Sussurro dos Pássaros escrita por José Vinícius


Capítulo 2
Testamento




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O pecado persegue-me sem cessar

(Anseio o descanso duradouro)

E me larga em meio a um deserto de ilusão

(Não há nada que me garanta a salvação).

Queira eu que a noite seja infindável...!

Queira eu que a luz não se propague...!

Que o sol não mais brilhe, que a lua se ofusque...!

E que as estrelas se apaguem...!

Minha alma aguarda um novo recomeço

Que ansiosamente espero e mereço.

Aguarda novos planos, consertos e enxertos, na esperança

De voltar ao seu antigo esplendor de pureza e bonança.

As trevas, porém, me fizeram cair

No seu íntimo mais tenebroso...

Por que quanto mais fundo desta vala, mais escuro, mais quente,

Mais apertado, mais doloroso.

Aguardo um novo recomeço

Por que cansei de tecer teias falsas,

Fios mentirosos, memórias desvalidas,

Lembranças funestas, pontadas de desgosto,

Ideais e mágoas antigas,

Reminiscências de outra vida.

Não existe dor mais profunda

Do que aquela que nos faz sorrir de alegria

Em meio a uma tempestade fingida.

Por que quem não sente alguma dor,

Sente vontade de adquiri-la.

Precisando de um prazer, buscai

Na vossa pele, as marcas

Nas vossas entranhas, os símbolos

No vosso âmago, os desatinos

Nos vossos pulmões, o alento

No vosso coração, a vida

No vosso sangue, o sacrifício.

Levai para o exterior todo o lamento

Que vem acumulando em seus pensamentos

Juntai também a penúria, impureza e agonia,

Que todas as noites lhe fazem companhia.

Desejai ver uma nova aurora:

Um novo dia, uma nova história.

Um velho suspiro, um momento de glória,

Um novo céu, um novo mar,

 Nova terra, novo ar.

Deixei de insistir ao Infinito

O doce sono da morte.

Por que chegará o dia que Ele, lhe ouvindo

Deixar-lhe-á à própria sorte.

Malfadado tu serás, por que os indignos que isto pedem

Não encontram a paz eterna.

Viverão no claustro das veias e dissabores,

Ansiando ainda mais viver estas dores

Esvaindo-se de tanta ternura

 Substituindo a bondade pela loucura,

Trocando a felicidade pela ida prematura.

Esta alma escura escreve em papel esbranquiçado

Seu testamento para a eternidade.

O que ela deixou de legado,

Nada mais é do que pura insanidade.


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