25 de julho
              
             

_RELAXA NATEN!- Tom gritou pra mim quando eu estava prestes a fazer um buraco no chão. - É só mais um show. Relaxa caramba. - Ele já estava bravo com a minha inquietude.               

Não havia jeito de relaxar. Não mesmo. Faltavam apenas 3 horas pra o show que resolveria tudo. A Ali havia dito que a amiga dela faria de tudo para ir a um show meu junto com ela e as outras amigas.                

Mas os ingressos acabaram em 10 minutos assim que foi divulgado que eu faria um show aqui. Ninguém esperava. E se a amiga dela não conseguiu comprar os ingressos a tempo?! E se a Ali não fosse! Meu Deus acho que vou vomitar até as tripas cara!               

_Não dá pra relaxar Tom! - Falei pra ele quase sem voz. O nervosismo estava em toda parte de mim. - Ela vai vir. Com certeza. Ela tem que vir. -Tentei me acalmar. Não consegui. - AAH ela não vai vir! Eu vou quebrar a cara! A amiga dela não conseguiu os ingressos! Eu to ferrado! - Alguma coisa balançou meu estômago. - Acho que eu vou morrer daqui a agora. - Falei em pânico.  

Tom se sentou no sofá do quarto de hotel e olhou pra mim.           

_Naten se senta. Não adianta nada ficar assim. Vai adiantar pra você não conseguir fazer o show direito. E a garota vai vir sim. Confie em mim. Se for mesmo pra você encontrá-la, ela vai estar lá.                    

Tom ainda olhava pra mim com cara de preocupação. Eu havia contado a ele sobre a Ali. Falei do dom dela e tudo. Quando eu fiz isso ele olhou pra mim como se eu estivesse louco, mas depois de uns minutos e algumas frases sobre isso ser impossível ele começou a acreditar. Afinal, pra quê eu inventaria isso tudo?                   

Ele não conseguiu me acalmar, mas aumentou um pouco minha confiança. Isso. Se for mesmo pra mim encontrá-la, ela vai estar lá. Me sentei na cama que ficava em frente ao sofá em que o Tom estava e respirei fundo algumas vezes. Estava funcionando, aos poucos eu me acalmei.                    

_Você deve ter razão. A Ali vai. - Falei balançando a cabeça positivamente. Eu vou vê-la. Espero.                   

_ Isso. Aliás, que cidadezinha pra que você nos arrastou hein? Quase não tinha estrutura pro seu show. Você teve sorte de abrir uma casa de show aqui á alguns meses capaz de aguentar suas garotas e toda a piscicopatia delas.                   

Ri alto com o que ele falou. Pelo que eu tinha visto da cidade, era mesmo menor do que as cidades que eu tinha feito show, mas era bonita, e o Hotel também é bem confortável. A Ali tinha dito alguma coisa sobre ser o fim do mundo aqui. Ri outra vez.                     

_ Minhas fãs não são piscicopatas! E se não fosse por elas eu estaria em casa sendo um garoto que só joga vídeo-game e come sanduíche o dia todo. - Ele falou alguma coisa sobre as garotas serem estranhas mas nem prestei atenção. - E eu sabia que a cidade seria assim. E não me importa.                       

E não importava mesmo. Com tanto que eu a encontrasse.                       _Que seja. - Tom falou indiferente.                                              

Depois de algum tempo falando sobre a cidade, as garotas em baixo do hotel gritando e as músicas que eu tocaria no show, minha mãe entrou no quarto.                       

_ Já são nove. Hora do show garotos. Você já está pronto Naten?             _ Se ele tá pronto? Ele começou a se embelezar desde às 6 horas! Parece uma menina. - Tom falou pra minha mãe antes que eu pudesse responder, depois piscou pra mim. Levantei e dei um soco no braço dele.                         

_Ha Ha Ha. - debochei. - Otário...- Falei entre as risadas estéricas de Tom. - To pronto sim mãe. Vamo nessa.

 Entrei no camarim da casa de shows com o nervosismo de antes voltando. O camarim estava bem equipado. Colocaram tudo o que eu gosto e um monte de outras coisas que minha mãe pede, como por exemplo remédios de todos os tipos e tapetes e sofás de camurça e essas babozeiras. Ela às vezes exagera.                           

Me sentei no sofá extremamente caro que minha mãe pedira e tentei me acalmar enquanto ouvia o barulho lá fora. Faltava apenas alguns minutos para o show. O lugar tá lotado de fãs gritando e cantando minhas canções. Me concentrei no barulho delas, imaginando se a Ali estaria ali também. Meu suspiro foi alto. De repente Tom me tirou dos meus devaneios.                           

_Hora de subir no palco garotão.                           

Tá bom. É agora. Me levantei do sofá me sentindo um pouco verde. Toda a galera da banda veio na minha direto pra fazer a oração. Sempre sou eu que falo, mas hoje pedi ao Tom pra fazer isso. Não estava conseguindo falar.                           

Tom falava sobre confiar em Deus e fazer o melhor, entre outras coisas que eu não prestei atenção. Só conseguia pensar no que eu veria no palco. Se eu veria.                            

Acabou a oração. Era hora de subir no palco. Peguei o microfone e minha mãe me deu boa sorte enquanto a multidão enlouquecia quando o cara da casa de shows me anunciou.                           

Subi as escadas na mesma hora em que ele disse meu nome, apressado demais para olhar o público, ou uma parte dele. Cantei a primeira canção sem prestar muita atenção no que estava cantando, porque não consegui parar de procurá-la. Todas as garotas cantavam comigo, o que me ajudou bastante a me acalmar e prestar mais atenção.                            

As músicas iam passando e eu não conseguia achá-la. Cara isso não existe! É como procurar uma agulha num palheiro. A desesperança já vinha subindo.                           

Já estava cantando a minha música mais lenta quando olhei para o lado do palco procurando o Tom. Ele entendeu que eu estava ficando triste e falou :                             

_O show ainda não terminou.                             

Isso. Ainda não terminou. Virei o rosto para a frente e olhei pra cima, onde era o camarote. Então eu a vi.                             

Ela estava lá, com o rosto virado pro lado e mexendo os pés distraidamente. Meu coração começou a martelar e parecia que ia sair do meu corpo e acertá-la. Parei de cantar. Minha voz não conseguia mais sair. Mas o público ainda cantava. E então aconteceu tudo muito rápido.                             

A garota que estava ao lado dela, que eu presumi ser a Juli porque era a única das 5 que estava enlouquecida, pensou que eu estava olhando diretamente para ela e então caiu no chão. Nessa hora Ali levantou a cabeça e o olhar dela cruzou com o meu por um segundo, o que me fez sorrir abobalhadamente. E de repente ela baixou a cabeça pra socorrer a amiga. Então um segurança apareceu, pegou Juli nos braços e saiu de lá, seguido pela Ali e as outras.                              

Eu não sabia o que fazer. Todo esse tempo eu estava parado olhando o que estava acontecendo lá em cima. Então eu me toquei. Não tinha muito tempo. Pedi desculpas ao público e saí desesperado do palco em direção ao Tom. Ele não estava surpreso.                             

_Você a viu?                             

Balancei a cabeça positivamente. Mas não havia o que comemorar, eu ainda tinha que achá-la de novo.                             

_ Pra onde vão as meninas que desmaiam? - perguntei a ele. Ele se virou e perguntou a um homem que estava ao lado dele, acho que era o chefe de segurança. Tom se virou de volta a mim e respondeu:               _Elas saem do show e vão lá pra baixo, onde tem atendimento médico e silêncio.                              

_ Eu quero ir lá agora. - Ele olhou pra mim meio indeciso e depois falou com o chefe de segurança.                             

Tom puxou meu braço e saiu me levando pela casa de show, com todas as pessoas gritando e mendando eu voltar, inclusive minha mãe. Mas eu não me importei. Não tinha tempo pra me importar. De repente ele entrou no camarim e pegou um óculos-escuro e uma blusa preta com capuz dele.                                 

_Segura isso. Acho que você vai precisar.                                

Peguei o que ele me deu e saímos seguindo o segurança até a sala de atendimento médico. Tive que ficar do lado de fora pras meninas que estavam lá dentro não surtarem, então pedi ao Tom pra perguntar sobre 5 garotas com uma Juli, a menina que tinha desmaiado. A ansiedade tomava conta de mim quando um minuto depois Tom voltou.            _ Eles disseram que essa Juli melhorou e as amigas dela resolveram ir lá pra fora pra ela tomar um ar, então elas sairam.       

Essa agora! Vamos dificultar a vida do Naten! Mas eu não vou desistir. Não dela.                                 

_Tom você tem que ir comigo velho. Eu tenho que encontrar a Ali. Você sabe que é importante pra mim.                               

Ele olhou pra mim hesitante e depois suspirou.                               

 _Um dia VOCÊ me paga, ta ouvindo? Veste o capuz e coloca o óculos. Vamos à caça.