Eu era. Eu sou. Eu serei.

Passado. Presente. Futuro.

Pode não parecer, mas faz muita diferença.

Eu estava sentada de frente para a janela, a brisa gelada soprava no meu rosto. Em uma mão uma caneca quente de cerveja amenteigada que eu tentava tomar enquanto passava os olhos por um famoso romance trouxa chamado “Romeu e Julieta”. Eu foliava as páginas sem realmente prestar atenção no que estava escrito, mesmo a história sendo bem interessante. Eu não tinha cabeça para pensar em nada depois que eu fiz. É, eu fiz de novo. Sim, eu o perdoei. Não me pergunte porque, nem eu mesma me entendo. Naquela hora, eu me sentia como a própia Julieta, apaixonada por um inimigo. O problema é que o Draco não é bonzinho como o Romeu e eu duvido que ele desse a vida por mim.

Suspirei, cansada de toda aquela história. Eu sabia que como os personagens do livro nós não daríamos certo. Acabaríamos mortos ou separados. Por que eu não sou como as outras garotas ? Estamos no meio de uma guerra e tudo que eu consigo pensar é em mim mesma. Na minha felicidade, ou melhor infelicidade. Será que eu não consigo pensar nos outros ? Eu sou uma egoísta. Faz messes que eu não vejo meu primo e nem nisso eu penso.

Continuei a olhar pela janela, a neve branquinha caindo graçiosamente do céu. Perdi a noção de quanto tempo fiquei em silêncio observando o Sol se pôr e dar lugar a uma lua brilhante. Levei a caneca a boca e aquela bebida quente me lembrou de um dia na minha casa.

Eu devia ter uns 8 anos, era um dia de primavera. Eu e Harry estávamos deitados na grama observando as estrelas. Ficamos um bom tempo só apreciando o céu, quando uma senhora passou pela nossa frente. Ela sorriu para nos dois e disse uma coisa que me deixou um tanto intrigada:

-Vocês dois são especiais. Ainda vão fazer grandes coisas, aguardem crianças.

Estranho, não ? Do nada apareçe uma velha e diz que você e seu primo são especiais. Na época eu não dei muita bola, achei que ela era só uma velha caduca. Mas hoje eu sei que não é verdade. O jeito como ela falou aquilo, seu tom firme, seu olhar sério me dizia que ela não era maluca.

Sorri ao me lembrar daquilo. Mesmo sem bons pais eu aprendi a viver feliz e em Harry achei uma família. Perto do Harry eu me sentia  segura, em casa. Talvez seja a ausência dele que faça eu me sentir tão fria. Tomei mais um gole de cerveja antes de ouvir a porta se abrir atrás de mim.

-Fazendo o que aqui sozinha ruiva ?

Draco me perguntou.

-Pensando...

Eu disse com simplesidade.

-Posso pensar com você ?

Ele perguntou, me abraçando por trás.

-Pode sim.

Eu disse e me aconcheguei em seu peito. Draco começou a acariaciar meus cabelos e me dar beijinhos no pescoço. O frio que eu sentia se dissolveu e o calor tomou conta de mim. Ele podia ser tudo que era, mas quando estava perto de mim eu me sentia do mesmo jeito que me sentia com o Harry. Amada, protegida.