Signatum escrita por MilaBravomila


Capítulo 37
Capítulo 36 - Um refúgio nas pedras


Notas iniciais do capítulo

Este cap jah estah escrito há dois dias, mas como eu estava longe do meu lepinho, só pude postar agora.
Dedico este cap aos três leitores que não me deixam desistir: Anjelus_mistery, JSousa e Julya Rafaela >> obrigada por me manterem viva!!!!



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O sol começava a raiar no horizonte. No fim do dia, o prazo dado por Lúcifer estaria esgotado e tudo poderia acontecer. Depois que Jules me expulsou do grupo de trabalho, eu saí puta da igreja e procurei logo a rodoviária para tomar um ônibus pra casa, mas desisti. Quem ele estava achando que era, afinal? O poder deve ter subido à cabeça dele, só podia. Jules não tinha o direito de fazer aquilo comigo depois de tudo o que enfrentei ao lado deles e, mesmo que tivesse... eu era teimosa o bastante para não obedecê-lo. Eu iria participar da batalha, ele concordando com isso ou não. Era uma escolha minha, apenas isso.

Então, com meu jeitinho persistente de sempre, depois que cheguei à rodoviária, eu apenas dei meia volta e segui na direção de um hotel que vi no caminho. Eu teria um dia para descansar e guardar forças para a batalha e era isso o que eu faria. Nada de ir pra casa chorando, nada de obedecer ao comando de Jules, afinal, era a minha raça que estava na berlinda, não a dele.

...

Atravessávamos os belos recantos do Paraíso tão velozmente que não dava para discernir as coisas. Miguel voava comigo em seus braços e a cada segundo meu tempo em casa estava se esgotando. Eu já não precisava pressionar o ferimento no ombro do Arcanjo, as propriedades de cura dele eram impressionantes, muito superiores às minhas quando eu era uma celestial.

Miguel foi reduzindo a velocidade e eu consegui finalmente perceber a mudança no ambiente. Os belos e vastos gramados que os guerreiros utilizavam para o treinamento foram substituídos por uma paisagem mais cinza e clara, com muitas pedras largas por onde os anjos caminhavam. Assim como os celestiais da área comum e diferente dos guerreiros, eles nos observavam com curiosidade e não se atreveram a enfrentar Miguel. Uma coisa que me chamou atenção de cara foi que a maioria dos anjos naquela região possuíam auréolas, característica marcante dos anjos da guarda.

- Estamos nos domínios do Arcanjo Uriel? – perguntei enquanto Miguel fazia uma curva aberta à esquerda e onde eu conseguia enxergar a ponta de uma grande construção, semelhante à morada dele.

- Sim. Eu não vou conseguir levar você até os domínios de Rafael. Sua casta fica em um ponto muito elevado e distante e isso tornaria sua estadia aqui muito mais sofrida. Vou deixa-la aos cuidados de Uriel enquanto vou até a morada de Rafael tentar contatar o Quinto Arcanjo.

- E... você acha que Uriel vai me receber em sua casa? Eu... não devia estar aqui.

- Uriel é o que compreende melhor os mortais. Ele se compadecerá e entenderá sua luta. – Miguel respondeu enquanto eu observava mais de perto a construção em estilo clássico e antigo.

Aterrissamos na entrada da casa de Uriel e Miguel me apoiava para que eu conseguisse me manter de pé. Então, vimos uma celestial muito pequena e bonita. Tinha os cabelos loiros e ralos, bastante comprido, e os olhos azuis da cor do céu. Ela estava com as mãos juntas na frente do corpo, como que rezando, e nos olhou com carinho.

- Meu senhor os aguarda. – ela disse suavemente, dando um passo para o lado e inclinando-se ligeiramente diante Miguel.

- Obrigado. – ele e eu dissemos em uníssono.

Adentramos a magnífica construção. Ela lembrava e muito a casa de Miguel. Tinha a mesma imponência e magnitude arquitetônica, mas as estátuas não representavam guerreiros lendários segurando espadas enormes, eram pessoas, humanos normais, como uma mãe carregando seu filho e um senhor de bengala. Era bonito.

Paramos a frente de uma figura no centro do salão principal, o Arcanjo Uriel. Eu jamais o tinha visto pessoalmente, aliás, muitos poucos o conheciam de fato. Rumores diziam que ele era tão próximo aos homens que os celestiais mal o avistavam, nem mesmo seus irmãos Arcanjos.

- Uriel. – a voz de Miguel saiu baixa e continha muita admiração e respeito. Era visível que estava feliz ao rever o irmão.

Uriel estava sentado numa enorme área de meditação repleta de tecidos brancos e almofadas. Ele sorriu e se pôs de pé. Era alto, da altura de Miguel e tinha um corpo esbelto, embora não tão forte. Vestia uma espécie de bata longa em tecido cru que deixava seus braços de fora. A tez morena ressaltava os olhos dourados, não era negro e nem branco. Uriel parecia ser a mistura perfeita entre todas as raças. O cabelo liso, negro e pesado, caía em um rabo de cavalo sobre as costas a alcançava-lhe a cintura, brilhando de tão escuro. Era belíssimo.

Seus olhos dourado e benevolentes recaíram sobre mim.

- Jamais terei palavras para agradecer por seu sacrifício aos homens. Nunca imaginei que entre nós existisse ser de amor tão puro quanto o seu, e de tanta coragem.

Suas palavras me fizeram tremer por dentro. Sorri, sentindo-me ruborizar e Miguel apertou sutilmente minha mão.

- Precisamos de ajuda, meu irmão. – Miguel falou diretamente, ainda em tom agradável e respeitador.

- Vá fazer o que seu coração ordena, meu irmão. Melanie estará em segurança até que retorne. – Uriel respondeu olhando diretamente para o outro.

- Muito celestiais estão atrás dela, Uriel. Não sei se eles viriam até aqui procura-la, mas meus guerreiros não desistirão, enfrentarão até mesmo a você.

- Eu sei meu irmão, seus guerreiros têm um líder invejável, sei que morrerão para cumprir sua missão. Mas não se preocupe, posso não ser tão bem treinado, mas ainda tenho meus truques caso eles venham a aparecer.

Uriel sorriu sutilmente e Miguel correspondeu. Eu senti o coração acelerar. Era tão profundo o amor e o respeito que tinham um pelo outro que me tocou.

Miguel me ajudou na caminhar para frente até Uriel sustentar meu peso e me ajudar a ficar de pé. Eu estava trocando de guardião. O Arcanjo sustentou-me ao seu lado como Miguel fizera.

- Obrigada. – agradeci, apoiando-me nele.

Miguel me olhava preocupado. Por mais que confiasse em Uriel, eu sabia que ele queria me proteger pessoalmente. No fundo, eu me senti segura, mas não estava completamente tranquila. Miguel era o único que conseguia isso comigo. Somente nos braços dele, eu estava completamente a salvo.

- Deixo minha vida em suas mãos, Uriel.

- Cuidarei como se fosse a minha própria.

Miguel olhou satisfeito e agradecido para o irmão de depois para mim. Com o dedo, acariciou suavemente minha bochecha, como sempre fazia, e sumiu. Imediatamente, senti o vazio de sua ausência.

- Prefere sentar-se? – Uriel me perguntou com um sorriso nos lábios.

- Por favor. – aceitei.

Ele me posicionou no lugar em que estava e eu achei que aquilo era desnecessário, já era demais. Então Uriel se pôs de frente pra mim e estendeu as mãos.

- Posso aliviar seu sofrimento aqui. – ele disse e imediatamente eu segurei suas mãos com as minhas, fazendo um pequeno esforço pelo peso de meus braços.

No momento em que segurei as mãos de Uriel, senti algo percorrer meu corpo, como eletricidade, como uma energia intensa e poderosa. Ele me encarou e sorriu, fechando os olhos para se concentrar. Eu estava ofegante com aquilo, com o que senti. Nunca em minha vida tinha sentido um poder daquele.

- Hum... Rafael tem sorte... – ele disse ainda de olhos fechados – Você é uma curandeira nata. Tem muita força espiritual também.

- Er... obrigada. – eu disse, ainda atordoada pela energia que me percorreu.

- Miguel, por mais que queira, não pode transferir sua energia a você aqui, apenas no plano terrestre, mas eu posso, assim como seu líder, Rafael. Nós controlamos o espírito, enquanto Gabriel e Miguel controlam o corpo. – Uriel explicou tranquilo.

- E Lúcifer, o que ele controlava?

Minha pergunta saiu mais depressa do que eu consegui processar. Arrependi-me no mesmo instante que a fizera. Uriel, entretanto, já parecia não se espantar com nada, ele parecia já saber de tudo, era assustador. Mantendo os olhos fechado e a expressão tranquila, ele me disse:

- A mente.

Minha enxurrada de perguntas e observações impensadas continuou:

- Me parece um pouco injusto isso. – falei meio sem jeito, ainda observando as feições perfeitas e serenas de Uriel. Olhando-o assim, eu via claras semelhanças com Rafael no sentido da paz que transmitiam.

- Injusto? Como assim? – ele questionou, abrindo, finalmente, os olhos dourados.

- Bom... é como se vocês estivessem em equilíbrio, como se... Miguel e Gabriel fossem o oposto do que você e Rafael representam. Lúcifer era único, não tinha um contra ponto.

- Você está certa em um ponto, nós quatro somos mesmo opostos um ao outro e no equilibramos em certo aspecto... mas Lúcifer tem um contra ponto também; é ele mesmo.

Suspirei. Miguel tinha me dito que o Senhor tinha dado outro dom à Lúcifer além da Mente Superior... talvez, aquele fosse o contra ponto. Lúcifer era seu próprio equilíbrio.

- Ao contrário do que você pensa, ele ainda está em equilíbrio.

Encarei o dono dos misteriosos olhos dourados. Ele voltou a fechar os olhos e se concentrar. Seu tom comigo não havia sido de repreensão, mas de esclarecimento. Mesmo que eu não tivesse entendido muito bem o conteúdo de suas palavras, ele tinha me explicado tudo.

Comecei a sentir um calor na ponta dos dedos da mão, onde Uriel tocava. Era sua energia, quente e tranquila, fluindo até mim. O poder que senti antes voltou com força total. Era como se eu tivesse caindo em um mundo de energia pura. O amor que senti dele para com os homens era tão grande que não havia fim. Esse amor me preencheu por completo, me deixou leve, livre.

Ofegante, encarei Uriel, que sorriu pra mim de volta. Meu corpo já não pesava mais centenas de quilos.

- Obrigada. – eu disse.

Antes que ele pudesse responder, senti o deslocamento de ar. Uriel estava de pé e a celestial loira que me recebeu estava ao nosso lado. Sua pele clara estava ainda mais pálida. Parecia nervosa.

- Guerreiros. Estão vasculhando tudo a procura da mortal. – ela disse nervosa, olhando para baixo, sem encarar seu mestre.

Levantei rapidamente. Não queria que Uriel enfrentasse o mesmo que Miguel. Céus!

- Uriel, eu...

- Fique aqui e não se preocupe – ele me cortou – fiz uma promessa a meu irmão e irei cumpri-la.

Então observei seu longo cabelo fazer um gracejo no ar quando Uriel se virou e começou a caminhar para a entrada do palácio, onde deviam estar os guerreiros prontos para me expulsar de casa.

...

Confiando a Uriel minha vida, parti em disparada até o ponto mais alto do Paraíso, onde habitava Rafael. Os anjos nem me viam passar, tamanha minha velocidade. Na mão esquerda, apertava firmemente o fragmento da Gladius do Quinto Arcanjo.

Levou algum tempo até que eu percorresse toda a distância, mas logo comecei a perceber a mudança no ambiente. O lar de Rafael era cercado de água e muitas árvores antigas, e o cheiro era como de uma floresta úmida. Senti meu corpo mais leve apenas por estar em seus domínios.

Sua morada estava no topo de uma montanha distante, onde apenas o som das águas das cachoeiras era ouvido. Entrei rapidamente e corri por entre os cômodos alcançando o lugar que meu irmão usava para meditar. Aqui era o único templo no qual eu conseguiria a energia necessária para contatar o Espírito Santo sozinho. Infelizmente pra mim, minha afinidade com a força física me mantinha um pouco afastado do plano espiritual superior, onde apenas Uriel e Rafael tinham acesso facilitado.

Para conseguir ajuda de meu irmão eu teria de superar minhas limitações, teria de elevar meu espírito como os deles.

Atrás da morada de Rafael havia um pequeno lago. A água era corrente, apesar de ser um espaço delimitado, e a correnteza misteriosa seguia em todas as direções, suavemente calma e translúcida. Sobre um tronco de carvalho antigo, deixei todas as minhas roupas e segurava apenas o fragmento da Gladius de meu irmão que um dia foi intacta.

A água estava gelada e quente, não saberia explicar a sensação. Fui adentrando o pequeno lago de água transparente, ouvindo o silêncio profundo. Caminhei lentamente e quanto mais eu me aproximava do centro, mais fundo ficava. Quando apenas minha cabeça restava na superfície, respirei fundo e dei um passo a frente. Caminhei até o centro do lago, submerso, até que parei. Havia muitos metros de água acima de mim e tudo o que eu enxergava era a claridade trêmula da superfície, lá no alto.

Meu corpo estava leve, como nunca antes. Apertei o pequeno pedaço de metal sagrado na mão e deixei minha mente esvaziar. Orei, rogando ao Pai pela chance de salvar Melanie. Eu sabia que não estava fazendo o que devia, sabia que tinha transgredido inúmeras regras trazendo-a aqui, sabia que, por mais que amasse meus irmãos e aos homens, ela tinha se tornado minha prioridade e eu nem tinha me esforçado para que isso não acontecesse. Simplesmente, quando percebi que a amava, tudo deixou de ser como antes.

Nem sei quanto tempo permaneci ali, parado, refletindo sobre meus atos e suas consequências, o ar em meus pulmões já tinha se esgotado, minha consciência me deixava aos poucos. Foi então que o vi. Uma luz branca surgiu no fundo do lago, a minha frente, e foi se aproximando lentamente. Seu rosto era a paz personificada, todo ele era luz. Finalmente eu tinha conseguido, estava diante de meu irmão, o Quinto Arcanjo, o Espírito Santo.


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Notas finais do capítulo

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