Digimon Beta - E o Hexágono do Mal escrita por Murilo Pitombo


Capítulo 12
Icemon, o Digimon Gelado




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/15763/chapter/12

Em meio ao desespero de Lúcia, em perceber que estava perdendo seu parceiro, o digivice vinho começa a brilhar. Em princípio, o brilho atrai a atenção de João e de Verônica. Logo depois Lúcia percebe que ainda havia um fio de esperança.

Um casulo de luz, semelhante aos que sempre envolviam Plotmon e Betamon, envolve Gotsumon. Os bits já desprendidos do seu corpo e soltos pela atmosfera retornam velozmente ao casulo que segue enigmático quanto ao formato que o digimon ganharia em seu novo nível evolutivo. Os olhos de Lúcia brilhavam e irradiavam felicidade ao ver que a evolução estava completa e que o casulo se desfazia. João, Verônica e principalmente Lúcia, se surpreendem ao ver que Gotsumon não havia mudado radicalmente como Plotmon e Betamon. Continuava com a mesma aparência e estatura. Seu corpo agora era formado por cubos de gelo idênticos às pedras que formavam seu nível anterior.

– Só mudou de cor? – exclama João.

Verônica o cutuca com o cotovelo, fazendo-o calar.

Terriermon pulava de felicidade sobre o galho da árvore.

Lúcia rapidamente recorre ao seu digivice para saber mais informações, e o nome da nova fase do Gotsumon.

Icemon, um digimon no nível Adulto. A primeira vista, parece um Gotsumon de cor branca, mas ao se aproximar desse incrível digimon, percebemos o quão gelado é seu corpo. Sua principal técnica é a “Nevasca Ice”.

Icemon se põe de pé com um salto e passa a observar seus braços.

– Me sinto como antes, só que mais gelado. Estranho isso!

Ankylomon observava tudo atônito, nunca tinha presenciado uma evolução daquela maneira. Gotsumon estava prestes a se converter em dados quando conseguiu evoluir. Outro digimon em seu lugar não teria conseguido tal feito.

Seadramon, aproveitando a distração de Ankylomon, consegue se livrar dele e levanta voo.

– Agora! – grita Seadramon sobrevoando o local.

– Uma simples mudança de cor não vai te fazer melhor do que era.

Ankylomon avança aos galopes na direção de Icemon que, tranquilamente une suas mãos pelo pulso e cria uma bola de energia azul.

Toda a praça estremecia.

Faltavam poucos segundos para ser atingido pela forte estocada do cágado, que é vinte vezes mais pesado, quando Icemon dispara:

– Nevasca Ice!

Uma enorme rajada de energia branca avança como um jato de água e choca-se contra a cabeça de Ankylomon, que perde velocidade tamanha a pressão da técnica, mas não dá sinais de desistência.

– Eu avisei que mudar de cor não resolveria seu problema.

Ankylomon seguia vagarosamente na direção de Icemon, que sentia toda a força do enorme digimon empurrando sua técnica. Os pés do boneco de gelo se arrastavam, formando canaletas no chão, tamanha a pressão exercida pelo digimon cágado.

Plotmon se aproxima de Verônica, que logo a pega nos braços.

– Como você está?

– Ficarei bem. A carapaça dele é muito resistente. Precisamos descobrir seu ponto fraco.

Icemon tentava resistir à força física de Ankylomon, que seguia irredutível.

– Já sei! – grita Plotmon – Seadramon! O ponto fraco dele só pode está no dorso. É nessa região que Icemon tem que atacar.

Seadramon não pensa duas vezes antes de mergulhar a toda velocidade e seguir voando paralelamente ao chão. Os olhos de Ankylomon dobram de tamanho ao perceber que não conseguiria impedir a investida da enorme serpente azul. Seadramon ataca Ankylomon com uma forte cabeçada pela direita. Ao receber o ataque, Ankylomon não consegue se equilibrar e capota, ficando com as quatro patas fora do chão.

– Agora Icemon! – grita Lúcia.

Icemon intensifica sua técnica, englobando o Ankylomon sem lhe dar chance de defesa. Ao cessar sua técnica, tanto Icemon como os demais digimons e domadores, percebem que o enorme cágado estava congelado. O boneco de gelo então cria duas bolas de neve sobre as mãos e lança-as contra o Ankylomon, que explode.

Seadramon e Icemon regridem completamente exaustos.

Lúcia corre até Gotsumon e o abraça.

– Tive medo de te perder!

– Eu também. Agora se afasta que esses olhos molhados...

– Chato! – Lúcia sorri.

Terriermon comemora sozinho, escondido sobre a árvore.

Já era noite e Lúcia seguia cuidado de Gotsumon, que havia se recuperado a uma velocidade incrível. A garota saía do seu quarto, só de camisola e cabelo solto, em direção à cozinha quando percebe que a porta do quarto próximo ao seu, estava entreaberta. Raramente Lúcia encontrava alguma pessoa caminhando pelos corredores da mansão, e naquele horário os empregados já havia se recolhido. Discretamente ela entra e nota que alguém tomava banho e que a porta do banheiro estava aberta. Um enorme balcão de granito negro seguia por toda a parede em frente à cama Box tamanho king. Sobre esse balcão havia uma TV de LCD, Home Theater, computador e um aparelho de som, o qual tocava “How Do You Do” na voz do grupo Cascada. Sobre a cama havia algumas peças de roupas; Tênis espalhados pelo chão; Guarda-roupas aberto; Porta que dá acesso à varanda também aberta. Uma brisa invadia o quarto e esbarrava na face da garota que caminhava lentamente até a varanda.

– Pela manhã tenho uma bela visão do mar e da cidade.

Lúcia se assusta. Ao virar-se, dá de cara com Rafael enrolado pela cintura a uma toalha preta.

– Desculpa! – dizem juntos.

– Por que se desculpa? – pergunta Lúcia.

– Pelo susto que te dei. E você?

– Por ter invadido.

– Relaxa! A arrumadeira já cansou de me ver pelado.

– Não tenho essa intenção!

Lúcia tenta sair do quarto às pressas, com raiva da insinuação feita pelo Rafael. Ao passar pelo garoto, ele a segura pelo braço.

– Já é a segunda vez. Odeio isso! – Lúcia puxa seu braço.

– Adoro uma negra...

– Sua garotinha é negra? Por que se não for, pinta de guache.

– Quem?

Rafael puxa Lúcia pela cintura e a beija. A princípio ela resiste, mas aos poucos começa a curtir o momento.

Carlos está sentado em uma carteira isolada dos demais, no fundo da classe. O garoto estava pensativo e olhava para o teto enquanto batia com o fundo da caneta sobre a mesa. Todos os seus colegas haviam percebido a mudança no comportamento de Carlos, que não comentava com ninguém sobre o que havia acontecido. Muitos suspeitavam de uma briga com João, já que ambos eram muito unidos e sempre sentavam juntos.

A aula de Biologia já havia começado a mais de quinze minutos quando Rafael chega pedindo licença para o professor e segue cumprimentando seus colegas, inclusive João, que sempre se sentava na primeira fileira em relação à porta de entrada, na terceira carteira.

– Pelo fato de possuírem uma deficiência na proteína da membrana das hemácias, deficiência essa responsável pelo formato de foice dessas células sanguíneas, os portadores da Anemia Falciforme são naturalmente mais resistentes ao Plasmodium sp, protozoário intracelular causador da Malária...

Rafael percebe que Carlos está só e se aproxima.

– Posso sentar aqui?

Carlos olha para Rafael com indiferença e observa várias carteiras vazias.

– Faça como quiser.

Rafael senta ao lado dele.

– O que aconteceu entre você, João e Verônica?

– Por que o interesse?

– Tudo bem quem nunca fomos grandes amigos, mas também nunca discutimos. Te vi aqui sozinho e só quero ser solidário.

– A gente discutiu sim. Acabei descobrindo que eles não confiam em mim.

– Isso é chato... Você confiar numa pessoa e ela não confiar em ti.

– Verônica até relevo, agora João...

– Você e João são como irmãos.

– Nos conhecemos desde pequeno. Nossos pais são grandes amigos e cursaram administração juntos.

O professor chama atenção dos colegas com um arranhar de garganta.

– Querem que eu saia da sala pra conversarem melhor?

– Não professor – diz Rafael – Sua aula nunca atrapalha nossa conversa!

A classe toda cai na gargalhada, com exceção de João e Carlos.

– Muito me admira ver Carlos atrapalhando a aula. Não sei qual o motivo da sua chateação, mas exijo silêncio enquanto estiver aqui!

– Desculpa Professor – diz Carlos vermelho, olhando para o chão - Isso não vai se repetir!

A aula prossegue sem interrupções.

João, a todo o momento, voltava à cabeça para trás e percebia que Carlos e Rafael conversavam discretamente. O papo dos dois se desenrolou durante toda a manhã. Conversavam como grandes amigos.

– Carlos e Rafael conversaram a amanhã toda! Carlos até guardou um lugar pra ele no fundão.

João desabafava com Verônica. Estavam sentados na calçada em frente ao colégio no final das aulas. Muitos alunos ainda cruzavam o portão em direção a suas casas.

– Impressão minha ou isso tudo é ciúmes?

– Que mané ciúmes! O que eu acho estranho é que Carlos nunca foi de conversar com Rafael e hoje eles conversaram demais.

Um Cross Fox vermelho estaciona distante de João e Verônica. Logo depois Rafael e Carlos saem conversando e não notam a presença dos colegas sentados na calçada.

– Hoje à tarde eu passo na sua casa pra conhecer a filha do Sérgio.

– Vou ficar te aguardando, Carlos. Qualquer coisa me liga.

Carlos caminha até o carro vermelho enquanto Rafael desliga o alarme e entra em sua Hilux. Verônica escuta incrédula as poucas palavras.

– Agora acredita que não é ciúme?

– Amizade de décadas, né? Também a gente queria o quê? Que ele ficasse isolado do mundo só por que brigou com a gente?

– Mas daí engatar uma amizade com Rafael? Há de convir que a personalidade deles não combina em nada!

– Peraê? Você conhece João e Verônica?

Carlos e Lúcia conversavam deitados em uma espreguiçadeira próxima à piscina. Lúcia vestia um biquíni azul, já Carlos usava uma bermuda surfista preta com detalhes em branco, e Rafael nadava trajando um sungão militar.

– Conheço. Você que é o famoso Carlos?

– Éramos amigos... Briguei com os dois.

Lúcia olha para o Rafael e certifica-se de que o garoto continuava nadando.

– Sei exatamente que você sabe que isso aqui não é um celular – diz Lúcia com a voz moderada erguendo o digivice.

Carlos sorri.

– Vamos mudar de assunto por que Rafael saiu da piscina.

Rafael caminha até eles e deita em uma espreguiçadeira ao lado da garota.

– Se eu soubesse que era segredo, continuaria na piscina.

– Nada a ver Rafael – diz Lúcia – Eu acabei de conhecê-lo. Tem momentos em que o assunto acaba mesmo!

– Pois é! – completa Carlos – Cara, acredita que ela conhece Verônica e João?

– Como que você os conheceu, Lúcia? – Pergunta Rafael bebendo um gole do suco sobre a mesa ao seu lado. Carlos o acompanha e também bebe.

– Através do Orkut. Eu não fazia a mínima ideia de que você a conhecesse. Ontem à tarde, marcamos um encontro e ela chegou lá com João.

– Tinha que ser! – resmunga Rafael.

– O ciúme bate a sua porta! – diz Carlos caindo na gargalhada logo em seguida.

– Por que ciúmes? – pergunta Lúcia sem entender.

– Por ele é louquinho pela Verônica!

– To bege! Ela que é a garotinha de dezessete anos?

– Ela mesma! – diz Rafael se colocando de pé – Uma coisa que eu não entendo Lúcia, é que ela trocou isso – Rafael contrai seu bíceps direito – por aquilo que você viu.

– Nem um pouco modesto você, hein “quase irmão”?

– É por que ela sabe que a quantidade da dinamite e do pavio são inversamente proporcionais – diz Carlos arrancando gargalhadas da Lúcia.

– Não entendi a piadinha...

– Carlos quis dizer que, quanto maior a dinamite menor o pavio, entendeu?

Lúcia faz gestos com a mão que evidencia ao Rafael o que seria a dinamite e o pavio na metáfora.

– Vai defender o amiguinho agora? – questiona Rafael.

– Não! Só to tirando uma com a sua cara mesmo!

– A-DO-RO! – Lúcia continua gargalhando.

– Ah, é? Vai continuar rindo?

Rafael pega Lúcia nos braços e a joga na piscina. Carlos se levanta para mergulhar e, antes que pudesse saltar, é empurrado pelo Rafael, que salta em seguida. Gotsumon observava tudo escondido da varanda do quarto da sua domadora.

Verônica e João caminhavam pela orla do Rio Vermelho, bairro vizinho a Ondina. A noite estava agradável e uma brisa magnífica chegava do mar. O garoto estava de mochila, enquanto Verônica trazia Plotmon nos braços.

– Isso não me entra na cabeça.

– O quê? – pergunta a garota de belo olhar.

– O papo de Carlos e Rafael hoje pela manhã.

– Esquece isso, João. Carlos quis assim. Ele é maior de idade e totalmente responsável pelos seus atos.

– Nunca confiei no Rafael. Acho que essa amizade tem segundas intenções.

– Intenções em quê? Só se for em me conquistar! – Verônica sorri – Ele pensa que nos temos um caso.

– Carlos?

– Não. Rafael!

– Pensando bem, até que...

O digivice de ambos reage ao mesmo tempo interrompendo João.

– Um digimon! – diz Verônica – Vamos indo. No caminho aviso Lúcia.

Verônica e João retornam ao carro, que estava estacionado a alguns metros.

João desenvolvia a maior velocidade que podia sem infringir nenhum semáforo, limites de velocidade e outras leis de trânsito. No caminho, Verônica o alerta sobre qual o local onde a domadora carioca os esperaria.

– Valeu pela carona casal – diz Lúcia sentando-se no banco de trás. Gotsumon entrava pela outra porta, enquanto Betamon seguia sentado no meio.

– Casal? – interroga Verônica assustada.

– Modo de dizer. Vocês não fazem ideia do quanto é difícil sair daquela casa com Gotsumon.

– Seu pai mora em um hotel ou em uma fortaleza? – brinca João.

– Uma fusão dos dois. Sou enteada da mãe de Rafael Costa.

João e Verônica, sentados no banco da frente do Corola prata, se assustam.

– Você é parente de Rafael? – pergunta Verônica.

– Sou... E hoje à tarde conheci Carlos. Gostei do nerd!

– Carlos é uma pessoa legal. Ele percebeu que eu era uma domadora e soube ser discreto quando Rafael estava por perto. Não chegamos a entrar em detalhes. Só sei que Rafael, durante nossa conversa, citava vocês dois como traidores.

– Agora entende o que quis dizer com segundas intenções? – João rapidamente olha para Verônica e depois torna a olhar para frente.

– Rafael ta disposto a coloca Carlos contra a gente.

– Não acho que Rafael queira manipulá-lo – diz Lúcia.

– Também não – diz João – Mas da forma como as coisas estão progredindo, tudo leva a crer!

Os domadores finalmente chegam ao local indicado pelos digivices.

– Um digimon no nosso colégio? – exclama João estacionando o carro.

– Só nos faltava essa – diz Verônica prendendo o cabelo em um rabo de cavalo.

Os domadores saem do carro com seus digimons e se posicionam em frente ao portão do prédio.

– Meninas, depois de ontem vamos nos preparar para o que der e vier – adverte João pressionando o boné contra a cabeça.

– Não é possível que três digimons adultos não sejam capazes de destruir qualquer digimon que esteja lá dentro – diz Lúcia.

– Nunca se sabe!

Uma enorme sombra surge de dentro do pátio do colégio. Aparentava ser de um enorme digimon. Mesmo temerosos, os digimons Novatos se preparavam para batalhar quando notam que, do lado de dentro do colégio estava Terriermon, saltitando como se brincasse de amarelinha. Suas orelhas seguiam chacoalhando a cada salto.

– Terriermon? – exclama Betamon.

Terriermon se assusta ao ouvir seu nome.

– Que saco! Vocês querem brigar é?

– Você ainda tem alguma dúvida? – questiona João.

– Três contra um é dose. Socorro!

Terriermon sai em disparada para os fundos do colégio.

– Vamos atrás dele! – brada João - Esse digimon já passou muito tempo aqui no nosso mundo.

Plotmon e Betamon conseguem passar pelos vãos do portão e seguem o digimon, enquanto os demais pulavam o muro.

Em uma esquina próxima, Carlos vê que os demais domadores já haviam chegado ao local, também guiados pelo digivice.

Plotmon e Betamon estavam caídos próximos à arquibancada quando os domadores e Gotsumon chegaram.

– Punho de Pedra.

A técnica de Gotsumon atinge as costas de Terriermon e o lança no chão.

Betamon e Plotmon se aproximam de Gotsumon.

– Eu prometo ficar quietinho aqui nesse mundo – diz Terriermon de joelhos, ao vê que havia três digimons, e três domadores, querendo destruí-lo – Eu não quero virar dados, por favor!

– Beta, não dê importância ao que ele diz! Você sabe muito bem que nenhum digimon selvagem pode ficar nesse mundo.

– Já que não tem outro jeito, vou ter que batalhar com vocês.

Terriermon se levanta e se põe em posição de ataque, com os pequenos punhos cerrados.

Continua...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Digimon Beta - E o Hexágono do Mal" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.