Do Próprio Inferno escrita por erikacriss


Capítulo 5
5. Batendo uma DR




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A lua de açúcar ia às mil maravilhas. Denys e eu passeávamos todas as tardes pela ilha, andávamos de cavalo, andávamos pela praia ao pôr do sol e rimos dos estranhos trajes de banho de alguns habitantes locais. Usavam espécies de macacões, com uma calça bufante até os joelhos, como uma calçola, além da blusa um pouco mais cavada. Um escândalo na época. Imagine como reagiriam na Inglaterra se aparecessem pessoas com tais trajes. Mostrando as canelas e o busto! Não é um absurdo? ― Finjo que me importo ― Que seja, devia ser desconfortável mergulhar com aquelas... Hm... Coisas.

Enfim, os passeios sempre eram ótimos, ainda mais sabendo que Thiago estava por perto, mesmo não o vendo, eu sabia. Ele era uma sombra perfeita ― deviam dar-lhe um prêmio Nobel, ou pelo menos uma medalhinha de honra ao mérito!

Depois que o sol se punha, além do mar, caminhávamos de volta para o hotel. A recepcionista nos recebia com grandes sorrisos e entregava nossa chave do quarto. ― Ela era estranha, a recepcionista. Tinha cabelos pretos ondulados e olhos negros até a alma, estremecia-me sempre que fitava aquelas bolas de bilhar número oito. Tinha algo nela que me dava calafrios, era branca até o último dedo do pé ― não que eu o tenha visto; o dedo. ― Mas logo o mistério da recepcionista me fugia à mente, pensando na noite que teria, sempre do mesmo modo: emocionante.

Denys não tocara em mim desde o primeiro dia de estada, não que ele não quisesse, eu é quem me recusava aceitar suas carícias. Por vezes dava-lhe um beijo de consolo, nada mais. E quando ele insistia muito eu dizia que estava com dor de cabeça. ― Talvez eu tenha sido a primeira mulher a inventar essa desculpa para me safar dos braços do marido; ou não.

Em uma noite, quando faltavam três dias para nossa volta a Inglaterra, eu saí do quarto para ir ao encontro de Thiago, como sempre fazia depois que Denys finalmente dormia. Thiago já me esperava a porta, deu um sorriso malicioso ao ver minhas vestes de dormir. Usava uma camisola ― estava mais para vestido longo ― amarela bebê, toda rendada e com uma gola em V que dava margem a imaginações pervertidas. Sorri constrangida, sempre odiando ter que andar assim pelos corredores.  Fomos para o andar abaixo de nós, o segundo, e entramos na suíte 269. ― Nunca me esqueço daquele número pela malícia escondida neles. Bem conveniente.

Tão logo que Thiago fechou a porta já estávamos atracados em um beijo apaixonado e cheio de desejo. Despimo-nos e então começou a fornicação. Hormônios! ― Tudo bem, tenho que parar de culpar os hormônios, eles não têm culpa de Thiago ser tão irresistível.

Estávamos com os dois corpos nus entrelaçados. As respirações ofegantes denunciavam nosso cansaço. Thiago tinha um sorriso bobo no rosto, uma satisfação notável, enquanto fitava o teto. Eu o olhava como se nunca tivesse visto nada mais belo. O que de fato era verdade. Lá estavam meus mil sóis nadando na imensidão verde de seus olhos. Não pude evitar sorrir para aquela imagem.

É tão estranho estar apaixonada! Como se tudo que você acredita, tudo que sabe e tudo que viveu, não importasse mais. Nada se compara a estar com o amado. E era assim que me sentia, meu centro do universo era Thiago.

Ele virou sua cabeça para olhar meus olhos e o sorriso se alargou. Jurava ter visto os mil sóis se multiplicando.

― A cada dia me apaixono mais por você. ― anunciou meu Thiago.

― Somos dois. ― disse sorrindo mais.

― Mesmo? ― sorriu dengoso.

― Claro! Por que não me apaixonaria por mim mesma? ― brinquei.

Thiago riu de minha piadinha sem graça e virou-nos na cama, de forma que ele ficasse em cima de mim, fitando meus olhos.

― Engraçadinha! ― me beijou.

― Não tenho culpa se não agüenta a verdade. ― ri.

Ele fez que não com a cabeça, achando graça.

Mais uma vez perdi-me em seus olhos e nossos lábios colidiram. Um beijo árduo e apaixonado. Eu sugava o mel de sua boca como se minha vida dependesse disso. E dependia.

― Eu te amo tanto. ― Thiago murmurou em meio ao beijo.

― Eu amo mais. ― declarei.

Beijamo-nos por mais alguns momentos até Thiago anunciar.

― Então casa comigo.

Paralisei. Não podia estar mais perplexa e mais feliz. Ele me pedia em casamento e eu me via querendo aceitar, sem hesitação. Nunca antes alguém me pedira em casamento. ― Denys tinha apenas concluído que nos casaríamos, não houve pedido oficial; e eu nem queria. Mas com Thiago era diferente. Largaria meu temor pelo casamento e viveria com ele pelo resto de minha vida. Teríamos filhos, netos, envelheceríamos juntos e teríamos lápides lado a lado. Porém a realidade me bateu, como um soco em meu estômago, que encheu meus olhos de lágrimas.

― Já estou casada, Thiago. ― lembrei-o, afastando-o de mim. Lembrar nesse fato me entristecia e não conseguia pensar em outra coisa.

― Têm uma solução simples. Se desquite dele. ― Disse simplesmente ― E case comigo.

Tai uma palavra que caiu em desuso: Desquitar. Mas eu traduzo, apesar de estar meio óbvio o significado, é o mesmo que separar.

Sua proposta me chocou.

― O que está dizendo? ― perplexa ― Não acredito que penses que é assim tão fácil. Se me separar, não iremos poder nos casar na igreja, terei fama de sirigaita e vão achar que sou uma espécie de mulher da vida! Não, não. Definitivamente. As pessoas apontariam para mim e diriam coisas horríveis. Cairia na boca do povo! Diriam que sou pervertida! ― surtei, mas seu rosto continuava o mesmo, sorrindo.

― E não é? ― brincou.

― Não brinques com isso! ― ameacei.

Ele levantou as palmas das mãos viradas em minha direção, como rendimento, mas continuava sorrindo.

― Pares de sorrir! Falo muito sério. ― irritei-me.

Ele fez um bico na tentativa de parar de sorrir e tentou parecer sério. Mas tudo que fez só o deixou parecendo uma criança bicuda e muito fofa, o que afetava minha seriedade.

Suspirei pesadamente e enterrei o rosto no travesseiro. Por que ele tinha que ser tão lindo?

― Re, acha que eu já não pensei nisso? ― ele disse por fim.

Desenterrei-me e olhei em seus olhos cor de menta. Thiago voltara a sorrir, dessa vez ternamente.

― E não se importa que eu seja taxada? ― perguntei triste.

― Claro que me importo. ― rolou os olhos ― Mas eu tenho a solução.

Aquilo me deixou mais animada. Saber que não estava tudo perdido. Ele tinha a solução! Nunca me desapontava. Dei um pequeno sorrisinho de contentamento e brinquei:

― Espero que isso não inclua matar meu marido, porque eu estou poupando minha ficha criminal para sujar com a criada. ― ele achou graça.

Eu não escondia meu desagrado pela Berta.

― Pobre Berta. ― fingiu pena.

― Okay, okay. Agora me diga qual a sua solução? ― cheia de curiosidade e excitação.

― Você desquita-se de Denys e depois nos mudamos. Iremos para Paris, Renata, pense! Não será maravilhoso? ― seus olhos brilhavam ― Lá ninguém saberá de nossas vidas, recomeçaremos. Casamo-nos em uma pequena igreja e compraremos uma casa. Teremos filhos, esses que serão tão amados e livres das línguas dos visinhos!

Sorri imaginando. Seria maravilhoso! Só eu e ele, tendo uma vida feliz. Filhos? Sim, queria tê-los, mas na condição de que fossem com Thiago, só com ele.

Mas ainda tinha outro empecilho.

― E seu pai? Deserdaria-te. Você trabalha pra ele, e ele te despediria também! Esses filhos que disse, com você desempregado, não teriam o leite, não teriam uma vida que eu gostaria que tivessem!

Seu sorriso murchou um pouco.

― Não achas que conseguirei sustentar minha família? Duvidas de minha competência? ― franziu o cenho.

― Não, claro que não. ― suspirei derrotada ― Mas só acho que não podemos nos arriscar. Dê-me um tempo para pensar.

Dessa vez foi ele quem se irritou.

― Não vê que quanto mais ficas perto de Denys, mais ele se apaixona por ti? Ele é meu irmão, me importo com ele.

― Não estava pensando nisso há minutos atrás, quando me fazia sua. ― surtei ― O que é isso agora? Arrependeu-se?

― Claro que não, nunca. ― decidido.

― Então o que é?

― Ele é meu irmão! ― repetiu. ― Não gosto de vê-lo sofrer. Você o trai e isso me deixa... não sei! Isso só vai feri-lo!

― Ah, agora eu sou a vilã! ― bufei. ― Esquece-se que você também o trai? Trai a confiança dele! Como você mesmo disse, ele é seu irmão, e traição de sangue é muito pior.

Ele suspirou derrotado.

― Eu sei. ― confessou. ― Mas a culpa é toda sua!

― Claro, sou a culpada de tudo! ― emburrei-me.

― Sim, tu és! ― disse. ― Chegas com esse jeito que me enlouquece, esses olhos fulminantes e essa voz melodiosa! ― os cantos da minha boca subiram um pouco e eu ergui meus olhos para os dele, levantando uma sobrancelha. ― Esse olhar mesmo! ― Sua voz foi suavizando e, no fim desta fala, se reduziram a um sussurro. ― Tantas vezes tentei não ser atraído por esses olhos, que me puxam feito a maré! Vê? Não consigo nem ficar bravo com você por muito tempo. Você existe?

Tive que rir de sua admiração. E, olhando para aqueles seus olhos verdes, eu entendia exatamente o que ele quis dizer sobre meus olhos o puxarem, pois os dele não eram diferentes.

Levei minha mão a sua nuca e o puxei para um beijo, esquecendo-me de todo o resto. Thiago nem tão pouco voltou a tocar no assunto. ― Eu odiava DRs, mas gostava do jeito que terminavam as discussões. ― Apenas nos beijamos e nos deliciamos um com o outro pelo resto da noite, até eu ter que escapulir de volta para o quarto em que Denys dormia feito uma pedra.


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Notas finais do capítulo

E então? Comentários?
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