Lua De Sangue escrita por JhesyAckles


Capítulo 15
Capítulo 15




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/166662/chapter/15

O lobisomem foi interrompido em meio ao seu salto, eu o vi ser atirado em uma arvore com um enorme estrondo e depois cair no chão com um uivo de dor, eu não estava conseguindo compreender o que havia acontecido até que um segundo lobisomem se aproximou dele com o rosto feroz e uivou com autoridade, pelo menos foi o que pareceu, o lobisomem que me havia atacado o encarou e saiu mancando por entre as arvores, mas antes de desaparecer me lançou um olhar raivoso, olhar esse que fez meu corpo todo estremesser.

Eu continuei parada olhando o lobisomem que se virou para me olhar e começou a andar em minha direção. 

Eu não me mechi, ele continuava se aproximando mais e mais, eu não corri, devia? Ele havia acabado de salvar minha vida, eu não devia ter medo dele. Ou devia? Talvez ele quisesse me matar e mandou o outro embora. Não! Eu preferi ficar com a primeira teoria. 

Ele estava agora a apenas dois passos de mim e eu olhei em seus olhos, precisei levantar a acabeça e olhar para cima para poder enxerga-los, ele era enorme e aqueles seus olhos verdes  me encaravam.

Daniel.

Eu o reconheci e estremessi. 

Queria falar alguma coisa mas não fui capaz de encontrar minha voz. 

Ele me olhava diferente, mesmo em um olhar de lobo eu podia ver, havia raiva e magoa ali, ele se aproximou o suficiente para que sua respiração forte fizesse meus cabelos esvoassarem para tras.  

Ele parecia querer falar alguma coisa, abriu um pouco a boca e eu pude ver seus dentes enormes, fechou novamente percebendo ser inutil tentar fazer aquilo naquela forma e deu alguns passos para tras. 

Continuei parada observando. 

Ele parou uns metros a minha frente, atirou a cabeça pra tras e uviou, em seguida envergou seu corpo pra frente em um movimento brusco, talvez fosse apenas impressão mas seu corpo pareceu menor, seus pelos pareciam diminuir, ele voltou a atirar a cabeça pra tras com um barulho vindo de sua garganta, a boca aberta, agora os dentes estavam menores e eu pude ver seu corpo agora quase sem pelo.

Ele estava mutando.

Não demorou muito, em poucos segundos não era mais o Daniel lobo que estava na minha frente, era o Daniel homem.

Eu o olhei de cima a baixo e então notei que ele não vestia nada, estava completamente pelado, eu já o havia visto varias vezes daquela maneira mas seu corpo perfeito ainda me impressionava todas as vezes que o via.  

Ele me olhava sério.

Vê-lo ali, na minha frente, depois de tanto tempo não foi como eu esperava, não foi como eu imaginava...

Por meses alimentei um sentimento de odio e vingança para com ele, e agora, na frente dele esse desejo pareceu se esvair.

Meu coração acelerou, meu corpo tremia desesperadamente quase parecia tomado por um terremoto, minhas pernas viraram gelatina e me custava um grande esforço mante-las me sustentando, lagrimas queriam sair a qualquer custo e eu, com enorme esforço, as obrigava a voltar para que não me entregassem.

Nunca havia ficado daquela maneira antes, eu não estava gostando disso.

Ficamos ali, parados nos encarando por interminaveis minutos em um silencio exaustivo, sem dizer absolutamente nada, foram apenas poucos minutos mas me pareceram uma eternidade.

Aqueles momentos de silêncio foram ao mesmo tempo incomodos e reconfortantes, eu não sabia o que falar e ainda assim havia tanto a ser dito... 

Ele ainda me olhava nos olhos e aquele olhar me gerou um certo incomodo, o olhar que eu me lembrava de ver em seus olhos não era, nem de longe, aquele... Eu me lembrava de ser doce, apaixonado, quente, transmitindo amor e ao mesmo tempo desejo... Algo muito diferente da raiva, dor e magoa que seu rosto estampava com um ar frio, vê-lo ali me encarando acusador me fez fraquejar, eu era a culpada e ele era a vitima, era o que parecia.

Por uns momentos eu não consegui vê-lo com um traidor, como um assassino, ele era Daniel, apenas Daniel, aquele homem por quem me apaixonei, aquele que me deu de presente os melhores momentos que eu poderia ter tido até então, e ve-lo com aquele olhar produzia uma desejo de abraça-lo e reconforta-lo... mas eu não podia... eu sabia que não era assim, a parte racional existente em mim não me deixava esquecer o que ele fizera.

A parte racional que vive em mim estava em guerra com a parte irracional que surgiu dentro de mim no momento em que o conheci, parte essa que agora explodia pela proximidade em que estavamos. 

Eu ainda o olhava, não conseguia desviar o olhar, ele se moveu inquieto e finalmente rompeu aquele longo silêncio. 

- Porque? - ele disse com uma voz rouca, tremula e falha. 

Eu permaneci calada. 

- Porque fizeram isso? - disse da mesma forma ainda com a voz irregular. 

Eu não conseguia encontrar minha voz para responde-lo, e ainda que encontrasse não saberia o que dizer. 

- Isso era mesmo necessário? Todo esse derramamento de sangue era mesmo preciso? Droga! Inocentes morreram, Lana. - eu estremessi ao ouvi-lo dizer meu nome. - Será que valeu a pena? Eu acabei de vir de lá e sabe o que eu vi? Uma carnificina, corpos jaziam no chão como se não fossem nada! Vocês perderam metade dos que foram e metade do meu bando foi exterminado. Está feliz com isso? - ele me olhava sério e ainda com aquele olhar. Sua voz estava embargada. - Pilhas de corpos ainda estão lá!

Aquilo me atingiu como uma sequencia de socos no estomago.

Quem haveria morrido?

Quem da minha familia estaria entre os cadaveres?

O horror passou por meu rosto.

- Não se preocupe! - ele pareceu ler minha mente, agora falava com um desdem que não pertencia a ele. - Eu vi seu querido Lucas saindo da clareira com os outros, ele estava bem, se isso te conforta.

- Saindo? - de onde minha voz veio eu não tenho certeza, mas saiu com um sussurro. - A batalha já acabou?

- Felizmente. - ele disse e uma onda de alivio me atingiu. - Quando cheguei lá o caos já estava instalado, a confusão já acontecia, mas fiz com que os meus recuassem e os mandei ficar escondidos, ao que parece os vampiros não acharam que valia a pena procura-los.

- Mandou? - Quando me dei por mim já tinha perguntando.

- É, Lana. - ele dizia sem emoção. - Muita coisa aconteceu durante esse tempo! Agora eu sou o macho alfa do bando, eles tem, por obrigação, que me obedecer.

Isso explicava muita coisa, mas ainda havia algo que eu queria entender.

- Como me encontrou? 

- Mary. 

- Mary? Mary era o...

- O lobisomem que tentou te matar? Sim, era ela. Eu a vi entrando na floresta e seguindo nessa direção, achei estranho porque todos os outros seguiram na direção oposta, a segui para mandar que se juntasse aos outros, e então senti seu cheiro  e entendi o que ela queria... 

- Você me salvou. - minha voz saiu rouca.

- Salvei, só não sei e realmente devia tê-lo feito... - Aquele tom amargo e frio que ele mantinha não me agradava, mas eu não podia mostrar isso a ele, não podia vacilar. Eu o trataria como ele merece. 

- Então porque o fez? Porque me salvou? Para ficar com essa duvida? Porque não deixou que sua namorada rasgasse minha garganta? Seria um problema a menos para você, não? 

- Porque? Porque eu te... - ele se interrompeu. - Porque eu não... - se calou novamente. - Sinceramente, Lana? Eu não sei exatamente o porque! Não mais.

- É? Mas eu quero saber! - eu agora me exaltava. - porque me deixou viver? Por que poupou minha vida e não poupou minha mãe? - um nó se formou em minha garganta. - O que fez comigo, Daniel, foi pior que a morte! Você tirou de mim a pessoa mais importante da minha vida, podia ter me matado, seria muito mais facil.

- Eu não vou voltar a discutir esse assunto com você. - ele não alterou o tom de voz. - Você fez sua escolha, acreditou nisso e eu não vou discutir.

- Eu fiz minha escolha?

- Sim, escolheu em quem acreditar, quanto a isso eu não posso fazer absolutamente nada. 

- Eu sei o que eu vi e isso me deu motivos para acreditar em Lucas.

- Lucas, sei. Lana, você sabe o que acha que viu, e é só o que vou te falar. Não vou discutir ou gritar com você dizendo que sou inocente, ok? Você fez sua escolha e isso eu não posso mudar, se você acredita que eu sou culpado então eu serei o culpado. 

Eu não respondi. 

- De qualquer forma, não estou aqui para falar disso, fiz o que tinha que fazer, não tenho mais nada para fazer aqui. Mas antes que eu vá embora quero te perguntar, está feliz com o resultado da sua vingança? 

- Como é?

- Exatamente isso, está feliz com o que conseguiu? Perdeu alguém que amava, e agora fez com que outros chorassem a perda de quem amavam, isso te deixa satisfeita?

- Você não tem o direito de falar assim comigo. - eu trovejei. 

- Tenho, e falo! 

-  O que é que está acontecendo aqui? - escutei a voz de Lucas. Sua voz nunca me foi tão reconfortante.

- Nada que te diga respeito. - Daniel disse entredentes. 

- Você acha mesmo? - Lucas chegou perto de mim e colocou o braço protetor em volta do meu ombro. - Uma novidade pra você, tudo o que diz respeito a Lana também me diz respeito.

- Que seja então! - Daniel o fuzilou com o olhar. - Pergunte depois a Lana, ela vai lhe explicar melhor.  

- Pode apostar que vai. E... - Lucas disse medindo Daniel de cima abaixo.- Você podia vestir alguma coisa, não? Poderia ter um pouco mais de respeito na frente da minha noiva. 

Noiva?

Eu olhei para Lucas que continuava sério encarando Daniel. 

- Noiva? - Daniel vacilou o olhar e a voz depois colocou um tom sarcastico um tanto forçado. - Tanto faz se ela me vir vestido ou não, não há nada aqui que ela já não tenha visto e provado, então não se preocupe, e caso queria saber ela gostou muito do que experimentou. - ele riu sarcasticamente. 

Em uma fração de segundo Lucas saiu de perto de mim e foi até Daniel socando seu rosto e depois segurando-o pelo pescoço. 

- Repita isso. - Lucas disse quase cuspindo as palavras.

- Não preciso, você entendeu muito bem. - Daniel dizia com dificuldade. 

- Lucas, chega! Vamos embora. - eu falei temendo o que aconteceria. 

Vê-lo morto? Era o que eu queria até pouco tempo atras, agora que o via em real perigo eu não sei se conseguiria ficar parada observando enquanto Lucas o matava.

- Lana não...

- Lucas, muito sangue já foi derramado hoje, por favor, não faça isso... Ele salvou minha vida.

Lucas o soltou.

- Saiba que você só sai daqui respirando hoje porque Lana pediu, se não fosse assim você estaria morto. 

- E você, saiba que Lana só te pediu isso porque ainda me ama, está com você mas pensa em mim. - ele se virou pra mim. - E ela sabe disso. - ele me lançou um olhar e vacilou ao faze-lo, nele eu vi novamente o olhar do Daniel que conheci meses atras e não do novo Daniel que eu estava conhecendo hoje. 

Se virou para as arvores, atirou a cabeça pra trás e depois novamente curvou o corpo para frente, seus pelos, garras e dentes cresceram junto com seu corpo e agora eu o via novamente como um lobo.

Ele me lançou um ultimo olhar e saiu corredo entre as arvores.

Eu fiquei observando o lugar onde ele partira, até que Lucas me tirou a atenção, ele estava com muita raiva, foi até uma arvore e a socou fazendo com que se partisse ao meio com um enorme estrondo e voasse muitos metros  frente. 

- Lucas, o que você está fazendo? - eu falei ainda me recuperando do susto.

- Estou fazendo o que queria fazer com seu cachorro. - ele dizia trincando os dentes.

- Eu sei, mas eu devia isso a ele, ele salvou minha vida!

- Como assim salvou sua vida?

- Mary, uma amiga, namorada, seja lá o que for dele, ela me seguiu, queria me matar.

- ELA O QUE? - ele trovejou.

- Tentou me matar, e provavelmente teria conseguido se Daniel não tivesse chegado. - eu disse sem enteder a reação dele.

- Vamos voltar para casa, Marcus está preocupado com você! - ele disse mudando bruscamente de assunto e me pegando pelo braço.

E então partimos para casa.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Lua De Sangue" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.