- Não liga para ela não Manu.

Murilo sussurrou, mas eu estava tendo uma pequena dificuldade com isso, se tinha uma coisa que eu odiava de verdade eram pessoas que se acham superiores ou pior, que podem ser seus amigos sem mesmo conhece-lo. Ergui a sobrancelha para ela e ela fez o mesmo gesto para mim em seguida abrindo um sorriso e dando uma leve risada.

-Relaxe... Não tem nada para ver! -Ela falou para os campistas que foram desfazendo a multidão aos poucos. Então ela se virou para a gente. -Então, qual é o nome de vocês?

- Meu nome e Murilo.

Olhei mais uma vez examinando a garota, ela parecia uma espécie de figura influente aqui no acampamento, como uma garota popular de um colégio e isso já havia a feito perder alguns pontos comigo. Cruzei os braços mudando de posição e falei sem muito ânimo.

-O meu é Manuela.

Ela sorriu como se fossemos velhos amigos.

-Prazer, meu nome é Annabeth. Eu sou filha de Atena... Não quero assustar vocês então vou explicar como as coisas funcionam aos poucos, ok? -Ela fez um gesto com a cabeça pedindo para que nós a acompanhássemos. -Vou primeiro de tudo deixar que conheçam seus chalés e irmãos, depois mostro o acampamento. Combinado?

Olhei torto para ela e abri um sorriso um tanto falso assentindo.

-Combinado Annabeth.... Desculpe, mas eu não tenho certeza. Poseidon teve mais filhos?

Ela abriu um sorriso ainda maior.

-Teve dois.... Mas só um deles está por aqui... Já ouviu falar em Percy Jackson?

Balancei a cabeça negativamente.

-Desculpe, não.

Ela deu de ombros.

-Ele é um grande herói. Pode te ajudar muito por aqui

- Eu posso me introduzir sozinho Annabeth.

Uma voz masculina surgiu atrás de Annabeth e me vi diante de um garoto com cabelos incrivelmente negros, seus olhos eram mais claros do que água e ele tinha um sorriso maravilhoso. Ele olhou para mim e para Murilo em seguida. - Ola meu nome e Percy Jackson.

Abri a boca e pisquei várias vezes. Aquele era o meu irmão? Inferno! Abri um sorriso não muito animado e fiz um gesto com a cabeça.

-Beleza, Percy?

Annabeth sorriu o abraçando e lhe dando um beijo na bochecha.

-Achei que estava com Grover, cabeça de alga.

Franzi a testa. Pelo jeito aquele era um "apelido" comum entre eles. Bem que eu havia sentido algum carinho especial quando Annabeth citou Percy Jackson

Agora eu sabia que meus sentidos funcionavam com semideuses também

- Eu estava, mas não e todo dia que eu descubro que tenho uma irmã. Falou Percy e então ele voltou a olhar para mim.

Fingi que não estava engasgando por dentro e abri um sorriso cansado, a verdade é que eu precisava me deitar um pouco, era só.... Muita coisa para digerir. Eu havia descoberto que meu pai humano na verdade era meu padrasto mentiroso e que eu era filha de um deus de verdade e que ainda por cima era um dos três grandes... Pelo menos não era Thanos. Suspirei olhando para os dois tentando não vomitar e tentei não ser grossa.

-Mal pelo ânimo. mas onde fica o chalé de Poseidon? Estou precisando mesmo descansar.

Annabeth assentiu soltando Percy por um minuto finalmente,

- Venha comigo que eu te mostro. Falou Percy com um sorriso no rosto.

-Certo.... venha Murilo vou te apresentar o chalé de Atena. Gosta de arquitetura? -Ela sorriu animada. -Percy pode leva-la?

Ela sorriu

-Ótimo.

Ela lhe deu um beijo e saiu conversando com Murilo algo some o Empire State, mas eu resolvi ignorar e seguir o garoto de cabelos lisos e olhos incrivelmente verdes em direção a um campo cheio de chalés.

Eu fiquei maravilhada com o que vi. EU sempre tive tara por arquitetura e naquele lugar havia um pouco de tudo. Alguns chalés eram mal tratados e me lembravam mais quarteis de guerras, outros eram feitos de mármore na cor dourada que deixava quase impossível de olhar para lá, outros eram construídos com o mármore mais bonito e detalhado que já havia visto em minha vida e prendi a respiração ao olhar para um deles. Ele era com certeza o maior de todo com grandes pilastras e alguns detalhes de ouro, em cima da porta havia um raio entalhado

-Zeus

Falei sorrindo para o nada e em seguida me virando para o lado vendo um outro chalé menor, porem tão bonito quanto feito em uma pedra na cor azulada que me lembrava alguns corais, em cima da porta um tridente estava de enfeite.

Nem precisei da ajuda do Percy para saber que era lá que íamos ficar.

- Aqui esta, o chalé de Posseidon, deus dos mares.

- Não e tão grande quanto os outros mas só vamos ficar nos dois mesmo.

Nós dois? POR QUE ELE PAI?! Abri um sorriso para o garoto e olhei para duas beliches.

-Ok. Onde você dorme, Percy?

- Bem eu durmo aqui em baixo, mas se você quiser nos podemos trocar.

-Imagine. -Falei enquanto colocava a pequena mala que Luis havia arrumado para mim com as minhas roupas. -Só espero conseguir sobreviver aqui mais do que um mês.

Falei enquanto observava o que ele tinha colocado lá dentro e rezando para que ele não tenha tocado em qualquer coisa muito pessoal minha.

Me sentei na minha nova cama e suspirei enquanto checava tudo

-Não precisa ficar aqui comigo, Percy. Deve ter mais o que fazer.

Falei nem me preocupando em tirar os olhos da mochila, a verdade é que se ele tinha alguma coisa com a garota loira, Annabeth deveriam ser do mesmo nipe de simpatia, ou seja, não nos daríamos muito bem. Ok, talvez eu estivesse tirando conclusões demais em pouco tempo, mas fazer o que? Essa sou eu. Sempre odiei pessoas folgadas, mesquinhas ou narcisistas, porque onde eu morava já tinha o bastante desse tipo de gente. Talvez eu não estivesse sendo a pessoa mais simpática do mundo com ele, maaaas Who cares? y.y

- Não se preocupe, eu sei que sua cabeça deve estar doendo de tanto informações nova mas qualquer duvida que você tenha e só perguntar.

-Sim, sim. Já sei, você é um graaaaande herói.

Resmunguei enquanto revirava os olhos.

-Eh, parece que está tudo aqui.

Falei para mim mesma enquanto colocava a bolsa no canto da cama e me esticava no colchão bocejando

- Então tá... Bom sono.

Me virei para o lado e fechei os olhos mesmo sabendo que não conseguiria dormir.