Digimon Beta - E o Hexágono do Mal escrita por Murilo Pitombo


Capítulo 11
A Coragem de Gotsumon




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Verônica tentava a todo custo reaproximar João e Carlos. Antes mesmo de conhecer João, era amiga de Carlos e sabia o quanto o garoto gostava do seu amigo, e o quanto está sendo difícil para ambos. Carlos comentava sobre suas aventuras com João: Saídas à noite para o pelourinho, sempre forçadas pelo João; Shows de Ivete, Chiclete, Cláudia, Netinho, Margareth, Daniela. Estavam juntos em praticamente tudo!

Verônica já havia perdido a paciência, em meio à posição inflexível de João, quando é surpreendida pelas mãos do garoto deslizando sobre sua face e lhe segurando a nuca com força. Verônica sabia que aqueles movimentos eram precursores de um longo e desejado beijo.

– Verônica, minha filha, são onze horas. Você tem aula amanhã cedo!

João e Verônica se assustam com o chamado de Célia e se afastam rapidamente.

– Tenho que entrar. Amanhã a gente se vê. Vamos Plotmon.

Plotmon corre para dentro de casa e Verônica fecha a porta olhando bem no fundo dos olhos de João.

– Por que você está com essa cara?

– Que cara Betamon? Ta doido?

– Você ta olhando a porta com cara de bocó!

– Bocó? Você vai ver quem é o bocó.

João, rapidamente pega Betamon no chão e começa a lhe fazer cócegas. Betamon sorria e se contorcia nos braços do seu domador, enquanto seguiam pela rua já sossegada.

No lado oposto da rua, uma pessoa vestida em um sobretudo preto e utilizando boné e óculos escuros, observava João acompanhada de um digimon de pele amarela, calda rígida, grandes garras nas mãos e nos pés, chifre pontiagudo sobre a cabeça e uma manta branca com listras em azul que envolve sua cabeça, costas e braços. O digimon possuía por volta de um metro de altura, contando com o chifre, que deve ter uns vinte centímetros.

– É João... Pelo visto nossa batalha será emocionante! Vamos Gabú!

Verônica está no pátio do colégio, sentada em um banco, lembrando-se da noite passada, quando alguém se aproxima por trás e lhe tapa os olhos.

– Quem é?

– Advinha?

– João?

– Desisto de brincar!

Carlos contorna o banco e senta-se ao lado da garota.

– Eu estava até querendo falar contigo.

– Pode dizer... – Carlos retira seus óculos e começa a limpá-los com a camiseta.

– Ontem à noite, depois que eu te deixei em casa, você foi onde?

– Onde eu fui?

– Ontem à noite João foi mais uma vez atacado pelo Garurumon, e quando eu cheguei lá ele me deu a ideia de ligar pra você. Eu liguei pra tua casa e você não estava.

– De novo esse assunto!

Carlos se levanta abruptamente colocando os óculos no rosto, quando sente a mão de Verônica lhe segurando pelo braço. A garota já estava de pé e tentava não elevar sua voz para não atrair a atenção do pessoal que chegava ao colégio.

– De novo sim! Esse Garurumon está atacando somente João. E ontem à noite, no instante que ele era atacado, você não estava em casa.

– Eu tinha ido à padaria. Por que não me ligou?

– Se eu ligasse para o seu celular, você poderia muito bem mentir pra mim.

– Meu saco... Paciência tem limites, Verônica! Chega! To de saco cheio das suas desconfianças. Que tipo de amiga é você que na primeira oportunidade que tem, resolve insinuar que eu to mandando meu digimon atacar João? Eu nem sei qual é o meu digimon. Desde domingo que eu to esperando algum sinal de vida dele e nada! Já se passaram dois dias e nada!

– Tenta entender o meu lado...

– E por que você não entende o meu? Você acha que é fácil ser alvo de desconfianças de alguém? Desde domingo que eu to sem falar com João e agora você começa com essas acusações...

– Desculpa se exagerei, mas é que...

– Desculpar o quê Verônica? - João chega interrompendo a conversa.

– Vou aproveitar que os dois estão aqui, e vou falar pela última vez. Eu não sou o domador daquele Garurumon, e se ele for meu digimon, eu não ordenei nenhuma retaliação – Carlos se afasta e, após alguns passos, retorna - Ah, mais uma coisa: Me esqueçam!

– Carlos, espere!

Carlos ignora o chamado de Verônica, e sai visivelmente indignado.

– Conversar com ele agora não vai adiantar, Verônica!

Verônica começa a chorar e João a abraça.

– Será que eu não consigo fazer nada certo!

– Minha linda! Você não tem culpa.

O digivice amarelo reage.

– É a Lúcia – a garota rapidamente enxuga as lágrimas do rosto e atende - Pode dizer amiga. Sei... Sei onde é! Ok a gente se vê. Beijo! – desliga.

– E ai?

– Ela quer nos encontrar naquela praça perto da sua casa.

– Que horas?

– Às dezesseis.

– Onde que ela ta?

– Na casa do pai. Ele mora aqui.

– Em qual bairro?

– Não faço a mínima ideia.

– Tá mais calma?

– Tenho que ficar! Hoje meu dia começa com Freire!

– Literatura?

– Odeio!

– A matéria ou o professor?

– A matéria. Ele é gente boa.

– Tem gosto pra tudo!

João e Verônica sorriem.

– Será que ela não vem?

João, Betamon, Verônica e Plotmon aguardavam Lúcia no local e horário combinado.

– Calma Plotmon. Ela ta dentro do prazo – diz Verônica conferindo as horas.

– VERÔNICA!

O grito faz com que todos olhassem na direção de uma bela mulata de cabelos longos, que acenava na companhia de um pequeno boneco de pedra, disfarçado como uma criança.

– Olha ela ali – diz Betamon sorrindo.

Lúcia se aproxima correndo, abraçando João e Verônica ao mesmo tempo.

– Vocês não sabem como eu to feliz em conhecê-los. Ah! Esse é Gotsumon.

– Oi pessoal!

– Gotsumon! Até que enfim nos conhecemos - Plotmon pula nos braços do digimon de pedra.

– Você é o Betamon, né?

– Sou eu mesmo!

– Não eram três domadores? – pergunta Lúcia.

– Carlos não veio. Na verdade, tivemos uma discussão – diz Verônica passando a mão pelo cabelo.

– Por quê?

– Tem um Garurumon atacando João e desconfiamos que seja o digimon dele.

– Garurumon?

Lúcia pega o digivice e procura informações sobre Garurumon.

– Um digimon lobo na forma Adulta, né?

– Exato!

– E muito poderoso por sinal – completa João – Por isso desconfiamos que seja um digimon domado.

Os digivices, pendurado ao pescoço de Lúcia, preso ao bolso de João, e dentro da bolsa de Verônica, emitem uma combinação de brilho, som e vibração.

– Tava demorando... - diz João pressionando seu digivice negro na mão e sendo acompanhado pelas garotas.

A pouco mais de cinco metros, um feixe de luz extremamente brilhante surge à frente dos humanos e segue ganhando largura até que dele sai um enorme cágado de cor marrom, com o casco cravejado em esferas de ferro e uma letal bola de aço com espinhos pontiagudos na extremidade de sua calda. A cada passo dado pelo enorme e pesado digimon, o chão estremecia.

– Plotmon evolua!

– Você também Betamon!

Betamon e Plotmon afastam-se dos seus domadores e esferas de luz os envolve. Gotsumon e Lúcia acompanham admirado o processo de evolução de Betamon e Plotmon que, após o casulo de luz se dissipar, revelam novos e poderosos digimons.

Lúcia não titubeia e logo coleta informações das evoluções, enquanto João e Verônica coletavam informações do inimigo.

Ankylomon, um digimon no nível Adulto. Seu corpo é coberto por uma forte couraça. Com a técnica “Pressão de um Megatom”, esmaga o oponente com o peso do seu enorme corpo, e com a “Calda Martelo”, ataca com a bola de aço em sua calda.

Tailmon e Seadramon avançam ao mesmo tempo, atacando o inimigo com suas melhores técnicas e investidas. João e Verônica se espantam ao perceberem que o pequeno boneco de pedra continuava em seu nível evolutivo.

– Lúcia, você não vai mandar Gotsumon evoluir? – questiona João.

– Infelizmente ele não consegue.

– Certo. Deixe conosco essa luta!

– Gotsumon venha aqui!

Gotsumon, que ainda admirava as evoluções, se aproxima de sua domadora.

– O que foi? Eu não vou lutar?

– Não. Ele é um digimon Adulto, você não tem chance.

– Calda Martelo.

Ankylomon rapidamente gira o corpo e consegue atingir Tailmon, em pleno pulo, com a esfera de espinhos em sua calda. A digimon gato cai desacordada no chão e se arrasta por alguns metros antes de regredir.

– PLOTMON!

– Seadramon, agora é com a gente – grita João.

– Flecha de Gelo.

Ankylomon se desvia e ataca saltando sobre Seadramon. O digimon consegue imobilizar Seadramon com seu pesado corpo.

Em uma árvore, próxima aos domadores, o pequeno Terriermon observava a batalha enquanto se balançava preso ao galho com suas orelhas.

– Eu acho que ele voltará à condição de dados!

João e os demais olhavam angustiados Seadramon se debater, tentando se livrar de Ankylomon. A serpente aquática havia enroscado sua calda em uma das patas traseiras do digimon, mas por conta do seu peso, não conseguiu o mesmo efeito como na batalha contra Tyrannomon.

– O primeiro será você, Seadramon. Logo depois destruirei esses humanos aos quais se associou.

– SEADRAMON!

– Eu vou ajudar!

– Ele é um Adulto, Gotsumon. Infelizmente você não tem chance – diz Lúcia, de joelhos, segurando Gotsumon pelos ombros com os olhos cheios de lágrima.

– Eu não posso deixa Seadramon perder!

– Ele não vai perder – diz João - SEADRAMON!

– João, eu não consigo me livrar. Ele é muito pesado.

– LÚCIA! - O grito de Gotsumon atrai a atenção, não só de Lúcia, como também de João e Verônica – Eu preciso ir! Eu sou um digimon e essa é a minha função.

Lúcia, que estava de costas para a batalha, livra Gotsumon e permanece ajoelhada. Gotsumon corre até o inimigo. Parado, o pequeno digimon espalma suas mãos na direção do solo. Aos poucos, João e Verônica percebem que pequenas fissuras estavam se abrindo pelo gramado ao redor do boneco de pedra. O digimon torna olhar para Ankylomon, que observava curioso, e revela que seus olhos haviam saído do tradicional amarelo e agora estavam vermelhos.

– Esmagador Irregular.

Ao dizer isso, das fissuras no chão, pedras de vários tamanhos e formatos passam a flutuar ao seu redor e, ao simples movimento de mão, como se as empurrassem, Gotsumon lança-as contra Ankylomon, que recolhe sua cabeça dentro da carapaça. As pedras se despedaçavam ao colidir com o casco do digimon cágado e não lhe causavam nenhum dano.

Ankylomon retorna com a cabeça na posição original e sorri ao ver que Gotsumon estava ofegante e com os olhos na coloração inicial.

– Novato imbecil! Sua técnica é até bonita de se ver, mas não foi capaz de penetrar minha carapaça.

– Cale a boca! – Gotsumon seguia disparando várias pedras do seu punho direito contra Ankylomon, que as destruía com um movimento de calda.

Lúcia se assusta ao ver tamanha determinação do seu digimon. A última vez que o viu agindo assim foi quando batalhou contra Piyomon na praia de Copacabana. Domadora e digimon haviam combinado que a evolução não seria mais discutida entre eles. Lúcia sentia que para seu digimon, batalhar de igual para igual com Ankylomon, seria uma forma de mostrar seu valor, apesar de não conseguir evoluir como Betamon e Plotmon.

– Gotsumon se afaste! – grita Lúcia nervosa.

O digimon seguia atacando, sem sucesso, Ankylomon, que ainda imobilizava Seadramon sem lhe dar chance de ataque ou defesa.

– Gotsumon! Isso é uma ordem. Me obedeça!

Gotsumon cessa o ataque e volta sua atenção para Lúcia.

– Lamento Lúcia, mas não posso ver meus amigos passando por apuros e ficar de braços cruzados!

– Calda Martelo.

Ankylomon gira sua calda e ataca Gotsumon. Visivelmente essa investida foi mais poderosa do que a aplicada contra Tailmon. O boneco de pedra cai próximo à Lúcia que, aos prantos, se ajoelha ao seu lado.

– Por que você é teimoso?!

– Lúcia. Eu precisava fazer isso! – diz Gotsumon com dificuldade. Seu lado direito, inclusive sua cabeça, estava completamente deformado e danificado. O digimon seguia perdendo bits pelos ferimentos e encaixes do corpo. Lúcia sentia que, cada segundo que se passava, ficava mais difícil para ele manter os olhos abertos.

– Gotsumon, fala comigo!

O digimon nada respondia. Sua domadora apenas presenciava seus olhos se revirarem numa tentativa angustiante de manter todos os bits interligados.

Terriermon continuava observando a batalha do galho da árvore e abraçava suas orelhas assustado com os momentos finais do boneco de pedra.

– Lúcia, é melhor se afastar. A qualquer momento ele vai se converter em dados – diz Verônica se aproximando.

Seadramon se debatia com mais intensidade. Era o único, naquele momento, capaz de destruir Ankylomon, mas suas forças também estavam limitadas. Plotmon seguia desacordada no mesmo local onde havia caído inconsciente.

Ao sentir a mão da Verônica lhe tocar os ombros, Lúcia solta um grito angustiante que faz Plotmon recuperar os sentidos e atrai a atenção de Seadramon e de Ankylomon.

– GOTSUMON!

O digivice vinho, pendurado ao pescoço da garota, começa a brilhar.

Continua...


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