Preciso.

Preciso me liberar de mim mesmo.

Preciso me abandonar.

Preciso me afastar.

Preciso.

Minhas necessidades tornaram-se urgências

Que não posso cumprir sem um pouco de clemência

São todas absurdos de minha cabeça

São todas fraquezas que não posso esconder

São todas tolices de um ingênuo no mundo.

Encontrei sempre o desespero, à espera do gatilho.

Uma arma que se sobrepôs ao meu desejo de viver

Um instrumento de tortura que lentamente vai sugando meu sustento.

Há segredos por trás de todas as portas.

Preferiria, a algum tempo atrás, falar de coisas bonitas como uma flor

Agora não vejo beleza em seja lá o que for

Meus olhos pesam demais sobre minha cabeça, como se não bastasse

O peso de uma alma ofuscada e esquecida sobre o corpo

A tonelada que é meu coração feito de paredes esburacadas

A onça que é a minha fadiga, maior a cada dia

O ar revolto de meus suspiros.

Esperarei Outubro chegar, e virá a primavera alegre

O canto dos pássaros e o zumbido dos insetos, o som invisível das folhas

Que sacodem o gelo inverno

O orvalho que cintila na aurora do acordar

Um sonho tão nítido quanto minha face escura.

Esperarei, pois é lá onde habita minha felicidade,

 Rala e salgada, crua e mal-temperada.

Há segredos por trás de todas as portas.

Há sangue em todas as artérias

Há oxigênio em toda a água

Assim como há luz em toda treva.

Há esperança dentro de mim.

Por que desaprendi a viver, mas hei de aprender

no dia em que deixar de existir.