Digimon Beta - E o Hexágono do Mal escrita por Murilo Pitombo


Capítulo 2
Batalha à Meia-Noite - Parte 1




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João chega ao seu quarto acompanhado de Carlos. Tranca a porta, abre a mochila e a coloca sobre a cama.

– Pode sair Betamon. Bem-vindo ao meu quarto.

João coloca o digivice sobre a escrivania. Após o surgimento de Betamon, o aparelho agora exibia um ícone animado do pequeno digimon de barbatana laranja.

Betamon sai da mochila e olha em volta admirado.

– Isso aqui é que é quarto?

– É. Aqui é o meu local privado da casa.

– Betamon, de onde você veio? – questiona Carlos ajeitando seus óculos com o indicador.

– Eu vim do Mundo Digital, que é o meu mundo.

– E lá tem outros iguais a você?

– Não só iguais, como também maiores, menores, mais fortes, mais fracos...

– E por que você veio para o nosso mundo?

– Isso eu não sei dizer ao certo... Só sei que eu e João temos uma missão.

– Quem te nomeou para essa missão?

Betamon fica confuso com tantas perguntas.

– Porque você me pergunta coisas difíceis. Eu não sei de tudo!

– Carlos pare de amolar Betamon, ele ta cansado. Acabou de ter uma batalha difícil.

– João – Betamon fica vermelho - Eu to com fome!

– Fome? – exclama João surpreso - E o que é que você come?

– Comida!

– Lógico que é comida, mas eu não sei que tipo de comida você come.

– Frutas, peixes, pão, bolo...

– Pão, bolo? E tem isso lá no seu mundo?

– Claro que tem. Tem refrigerante também.

Carlos não acredita no que ouve.

– Como é que é? Refrigerante?

– Refrigerante! Você não sabe o que é refrigerante?

– Claro que eu sei. Só que eu to impressionado em saber que no seu mundo tem esses tipos de alimentos industrializados, feitos por humanos. Betamon, lá tem humano?

– Humanos não! Tem digimons parecidos com humanos.

Alguém bate na porta interrompendo a conversa.

– Sou eu filho! Trouxe um lanche pra vocês.

– Lanche?

Betamon grita animado com a notícia, mas João rapidamente fecha a boca do digimon, que fica se debatendo.

João sussurra.

– Silêncio se não mainha te ouve!

– Tem mais alguém aí filho, além de Carlos?

– Não tem mais ninguém não mainha. Já vou abrir a porta!

João pega Betamon e o coloca dentro do guarda-roupa.

– Fica quietinho.

– Certo!

João fecha a porta do guarda-roupa e olha para Carlos, que abre a porta do quarto.

– Eu juro que ouvi a voz de outra pessoa aqui – diz a mulher de voz serena, que é mais baixa que os garotos. Pele morena e cabelos castanhos assim como João.

Cláudia entra no quarto e coloca a bandeja de lanche sobre a cama.

– Tem certeza tia Cláudia?

– Tenho sim Carlos, mas deve ter sido só impressão. Qualquer coisa pode me chamar.

Cláudia sai desconfiada. Olha para os lados antes de fechar a porta.

João respira aliviado.

– Essa foi por pouco.

– Agora você vai ter que redobrar a atenção.

– Nem me fale! Betamon pode vir, tem comida aqui.

Betamon sai do guarda-roupa com um salto.

– Eba comida! To morrendo de fome.

João coloca a bandeja com o lanche no chão e Betamon avança como se há anos não comesse.

– Vai devagar se não você vai se engasgar.

O celular de Carlos toca.

– É Verônica – Carlos prontamente atende - Fala Verônica... Eu to na casa do João... Peraê que eu vou perguntar – afasta o telefone do rosto - A Verônica ta perguntado se pode dar um pulinho aqui?

João confirma intrigado. Não fazia ideia de que ela soubesse onde ele morava.

– Pode vir... Está bem, a gente te espera.

Carlos desliga.

– O que essa garota quer? – pergunta João.

– Sei lá... Será que ela descobriu que eu li a mensagem?

– E Betamon? O que vou fazer com ele?

– Coloca dentro do guarda-roupa de novo.

– É o jeito. Ele vai ter que se acostumar com isso.

Os garotos observam Betamon por alguns segundos até desencadearem um animado papo sobre estudos, resenhas, garotas...

– Verônica ta aqui, João!

Cláudia estava na cozinha quando ouve a campainha tocar. Ao atender a porta, se depara com uma bela moça magra, e de sua estatura, perguntando pelo João.

– Pede pra ela subir mãe!

– Pode subir... Segunda porta a esquerda.

– Obrigada.

– Betamon. Dentro do guarda-roupa agora! - diz João de maneira agitada.

– Eu nem acabei de comer... Ainda to com fome.

– Depois você continua - João pega Betamon e o joga dentro do guarda-roupa - Faça silêncio!

O garoto mal termina de fechar a porta do guarda-roupa, quando a porta do quarto se abre.

– Olá meninos

– Oi moça, tudo certinho?

João a cumprimenta com dois beijos no rosto.

– Tudo sim João. E você Carlos, como que ta?

Cumprimentam-se com beijos no rosto.

– Eu to bem. Seu computador ta funcionando bem?

– Está. Mas não foi por isso que eu vim.

Verônica olha para a bandeja no chão. Carlos e João ficam sem reação.

– Na. Não? E foi por quê? – desconversa Carlos.

– Ontem quando você fez a manutenção do meu computador, você notou se eu recebi algum e-mail, um arquivo ou algo do tipo?

– Não. Por quê?

– É que minha amiga que mora no Rio ficou de mandar umas fotos e eu pensei que poderiam ter chegado ontem.

– Por que você não confere sua caixa postal pra saber se esse arquivo chegou? – aconselha João de braços cruzados.

– É que eu tive que sair cedo hoje. Fiquei com preguiça de ligar o computador.

– Eu não vi nada Verônica – diz Carlos.

– Está bem... – Verônica dá meia volta em direção à porta - Ah! Vocês vão ao aniversário de Rafael?

– É claro que eu vou! – João estampava um enorme sorriso no rosto.

– Já eu não posso confirmar nada! Tenho uma prova de física na segunda.

– Eu também tenho e mesmo assim vou lá falar com ele.

– Falar com ele João? Eu sei muito bem que se você for não volta tão cedo.

– Volto sim amigo. Eu tenho uma prova pra estudar - João gargalha.

– Como se você gostasse de estudar – ironiza Carlos arrancando gargalhadas de Verônica.

– Não exagera cara.

– A gente se vê lá então. Beijo meninos - Verônica sai e fecha a porta.

– Vou indo também. - Carlos se levanta da cama - Daqui a pouco Dona Renata liga preocupada.

– Certo. Se você não for ao aniversário, a gente se fala amanhã. Beleza?

– Beleza João.

Carlos sai e fecha a porta, deixando João sozinho em seu quarto, já arrumado pela Cláudia anteriormente. O garoto retira o tênis que calçava e se lança sobre a cama, ligando a TV em seguida.

– João não se esqueça de mim!

– Se você não grita Betamon, eu iria esquecer mesmo.

Com a expectativa em torno da festa de aniversário, as horas passaram como segundos para João. O garoto tomava banho e cantava, enquanto Betamon cochilava sobre sua cama.

Verônica está deslumbrante e caminha com Plotmon nos braços até o local da festa, que fica a cinco quadras da sua casa. Metros antes da portaria, próximo a um terreno escuro, a garota coloca Plotmon no chão.

– Plotmon, vou te deixar aqui fora, mas não vá pra longe e nem fique dando bandeira por aí, ta bom?

– Não precisa dizer duas vezes.

– Se houver alguma emergência, sabe como me encontrar.

– Eu sei... Entra logo porque se não você vai perder a festa toda aqui fora conversando comigo.

O local está com uma decoração toda em preto e branco. O chão remete a um tabuleiro de xadrez. Muito axé e música eletrônica sendo comandados pelo melhor DJ da cidade. Bebida para todos os gostos, gente bonita e alegre, muito beijo na boca... Tudo que uma boa festa precisa ter. Verônica logo encontra um grupo de colegas de classe e começa a conversar, quando é surpreendida por uma mão que a vira com força.

– Pensei que não viria ao meu aniversário.

Rafael Costa está completando dezenove anos. Cursa o terceiro ano do ensino médio junto com João e Carlos. É mais alto que seus dois colegas. Olhos azuis, cabelo loiro espetado, músculos extremamente definidos.

– E por que deixaria de vir? Afinal você é meu amigo.

– Se dependesse de mim, seriamos mais que amigos.

As colegas de Verônica sorriem com a declaração do aniversariante e se afastam, deixando-os a sós.

– Rafael. Já conversamos sobre isso.

– Me dá uma chance. Ninguém nunca reclamou e com certeza você não será a primeira.

Rafael a segura pela nuca e se aproxima lentamente dos seus lábios.

Uma música muito agitada começa a tocar levando todos os convidados à pista de dança.

– Não acredito, adoro essa música! Vou dançar um pouco, depois a gente se fala.

Verônica se livra do aniversariante e se aproxima do grupo de colegas que havia se afastado. Rafael fica observado-a dançar enquanto uma deslumbrante loira o segura pela mão e o leva para pista de dança.

– Me leva! Eu nunca fui numa festa. – implora Betamon quase chorando.

João vestia uma camiseta em frente ao espelho.

– Não posso. Lá só têm humanos.

– Me leva na mochila, eu fico quieto.

– Não dá! Eu não sei que horas vou chegar.

– Mas você disse para Carlos que iria voltar cedo!

João, que agora calçava o tênis, sorri para Betamon.

– Você acha que eu vou perder uma festa pra estudar física?

– Se eu soubesse o que é física eu poderia dizer... Mas não mude de assunto, me leva, por favor.

– Como você é insistente! - João pega sua mochila e abre - Entra logo!

Betamon entra na mochila e João a coloca nas costas e sai.

Era quase meia-noite e a festa só estava começando. Vários colegas marcavam presença na festa promovida pelo Rafael, festa essa que era aguardada desde o início das aulas. Rafael é um dos garotos mais ricos do colégio onde estuda. Seu pai faleceu quando ele tinha pouco mais de dois anos, e sua mãe casou-se novamente com um homem sem muitos recursos. No decorrer da sua infância e adolescência, Rafael via sua vida tomar um novo rumo. Seu padrasto se tornara um dos executivos mais bem remunerados de uma empresa alimentícia. Rafael tem um ótimo relacionamento com Sérgio. Sempre soube que ele não era seu pai, mas nem por isso deixou de respeitá-lo.

Verônica continuava atraindo atenções na festa. Apesar de ter meninas tão ou mais bonitas quanto ela, possuía uma combinação própria de olhar e voz que encantava todos. Seu olhar, apesar de ter olhos castanhos, era algo que realmente chamava atenção.

No meio da pista de dança, Verônica sente seu digivice vibrar, apitar e brilhar. Quando o aparelho fazia essas três combinações, é por que algo de grave estava para acontecer.

– Gente vou ali fazer uma ligação. Daqui a pouco to de volta.

Verônica sai às pressas, tentando não chamar atenção.

Rafael, que a observava de longe, a intercepta.

– Vai sair no melhor da festa?

– Só vou fazer uma ligação.

Verônica se desvencilha do garoto.

– Vou ficar te esperando – grita Rafael.

Do lado de fora, Verônica retira a sandália de salto, corre e se aproxima do local onde havia deixado Plotmon.

João, que estava chegando pelo sentido oposto da rua, avista Verônica saindo às pressas do terreno completamente escuro e resolve segui-la. Apreensivo com o que pudesse ter acontecido com ela naquele local, João pensa em gritar até que vê algo saltar dos seus braços e correr ao seu lado.

– Só pode ser um digimon. Por que esses monstros resolveram aparecer em Salvador? - pensa João.

Após alguns minutos de corrida, Verônica dobra uma esquina e segue pela Avenida Oceânica.

A Avenida Oceânica é famosa por ser anualmente palco do carnaval e por estar localizada a beira mar, com vários hotéis, bares, clubes e cabanas. É nela também que se encontra o Farol da Barra, um dos cartões postais da cidade. Justamente em frente a esse monumento, que é um forte a beira mar construído com o intuito de guiar os navegantes do Brasil colônia, estava um galo gigante de cor branca, cacarejando e atacando a parede do monumento com penas disparadas das suas asas.

Verônica se aproxima com o pequeno digimon, que mal lhe chegava ao joelho, e João opta por observar de um local mais distante, atrás de um poste.

– O que você quer aqui?

– Eu vim destruir o seu mundo.

Verônica saca seu digivice e o aponta na direção do enorme galo, que não parava de sacodir as asas como se quisesse voar. O aparelho, que exibia um ícone animado da digimon que lhe acompanhava, rastreia automaticamente as informações e as exibe em sua tela, juntamente com uma imagem do monstro.

Cockatrimon, um digimon no nível Adulto. Apesar de ser uma ave, semelhante a um galo, não consegue voar. Sua técnica é a “Penas Cortantes”.

João, que observava tudo de longe, retira Betamon da mochila.

– O que houve João?

– Aquela menina, que teve lá em casa hoje atrás de Carlos, tem um digimon.

– Então ela também é uma domadora!

– Domadora?

João pega seu digivice e faz como Verônica, recolhendo informações do Cockatrimon e logo depois recolhe informações sobre o digimon que a acompanhava.

Plotmon, um digimon no nível Novato. Tem a aparência de um simpático cachorrinho de pelúcia, com pelagem marrom, e encanta a todos com seus olhos azuis. Sua técnica é o “Soco Pequeno”.

– Sinceramente, eu não entendo essa sede de vocês por destruição. Tudo era perfeito até darem as caras por aqui. Lamento lhe informar, mas eu to de saco cheio disso.

– E quem vai me impedir? – pergunta Cockatrimon agitando suas asas.

– Já que diálogo não é o seu forte, eu vou lhe impedir.

Continua...


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