Sandara não sabia o que fazer. Deveria acordar a servente? Ou deveria escondê-la. Pelo seu bom senso, achou melhor tentar acordar a pobre mulher e fingir que tudo era apenas um sonho. Pegou algumas folhas do cabelo de Miyuki e começou a abanar o rosto da mulher. Um barulho do corredor foi-se ouvido e Sandara começou a abanar rapidamente o rosto da servente e dizendo, ao mesmo tempo:

-Miyuki, se esconda! Se alguém te ver, o plano está ferrado!

Miyuki se levantou e começou a procurar onde se esconder. Os armários eram pequenos demais, a mesa era alta demais e estava começando a ficar sem tempo. A marçaneta virou e quando a porta estava centímetros aberta, pulou na bancada e dela, pulou para o lustre no teto. Olhou para baixo e viu um rapaz de cabelos azuis e olhos cinzas, ele correu até Sandara e se abaixou, olhando para a servente.

-O que aconteceu?!

-Eu não sei, ela já estava assim quando eu cheguei! Como eu acordo ela?

-Espere.- disse Nitsuke, indo até a bancada e voltando com um pouco de pimenta na mão. Ele se ajoelhou e pôs um pouco de pimenta na boca da servente.- Seria melhor que a senhorita se afastasse...

Sandara e Nitsuke se levantaram e ficaram encostados na porta. Com um tempo, a servente acordou gritando e correndo por todos os lados, até que meteu seu rosto em um barril com água. Ela se virou e viu Nitsuke e Sandara assustados. Ela se curvou rapidamente e falou:

-SENHOR NITSUKE DESCULPE!

-Tudo bem Fuyuka. Achamos você desmaiada bem aqui no meio da cozinha. A propósito, esta é a senhorita Sandara Kiryu, ela é nova na corte.

-Seja bem vinda ao castelo do Reino de Inazuma, senhorita Kiryu.

-Obrigada. Agora... Sirva logo a rainha, antes que ela saia da cama!

-AI MEU PAI! A rainha!- Fuyuka se virou e puxou uma bandeja com água e uma sopa que aparentava ser de frango. Ela passou por Sandara e por Nitsuke e foi para os aposentos da rainha.

Sandara se virou para Nitsuke e falou:

-Ela é meio desastrada, não?

-Ela é assim mesmo, mas é boa pessoa. Agora, o que a senhorita veio fazer na cozinha? Poderia pedir para um servente fazer algo para você.

-Nyah! Eu queria fazer alguma coisa...

-Por quê não cavalgamos um pouco?

-Com prazer...

Sandara e Nitsuke saíram da cozinha. Deixando tempo para que Miyuki descesse do lustre. Ela tirou todas as folhas do cabelo e olhou pela janela, vendo Sandara cavalgando em um cavalo negro ao lado de Nitsuke, que estava montado em um cavalo branco. Ela fez uma careta e falou para si mesma:

-Que bela amiga pra me deixar aqui plantada... Mas, o que eu posso fazer?

Miyuki pulou na árvore de novo e se apoiou no tronco. Ela fechou os olhos e antes que pudesse dormir, o galho quebrou e apenas não caiu no chão por que alguns galhos se enrolaram em suas pernas e braços.

A noite caiu sobre o reino de Inazuma. Todos estavam em seus devidos quartos, dormindo. Todos, menos Sandara, que estava se olhando no espelho, vendo os trajes que recebeu emprestado de Natsumi. Um pijama rosa bebê que se destacava sobre seus cabelos brancos e um hobby dourado, que era muito bonito. Penteava seu cabelo quando ouviu um barulho vindo da janela. Puxou sua faca e quase a jogou, mas parou quando viu quem era.

-Você quer me matar de susto?! O que aconteceu com você? Por que tem folhas até na sua bota?!

-Quando você me deixou plantada lá na cozinha, eu subi na árvore e acabou que o galho quebrou. E como tá indo o plano? Alguém desconfiou de algo?

-Nem um pouco! Incrível que tem cartazes procurando por mim por todo o reino e ninguém nem olhou torto pra mim. E... Eu conheci a rainha!

-E...?

-Ela me considera uma amiga!

-Sandara Kiryu, procurada e amiga da rainha. Mas também, eu mal te reconheci com aquele disfarçe.

-Amanhã vai ser a primeira reunião da corte. Vamos receber o novo chefe da guarda real, um tal de Fukuda Nagashima.

-Vou ver como vai sair a sua primeira reunião, senhorita Kiryu...

Na manhã seguinte, Sandara acordou com uma das serventes abrindo suas cortinas, revelando o brilho do sol. Sandara se cobriu com o cobertor e murmurou alguma coisa (que provavelmente não era nada educada). Mas rapidamente se levantou e se vestiu atrás do biombo, pondo um vestido roxo, branco e dourado. Andou e foi até a sala da corte, onde todos já estavam reunidos, menos o rei, sentou-se ao lado de Nitsuke e depois de dez minutos, o rei chegou e sentou na cadeira que era virada para o centro da sala. Ele falou, com uma voz séria:

-Entre senhor Nagashima.

Todos olharam para a porta e nela, entrou um rapaz de cabelos vermelhos e olhos castanhos-dourados. Todos olhavam curiosos para o rapaz, principalmente para o seu corpo, vendo se ele realmente era apto para uma luta, mas seus braços estavam encobertos por grossas camadas de roupas.

Da janela, Miyuki olhava para aquele novo visitante do castelo. Queria virar sua cabeça para ver se algum guarda vinha em sua direção, mas não conseguia controlar seus olhos que não se desviavam. Sentia que se fosse presa, seria presa feliz (e provavelmente fugiria em pouco tempo)...

Enquanto isso...:

-Esta sessão da corte está oficialmente encerrada.- disse Tsunami, indo para o seu escritório.

Todos da corte foram para o salão fazer suas atividades de lazer, mas Sandara preferiu ir para o seu quarto. Ao entrar, foi até sua penteadeira, de olhos fechados. Ela começou a escovar seu cabelo e falou, com um sorriso malvado no rosto:

-O que faz aqui, Miyuki?

-Conversar, naquele dia você me deixou plantada no meio da cozinha... Bem, aquele é Fukuda Nagashima?

-Sim. Por quê?

-Nada não...

-Qualquer coisa... Ele fica no estábulo atrás do castelo, treinando. Agora vai logo... Sei que é por causa disso que veio me procurar...

-Não foi por causa disso, mas agradeço pela informação. Eu vim pra você adiantar logo o plano! Tá mui...

-Miyuki, saiba que não é fácil, preciso esperar para fazer amizade com todos antes de executar o plano. Agora eu tenho que ir, vão procurar por mim.

-Vai. Até mais tarde.- disse Miyuki, pulando para a árvore perto da janela do quarto de Sandara.

Sandara andou pelo corredor do castelo até chegar no salão que Nitsuke lhe apresentou no primeiro dia. Cruzou o braço ao ver que cena estava vendo: a garota ruiva, sentada, lendo o mesmo livro que o garoto loiro. A garota de cabelos azuis jogando cartas com o garoto de cabelos vermelhos. Já a garota de cabelos verdes estava conversando na janela com o garoto de cabelos castanhos.

Aquela cena era algo que não se vi todo dia na vida de ladra. Mas já viu inumeras vezes em bares e outros locares que frequentara. Sentiu uma sombra ao seu lado, olhou e viu que era Nitsuke. Ele riu e falou:

-Surpresa? Eu não. Eles são assim á uns dois anos. Nada oficial mas dá pra perceber a situação.

-Verdade. O que geralmente se faz por aqui? Jogar algum jogo, ler...

-Na verdade é isso, mas tem algo melhor para se fazer, lá nos jardins. Vamos?

Sandara assentiu com a cabeça e os dois foram para os jardins. Ao chegar no jardim, Sandara perdeu Nitsuke de vista. Ela andou calmamente pelas árvores, passando pelos troncos cheios de flores, até chegar a um local onde havia um lago bem raso, onde flores e folhas flutuavam umas juntas as outras, pensou na vida que tinha antes de chegar no castelo e sua vida atual. Mas antes que pudesse pensar no que fazer de sua vida e do plano, sentiu seu corpo sendo puxado para trás pelo ombro com um “BU!” que ouviu. No ouvir do barulho, segurou a mão, e com um dos golpes que desenvolveu com a vida de ladra, derrubou a pessoa no lago. Ao puxar a sua faca da cintura, se assustou. Pôs a faca no lugar e estendeu a mão, oferencendo-se para ajudar.

-Você quer me matar de susto?

-Agora eu sei que se eu lhe deixar sozinha, nunca estará em perigo... Agora...- ao segurar na mão de Sandara, puxou-a, fazendo-a cair no lago também. Nitsuke começou a rir enquanto Sandara começava a gritar alguns palavrões. Ela se levantou e saiu do lago, Nitsuke fez o mesmo. Sandara bateu um dos pés com força no chão.

-QUAL É O SEU PROBLEMA?!!!

-Calma Sandara. Além do mais, você parece ser uma pessoa boa e engraçada.

A palavra “boa” fez Sandara estremecer todinha. Ela abraçou os prórios braços e olhou para o chão.

Nitsuke pôde ver que Sandara estava triste, só não sabia o porquê. Ele pensou no que fazer e tirou a capa da roupa que estava usando e a pôs sobre os ombros de Sandara. Ela olhou para ele, surpresa.

-Pode ficar. É melhor se não quiser ficar doente.

-Nitsuke... Não faria isto se soubesse da vida que eu tinha antes de vir pra cá.

-Não importa. Acredito que nada poderia ser tão ruim assim... E acredito que era...- Sandara começou a gritar palavras e balançar a cabeça rapidamente.

-NÃO. Pare! Não fale essa palavra. Eu não era assim!- mas antes que pudesse fazer qualquer coisa, mesmo correr ou bater em algo, sentiu seus braços sendo imobilizados por duas mãos que seguravam seus ombros com força. Abriu os olhos e viu Nitsuke lhe olhando com um olhar sério.

-Sandara. Pra mim, o passado não importa. O que importa é o presente.- Nitsuke segurou no queixo de Sandara e fechou seus olhos, puxando-a mais perto cada vez mais. Estavam a centímetros um do outro, podendo sentir a respiração um do outro...

-SANDARA!!!- gritaram 3 meninas vindo em direção ao casal. Eram Aki, Haruna e Natsumi. Nitsuke e Sandara se separaram rapidamente quando as 3 chegaram.

-O que houve com vocês?- perguntou Natsumi.

-O que importa?!- disse Aki, eufórica.- Sandara, a rainha!

-O que tem a rainha?- Sandara olhou para cima, com aquela cara de “Essa de novo não”. Aki segurou nos ombros de Sandara e falou:

-Ela está machucada! Alguém a atingiu pelas costas! Por sorte não perdeu a criança.

-O QUÊ?!

MIYUKI!!!!!! Eu quero acabar com o governo do rei, não com a família dele!!!

-Eu vou dar uma olhada na rainha, conheço um pouco de medicina...

-Hummm.... Sandara, suas roupas...- disse Haruna, apontando para as roupas molhadas da queda no lago.

-... Logo após de me trocar.- disse Sandara, andando em direção ao castelo.

Depois que Sandara desapareceu, as 3 meninas olharam para o estado de Nitsuke. Elas começaram a rir, sabiam que Nitsuke estava gostando de Sandara.

-PARA DENTRO AS TRÊS!!! AGORA!!!

Nitsuke podia ser bem gentil, mas quando ficava com raiva, poderia assustar qualquer um. Assim, as 3 meninas foram correndo para o castelo.

Nos aposentos reais, a rainha estava deitada na cama, muito mal com aproximadamente mil serventes ao seu redor tentando fazê-la melhorar. A porta se abriu e todas olharam para quem havia entrado. Era Sandara, usando um vestido azul-céu e branco. A rainha se sentou na cama com ajuda e fechou os olhos, mas ainda estava acordada.

-Vossa Majestade, se a senhora me permitir, conheço um pouco de medicina e...

-Por favor, veja meu estado e o de meu filho...

A rainha se virou de costas, revelando um horrível arranhão de 30 cm. Sandara cobriu a boca e se virou para o lado. Não era nada bonito, mas poderia amenizar a dor.

Depois de horas fazendo tratamentos, Sandara saiu do quarto com o cabelo preso, tirando o suor da testa. Todos foram pra cima de Sandara, mas ela os parou com as mãos. O rei foi até ela e perguntou:

-Como ela está?

-Eu consegui amenizar os ferimentos nas costas. Se ela se levantar mais uma vez da cama, pode ser tarde demais para o seu filho, Vossa Majestade.

-Entendo. Vou falar com ela.- o rei entrou nos aposentos.

-A rainha está bem? Que bom.- todos se viraram para ver de quem era essa voz feminina.

Uma moça apareceu no meio do corredor. Ela tinha a mesma idade de Sandara e de todas as outras meninas. Ela tinha olhos azuis assim como os cabelos. Era alta e muito bonita. Todos sorriram menos Sandara que não conhecia a moça.

-REINA!

-Oi gente. Aki, Haruna, Natsumi, Endo, Goenji, Hiroto... Nitsuke. - ao pronunciar o nome de Nitsuke, falou em um tom mais baixo, o que fez o sangue de Sandara ferver e fazê-la andar até o lado de Nitsuke.

-Bem, tenho que ir até o meu aposento. Preciso escrever alguns papeis importantes. - disse Nitsuke, indo para o seu quarto.

-Bem. A rainha está bem, nenhum dever pelo resto do dia... Vamos para o Salão da Corte. - disse Aki. Todos aceitaram e foram para o Salão. No caminho, Sandara pôs a mão nos bolsos que tinham em seu vestido e viu que tinha se esquecido de seus dados de jogo. Ela falou:

-Eu já estou indo, só vou nos meus aposentos pegar meus dados e já volto.

Foi até o seu quarto e pegou seus dados que estavam dentro de uma gaveta na cabeçeira de sua cama. Saiu do quarto e andou pelo longo corredor, olhando para todos os detalhes. Passou por uma porta entre aberta e, como não conhecia aquele quarto, decidiu olhar para ver o que era. Olhou pela frexa e, assustada, abriu a porta lentamente. Seus olhos se enchiam de lágrimas e queimavam. Estava presenciando o beijo de Nitsuke e Reina. Nitsuke empurrou Reina, que caiu e se apoiou na escrivaninha, viu que Sandara estava olhando aquela cena, chorando.

-Sandara... - disse Nitsuke.