21 de Julho

Acordei com a minha mãe batendo na porta. Ultimamente ela é a única pessoa que eu vejo todo dia. E tenho que fazer um grande esforço para isso. Ela quis me levar para uma clínica, mas implorei tanto à ela que me deixasse ficar em casa que ela concordou em cuidar de mim. 

Nem sei mais como é minha casa. Faz muito tempo que não saio do meu quarto. Ele é o único lugar que me faz lembrar, saber que não era mentira.               

Há muito tempo também não toco em nenhum instrumento. Parece que não tenho forças nem para tocá-los ou para ouvi-los.               

_Bom dia meu amor. -Minha mãe trazia o meu café da manhã e também um olhar triste. Acho que ela percebeu que eu não estava melhor. Eu não gostava de deixá-la triste, mas eu não conseguia ficar alegre. - Eu trouxe torradas e suco de laranja que você adora comer de manhã.              

_Eu to sem fome. - Falei pra ela. E eu não estava mentindo. Realmente não queria comer.             

_Faça um esforço. Você emagreceu muito e pode pegar uma doença séria se não se alimentar. Apenas prove Naten.              

Olhei para a bandeja e comecei a mordiscar a comida, para que ela ficasse um pouco mais satisfeita comigo.             

_Isso. Naten, o Tom vem hoje falar com você. Eu sei que você não quer ver ninguém, mas faça um esforço. O que ele tem pra dizer é importante.             

Eu falei com o Tom há quanto tempo? Dois meses? Ele vem aqui em casa todo dia ver como eu estou, mas só fica lá em baixo falando com a minha mãe, porque eu não quero ver ninguém. Da última vez que eu o vi ele me disse que o mundo inteiro só falava de mim e temia que eu não voltasse mais. Voltar da onde? Eu não fui embora, só to dando um tempo.               

_Ta bom. Pode mandar o Tom subir quando ele chegar.

               ~.~

_Naten? - Eu estava olhando pela janela quando Tom, chegou, a tarde.               

_Ah, iai , cara.             

_Eu não vou perguntar se você está bem... To vendo que não. - Ele olhava pra mim deseperançoso. - Garotão, eu sei que não devia perguntar, mas... Foi aquela garota, não foi? - Quando ele mencionou isso, eu apenas abaixei a cabeça e mirei o chão. Não foi uma boa hora falar nela há um tempo atrás.              

Tom continuou.             

_É só o que falam por todos os lados, que foi por causa dessa garota.             

_O que eles falam não me importa. - Falei pra ele ainda olhando o chão.              

_Naten, há tantas meninas por aí que morreriam por você...

_Você veio aqui pra falar sobre isso? - As outras garotas não me interessavam. Todas são iguais. Só me interessa uma garota. Eu queria mudar isso mas não dá, já está dentro de mim. Eu queria poder dizer tudo isso a ele, mas ele não entederia, e eu não tinha forças pra falar sobre ela.             

_Bom... Eu só queria te ajudar, sei lá... Eu não gosto de ver você assim. Mas não foi sobre isso que eu vim falar.              

Tom se sentou no sofá que fica na frente da TV.              

_Eu vim te falar da turnê, a do Brasil.              

Eu ja tinha esquecido. A turnê no Brasil. Mas só era daqui há alguns meses. Caramba, passou tanto tempo?             

_Se você fazer, teria que viajar essa semana pra lá. Mas aparentemente você não vai, não é? Então vou cancelar. - Tom já se levantava do sofá para ir embora quando eu falei:             

_Não! Não cancela. Eu vou fazer. A gente viaja essa semana, falou? - Falei quase gritando. Foi estranho.             

Ele olhou pra mim supreso e ao mesmo tempo com o maior sorriso no rosto. Eu também estava feliz. Depois de muito tempo eu finalmente sorri de verdade. Era uma oportunidade, e eu não iria desperdiçá-la.             _Nossa! O que foi isso? Então o Naten Smith ta de volta é? É um milagre! - Dizia ele quase sem parar de rir. - Então, eu vou resolver as coisas. Se cuida garanhão.             

Ele já ia saindo quando eu me lembrei de um detalhe.

_Tom! As cidades, por onde vai passar a turnê, você já sabe?              Tom me falou o nome das cidades em que eu iria cantar, mas nenhuma era a cidade que ela tinha dito que morava.             

_Eu preciso que você faça uma coisa por mim. Eu quero que a turnê passe por João Pessoa. E quero que o primeiro show seja lá. Se não, não tem turnê.             

_Mas Naten! Só as cidades grandes podem... - Ele olhou pra mim com a cara de quem entende tudo.- Deixa pra lá... Pode deixar, o primeiro show vai ser lá. Você viaja na quinta. A propósito, você foi longe buscar uma garota, hein?             

Dei um sorriso largo ao pensar nisso. Ele sorriu também, balançando a cabeça, e fechou a porta do quarto.               

Fui no banheiro me olhar no espelho. Eu estava mesmo horrivel. Meu cabelo e a pele estavam extremamente pálidos e as olheiras tomavam conta dos meus olhos. Caramba. Mas depois de muito tempo, consegui ver um brilho nos meus olhos e a linha de um sorriso. Depois de muito tempo eu voltaria a cantar. Depois de muito tempo eu teria a chance de reencontrá-la. Ali. Eu sabia que ela não se lembraria de mim, mas eu darei um jeito. E já não era sem hora.