Meu despertador tocou exatamente às nove horas, fazendo-me pular da cama. Espreguicei-me e fui ao banheiro fazer a minha higiene matinal. Percebi que não chovia, o que era estranho se tratando de Seattle. Após colocar um vestido confortável e dar um jeito nos meus cabelos, concluí que era hora de descer para tomar café.

Chegando à cozinha, encontrei minha mãe, Renée, sentada, tomando o seu café da manhã. Pães, queijo, torradas, leite, geléia, café, uma jarra de suco e uma pequena cesta com frutas estavam decorando a pequena mesa de seis lugares.

– Bom dia, mãe! – eu lhe abracei.

– Bom dia, Bella. – sorriu e me deu um beijo na testa. Não pude deixar de sorrir com o seu gesto amável. – Acordou cedo em pleno sábado... Vai sair? – ela sabia que eu tinha o costume de dormir até tarde.

– Ainda não sei. - respondi, dando de ombros e logo percebendo o quanto a casa estava estranhamente silenciosa. - Onde estão Jessica e Alice?

– Alice está dormindo, e Jessica saiu cedo com Jacob. Aqueles dois... Espero que estejam sendo responsáveis no que andam fazendo. – balançou negativamente a cabeça e olhou para o seu prato, que continha algumas frutas levemente cortadas.

– Tenho certeza que estão. – tentei lhe confortar com minhas palavras, pegando uma maçã na fruteira. Ela suspirou pesadamente, dando de ombros logo após.

– Quer que eu faça algo para você comer?

Eu raramente tinha fome pela manhã, e esta manhã não era exceção à essa "regra".

– Não, obrigada. Vou tomar só um suco de laranja.

Renée levantou-se e levou sua louça até a pia, enquanto respondia tranquilamente:

– Tudo bem. Irei passar algumas camisas do Peter, antes que ele chegue para o almoço.

Assenti.

Não era preciso que minha mãe pedisse para que eu limpasse e guardasse tudo. Eu - assim como minhas irmãs - fazíamos questão de poupá-la sempre que pudéssemos. Ela cuidava de tudo sempre, era a verdadeira chefe da nossa família. Antigamente, é claro, ela nos pedia para arrumar qualquer coisa pra ela, mas hoje nos sentíamos na obrigação de fazer o que quer que fosse para vê-la bem e descansada. Renée geralmente gostava de fazer tudo sozinha, então quando ela não insistia eu sabia que a mesma realmente estaria cheia de ocupações diárias. Eu não me incomodava nem um pouco em ajudar, ao contrário de Jessica, minha irmã mais velha, que ultimamente andava mal humorada. Problemas com o namoro ou escola, creio eu.

Fiquei pensando na conversa que tivemos. Mamãe parecia preocupada com Jess e isso também me preocupava, de certa forma. Jessica era responsável, mas eu não sabia muito sobre Jacob Black, seu namorado há seis meses. Tudo bem que ambos eram maior de idade e tinham um crédito, mas isso não parecia acalmar nem mesmo os nervos do Dr. Charlie Swan, nosso pai, que morava em Los Angeles.

Após arrumar e limpar tudo, retornei ao meu quarto. Queria ter alguma coisa para fazer, então abri meu caderno com o objetivo de me livrar logo de algum dever de casa, porém percebi que não tinha nenhum. Completamente entediada, resolvi ir até o quarto de Alice, mas não sem antes checar as horas em meu despertador, localizado em cima da minha escrivaninha, ao lado esquerdo da cama. Era quase dez, então decidi acordá-la.

Caminhei pelo curto corredor até chegar ao quarto que mais parecia um mundo cor de rosa, pertencente à minha irmã mais nova.

– Acorda, dorminhoca! – a balancei delicadamente.

A preguiçosa abriu um olho e me encarou, mas voltou a fechá-lo em seguida.

Continuei balançando minha irmã feito uma mãe que acorda um bebê.

– Hum... Bella? – ela abriu os olhos e me fitou, piscando algumas vezes. – O que faz aqui há essa hora? Ainda é madrugada! – eu ri e ela me olhou incrédula, como se estivesse perdendo alguma piada, mas finalmente estava vendo com clareza, pois olhou para os lados e tentou situar-se, sem saber direito aonde estava.

– Não, sua boba, já está de manhã. – levantei-me da cama e abri as cortinas brancas com detalhes rosa.

– Ai, feche isto já! – reclamou com mau humor.

Rolei os olhos. Alice com sono era tão insuportável quanto eu.

– Você quer deixar de aproveitar esta maravilhosa manhã de sábado? - inquiri, já sentindo que era melhor esquecer o sol e me jogar em minha cama pelo resto do dia.

Ela me analisou por alguns instantes, bufando e arqueando as sobrancelhas.

– Ok, e a senhora tem alguma idéia do que iremos fazer agora? Não está chovendo?

Aparentando uma calma que sinceramente não sei de onde veio, respondi:

– Não, não está, por isso que te acordei. Poderíamos ir à algum shopping ou cinema, não sei...

Pensou por alguns segundos. Quando eu ia me dar por vencida ela falou, sentando na cama:

– Sabe que data é hoje?

– Hum... não? - acabou soando mais como uma pergunta.

Ela rolou os olhos, um gesto tão nosso.

– 18 de abril. Véspera do aniversário de dezoito anos do Mike Newton.

Arregalei os olhos.

Amanhã já era 19 de abril. Aniversário do meu melhor amigo.

Como pude me esquecer? Céus, aonde eu ando com a cabeça?

– Eu... eu esqueci completamente! - falei meio nervosa. - Precisamos comprar algo para ele!

– Claro, e amanhã eu espero conhecer alguns gatinhos.

Soltei uma gargalhada com o seu comentário.

– Nossa Alice, você está tão necessitada assim?

Ela rolou os olhos, como se minha pergunta fosse óbvia.

– Claro, e você não está? Não sei como consegue ter beijado apenas dois garotos em toda a sua longa vida!

Ri baixinho com o "longa vida", não pudendo deixar de ficar com as bochechas rubras.

– Sim, tem um tempo que não beijo ninguém. Mas voltando ao seu assunto: você só tem 16 anos, hein irmãzinha... Vá com calma.

Dizer tempo era pouco. Havia trocado salivas pela primeira vez com Mike, em uma brincadeira idiota de verdade ou consequência, quando eu tinha 14 anos, e ele 15. Fora sido um selinho e um beijo rápido de língua, nada que, felizmente, pudesse afetar nossa amizade. Era como se não tivesse existido. Depois disso eu me envolvi com... Embry.

Alice, ao contrário de mim, havia ficado com um número significativo de meninos. Talvez sua beleza de outro mundo fosse a responsável por isso. Minha irmã tinha os cabelos curtos e pretos, em um corte repicado que fazia com que seu rosto de boneca ficasse ainda mais moldado, olhos mais claros - semelhantes aos da nossa mãe - um sorriso que era de encantar qualquer um, que eu sabia ser herança também de Renée. Seu corpo era esguio, mas ao mesmo tempo gracioso. O modo como ela se movia era algo incrível, parecia uma pequena e linda fadinha. E não foi a toa que na escola o seu apelido passou a ser Fada.

Saindo dos meus devaneios, encarei os olhos claros e o seu sorriso debochado, que ainda estavam em meu campo de visão.

– Qual é, vai bancar a irmã careta agora? - retrucou, fazendo com que eu voltasse à realidade. - Só porque é mais velha do que eu, acha que pode mandar... Veja só. – debochou.

– Ande, vá tomar banho, enquanto eu decido o que iremos fazer! – falei ainda meio envergonhada, saindo do seu quarto.

Ouvi mais algumas gargalhadas, mas logo após fui ao meu quarto, fechando a porta em seguida. Alice tinha toda razão ao falar que gostaria de conhecer pessoas novas, porque era assim que eu me sentia. Eu só estudava, e não tinha tempo para sair com minhas irmãs e amigas... Até do meu melhor amigo eu tinha me afastado.

Pensando nisso, resolvi tomar um banho relaxante na suíte do meu quarto. Deixei a água escorrer pelo meu corpo, me deliciando com a sensação maravilhosa que só um bom banho causa. Coloquei um pouco de shampoo nas mãos, e massageei meu cabelo. Em seguida lavei-o, passando sabonete por todo o meu corpo, e o retirei. Coloquei condicionador e enxagüei o cabelo em seguida.

Quando terminei, me enrolei em uma toalha macia e fui ao meu quarto, pensando no que vestir. Ainda não sabia aonde iria com Alice, então optei por um short jeans não muito curto e uma blusinha roxa, com uma estampa discreta meio de oncinha. Coloquei uma sandália rasteira nos pés, penteei os cabelos e coloquei algumas bijuterias. Por fim, apliquei o desodorante, perfume, e passei um batom rosa nos lábios. Ia saindo do quarto quando minha irmã entrou feito um furacão.

– Está pronta?

– Sim... Hey, pra que tudo isso? – disse, analisando-a. Ela usava um vestido verde claro simples e até elegante, mas que dava um ar de estar indo para uma festa. Nos pés tinha um scarpin preto, além de uma bolsa de lado com detalhes de strass da mesma cor do sapato.

– Ora, nunca saio desarrumada. Vai que eu encontro o amor da minha vida por aí, preciso estar ao menos apresentável.

Eu ri.

– Ah claro, e ele irá chegar em um cavalo branco. - ironizei.

– Qualquer coisa é lucro, meu bem!

Rolei os olhos, o que fez minha irmã rir.

– Hum... eu acho que estou vestida de maneira muito simples.

– Não está não, ainda nem sabemos aonde iremos, então eu que sou exagerada demais. – ela foi até meu enorme espelho e conferiu se estava tudo em ordem em seu visual.

– Ok, já pode parar de debochar da minha cara, Alice Brandon.

Ela revirou os olhos, agora olhando pra mim.

– E então, aonde vamos?

– Shopping? Preciso renovar minha maquiagem e comprar umas roupas novas. O que acha?

– Ótimo! - bateu pequenas palminhas em sinal de empolgação. Ir ao shopping com Alice era algo tortuante, porque sempre gastávamos mais do que deveríamos, além, é claro, dos meus músculos reclamarem profundamente depois. - Iremos almoçar lá?

– Temos que falar com mamãe. Acho que ela está contando conosco para o almoço, e eu não sei se o Peter virá almoçar com ela, sabe como é.

Ela assentiu, mas logo voltou a falar.

– Bella?

– Sim?

– Que presente quer dar a ele?

– Bem, estou pensando em dar a nova coleção de DVDs dos Guns N' Roses, ele é louco por essa banda.

– Boa ideia. Vou dar um livro para ele, o que acha?

– Pode ser, ele adora ler.

– Vamos descer então. – ela abriu a porta do meu quarto e desapareceu. Às vezes me surpreendia o quanto ela podia ser rápida e silenciosa.

Peguei uma bolsa velha, colocando algumas economias dentro. Conferi minha imagem uma última vez pelo espelho e saí, batendo a porta atrás de mim.

Alice estava com minha mãe na sala, e elas riam.

– Posso saber do que as senhoras estão rindo? – ri também, surpresa em como a minha voz soou doce e fina.

– Nada, Bella... Vamos? - disse a Fada, já vindo para o meu lado.

– Já conversou com ela? – perguntei apontando para Renée, que continuava no mesmo lugar de antes: sentada no sofá.

– Sua irmã já conversou comigo, filha, e eu lhe disse que irei fazer lasanha para o almoço hoje. E então, vão almoçar no shopping?

Me empolguei. A lasanha de minha mãe era algo supremo. Não que as outras coisas não fossem, afinal ela cozinhava divinamente bem, mas a sua lasanha era dos deuses.

– O que? E deixar dona Renée almoçar sozinha? Voltaremos para casa logo, não perco sua lasanha por nada, mãe!

Ela riu baixinho.

– Eu não sei se irei almoçar sozinha, querida, talvez o Peter venha almoçar comigo...

– Sim, mas talvez não é uma certeza. Hoje é sábado, queremos te fazer companhia.

Minha mãe olhou para Alice, que assentiu em seguida.

– Tudo bem, não demorem.

– Se Jess ligar, fale que estaremos no shopping aqui do bairro, certo?

– Claro. Vocês vão de carro?

– Jessica não saiu com ele?

– Não, Jacob a buscou mais cedo aqui.

– Então iremos.

– Tchau mãe! – disse Alie, que não estava prestando atenção na nossa conversa.

– Tchau meus amores, até mais tarde. – eu lhe dei um beijo na testa e saí.

Fui até a garagem, pegar o conversível vermelho que pertencia a mim e as minhas irmãs. Resolvi ir dirigindo, e Alice não contestou. O dia estava agradável, fazia um sol fraco, e o vento era bastante fresco.

Chegamos ao shopping e percebi que não havia muitos carros ali, afinal ainda era de manhã. Estacionei e seguimos para a entrada principal. Minha irmã também queria comprar algumas roupas, então entramos em umas boutiques, mas nada nos agradou. Até que algo me chamou a atenção: um vestido preto com uma só alça, que aparentemente batia no meio das minhas coxas, meio brilhoso, mas discreto e básico ao mesmo tempo. Resolvi experimentá-lo.

– Uau Bella, você está linda!

Eu tinha acabado de sair de um dos provadores e estava em frente a um espelho gigante, virando de um lado para o outro para me ver de vários ângulos. Em ambos eu gostei do que vi. Minha pele branca fazia um contrate com o negro e o brilho do vestido, me deixando com uma aura de poder. Não tinha como negar, eu estava sexy.

– Combinou muito com você. – disse-me a vendedora simpática de olhos azuis, que se chamava Bree.

– Acho que vou levar... - mordisquei meu lábio, ainda meio insegura quanto a minha escolha.

– Acha? Bella, você está perfeita com este vestido. Não é fácil encontrar roupas que nos caiam tão bem.

– Ok, querida irmãzinha, você me convenceu. – ri para ela, que fez o mesmo. – Vou levá-lo. Só um minuto.

Entrei no provador e coloquei novamente minhas roupas, saindo com a peça mãos e localizando a vendedora, que saiu imediatamente com a peça nas mãos, para levá-la ao caixa.

– Alice, você não gostou de nada daqui? – inquiri ao ver que a pequena continuava apenas olhando algumas roupas penduradas, mas negando rapidamente com a cabeça a medida em que suas mãos tocavam nos tecidos.

– Não muito, não é muito fácil algo me agradar.

– Continuaremos procurando, e as coisas podem esperar; ou melhor, tudo pode esperar, menos a lasanha da nossa mãe.

Era tão boa a minha relação com Alice. Ela era a minha irmã mais nova, mas parecia que era mais velha do que eu, porque era bastante madura e responsável. Dávamo-nos muito bem.

Após eu pagar o vestido - que não havia sido tão caro como eu imaginei que fosse - passamos em uma loja que tinha DVDs, CDs, informática e livros e comprei a coleção de DVDs para Mike. Alice aproveitou e comprou o livro “Querido John” para presenteá-lo.

Continuamos andando pelo shopping, a procura de algo a mais que nos agradasse. Há tempos não saía para comprar algo exclusivamente para mim. Sempre ganhava presentes, porém é diferente do que você mesma escolher. Paramos em frente a uma loja só de maquiagens, e me empolguei. Não que eu costumasse usar algo no dia-a-dia, mas eu já tinha 17 anos, então estava na hora de tomar uma postura diferente.

Saímos da loja com várias sacolas. Eu havia comprado rímel, lápis de olho, blush, corretivo, base, pó, sombra e batom, e Alie comprou uma sombra, um pó e um batom novo. Entramos em uma nova loja de roupas e calçados, e minha empolgada irmã achou várias coisas que a agradou. Enquanto experimentava, eu apenas acenava dizendo “sim” ou “não”, e ela sabia o quanto significava a minha opinião. Éramos muito unidas.

Observei alguns sapatos que estavam no interior da loja, e um scarpin vermelho chamou a minha atenção. Automaticamente lembrei-me do vestido que havia comprado, e resolvi experimentá-lo. Ficou perfeito e acabei comprando, sem me importar muito com o valor. No fim, Alice tinha comprado alguns vestidos (inclusive o que iria usar no aniversário) e calçados.

Andamos mais um pouco, e percebemos que o shopping estava enchendo, pois estava quase na hora do almoço. Não queria sair dali, eu adorava shoppings, mas fazer compras em lugar lotado é realmente irritante. Então ela parou de caminhar e fez uma cara estranha, como se estivesse tendo uma idéia repentina.

– Isabella, espere aqui. - falou e segurou meu braço, fazendo com que parássemos no meio de um dos corredores.

– O que? - pisquei por alguns instantes. - Alice, aonde você...? – virei-me para olhá-la, e ela tinha sumido.

Preocupada com o que aquela maluca havia feito, resolvi sentar-me em um assento que havia ali. Estava distraída, quando senti uma mão sendo pousada em meu ombro esquerdo.

– Ah Alice, você me deixou preocupada... – declarei enquanto me virava para a pessoa.

Uma onda de surpresa e susto me atingiu.

– Você? – eu lhe disse, ainda em choque.

(CONTINUA...)