Aleto continuou beijando Robert com selvageria, sem se importar com os vários alunos sonserinos que assistiam a cena, chocados. Pareceu não escutar seu grito, e, se escutou, parecia concentrada demais no beijo para dar-lhe atenção.

Irritado, sentindo o peso da traição esmagar-lhe, Scorpius não pensou duas vezes antes de ir até Robert e plantar-lhe um soco no lado direito do rosto, fazendo-o recuar imediatamente.

_Malfoy!_ ralhou Aleto, fria. Scorpius registrou o uso do sobrenome.

_QUEM..._um soco._VOCÊ ACHA QUE É..._outro soco._PARA AGARRAR MINHA NAMORADA DESSE JEITO?_

A face de Robert sombreou, e ele devolveu a altura.

_FOI... ELA... QUE... ME... AGARROU... CORNO!_

A Sonserina inteira começou a rir cruel. Albus lhe olhava de porta, desconsolado, mas Scorpius não ligou pra ele. Seu olhar se tingiu de mágoa quando ele olhou para Aleto. Seu olhar encontrou-se com o dela, e ele não viu nada ali; só o vazio e a admiração, como se lhe tivessem arrancado o bom senso e colocado pura luxúria em seus olhos

_SEU FILHO DE UMA ÉGUA!_ xingou Malfoy, e, descontrolado, começou a bater novamente em Robert, que lhe batia de volta, os dois parecendo animais selvagens procurando mostrar à fêmea quem era mais digno de tê-la.

Naquele mesmo momento, Rose apareceu e apreciou chocada a cena que se desenrolava.  Olhando da porta, viu Scorpius partindo pra cima de Robert e parou, observando a cena deliciada.

_Vai ficar aí parada, Rose?_Albus parecia desesperado._Separe os dois! Você é monitora, separe-os!_

_Às vezes eu acho que você deveria ter ido pra Grifinória, Albus. Você tem um coração muito nobre._ respondeu ela, sem tirar os olhos da briga.

_Tá, depois a gente discute aonde o chapéu seletor errou, mas pelo amor de Merlin, separe esses dois!_

_E porque eu faria isso? Está tão divertido!_

Albus fuzilou-a com seus olhos verdes.

_Se a McGonagall ficar sabendo disso, e ficar sabendo que você não fez nada pra impedir, este distintivo._ele apontou pra insígnia de monitora no peito de Rose._Não será mais seu._

_Ok, ok, ok, OK! Você me convenceu._

Rose entrou decidida na sala comunal e todos os olhares se desviaram pra ela, curiosos. A Weasley analisou a briga por curtos minutos, pensando na melhor forma de agir...

_ALGUÉM PODE ME EXPLICAR QUE PALHAÇADA É ESSA?_nenhum dos dois parou._PAREM JÁ COM ISSO, PAREM JÁ!_novamente nenhum resultado.

Frustrada, Rose pegou sua varinha no bolso e apontou-a para os dois, mirando em qualquer um que fosse.

_Petrificus Totalus._sussurrou, baixinho, para não assustá-los. 

O feitiço acertou Scorpius, que imediatamente ficou parado e incapaz de se mover.

Robert fez que ia correr, mas Rose foi rápida.

_Você também mocinho. Petrificus Totalus!_ berrou, e o outro também caiu, imóvel.

_Como você ousa fazer isso com meu irmão..._Rose interrompeu Natasha com um movimento de mão, e a garota se calou, amuada.

_Algum de vocês pode me explicar que tipo de merda houve aqui?_

_Aleto agarrou Robert e Scorpius ficou furioso!_respondeu uma aluninha do primeiro ano, da qual não se lembrava o nome.

Aleto, com a menção de seu nome, pareceu acordar, seu olhar de repente vivaz e assustado. Rose, decididamente irritada e parecendo bastante selvagem, de aproximou dos dois, e Scorpius registrou que ela nunca estivera tão parecida com McGonagall.

_Ok. Malfoy, sem palavras pra você. E, Lewis, está vendo essa insígnia aqui?_ela apontou pro distintivo._Pois é. Isso foi a coisa mais absurda que já vi. Cinquenta pontos a menos da Sonserina por isso. Agora, se vocês estiverem a fim de parar de se comportar como dois canibais e ir pra McGonagall a fim de ganhar detenções, eu vou tirar esse feitiço. Que decepção, Robert, seu primeiro dia de aula e já tomando semanas de detenções? É o fim._

E, com um aceno displicente de varinha, exclamou:

_Finite encantatem._

Scorpius e Robert se sentaram.

_Ah, Rose, por favor, por favor, por favor, não me dê detenção, por favor..._ pediu Robert, abrindo seu melhor sorriso.

Rose não se abalou.

_É Weasley. Rose é para íntimos. Agora, vamos, vamos, vamos, tenho que levar vocês pra McGonagall e terminar meu trabalho de Herbologia. Eu não sei se você conhece o Professor Longbottom, Robert, mas ele não costuma ser bonzinho nos seus trabalhos. São 3 metros, retardados, 3 metros, e eu estou aqui perdendo tempo com dois meninos ridículos! Agora andem. Eu não sei se perceberam, mas eu não estou muito paciente hoje._

Os dois abaixaram a cabeça e começaram a caminhar.

_Ah, Aleto, você também. Estamos em horário de aula, e não me parece adequado agarrar alunos enquanto deveria estar estudando._um sorriso duro se desenhou nos lábios da Weasley._Esperasse mais algumas horas. Agora vai, anda!_

E, com a dignidade de uma líder, ela conduziu-os até a sala da professora Minerva.

_Weasley! Não me diga que houve mais uma briga entre vocês!_

_Na verdade, professora, não houve não. Eu apartei a briga entre o Sr. Lewis e o Sr. Malfoy, quando o primeiro beijava a Srta. Stebbins na sala comunal. Vou deixá-los a sós._

Rose saiu, com uma última visão do olhar chocado de McGonagall antes de fechar a porta. Deu de cara com Albus, que, pelo visto, ficara ali esperando até que ela saísse.

_Obrigada._disse ele, sorrindo.

_Pelo quê?_disse ela, surpresa, descendo as escadas, Albus no seu encalço.

_Sei como isso foi difícil pra você. Digo, salvar o Scorpius de se ferrar._

Ela deu uma risada meio amargurada.

_Fazer o quê. Os sonserinos não costumam ser muito nobres, Albus, e as exceções são muito chatas. Mas a gente impede? Eu adoro meu distintivo e não o perderia por nada._

Ele sorriu.

_E quando vão ser os testes para apanhador?_ perguntou ela.

_Bem, seriam hoje à tarde, mas não sei o Scorpius vai ser liberado à tempo... Mas, espere aí, você sempre foi um horror na vassoura, Rose._

_Não fale do que não sabe._retrucou ela, fria.

_Ah, desculpe... Mas ser apanhador nunca foi uma tarefa fácil. Meu pai diz que é bem difícil._

_Testes para apanhador?_a voz aguda de Natasha fluiu atrás deles, e Rose viu o queixo de Albus cair instantaneamente. _Com quem eu devo tratar..._

_Com Scorpius Malfoy._ respondeu Rose, desgostosa, vendo que Albus ainda não acordara do transe. _Ele é o capitão._

_Ah, ta._ a voz dela se tornou mais dura ao se direcionar à Rose. _Claro.  Estarei lá._

Rose deu de ombros ao ver Natasha ir embora, seus longos cabelos loiros esvoaçando pra trás na sua postura elegante. Depois que ela sumiu no corredor, a Weasley deu um belo tapa da na cabeça de Albus, que gemeu.

_Ai! Porque isso?_

_Pra você deixar de ser bocó._retrucou ela, sem sorrir._Vamos. Perdi o primeiro tempo de trato de criaturas mágicas, e você também.  Então vamos dar uma volta nos jardins!_

Foi uma hora muito divertida, os dois comentando o que tinham passado juntos nas férias de verão na Toca, junto com todos os tios e primos. Depois foram em direção ao almoço, e após uma excelente refeição, foram juntos para os testes de quadribol.

O campo estava anormalmente cheio, o que significava que Scorpius tinha sim sido liberado a tempo. Em seu rosto ainda tinham alguns hematomas, mas ele parecia bem, e decididamente mal-humorado.

_ARTILHEIROS À MINHA ESQUERDA! BATEDORES À MINHA DIREITA! DÁ PRA VOCÊS SAÍREM DAQUI, SEUS CORVINAIS DE MERDA? AQUI É O TESTE DA SONSERINA, MERDA, S-O-N-S-E-R-I-N-A!_

_Ops..._exclamou Albus._Tenho que ir, minha vaga de artilheiro me espera... Você vai ficar bem, não vai, Rose?_

_Mas é claro! Vá lá._

Albus saiu correndo e ela foi para as arquibancadas assistir. Ela viu Natasha do outro lado do estádio, seu ar de inabalável arrogância esbanjando algo mais: estava confiante de que a vaga, independente de quem fosse seu adversário, seria dela.

A verdade era que Rose era deplorável numa vassoura, e seu irmão, Hugo, também. Mas Harry, numa visita à Toca, observou a habilidade que Rose tinha de enxergar coisas pequenas e insignificantes, e isso lhe chamou a atenção.  Logo, enquanto Ginny, que já jogara como artilheira no Harpias de Holyhead, ensinava Albus na sua posição, ele começou a revezar entre ser auror e ensinar à sobrinha como voar e localizar o pomo de ouro.

Os treinamentos começaram já no ano anterior, e ela já tinha se tornado razoável. Como razoável não era suficiente, sempre que ela podia, fugia no meio da noite para treinar no campo de quadribol na escola. Ela não confiava que ia conseguir, mas sabia que ia tentar, com tudo o que podia.

_MUITO BEM CAMBADA, AGORA VAMOS COMEÇAR ISSO QUE EU ESTOU COM PRESSA. QUERO QUE SE DIVIDAM EM DUAS EQUIPES DE QUADRIBOL TRADICIONAIS E JOGUEM ENTRE SI. ANDEM, ANDEM, ANDEM, PAREM DE ENROLAR!_ berrou o Malfoy, acordando Rose de seus devaneios.

O teste foi horroroso, constatou Rose, quando finalmente os batedores e artilheiros já tinham sido escolhidos. Albus voltara ao time com um teste decididamente excelente, juntamente com Molly Weasley II, a prima dos dois que estava no quarto ano, e uma novata do segundo ano, Joanne Robins. Já para batedores foram escolhidos um colega de sala de Rose, John Gilbert e um garoto de peito largo e expressão dura do sétimo ano,  chamado Dominic Jackson.

Logo um Scorpius vermelho de raiva berrou novamente, sua voz falhando várias vezes durante a frase.

_PARA APANHADORES, EU QUERO OS APANHADORES, ANDA, PELO AMOR DE MERLIN, QUE FALTA DE COMPETENCIA, CADÊ OS MEUS APANHADORES?_

Ela suspirou e foi em direção ao meio do campo, ao mesmo tempo que Natasha fazia o mesmo. A meia-veela lhe lançou um olhar de solidariedade e pena, o qual ela fingiu não ver. Estava mais concentrada na reação de Malfoy, que a encarava incrédulo.

_Eu vou soltar o pomo de ouro e o jogo vai correr normalmente, como se fosse uma partida normal. Quem conseguir capturá-lo primeiro, ganha a vaga._

Natasha não esperou o final da explicação. Em cinco minutos estava pronta e montando em sua Nimbus 2022 e dando impulso.

_Você, Weasley, apanhadora? Eu devo ter me enganado quando ouvi Albus dizendo que você era deplorável em cima de uma vassoura... Vai ser bom ver você se ferrar em alguma coisa, senhora perfeição.  Devo montar meu acampamento pra ver os dias passarem e nada de pomo na sua mão?_

Seus punhos se fecharam, suas unhas enterradas nas palmas das mãos.

_Tsc, tsc, tsc... Não se pode bater em seu capitão, é expulsão na certa querida... Controle-se._

Ela sentiu a dor do corte, mas não ligou. Observou com atenção os movimentos de Natasha no céu, até que, depois de vinte e cinco minutos, ela agarrou o pomo.

_MUITO BOM, NATASHA, MUITO BOM. Agora, vamos ver o teste de Rose Weasley. PREPAREM-SE PRA RIR!_ avisou ele, pra alguns colegas, que deram risinhos desdenhosos.

Sentindo seu rosto quente de raiva, ela subiu na Firebolt que Harry lhe deu de presente e fechou os olhos. Ela tinha que vencer. Pra provar pra Scorpius que era ela capaz. Não era mais questão de eu posso tentar. Agora era vou vencer.

Sentindo-se mais calma, ela deu impulso. E que seja o que Merlin quiser, pensou ela.

Logo, Scorpius soltou o pomo, e o jogo recomeçou.  Rose começou a subir alguns metros, querendo ficar acima do jogo para procurar com mais facilidade. Mas não era fácil... Ela desviou três vezes de balaços rebatidos com particular força, costurando entre os jogadores e subindo alguns metros. Dominic passou zunindo por ela e quase lhe acertou o bastão na cabeça, o que ela desviou com bastante destreza.

Ela nunca se sentira tão à vontade em cima de uma vassoura do que naquele momento. Não estava preocupada com nada, os conselhos de Harry voltavam à sua cabeça, o principal, não se preocupe demais, só deixe o jogo rolar. Era o que ela estava fazendo, quando, de repente, ela viu um borrão alguns metros acima do chão.

Imediatamente, ela deu um mergulho praticamente vertical, e sentiu todos silenciarem. Era a única manobra que não conseguira completar nos seus treinamentos com o tio, e sentiu medo... Se caísse, estava tudo perdido... Soltou a mão da vassoura e estendeu-a pra frente, sentindo a bolinha fria segura em seus dedos. E, segurando a vassoura com força, deu uma guinada bastante violenta, subindo alguns metros e fazendo uma aterrissagem bem segura no chão.

Tudo explodiu. Ela viu os colegas sonserinos batendo palmas, Albus com uma expressão de orgulho, Malfoy com cara de quem comera algo azedo e Natasha com uma expressão de mortal desdém.

_ROSE, DEZ MINUTOS, DENTRO._ anunciou ele, sua voz decepcionada e triste.

Natasha se aproximou.

_Era pra essa vaga ser minha._ disse ela, calmamente.

_A vaga é de quem jogar melhor._

_O que você quer pra desistir dessa vaga?_

_Lewis, você vai me desculpar, mas nada vai pagar o esforço que eu tive pra chegar até aqui. Eu treinei, treinei, treinei e consegui. A vaga é minha._

_Você está insinuando que é melhor que eu?_ a voz de Natasha se tornara subitamente fria e ameaçadora.

_Não estou insinuando nada._disse Rose, excelente em ocultar sua raiva._ A vaga é minha. Eu peguei o pomo em menos tempo que você. Justo!_

_Sonserinos, pela lei, não deveriam ser justos._ retrucou Natasha, olhando pra ela com nojo e desdém.

Rose olhou pra ela, seu divertimento ficando muito claro no rosto sardento.

_Querida, para nós, qualquer justiça que nós faça ganhar é válida._replicou ela, sabiamente, dando-lhe as costas e andando pelo campo.

Jonathas veio correndo em sua direção, e chapou-lhe um beijo na boca na frente de todo mundo. Por mais feliz que estivesse com aquela demonstração de afeto público, Rose não pode deixar de se incomodar com o olhar penetrante que Natasha mandara para o casal.

E com a sensação de que algo ruim estava para acontecer.