Serena POV

Ao chegar ao salão comunal, muitas pessoas debocharam de minhas lágrimas. Deve ter sido algo como “Seu namoradinho terminou com você, Terrence?”, mas eu não pude prestar atenção, pois mal pude ouvir meus pensamentos. Eu jamais havia sentido uma tristeza tão grande. Se o amor é tão bom, porque as pessoas sempre saem feridas? É assim que sempre acaba. E eu fui burra. Burra por pensar que tudo ia se resolver. Burra por pensar que tudo ia ficar bem, que as pessoas perdoam, que elas não tem problema algum.

Chorei durante muito tempo, horas, que pareceram séculos. Demorou muito mais do que eu esperei até que Tiago chegasse. Mas chegou.

- Falei com Draco. – ouvi sua voz, quando minha cabeça estava virada para o travesseiro que amortecia a queda de minhas lágrimas.

- E o que ele disse? – foi tudo que pude dizer. Normalmente eu teria dito “você o que?”, mas não consegui reunir forças para aquilo.

- Serena, ele ainda te ama. Mas ele é burro demais para perceber qualquer coisa. – suas confortáveis palavras chegaram a meus ouvidos enquanto ele se sentava na cama, ao meu lado, e secava minhas lágrimas.

- Eu vou tentar esquecê-lo. Eu te amo.

- Não importa quantas lágrimas você derramar, elas não vão limpar a sujeira que está ao seu redor. Não vão mudar nada, e não vão concertar as coisas. Então não estrague à toa esse rostinho perfeito. – entrelaçou suave e cuidadosamente suas mãos nas minhas.

- Acho que você é o certo para mim.

- Por quê?

- Por que você perdoou meus erros e aceitou meus defeitos. – disse e beijei seus lábios. Estava com saudade de seu gosto em minha boca, e da sensação de todos os pêlos do meu corpo se arrepiarem.

Me olhou por alguns instantes sem dizer nada, e então Gabrielle chegou. E me olhou indignada, e então percebi que ela PRECISAVA saber tudo.

- O que ele está fazendo aqui? É o dormitório das garotas, ele não pode simplesmente entrar aqui. – seu olhar se dirigia pausadamente para mim, e para ele.

- Ella, eu preciso te contar uma coisa.

- Não precisa, Se. Eu sei que você estava com ele todo esse tempo. Acho que te conheço melhor do que você pensa. – um sorriso se estampou em seu rosto.

- Eu espero que você me perdoe por ter mentido para você. – falei, e pude vê-la assentir. – Mas isso não é tudo. Eu também estava tendo um caso com o professor de DCAT. – completei rapidamente.

- Draco Malfoy? – assenti – Uau! Por essa eu não esperava. E o que houve?

- Eu contei a verdade aos dois. E... Thi me perdoou, mas Draco...

- Não. – completou-me ela. – Eu sinto muito, Se. Quer dizer, se você o amava. E se ele te amava, ele vai voltar. – virei-me para Tiago, esperando alguma reação agressiva, mas ele simplesmente assentiu.

- Ele me amava, eu acho. Mas eu prefiro não falar sobre isso. Podemos descer até o salão comunal? Está frio aqui em cima. – esfreguei minhas mãos, que foram tocadas pelas quentes mãos de Tiago.

- Então vamos para perto da lareira. – disse ele. Descemos as escadas e todos os olhares do salão comunal se voltaram para nós. Eu não os culpava. Primeiro: como Tiago teria descido do dormitório feminino? Segundo: então, todos esses boatos que espalharam pelo colégio eram verdadeiros? Afinal, estávamos de mãos dadas.

- O que vai fazer no natal, Se? – perguntou Gabrielle quebrando o gelo.

- Vou para casa com minha mãe. – respondi, me lembrando de que faltava apenas o resto daquela semana.

- Como? Quer dizer, - abaixou o tom de voz – ela é trouxa, não é?

- Hum... Draco vai aparatar comigo até lá. Ou ia, acredito que ele não vá mais. – disse triste, esticando minhas mãos em direção ao fogo.

- E você, Tiago? – acho que Ella se acostumaria com ele.

- Vou para a casa de meus pais, e acho que vamos passar o natal n’A Toca. – sua voz me aqueceu mais que o fogo. – Aliás, Se, se você quiser, pode passar o natal lá conosco.

- Não posso. Não falo há meses com minha mãe, Thi. – é claro, se eu pudesse, jamais recusaria.

- É uma pena. Todos nós adoraríamos recebê-la.

- Bom dia classe. – pela primeira vez, Draco Malfoy não dirigiu um único olhar a mim. E isso quebrou meu coração.

Pela primeira vez, não sentia felicidade naquela aula. Não fiquei feliz ao ver aquele homem maravilhoso em minha frente. Fiquei enormemente triste. Uma lágrima se formou no canto de meu olho.

- Não chore, Se. Não vale a pena. – Alvo disse ao meu lado, secando minha lágrima e eu simplesmente assenti.

- Se, ignora. Vai ficar tudo bem, tá? – ouvi a voz de Gabrielle atrás de mim.

- Obrigada, gente. Não sei o que eu faria sem vocês. – sussurrei.

- Senhorita Terrence, tem alguma coisa que gostaria de dividir com a classe? – seus olhos acinzentados se focaram finalmente sobre mim, mas com desprezo. Eu continuei em silêncio, me esforçando ao máximo para meu rosto não ficar vermelha. – Eu lhe fiz uma pergunta. – disse ele depois de um tempo.

- Não, professor. – disse ao secar minha milésima lágrima.

- Certeza, Terrence?

- Eu gostaria de ir até Madame Pomfrey, não estou me sentindo bem. – falei, levantando-me e correndo até a porta, onde fui obrigada a parar, ainda de costas, para ouvir Draco.

- Então vá, Terrence. Tenho certeza de que não vai fazer falta nessa aula. – disse ele, e meu rosto esquentou, e milhares de lágrimas começaram a rolar sobre ele. Bati a porta.

Ele não teve nenhuma piedade lá dentro. Realmente, acho que aquela aula também não faria falta. Surpreendentemente, encontrei Tiago no corredor.

- O que faz aqui? – perguntei, e ele se virou, assustado.

- Estou matando poções. E você, o que houve?

- Não suportei ficar na sala de DCAT. Draco não teve coração comigo hoje. – sequei mais lágrimas. Aquele ato já estava reflexivo, de tanto que eu o repetia.

- Ele também não foi nem um pouco gentil comigo. – Tiago envolveu seus braços em volta de meu corpo, e por pouco meus joelhos não cederam. – Mas relaxa, de alguma forma, tudo vai se resolver. Eu prometo.