Me levantei quando ouvi a campainha tocar. Olhei no relógio antes de abrir a porta, já eram quase dez horas da noite. Lisa já até dormia no sofá e eu... Estava realmente preocupada com a minha filha.

- Hey! – Justin sorriu, assim que eu abri a porta.

- Oi. – revirei os olhos. – Você ficou louco? Sabe que horas são? – o puxei pelo braço, o fazendo entrar em casa.

- Ah, foi mal. É que foi tão divertido que perdemos a hora! – ele riu.

-Ahn... E cadê minha filha? – disse quando percebi que minha Allie não estava por ali. – CADÊ ELA? – gritei.

- Relaxa... Ela ta no carro dormindo. – passou o dedo polegar sobre minha bochecha.

- Ah, então... Pega ela lá. – bati na sua mão.

- Claro! – suspirou.

Antes que ele saísse, seu celular tocou. Pude ouvir a conversa, alias, Justin estava bem ao meu lado. Já havia ouvido aquela voz em algum lugar e assim que Justin falou “Selena”, tive certeza que era ela, lógico. Ela parecia meio brava do outro lado da linha, perguntava onde ele estava, e Justin? Dizia que estava com o Scooter, mas, então ela rebatia dizendo que acabara de ver o Scooter no corredor do hotel. Ah, briguinha de casal é um saco...

- Tchau. – ele desligou o celular e logo se virou pra mim. – Então? Onde estávamos?

- Ué, o que aconteceu? Quem era? – ignorei sua pergunta. Ok, eu queria saber, mesmo.

- Selena. Ela ta no meu quarto de hotel. – fez uma careta. – Querendo saber onde eu estou desde a hora que saí daqui essa tarde. – revirou os olhos e suspirou irritado.

- Faz quanto tempo que estão namorando? – curiosidade chamando.

- Uns dois anos e alguma coisa, sei lá. – franziu a testa.

- Hm. Interessante. Deve trair ela a todo tempo.

- Até que não. – balançou a cabeça negativamente.

- Duvido. Mais cedo você queria me beijar! – dei um soco de leve no seu ombro.

- Não. Você queria me beijar. – ele mordeu os lábios, eu ri.

- Ok, chega de conversa furada e vamos pegar minha filha no carro. – revirei os olhos.

- Calma aí, Claire. – ele seguro meu braço.

- O que foi?

- Acabou de admitir que queria me beijar. – riu. Que coisa mais idiota! Não somos mais... Ahn, adolescentes! Tenho quase 20 anos! Sou quase completamente adulta.

- Admiti nada! – bati no seu peito.

- Admitiu sim!

- Somos o que? Dois adolescentes bobos “brigando” por causa disso? – gesticulei aspas com os dedos.

- Podemos ser essa noite. – ergueu os ombros.

- Acho que a sua namorada ta te esperando... – ri, arqueando uma das sobrancelhas.

- Ela pode esperar a noite toda. – o garoto me puxou pela cintura, me deixando perto dele. Sorri sarcástica.

- Falando nisso... Pra onde levou minha filha? Vocês... Demoraram. – coloquei a mão em seu peito, e olha... Justin realmente tinha ganhado um pouco mais de músculos e essa coisa toda, sério. Ele tava tão diferente.

- Compramos lanches e depois a levei em um sitio da família. – lambeu os lábios. – Cara, quando você ficou gostosa assim? – riu. Dei um tapa na sua cara, tentei ser leve, mas, acho que doeu por que ele deu um gritinho.

- Respeito é bom. – mostrei a língua. – Não falou dela a ninguém né? A sua mãe ou empresário...

- Não sou idiota.

- Nem ao seu segurança? – franzi a testa.

- Acho que comentei com o Kenny. – sorriu forçado.

- IDIOTA! Quer que eu fique sem minha filha? – lhe dei mais um tapa. – Ele vai comentar com o Alfredo, que vai comentar com o Dan, que vai comentar com o Scooter que vai comentar com a sua ma...–

- Já entendi. – ele colocou o dedo indicador sobre meus lábios, me impedindo de continuar.

Agora eu estava perdida. Droga, droga, droga. Justin estava aproximando, encostou de leve seus lábios no meu, iniciando um longo selinho. Quando ele ia aprofundar mais o beijo, bom... Acho que eu tinha me esquecido da Lisa.

- Claire... – ouvi sua voz, e logo empurrei Justin, o vendo quase cair. Pude ouvir as risadinhas de Lisa logo atrás. – Opa, acho que atrapalhei algo. – ela riu e se aproximou de nós, parando ao meu lado.

- Claro que não! – coloquei as mãos na cintura, enquanto fitava Justin que estava rindo.

- Oi, Lisa. – Justin deu um beijo em sua bochecha. – Quanto tempo.  Você sempre atrapalhando, não é? – piscou a ela.

- Ué, tenho que deixar longe da minha amiga, cafajestes que gostam de engravidar garotas e a deixarem e que depois aparecem depois de séculos e... –

- Acho que ele entendeu Lis.

- Bom te ver também, Lisa. – Justin riu.

- Igualmente. – ela sorriu sínica. – Podem voltar a se beijar ou sei lá o que. Vou voltar a dormir. – ela deu de ombros. – Ah, antes... Vão deixar a filha de vocês morrer no carro, enquanto curtem o momento marido e mulher? – franziu a testa e sorriu sarcástica.

- Droga, seu idiota! – puxei seu braço. – Vamos pegar Alice. – revirei os olhos enquanto o “arrastava” até lá fora, onde estava o carro.

Justin suspirou e abriu a porta de trás do carro, onde Allie dormia como um anjinho.

- Vai acordá-la? – me fitou.

- Não! Pegue ela no colo! – o empurrei.

- Certeza?

- Claro! Ai meu deus, eu também... vou pedir pra um garotinho mimado cuidar da minha filha! – passei a mão no rosto.

O vi pegar Alice no colo, fechou a porta e logo entramos pra casa. O guiei até o quarto da minha pequena. O quarto dela era tão bonitinho, era pintado de lilás, sua cor favorita. Tinha puffs rosa em cima do tapete felpudo branco, uma pequena TV, brinquedos pelo chão... Sua cama. Ah, o quarto dela não tinha nada de especial, mas, era tão fofo. Cheio de bichinhos de pelúcia e livrinhos coloridos.

- Coloca ela na cama. – apontei.

- Não, Claire... Vou colocá-la no chão. – disse irônico.

- Só faz o que eu mando.

- Claro, mamãe. – ele colocou Allie na cama e logo a cobriu. Colocou um de seus ursinhos de pelúcia preferido ao seu lado, ao qual ela abraçou rápido. – Tão fofa. – ele disse passando o polegar sobre sua bochecha.

- Eu sei. Ela é minha princesa. – suspirei. – Venha, vamos deixá-la dormir, papai. – ergui as sobrancelhas.

Justin saiu ao meu lado. Fechei a porta, deixando Allie ali e ainda me lembrando que Lisa ainda estava ali. Eu não acredito que eu tava sendo uma boba novamente, Justin me deixou. Deixou eu e Alice. Não sei se estava pronta pra esquecer e começar novamente, sabe? Tudo tão confuso.

- E onde é o seu quarto? – ele me fitou, mordendo os lábios.

- Um lugar que você não vai conhecer. – sorri de lado.

- Por que não? – praticamente sussurrou, me empurrando de leve, o que fez com que eu batesse as costas na parede.

- Você é um idiota e tarado que não se preocupa com a namorada. – o empurrei. – Vamos, vou te acompanhar até a porta. – desci os poucos degraus da escada.

- Ta me expulsando da sua casa? – disse parando em frente à porta.

- Sim! Com toda certeza! – o empurrei pra fora. – Beijos. – acenei.

- Tudo bem, até amanha. – ele riu e me deu um selinho rápido.

- Justin!

Bati no seu ombro, enquanto ele ria e logo ia embora. Tão idiota.

                                                   ◘◘◘

- Eu sei, Lisa! Sei que prometi! – falávamos ao telefone, como sempre. Enquanto eu estava no fogão tentando fazer algumas panquecas pro almoço.

- Você é uma idiota! Tem que esquecer aquele cara, sério. Ele só te usa, não enxerga? – pois é, ela me dava uma bronca por ontem. Cara, foi só um selinho e ela já estava me dando um “bronca daquelas”. É, na falta de uma mãe, tenho a Lisa que só sabe me dar broncas. Não é tão responsável e acredite, Lisa não serve pra ser mãe, mas, me dava conselhos bons.

- Calma, Lis. – eu ri

- CLAIRE, CADÊ MINHAS PANQUECAS? – Alice gritou, batendo no balcão a sua frente.

- ESPERA GAROTA! – gritei, ainda mexendo no fogão, tentando fazer as panquecas. Era um pouco difícil cozinha e falar ao telefone, ainda mais eu que não sei cozinhar muito bem. – Lisa, estamos fudidas nas coisas da faculdade, faz quantos dias que não vamos lá? – disse me lembrando de minhas varias faltas seguidas.

- Pois é, faz mais de três dias, certo? – ela suspirou do outro lado. – Mas, não muda de assunto não, garota! – revirei os olhos, enquanto a ouvia falar. – Ele te fez perder o emprego! – praticamente gritava do outro lado.

- Odeio ele! – gritei. Me virei brevemente pra Alice, perguntando: - E como foi o passeio com o Justin, Allie? – a fitei.

- Bem legal! Ele cantou pra mim. – ela bateu palminhas. Revirei os olhos.

- Ele é um manipulador!

- É o que eu diga! – Lisa berrou do outro lado. – Vamos sair hoje, deixa a Allie com o Justin e vamos dar uma saída. – ela parecia entusiasmada.

- Não posso! – desliguei o fogão e peguei um prato pra colocar as panquecas. – E se ele quiser ir ou sei lá o que? Ele não vai querer ficar com ela pra eu ir pra boate ou uma festa. – ri. – E além do mais, não confio muito nele.

- Deixa ela com sua mãe!

- Muito menos minha mãe. – pigarreei. – Você sabe que não posso.

- A GENTE LEVA ELA JUNTO! – Lisa era doida.

- Conversamos sobre isso depois, o que acha?

- Passo aí com o meu carro hoje às sete horas da noite, esteja pronta.

- Lis... – ela desligou antes que eu pudesse terminar. Girei os olhos.

Suspirei e coloquei as panquecas em dois pratos separados. Algumas pra mim, outras pra Allie. Coloquei o prato em sua frente, a pequena logo abriu um sorriso, apanhou o garfo e começou a comer.

- Coma com calma, hoje você vai pra creche! – me sentei a sua frente.

- NÃO! – ela gritou. – Se você não vai à faculdade, por que tenho que ir na creche? – ela fingiu chorar.

- Que belo exemplo você tem dado, Claire Winchester! – sussurrei a mim mesma.

Desse jeito, eu não ia mesmo me formar. Eu ainda estava no segundo ano, tinha mais faltas do que tudo, e até que boas notas, mas, isso não adiantaria nada com faltas. Mas, eles às vezes me perdoavam, porque sabiam que eu tinha uma filha, que eu era uma mãe solteira. E ainda tinha Justin que nunca se importou comigo ou com Allie e de uma hora pra outra aparece aqui do nada. E o pior, em uma semana ele vai embora novamente, UMA SEMANA! Vai ser como da ultima vez.

- QUERO BOLO, CLAIRE! – ela bateu o garfo na mesa.

- Não temos bolo!

- Quero bolo! – fez bico.

- NÃO TEMOS BOLO! – dei um soco na mesa, a assustando. A mesma deu um pulo.

- Podemos... Comprar? – ela disse baixinho.

- Claro. – suspirei. – Antes, coma tudo isso aí.

- E... O tio Justin, ele não vem hoje? – me fitou com seus olhos piscando.

- Eu espero que não!