Digimon Beta - E o Hexágono do Mal escrita por Murilo Pitombo


Capítulo 6
Cadê Meu Digimon?




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Carlos estava jogado no chão. Tateava a areia atrás de seus óculos. Sabia que corria risco de vida e tentava a todo custo ver, ou ao menos sentir, a presença dos digimons que se aproximavam.

O enorme chimpanzé de pelagem branca apontava o canhão, que havia no lugar do seu braço direito, em sua direção.

– Esse é o seu fim, humano.

Aos poucos, uma energia multicolorida se acumula no canhão já posicionado.

– CARLOS!

O grito de Verônica faz seu digivice brilhar, transferindo energia para Plotmon que avança de encontro ao Gorimon. Após um salto, Plotmon é envolta por um casulo de luz e rapidamente evolui para Tailmon, que consegue golpear Ikkakumon e Gorimon, derrubando-o de costas. A técnica de Gorimon atinge o mar.

Tailmon se aproxima de Carlos, que volta a enxergar com dificuldade.

– Saia o mais rápido que puder!

Carlos ouve o pedido da digimon felina e sai cambaleando, sendo amparado mais a frente pelo João. Gorimon e Ikkakumon tentam se reerguer quando Tailmon investe com suas garras da pata dianteira brilhando.

– Garra Relâmpago.

O digimon gorila consegue desviar do salto de Tailmon e, antes que ela pudesse tocar o chão, lhe aplica uma joelhada nas costas, lançando-a diretamente na boca de Ikkakumon que crava suas enormes presas. Tailmon mia de dor levando sua domadora ao desespero.

– Beta, por favor, salve Tailmon! – pede João.

– Eu vou tentar!

O digivice de João brilha, fazendo com que seu digimon fosse envolvido pelo casulo da evolução. Segundos depois, Seadramon avançava na direção de Ikkakumon, dando-lhe uma cabeçada e livrando Tailmon de suas presas. Gorimon aproveita o descuido da enorme serpente aquática e o segura pela calda, girando-o em seguida. O gorila branco gira velozmente e solta Seadramon, que ascende ainda tonto.

– Ataque do Poder.

– Torpedo Arpão.

As técnicas de Gorimon e Ikkakumon explodem ao tocar Seadramon, que cai na areia bastante ferido. Tailmon, mesmo consciente, perdia muitos bits pelos ferimentos causados pelas enormes presas do digimon canino. Os inimigos se aproximavam dos digimons feridos quando escutam gritos e insultos vindos dos domadores.

Carlos estava sentado na areia completamente apático.

Os digimons, irritados com a gritaria dos humanos, avançam aos berros preparando suas melhores técnicas, esquecendo-se de Tailmon e Seadramon, que aproveitam o momento de descuido.

– Flecha de Gelo.

– Garra Relâmpago.

Gorimon e Ikkakumon, respectivamente, são atingidos e convertem-se em dados pouco antes de conjurarem suas técnicas. Seadramon e Tailmon regridem totalmente exaustos e são amparados pelos seus domadores.

– Plotmon, você está bem?

– Estou sim, Verônica. Só um pouco cansada.

– E você Beta?

– Meu corpo todo dói, João.

Carlos se aproxima de seus amigos.

– Pessoal desculpa pelo transtorno, eu não tive a intenção...

– Você é doido ou o quê? – interrompe João completamente irado – Achou mesmo que seria capaz de enfrentá-los no braço?

– Pensei que se estivesse correndo perigo, meu digimon iria se libertar como aconteceu contigo.

– Por pouco sua idiotice não destruiria nossos parceiros!

Verônica literalmente se põe entre os dois. Plotmon estava em seus braços, ofegava e perdia bits pelas inúmeras escoriações espalhadas pelo corpo.

– Pessoal chega de discussão! Vamos pra casa agora.

João se aproxima de Carlos, olha profundamente em seus olhos, que ainda estavam vermelhos por conta da areia, respira fundo, e segura seu maxilar com força.

– Da próxima vez vê se pensa antes de agir.

– João não me provoque. Você sabe que quando eu to com raiva...

João o interrompe.

– Cale a boca cara, você não é capaz de nada! Você é simplesmente um mané. Isso que você é!

– O único mané que eu vejo aqui é você. Pelo que eu saiba você é o cara que mais levou chifre no colégio inteiro.

A frase dita por Carlos cai como a gota responsável por transbordar toda a ira de João. O garoto larga Betamon na areia, passa pela Verônica como um relâmpago e avança no Carlos acertando-lhe um soco no rosto, este responsável por empenar a armação dos óculos, que novamente cai na areia. Carlos revida na mesma intensidade e ambos passam a trocar socos e pontapés. Semelhante a dois digimons predadores, e completamente irracionais, João e Carlos rolavam pela areia.

Verônica larga Plotmon para poder interferir na briga.

– Parem de brigar! – diz se posicionando entre os garotos.

– Seu otário! Eu vou quebrar a tua cara.

– Venha João. Pode vir.

– Você tem muito a agradecer a mim e ao Betamon por ter salvado sua inútil vida duas vezes.

– Agradecer a você? Você não fez e não faz nada! Minha gratidão é toda pro Betamon. Você nada mais é do que um mero estorvo!

João mais uma vez tenta socar Carlos.

– Parem de brigar! Vocês parecem duas crianças.

– Para, por favor - diz Plotmon segurando os pés de Carlos.

Betamon segura a perna de João.

– João para com isso.

– Quer saber de uma... – diz Carlos - Tua amizade acabou de morrer pra mim.

– Não fala besteira Carlos! – interfere Verônica - Você não pode acabar com uma amizade de anos por causa de uma discussão infantil.

– Dá próxima vez, mande teu amiguinho medir as palavras dele - Carlos caminha até o local onde seus óculos haviam caído e o pega – Aceita carona?

– Eu vou com João. Mais tarde eu quero ter uma conversa séria contigo.

Carlos sai sem falar mais nada e entra no carro do seu pai, que estava com o capô amassado por causa dos pulos do enorme gorila, e arranca em alta velocidade.

João senta na areia chorando.

– Otário! Quem ele pensa que é? Eu nunca iria perdoá-lo se alguma coisa de mais grave acontecesse com Betamon.

Betamon também chora.

– João, não aconteceu nada de mais! Eu to legal. Agora para de chorar.

João abraça Betamon.

– Eu te protegerei daqui pra frente, certo?

– Somos uma dupla! Um deve proteger o outro.

Verônica pega Plotmon no colo e estende a mão para João.

– Vamos pra casa. Temos um longo caminho pela frente.

João enxuga as lágrimas do rosto com o dorso da mão, pega Betamon no colo, e sai juntamente com Verônica, que carregava Plotmon nos braços.

– Gotsumon.

Lúcia estava em seu quarto conversando com Gotsumon. Residia com sua mãe e seu padrasto em um apartamento que não era de frente para o mar, mas estava localizado em uma das principais ruas de Ipanema. O edifício possuía cinco andares, com dois apartamentos por andar. Morava no primeiro. Apartamento 101.

– Oi.

– Tem como ir para o Mundo Digital?

– Claro que tem. Só temos que abrir um portal.

– Será que é difícil abrir esse portal?

– Você quer ir ao Mundo Digital? E quando nós vamos à Bahia conhecer Verônica e Plotmon?

– Agora não dá. Eu to atolada de coisa pra fazer na faculdade.

– Vocês precisam conversar sobre o Arquivo Digimon.

– Eu mandei esse arquivo pra ela na sexta, por e-mail.

– Espero que ela tenha lido. Só assim saberá o que realmente está acontecendo.

– Já sei! – grita a garota - Tranco a faculdade e vou. Aproveito e visito meu pai.

– Seu pai? Eu pensei que seu pai fosse aquele homem que mora aqui.

– Ele é meu padrasto.

– O que é padrasto?

– É quando um homem, que não é o meu pai, se casa com minha mãe.

– E o que é casa?

– Não é casa é casar! Casar é quando duas pessoas que namoram assinam uns papeis dizendo que querem continuar juntas.

– Vocês, humanos, complicam tudo - Gotsumon começa a rir.

– E como complicamos! - Lúcia também sorri - Como eu tava dizendo, meu pai mora lá em Salvador com outra mulher, e ela tem um filho.

– Você tem um irmão?

– Não, ele só é filho da mulher do meu pai.

– E a gente vai quando?

– Amanhã eu resolvo isso.

– Lúcia, vamos da uma volta? To cansado de ficar preso.

Lúcia desce pelas escadas enquanto Gotsumon desce pela janela do quarto da garota. Ela havia adaptado uma corda com um gancho, o que facilitava a descida de Gotsumon até a garagem, por uma área descoberta, sem correr o risco de encontrar outro morador pelos corredores ou escadas do edifício. Cada apartamento possui duas vagas na garagem e as vagas compreendidas ao apartamento 101 estavam localizadas mais a frente, próximo à guarita. Assim que encontrou Gotsumon, Lúcia fez questão de conversar com os donos das vagas mais reclusas propondo uma troca. A garota alegava que sentia dificuldades de estacionar em sua vaga devido à localização da mesma, e que as vagas mais distantes da entrada, facilitavam sua falta de habilidade em fazer baliza. Após tentar com alguns moradores, conseguiu realizar a troca de vaga com um casal de idosos que moravam no apartamento ao lado do seu.

Lúcia e Gotsumon estavam alguns quilômetros distantes do apartamento. O digimon seguia sentado no meio do banco traseiro do Celta vermelho, carro esse que Lúcia ganhara do seu pai como presente, assim que tirou sua habilitação.

– Lúcia.

A bela negra olha Gotsumon pelo retrovisor central.

– Por que você quer tanto que eu evolua?

– Por que assim nosso trabalho fica mais fácil!

– Eu tenho medo de evoluir.

– Por quê?

– Sei lá! Eu tenho medo de virar um digimon feio e você não gostar mais de mim, ou então ficar muito violento.

– Não precisa ter medo! Acho que você não vai ficar violento e também a evolução é algo natural do digimon.

Após fatídicas duas horas de caminhada, João e Verônica estavam próximos à casa do garoto.

– Não vou me desculpar! Ele é que deve me pedir desculpas.

– Será que vocês dois não percebem que estão errados. Ele por que provocou a batalha e você por que começou a discutir.

– Eu quero que ele se exploda!

– Esqueceu que ele é um domador?

– Domador sem digimon não serve de nada!

– Isso é questão de tempo. Logo ele vai achar seu parceiro.

– Eu e Betamon não precisamos da ajuda dele.

– Temos que trabalhar junto.

– Verônica eu to cansado, andei igual a um condenado... Na boa? Vamos conversar sobre isso depois.

João entra em casa e deixa Verônica falando só.

Verônica começa a gritar.

– Volta aqui João. Eu não terminei!

– Verônica, não grita! – alerta Plotmon - Você ta chamando muita atenção.

Verônica olha em volta e vê que as pessoas, da janela de suas casas e apartamentos e até quem caminhava pelo local, a olhavam de maneira estranha. Envergonhada, ela para de gritar e segue caminhando.

Minutos após, no instante que entrava em casa, uma Hilux preta de vidros filmados, estaciona a uns vinte metros na calçada oposta. A janela do motorista baixa lentamente, revelando Rafael.

– Plotmon, você acha João legal?

– Acho sim Verônica, ele é muito divertido. Por quê?

– Não nada de mais!

A garota entra em sua casa e logo após Rafael sai com o carro.

Continua...


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