_Que foi isso?_perguntei.

            _Nada, deve ter sido só um trovão…_ disse Art, fechando os olhos e procurando os meus lábios

            _Para!_ disse enquanto o empurrava._ Tem alguma coisa estranha acontecendo. Isso não foi um trovão.

            Levantei-me.

            _Alice, o que…_Art começou.

            Levei um dedo aos lábios, pedindo silencio.

            Caminhei, devagar, para o lugar de onde o barulho tinha vindo. A Casa Grande.

            Ouvi os passos de Art me seguindo.

            Olhei para ele e pedi silencio outra vez.

            Andamos, em silencio e nos escondendo, até o local de onde vinha o barulho. A cesta e o piquenique esquecidos na praia.

            Paramos em uma das janelas da casa, a janela que levava até a sala.

            _Estou realmente preocupado._ disse alguém, alguém, que com certeza, só podia ser uma pessoa, o Sr D.

            _É grave?_era a voz calma de Quíron.

            _Está brincando comigo? É claro que é. E vai ser difícil para o meu pai enganar os mortais para sempre. Algum momento vão perceber que meus queridos irmãozinhos sumiram._ a voz continua um pouco de sarcasmo.

            _ Acho melhor irmos deitar. E da próxima vez, chegue em silencio, você poderia ter acordado os campistas_ disse Quíron.

            Ouvi cascos batendo no chão e quando não podia mais os ouvir, olhei para a sala. Ninguém.

            _Acho melhor irmos nos deitar também. Nos vemos amanhã.

            _Tudo bem._ ele me deu um selinho.

            _Ah, e mais uma coisa. Não conta para ninguém sobre o que aconteceu essa noite.  Nem o piquenique nem o que acabamos de ouvir.

            Ele concordou uma vez com a cabeça e passando as mãos no cabelo, foi embora.

            Entrei no meu quarto e deitei-me.

            Apesar de estar com sono, eu não conseguia dormir.

            Eu não conseguia para de pensar no que o Sr D falara e tinha noventa e nove por cento de certeza de que tinha a ver com o que Rachel dissera.

            O que, somado com as constantes chuvas, o fato de que Art estava gelado e meio fraco nos últimos tempos e meus sonhos, só podia dizer uma coisa.

            Apolo tinha sumido.

            Levantei e olhei pela janela. Não vi a lua que devia reluzir lá fora. Apenas nuvens e mais nuvem.

            Artemis tinha sumido junto com o irmão gêmeo.

            O que eu ia falar para o Art? Que ele podia morrer? Que seu pai tinha sumido? E para os outros?

            A melhor solução era calar-me e deixar as coisas se desenrolarem devagar.

            Mas, naquele momento, eu só tinha um pensamento.

            Cronos está ganhando.

            Queria saber os motivos que o levaram a sumir com a lua e o sol. Queria saber onde ele tinha trancado os deuses. Seria outra vez na ilha de Polifemo?

            Não. Cronos podia ser burro, mas não era estúpido.

            Talvez, naquela maldita ilha esquisita onde encontrei Orb pela primeira vez, a qual eu batizei secretamente de Ilha do Titã.

            Mas, parecia óbvio demais.

            Tomei uma decisão. No dia seguinte, eu ia conversar com Rachel.

***

            Acordei cansada na manhã seguinte, como se não tivesse nem fechado direito os olhos quando ouvi o soar da concha.

            Sonolenta, levantei.

            Tinha decidido uma coisa, aquela tinha sido minha última noite na Casa Grande.

            Não totalmente acordada, arrastei meus pés pelo quarto enquanto pegava minhas coisas e jogava na minha mochila. Quando terminei, a deixei na cama. Coloquei a roupa que tinha deixada para fora, sem me esquecer de colocar minha pulseira.

            E foi para o refeitório.

            Não chovia.

            Mas eu ainda não podia ver o sol.

            Isso porque, ele tinha sumido.

            Sentei na minha mesa e ouvi Sophia falar:

            _E então? Tem dormido bem na Casa Grande?_ Ela parecia com ciúmes.

            _Sim. Mas, logo vou voltar para o chalé. Ainda hoje, espero.

            _Por quê? Ele não foi bom o bastante para a princesa.

            Olhei para ela.

            _Algum problema, Sophia?

            _Não, nenhum…_ disse ela. Senti a ironia em sua voz.

            _Sophia! Para com isso! Pensei que fosse minha amiga!

            _Eu?! Quer dizer que você pensou depois de roubar meu lugar de vice-chefa no chalé e beijar meu namorado eu ainda ia ser sua amiga! Acorda, garota. Quem você pensa que é??

            _Seu namorado?

            _Apolo.

            _Ele não é seu namorado e eu não beijei ele!!

            _Claro que é! Nós dois ficamos juntos o tempo todo antes de você aparecer!! E então… Ele simplesmente me largou.

            Encarei os olhos azuis da garota.

            Isso mesmo, Sophia não tinha olhos cinza como todos os filhos de Atena.

            _Isso, querida, porque ele não fica com ninguém por mais de dois meses._Eu ouvi uma voz um tanto irritante falar atrás de mim e da Sophia.

            Era uma garota de cabelos curtos e tricolor. Rosa, verde e loiro.

            _Olá para todo mundo! Eu sou Aurora Evans. É um prazer te conhecer Alice, ouvi muito falar de você.

            _Oi._cumprimente timidamente.

            Aurora tinha mais ou menos a minha idade. Não era especialmente bonita, mas tinha um rosto curioso; olhos anormalmente juntos e tinham uma cor estranha, algo entre o dourado e o castanho; o nariz era um pouco arrebitado; e tinha algumas sardas nas bochechas.

            _Sou filha de Eos, a deusa do amanhecer. Isso mesmo, a DEUSA! Todo mundo acha que Eos é homem e às vezes a confunde com Eolos, mas não tem nada a ver. Não coloquemos o deus dos ventos nisso.

            Tentei sorrir para ela. Mas isso não deu muito certo.

            _Sabe, Alice. Nem tente esconder, todos sabemos que você gosta do Apolo, ele de você e que vocês já se beijaram trilhões de vezes.

            _Meu namorado!_protestou Sophia.

            _Cala a boca. O Apolo sempre te disse que não queria nada além de uns beijos. Você que não entendeu. Vocês nunca namoraram. Então ele se cansou de você e um mês depois, no ano passado, a Alice aqui chegou ao acampamento. Larga a mão de ser ciumenta.

            Sophia fechou a cara.

            _Afinal, de que lado você está?_perguntou ela, mal-humorada.

            _Do lado da verdade. E isso é verdade.

            _Cala a boca, Aurora. Não quero mais falar com você. É uma péssima melhor amiga.

            Certo, Aurora era a melhor amiga da Sophia. Tá, isso é quase normal.

            _Alice!_era Yasmin, tinha certeza.

            Não demorou e ela e Cristal estavam na minha frente.

            _Oi, Aurora._ Yasmin cumprimentou, com cuidado, como se achasse que ela podia atacar-la a qualquer momento._ Ei, Alice. Vem cá. Você tem que ver uma coisa.

            _Tudo bem.

            E me levantei.

            _Amigas de novo?_perguntei para Sophia.

            Ela suspirou.

            _Certo. Esquece tudo o que eu já te disse.

            Sorri.

            _Tudo bem. Afinal, você é minha irmã.

            Estava indo embora, quando Aurora me chamou. Virei-me.

            _Fez um belo trabalho com as Aves do Lago Estinfalo.

            Sorri, constrangida. Aquela garota sabia quase tudo sobre a minha vida e eu não sabia nada sobre a dela.

            Depois de termos andado um pouco, perguntei:

            _Aonde vamos, Yasmin??

            Yasmin sorria e tinha os olhos um tanto arregalados. Cristal andava rápido. Ok, nada comum.

            _É… o seu irmão… Peter…_ Yasmin conseguiu falar, e o sorriso continuou em seu rosto.

            _Algum problema?_perguntei, um pouco preocupada.

            _Depende do que você considera problema._ Disse Cristal.

            _Que problema nada. Isso é super legal!!_Yasmin falou, sem parar de andar.

            Preferi ficar calada. Gente, é sério, a Yasmin e a Cristal me assustam.