Escolhido Ao Acaso escrita por Mandy-Jam


Capítulo 5
Pesadelos


Notas iniciais do capítulo

Mais um...



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POV Kim

Depois de sair daquela loja vagabunda (se bem que a loja não era a única vagabunda da qual eu queria me livrar...) eu fui direto para a biblioteca onde eu trabalhava. Sabia que era domingo, mas eu estava devendo um turno no meu horário.

Fui para trás do balcão, coloquei meus fones de ouvido, e sentei-me esperando que algum nerd aparecesse para me pedir alguma ajuda. Ou algum idiota que sempre insisti em perguntar onde fica a estante de literatura estrangeira, pois é incapaz demais para ler a porcaria da placa pendurada pelos corredores indicando os lugares.

Estava ouvindo alguma música do Avenged Sevenfold, quando a minha irritação e sono me fizeram dormir.

Meu sonho estava normal, mas com o passar do tempo ele ficou esquisito. Cada vez mais esquisito. Eu odiava quando isso acontecia, mas não tinha como acordar do nada, por isso... Vi a cena passar diante dos meus olhos fechados.

Eu estava sentada em algum lugar, como se fosse o banco da biblioteca mesmo, mas o ambiente era completamente nojento.

Carpete vermelho (como aqueles de hotéis luxuosos) forrava o chão, enquanto as paredes cor de rosa tinham milhares de corações de diferentes tamanhos desenhados. Eu podia muito bem estar em algum tipo de túnel do amor, se não fosse pelo fato do ambiente ser quadrado, e ter móveis como o de um quarto.

Aquilo me dava nojo. Essas coisinhas rosinhas eram ridículas. Quase tão ridículas quanto a nojenta da namorada do Matt. Aquela consumista filha da...

Lá estava ela. Sentada diante de uma penteadeira enorme cheia de perfumes, pentes, escovas, e outras coisas brilhantes que a Barbie poderia usar perfeitamente, estava Ashley penteando o seu longo cabelo loiro.

Tive vontade de ir até lá e dar um belo soco nela, por estar sorrindo de um modo feliz e triunfante de “eu sou perfeita”, mas fui eu quem fui atingida quando a porta do quarto se abriu violentamente.

- Você! – Exclamou uma voz grossa. Eu caí no chão com muita força. Muita força mesmo. Minha cabeça ficou latejando, e minha visão se tornou turva. Não conseguia enxergar direito quem foi o animal que chutara a porta e me atingira, mas pude notar que ele era gigante. Ou era só um borrão preto mesmo? Não tenho certeza.

O que eu sei é que Ashley se deu o pouco trabalho de virar os olhos para o lado devagar, e depois voltar para frente e continuar a se pentear.

- Ah, é você. Como vai? – Perguntou ela calma.

- Como eu vou? Ora, é uma pergunta engraçada. – Respondeu o cara, embora seu tom mostrasse que ele não achava graça em nada. Ele marchou furiosamente até ela – Eu vou bem, mas ainda me pergunto qual é o seu problema?

- Problema? Ah, não querido, acho que você está confundindo as coisas. – Riu ela com aquele modo de rainha da beleza – Se alguém tem um problema aqui, é você. Eu te disse que ia resolver tudo de um modo bem fácil.

- Arrumando um outro cara?! – Rugiu ele com raiva – Você saiu por aí para se vingar de mim e ficou com o primeiro estranho que apareceu na sua frente, sua...?!

- Escuta aqui, gracinha. – Disse ela se levantando um pouco mais séria do que antes, ao ouvir do ia ser chamada. Ela riu e apertou uma das bochechas do cara – Eu falei para você que se não me desse atenção, eu arranjava alguém para por no seu lugar em um estalar de dedos. E eu arranjei. Por que eu sou eu, e só posso dizer que sinto muito se sente sozinho, mas eu não estou nem aí.

Podia sentir que o homem estava com tanta raiva, que seu rosto deveria estar ardendo em vermelho. Mas Ashley só riu novamente.

- Agora, com a sua licença... Eu estou me preparando para dar uma volta por aí. – Sorriu ela, provavelmente – O que acha de se mover da minha frente para que eu possa me arrumar melhor?

- Não brinque comigo! – Rugiu o homem. Com um movimento bruto ele passou o antebraço com violência por cima da penteadeira de Ashley e derrubou tudo no chão. Pude ouvir os perfumes quebrarem e liberarem seus cheiros de flores no ar. Fiquei ainda mais tonta.

O homem rangeu os dentes com tanta força, que eu também pude ouvir isso.

- Acha que pode me largar assim? Do nada? Está enganada. – Disse ele com ódio – Acho que depois desse tempo todo você já devia ter se tocado que eu sou o único cara que serve para ficar com você.

Ele tentou manter a calma, e eu me perguntava se Ashley não estaria quase chorando de medo. Eu ri da idéia. O homem respirou fundo e tranqüilizou sua voz.

- Ouça a voz da razão, benzinho. Se você não tem a mim, você não vai ter ninguém. Bem... O que eu posso dizer? É verdade. Não tem nenhum homem que chegue aos meus pés. Se você pode ter o melhor, que sou eu, porque sair com outra pessoa? – Perguntou ele tentando seduzi-la. Esperei pela sua resposta cheia de medo, mas ela riu de leve.

- Por que esse homem é melhor que você. – Respondeu ela simplesmente. O cara não gostou disso, e perdeu a calma novamente.

- Um mortal?! Você só pode estar me sacaneando! – Rugiu ele. Não entendi o que ele estava falando. Imaginei ele com um bando de nerds que idolatram algum ser divino do vídeo game, e chamam as pessoas normais da sociedade de “mortais pecadores” ou coisa do tipo, mas a idéia me pareceu absurda – Isso é uma ofensa á mim!

- Ah, é? Então porque você não vai chorar lá no cantinho, amor? Desculpe, mas o que eu posso fazer? A fila anda. – Retrucou ela calmamente – Se ele te incomoda tanto, sinto muito, mas não há nada que você possa fazer.

- Ah, há sim. – Podia jurar que ele estava sorrindo maldosamente.

- Não, não há. Eu amo ele. – Insistiu ela, mas acho que Ashley não era inteligente o suficiente para entender o que ele estava tentando dizer. Até mesmo eu tinha entendido a mensagem nas entrelinhas.

O homem riu.

- Eu espero que goste de amar mais um idiota morto, benzinho, porque eu estou prestes a dar um fim no seu novo namoradinho. – Disse ele cheio de animação e maldade – Lembra do Adonis? Pois é... É realmente muito triste quando acidentes acontecem.

Achei que aquilo ia abalá-la. Claro que ia. O cara estava ameaçando matar o namorado dela, e sem falar que ele poderia matá-la com grande facilidade. Até eu podia.

- Quero ver tentar. – Riu ela – Por que eu acho muito provável que Matt Harris é que acabe com você.

O homem quebrou mais alguma coisa e deixou o quarto batendo a porta forte novamente. O chão tremeu para mim. Minha cabeça girou várias vezes, e eu vi tudo ficar escuro.

Eu acordei com um pulo. Minha cabeça ainda estava girando, como se a pancada tivesse sido de verdade. Mas aos poucos eu fui voltando ao normal.

Ok... Aquilo fora bem estranho. Sonhar com a namorada do Matt, e o um assassino que parecia ser o ex dela, e todo aquele papo de eliminar o idiota do meu amigo? Estranho. Tinha um certo humor negro, mas era engraçado.

Minha imaginação nunca era fértil, mas depois de ver aquilo pensei na possibilidade dela até ser bem desenvolvida.

- Com licença? – Perguntou alguém na minha frente. Levantei os olhos e vi uma mulher de cabelo loiro. Ela segurava uma pilha de livros e os colocou em cima do balcão – Quero levar estes.

- Ahm... É. Ok. – Respondi ainda um pouco fora de mim. Anotei a data atrás, enquanto a mulher analisava o local ao seu redor com um sorriso.

- Não sabia que já tinham as edições novas. – Comentou ela distraída.

- Somos rápidos. – Respondi de um modo curto. Coloquei os livros em cima do balcão, e os empurrei de leve para ela – Pronto. É isso aí.

A mulher me analisou com os olhos cinzentos.

- Você não gosta daqui? – Perguntou sem entender – Não parece se interessar por livros.

- Não me interesso. Mas pelo menos são menos chatos que trabalhar em uma loja de instrumentos musicais. – Comentei mesmo ela não sabendo que eu estava inferiorizando o trabalho de Matt.

- Um dia, talvez, você vá notar que eles são melhores do que pensa. – Comentou ela de volta, pegando-os e indo embora. Revirei os olhos. Odiava quando aqueles nerds ficavam tentando puxar assunto comigo sobre livros.

Olhei para as estantes e me perguntei quantos daqueles eu já tinha lido. Uhm... 10, no máximo? Em uma biblioteca inteira? Isso não era nada. Eu realmente não ligava para os livros, e só os lia quando era necessário. Ou se ele fosse realmente muito bom.

Achava aquilo tão entediante quanto assistir aulas de História. Era ridículo estudar alguma coisa do passado, até porque ela já passou. Quem vive de passado é museu.

Os livros também eram, de certo modo. A maioria deles eram histórias inventadas. Nada daquilo existia de verdade. Foi tudo criado pela mente de algum maluco, que quis iludir as pessoas de que o mundo é um lugar melhor e que podem ter heróis ou finais felizes.

Deprimente.

Mas mesmo pensando em como os livros eram estranhos para mim, eu ainda estava com aquele pesadelo em mente. Matt correndo perigo. Acho que aquilo era bem feito por ter estourado a porcaria do meu cartão de crédito.

E quem mandou se meter com uma rainha da beleza como aquela garota? Nojo.

Gente assim só arruma encrenca mesmo. Mas se aquele cara que chutou a porta estivesse realmente atrás de Matt, ele já estaria morto.

É. Provavelmente era só um sonho louco.

Eu estava quase caindo no sono de novo, quando outra pessoa apareceu na minha frente. Dessa vez não foi um nerd, mas eu me senti mais incomodada do que se fosse. Franzi o nariz em desgosto, e cruzei os braços.

- O que você quer? – Perguntei irritada.

- Você podia ao menos ter sido menos agressiva. – Disse Matt olhando para mim. Revirei os olhos.

- Menos? Devia ter ganhado um prêmio, só por eu não ter pulado no pescoço dela. – Retruquei.

- Eu não sei qual é o seu problema, Kim. – Resmungou Matt – Você reclama que eu não faço nada para mudar a minha vida, aí quando eu consigo uma namorada e muito acima dos padrões das pessoas, você dá um jeito de ferrar com a minha alegria?!

- Primeiro de tudo, é patético você só conseguir mudar a sua vida se depender de outra pessoa. – Disse me levantando para poder encará-lo – Segundo, desde quando ela tem padrão para alguma coisa? Ela é daqueles tipos que vai pegar todo o seu dinheiro, e quando ele acabar, vai te dar um chute na bunda e te substituir assim como fez com o outro esquisito.

- Outro esquisito? Que outro? – Matt franziu o cenho, e eu me toquei que acabara falando daquele cara do sonho.

- Ah, francamente. Você acha que ela é realmente um poço de inocência, e que nunca se aproveitou de mais ninguém? – Perguntei disfarçando – Aquela mulher deve ser uma golpista de primeira.

- Você só está com raiva, porque estava errada em não acreditar em mim quando disse que conseguira arrumar uma namorada. – Rebateu ele, o que me deixou com raiva – Admita, Kim. Você não é a dona da razão.

Mais raiva ainda. Odiava quando jogavam na minha cara que eu estava errada, e mais ainda quando diziam que eu era dona da razão.

- Eu não estou nem aí para qual vai ser o programa de vocês para essa noite, ou para terça á tarde, ou até mesmo quanto do seu dinheiro praticamente inexistente ela vai torrar. Eu só quero que pague a porcaria da conta do meu cartão. – Respondi.

- Graças á você eu não vou sair com ela hoje. Vou ter que esperar até segunda de tarde para poder vê-la. Feliz? – Retrucou ele irritado.

- Claro que eu não estou feliz, idiota! Eu tenho uma conta gigantesca para pagar! – Exclamei com raiva - O que eu mais odeio são garotas inúteis como ela que só se aproveitam do dinheiro dos outros, e não são auto-suficientes para nada!

- Não é assim, ok?! Ela comprou... – Matt parou para pensar – Uma lanche inteiro para nós.

- Ooooh! Um lanche! – Zombei – Realmente. Ela nada em dinheiro, Matt. É sério. Qual é o seu nível de burrice? Eles não mediram isso na escola de otários especiais para onde a sua mãe te mandou?

- Kim, eu vou ignorar tudo o que você disser. – Sorriu ele – Porque na minha mente... Eu te passei.

- Me passou em que? – Perguntei cruzando os braços.

- Em nível de interesse. Sabe? De pessoas interessantes. – Explicou ele, e eu franzi o cenho. Ele gesticulava para me fazer entender – Eu estava no nível 5, que é a méida. Você estava no 7. Só que agora que eu consegui uma namorada eu pulei para o 7.5. Ou seja... Eu te passei. Por que eu posso até morar naquele prédio ferrado, mas... É você que está sozinha.

Tive que piscar algumas vezes.

- Eu não acredito que estou ouvindo isso. – Neguei com a cabeça – Que tipo de baboseira é essa de nível de interesse, e como assim você ficou com 7.5?!

- Tem uma conta complexa demais para te ensinar. Mas os resultados são esses. – Afirmou ele.

- Bem... Aproveite a companhia dela. Mas assim que a sua carteira ficar vazia, o que não vai demorar muito, aquela garota vai sair voando pela janela do mesmo jeito que ela entrou. – Disse sentando-me novamente.

- Isso não vai acontecer. Você vai ver. – Disse ele com muita certeza – Eu vou pagar a sua conta, e depois não vou dever mais nada á você Kim.

Matt foi embora, mas eu não liguei. No fundo, no fundo, no fundo eu estava torcendo para aquele cara esquisito aparecer e acabar com ele. Seria engraçado, mas uma pena. Afinal, eu não poderia dizer “eu te disse que ela era encrenca”, porque ele vai estar morto. Ou vai ser reduzido á uma mera mancha vermelha no chão. Que destino cruel.

Por que coisas assim não poderiam parar em um livro? Eu passaria a lê-los. Seriam mais interessantes.

Eu continuei lá, ouvindo a minha música e torcendo para que aquele cara achasse Matt e o assustasse.

Eu nunca ia saber naquela hora, até porque não parecia, mas aquele foi um dos piores erros que eu já cometi.


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Notas finais do capítulo

Fuuuu! Já sentiram o que espera o Matt, não é?
Kim tem sempre uma resposta pronta para tudo, não é? Tenso.
Bem... Vamos ver até quando a Afrodite vai conseguir enrolar o Matt sobre esse negócio de namoro repentino.
Espero por reviews! Beijos.



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