Fear-Way

Eternal winter

A verdade é que o inverno jamais terminaria. Meu coração estará para sempre congelado, junto com suas últimas palavras, seu último suspiro e seu último beijo. Você me disse para esquecê-lo por completo, para apagar as boas memórias e as más lembranças. Disse que quando partisse, tudo sumiria, a dor sanaria e o desespero acabaria. Mas só ficou ainda pior. Tudo se intensificou. Você foi o meu motivo de alegria e a efêmera felicidade.

                   Engolir as palavras, esquecer os pensamentos, forçar um sorriso. “Está tudo bem, estou bem, não foi nada”. Quanto tempo mais teria que ostentar aquela farsa que você me obriga?

                    “Será bem melhor assim”, foi o que você disse. “Quando eu sair, por favor, esqueça tudo o que tivemos juntos. Esqueça meu nome, esqueça meus olhos, esqueça meu toque, me esqueça por completo”.

                   Dizem que o inverno é a época da separação, que o vento sopra qualquer possível centelha que aqueça seu coração, mas que a primavera logo chegará e reacenderá a chama da paixão. Por que não pôde ser assim conosco? Por que você teve que deixar que o inverno simplesmente apagasse o meu amor?

                   A pior dor de todas não é aquela que todos possam ver, mas só a que você sente. Ela lhe corrói aos poucos e, quando se percebe, já lhe destruiu por inteiro.

                   O inverno...

Não conseguia parar de encará-lo. Havia uma parte de mim que ainda não conseguia compreender o que estava acontecendo. Não conseguia entender o que ele falava, o que fazia e quais eram suas intenções. Não podia ouvi-lo, suas palavras não faziam qualquer sentido, pareciam apenas sons aleatórios.

                   – Por favor, não complique ainda mais – ele pediu.

                   – Você tem noção do que está fazendo? – agarrei-o pelos ombros.

                   – Tenho! Não posso mais viver assim, isso está acabando comigo, já não somos mais os mesmos... Não existe mais nós, faz muito tempo que parou de existir. Agora é eu e você e não terá outra vez, acabou.

                   Conseguia ouvi-lo, mas suas palavras não faziam qualquer sentido para mim. O som não me era familiar, porém, por mais que tentasse entender seu intento, não conseguia. Nada ali fazia sentido, nada mais parecia existir. Era irreal.

                   – Você disse que seria para sempre – comentei sério enquanto ainda tentava persuadi-lo.

                   Fora pego de surpresa e em um momento importuno. Não tivera nem a chance de conseguir conversar direito com ele, fora simplesmente: “estou indo embora, acabou”. E nada mais. Não havia uma explicação, uma teoria e nem nada do tipo. Fora um simples adeus muito por cima.

                   Ele desviou o olhar.

                   – Frank, responda olhando nos meus olhos: você ainda me ama? – inquiri severamente.

                   Ainda não se atrevera a olhar-me nos olhos e dizer qualquer coisa. Tudo o que falara desde que chegara em casa foram olhando para outros lugares. Há algum tempo ele estava assim e não conseguia entender o porquê disso.

                   – Olhe para mim! – virei seu rosto contra sua vontade, os olhos ardendo e o coração batendo rápido demais. Não pude ver quaisquer traços de arrependimento em seu olhar, apesar de detectar facilmente toda sua tristeza ali contida e expressa, mesmo que não desejasse.

                   – Não amo mais! Faz tempo que isso que chamamos de amor acabou! Só nunca percebi e agora que parei para pensar. Será muito mais fácil se isso acabasse logo de uma vez, mas vai ser pior para você se continuar me impedindo. Não vou mudar de ideia.

                   Agora suas palavras tinham sentido e peso. Atingiram-me com toda força de suas emoções possivelmente represadas.

                   – Por que nunca falou?

                   – Não sei, nunca me dei conta.

                   – Tudo pode ser resolvido com uma conversa, você sabe.

                   – Sei, mas no nosso caso não tem mais volta. Agora, adeus – disse novamente e sem dirigir-me um último olhar, saiu de casa e deixou-me sozinho sem saber o que fazer para que pudesse remediar.

                   Aliás, não havia mais o que fazer. Uma pessoa jamais vai lhe pertencer e essa é a verdade. Não poderia fazer nada se aquele era o desejo dele, apesar de querer fazê-lo.

                   Mas o amo demais para deixá-lo infeliz.

                   – Eu manterei minha palavra de sempre lhe amar e estar ao seu lado, por mais que você não deseje ou tente me esquecer... – sussurrei para o nada, desejando mais do que tudo que ele pudesse me ouvir.

                   Para sempre congelado nesse inverno que não há fim.

WayKilljoy

12/09/2011