2000 Miles Away. escrita por biamcr_


Capítulo 5
Esconderijos.


Notas iniciais do capítulo

Volteeeeeeeeeeeeeeei!!! Depois de tanto tempo sem aparecer, finalmente voltei com o capítulo que tava há mais de um mês escrito no meu caderno, hehe. E já to louca pra escrever o final, pena que falta mais alguns capítulos até lá.



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No outro dia, foi tudo bem confuso. Passei a tarde toda pensando sobre as coisas que Gerard havia me falado.

Na primeira vez que o vi – que havia sido na mesma noite em que ele me arrastou para um cemitério com uma cara de maníaco, ele parecia bem um adolescente idiota e revoltado sem causa. Assim como as pessoas diziam que eu parecia. Mas eu sabia que, no fundo, Gerard não era assim. Ele era diferente de todas as pessoas que eu conhecia. Ele era interessante.

Gerard havia tido uma vida difícil, cheia de problemas e vícios. Mas eu não era assim, meu único problema era o fato de que os meus pais queriam que eu estudasse em uma escola boa e não ficasse viajando por aí com eles. Vendo por esse lado, eu poderia, sim, ser apenas um adolescente mimado e revoltadinho.

Constantemente eu me sentia culpado por parecer assim, ou até por ser um pouco egoísta... Mas eu sabia que as pessoas nunca me entendiam e continuariam me chamando da porra toda que me chamavam. Mas, na maioria das vezes, eu estava totalmente bem com isso. Não que eu fizesse de tudo pra continuar sendo “estranho”, mas eu conseguiria viver assim para sempre.

Eu estava fugindo totalmente do assunto, já que, afinal, Gerard era a coisa a ser analisada. Mas, talvez, eu ainda tivesse muita coisa pra repensar sobre a minha própria vida. Aliás, eu sempre tenho. O fato é que eu sempre fui meio influenciado, afetado, pelas coisas. Nem sempre por pessoas dizem “Faça isso, não aquilo”, mas por acontecimentos. Todos os problemas, que até pareciam pequenos – só pareciam, me fizeram mudar e não apenas aprender com eles, como deveria ser. Gerard, de algum jeito, parecia não se importar com nada – parecia uma daquelas pessoas velhas que vivam na cidade e já tinham vivido toda sua adolescência.

Eu gostaria de ser um pouco como ele, confesso.

Ouvi uma música tocar ao fundo, tirando-me de meus pensamentos. Meu celular tocava incessantemente.

– Alô? – Atendi, desconfiado, ao visualizar o número desconhecido no visor do aparelho.

– Iero, está ocupado? Podemos sair? Estou entediado e não gosto disso.

– Claro, desde que a gente não vá a outro cemitério. – Brinquei, sentindo que estava abusando da pouca sorte que tinha.

– Então passarei aí para te buscar, criança. Vista-se e me espere ao portão. – Disse Gerard, normalmente mal-humorado, desligando a ligação logo após.

É estranho, não? Dizem que quanto mais você pensa em algo ou alguém, maiores serão as chances de atrair essa coisa – ou pessoa, até você... Parece que dá certo mesmo.

Vesti-me e saí para esperá-lo. Não pude deixar de perceber como o céu encontrava-se azul e limpo naquele dia. As poucas nuvens que deixavam-se ser vistas aqui de baixo formavam pequenas listas brancas no céu, tornando-o totalmente perfeito ao ver de qualquer um. Um sol quente cismava em deixar seus pequenos raios incomodarem minha visão.

Gerard não tardou a chegar, no mesmo carro da outra noite, e igualmente vestido todo de preto com maquiagem pesada. Mais uma vez, Gerard – com a sua maquiagem pesada; roupas pretas e cara de maníaco – não se encaixava no ambiente, que era um dia relativamente bom, com céu azul e crianças correndo pela rua.

– Aonde vamos hoje, Gerard? – Perguntei, curioso, imaginando que invadiríamos algum necrotério ou coisa do tipo.

– Ao parque. – Respondeu simplesmente. Ele, ao perceber meu desapontamento, misturado com alívio, continuou: – O que esperava? Que roubássemos alguém, usássemos drogas pesadas ou realizássemos um culto a Satã? – Completou, com um ar de quem mais afirma do que pergunta, misturado com um tom de deboche.

– Sinceramente, sim. Depois daquela coisa toda de cemitério, eu esperei mais de você.

Ele não disse mais nada, talvez porque havíamos chegado ao nosso destino: o parque em que Gerard tentara, em vão, freqüentar para fazer seus desenhos.

– O fato, pequeno Iero, é que esse lugar é incrível. – Olhei-o surpreso nessa hora porque, vamos admitir, Gerard Way não faz o tipo que adora ir aos parques para admirar as crianças correndo. Ele, ao perceber meu olhar, continuou: – Você não percebe? Olhe à sua volta, Frank. O que você vê?

Ao ouvir isso, eu o fiz. Olhei à minha volta. Só o que eu via era crianças correndo, brinquedos coloridos e pais preocupados. Nada de incrível. Olhei-o como quem algo tipo “Você está louco ou simplesmente quer tirar uma com a minha cara, amigo?”.

– Realmente, você não o vê. Achei que você fosse diferente, Frank, achei que conseguiria ver o toque mágico desse lugar. – E olhou-me, com um falso desapontamento, mas ainda com o ar de deboche visível em seus olhos.

Eu nunca fui uma vítima considerável de chantagem emocional, mas devo admitir que Gerard conseguia fazer-me considerar a idéia de que, talvez, eu fosse mesmo um merda que não sabia de nada. É incrível o que as pessoas conseguem fazer só com um olhar.

– O fato, criança – Continuou ele, olhando ao redor e dando um quase sorriso. – é que esse lugar, para essas crianças, é sagrado. Não lembra-se da sua própria infância? Você podia estar chateado por não ter conseguido ganhar o brinquedo que queria, ou por ter perdido no pique - esconde... Mas, quando chegava a um parque, cheio de brinquedos e crianças, sentia-se melhor... Não?

Eu estava louco para dizer que não, que nisso ele estava errado. Eu estava louco para provar a ele que ele não sabia de tudo. Mas não era possível, pois ele estava certo... De novo.

– Agora, olhe para mim. Diga-me o que você vê.

Olhei. Eu vi um cara totalmente bagunçado e cheio de problemas, que adorava complicar coisas simples para confundir a minha mente. Respondi exatamente o que eu estava pensando, vendo-o dar um leve sorriso.

– Então, diga-me o que eu e essas crianças temos em comum. – Olhei para ele com um olhar de “pare com esse maldito jogo!”, que ele logo percebeu, mas continuou a falar: – É simples, Frank. As crianças, por maior que sejam seus problemas, sentem-se bem quando estão aqui. Elas esquecem dos problemas e só se preocupam em brincar. É a mesma coisa que as pessoas, incluindo eu, fazem quando bebem. Eu vou ao cemitério para desenhar e beber, elas vão ao parque para brincar e sorrir. Entende agora?

Entender, eu entendi. O problema é que eu não sabia aonde ele queria chegar com esse papo todo.

– E daí? – Perguntei.

– E daí que eu quis ver se você entendia o que eu penso. E também achei que você ficou confuso sobre o motivo de eu me esconder num cemitério para desenhar. Mas é incrível, não? É incrível como as pessoas, desde pequenas, conseguem encontrar esconderijo nas coisas. E também é incrível que há tantos modos de fazê-lo. – Ele continuou falando, enquanto sentava-se ao meu lado, debaixo de uma árvore – Qual seu esconderijo, Frank?

Perdi a linha dos meus pensamentos ao ouvir a pergunta. Gerard me olhava como quem esperava algo, jurando que eu haveria uma resposta complexa e todas as outras coisas que as frases que ele acabara de pronunciar eram.

Pensei durante alguns segundos, talvez até minutos. Bom... Eu bebia quando estava puto com o mundo. Mas apenas isso. Eu não sabia desenhar e não sabia tocar a guitarra que meus pais me presentearam no último aniversário. Eu não gostava de ir a parques infantis e, porra, eu não tinha nenhum dom para me dedicar e esquecer dos problemas. A única coisa que eu sabia fazer era pensar e dormir.

 – Bom... Meus pensamentos sempre me tiraram do mundo real. – Comecei, achando que não estava falando tão bonito quanto ele, e que meu esconderijo não era tão bom quanto os que ele citou. – Perder-me em pensamentos já se tornou tão normal quanto respirar. O pensamento sempre foi uma grande válvula de escape usada por mim, quando quero fugir dos problemas. Sabe, eu só fecho os olhos e imagino. Imagino coisas estranhas e bizarras, mas melhores que os problemas.

Gerard sorriu satisfeito. Talvez eu tivesse conseguido, afinal.

– Muito bom, Iero. Pena que esse tipo de coisa não funciona comigo. Não tenho o controle dos meus pensamentos, então não faz mal dar um pouco de álcool pra eles morrerem por um tempo.

Gerard era contraditório. Eu quero dizer, ele era estranho e só falava coisas que não faziam sentido se você não as analisasse. E ele me fazia pensar sobre o quanto eu era errado. Eu sempre achei que o meu modo de ver o mundo era o correto, mas então ele chegou e me mostrou coisas erradas que deveriam ser corrigidas. E essas coisas pareciam tão óbvias ao serem ditas por ele...

Mal conhecia uma pessoa e ela já estava me deixando louco. Mas Gerard era esse tipo de pessoa, aparentemente. Aquele tipo de pessoa que é inteligente pra caralho, mas decide deixar isso pra si mesmo e pros amigos próximos. Aquele tipo de pessoa que tem uma grande vocação pra ser um gênio do mal e essa porra toda, mas ele preferia apenas afogar tudo isso numa garrafa de Vodka. E ele também tinha o dom de confundir as pessoas com todas as palavras que ele dizia. Mas isso era bom, ele me entendia em certos aspectos.

Talvez essa amizade tivesse futuro, afinal.


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Notas finais do capítulo

Apenas um aviso: eu baseava meus personagens em mim mesma (Frank era exatamente como eu, e Gerard era meu lado mais ~sombrio) então, se meus personagens ficarem diferentes, culpem minha psicóloga que me lotou de remédio e me fez mudar à força u_u



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