Shadow Kiss por Dimitri Belikov escrita por shadowangel


Capítulo 7
Capítulo 7


Notas iniciais do capítulo

Pessoal, fiquem atentos, tem uma parte de Blood Promise aí... espero que gostem! bjs



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Ver Rose tão fragilizada assim era algo raro. Ela raramente demonstrava sentimentos tristes,  sempre fazendo questão de passar a imagem de uma pessoa muito forte. Isso era o que me deixava mais preocupado.

“Eu não tenho medo” ela falou em meio ao choro “eu tenho os meus motivos e, acredite em mim, o que aconteceu com Stan não foi nada. Verdade. Tudo isso foi só algo estúpido, que teve suas proporções aumentadas. Não sinta pena de mim ou que você tem que fazer alguma coisa. O que aconteceu foi uma droga, mas eu vou superar e aceitar a marca negra. Eu posso cuidar de tudo. Eu posso cuidar de mim mesma.”

Eu olhei para Rose, tentando assimilar a que ponto tudo aquilo tinha chegado. Ela negava veementemente que estava escondendo algo mais sério, mas eu podia ver claramente. Ela estava sendo afetada por aquele problema. Ao que me parecia, ela não confiava em mim. O que ela pensava? Que eu a deixaria sozinha? Eu nunca a deixaria enfrentar qualquer coisa que fosse sozinha. Eu sempre estaria ali, como foi hoje na reunião do comitê dos guardiões, como eu estive tantas outras vezes.

Mas, estando com ela ali, chorando na minha frente, tudo que eu queria era poder confortá-la, eu ainda estava segurando o seu ombro, então eu apertei mais forte, controlando a vontade de puxá-la para um abraço. Ela tinha que entender que tinha o meu apoio incondicional.

“Você não tem que fazer isso sozinha” eu realmente queria ajudá-la. De qualquer forma que fosse. Eu pude perceber que ela estava dando muito de si para parecer forte.

“Você diz isso... mas diga a verdade. Você sai correndo procurando por ajuda, quando você tem problemas?”

Ela estava se comparando a mim? Neste ponto, éramos muito diferentes. Rose tinha pessoas que estavam realmente dispostas a muita coisa para ajudá-la. Diferente de mim. Eu tive que aprender a viver sozinho desde muito jovem.

“Não é a mesma coisa-“

“Responda a pergunta, camarada.” Rose falou me cortando, usando o ‘simpático’ apelido. Eu detestava quando ela me chamava de camarada.

“Não me chame assim.”

“Então, não evite a pergunta.”

“Não. Eu procuro lidar com os meus problemas sozinho” falei, sem rodeios.

“Vê?” ela falou, saindo do alcance das minhas mãos.

“Mas você tem muitas pessoas na sua vida em quem pode confiar. Isso faz tudo ser diferente.”

Eu me arrependi daquelas palavras no momento que elas saíram. Eu tinha falado demais, praticamente admitindo que eu não tinha pessoas em quem confiar. E eu realmente não tinha. Quando eu briguei com o meu pai, quando tinha treze anos, foi um ponto na minha vida que decidiu tudo. Ali eu decidi que não faria parte de uma comunidade dhampir e que não deixaria que as escolhas da minha família se refletissem na minha vida. Eu não concordava com as escolhas das mulheres da minha família, para ser honesto, por isso, me afastei delas e há um longo tempo não as vejo. Eu sinto falta de casa, mas já tinha decidido me afastar. Isso me deixou ainda mais isolado do mundo. Quando saí de Baía, para não mais voltar, não deixei somente família. Deixei amigos e toda a minha história para trás. Minha obstinação em ser um guardião se tornou todo o meu foco.

Hoje eu reconhecia que isso trouxe conseqüências para mim. Eu não conseguia ter uma vida social, construir e manter amizades. Eu vivia em um mundo só meu e não dava espaço para que alguém fizesse parte dele, me contentando em viver sozinho. Sozinho de verdade. Tudo mudou um pouco quando Rose surgiu na minha vida. Ela conseguiu tirar um pouco daquela solidão na qual eu vivia.

Ela ficou me estudando por alguns minutos, realmente entendendo o que eu tinha dito. Aquele olhar era um que dizia que ela estava vasculhando a minha alma. Era assustador como ela podia me conhecer tão bem.

“Você confia em mim?” ela me perguntou seriamente.

Eu hesitei por breves segundos. Eu cofiava nela. Ela era uma das poucas pessoas no mundo em quem eu confiava plenamente.

“Sim” respondi baixo.

“Então confie em mim agora. E não se preocupe comigo. Pelo menos desta vez” ela falou se afastando de mim.

Com estas palavras, ela saiu da sala e eu não a impedi, apesar de sentir que ainda tínhamos muito que conversar. A sala ficou vazia sem a presença dela e eu fiquei ali refletindo sobre a minha própria vida. Eu queria a ajudar de alguma maneira, mas novamente não sabia como.

Saí da sala e fui para o meu quarto, no dormitório dos guardiões. Eu tinha passado a noite em claro, de plantão e o dia hoje tinha sido bastante puxado. Eu sentia que precisava descansar, mas eu não consegui dormir. Então, peguei um dos meus livros de velho oeste e fiquei lendo, tentado afastar os pensamento da conversa que tive com Rose, na esperança do sono chegar logo.

******

Os dias seguintes correram dentro da normalidade. A prática de campo funcionava como planejado, eu me revezava entre os treinamentos com Rose, meus turnos de guarda e minhas participações nos ataques e avaliações dos alunos. Raramente um deles conseguia me vencer, mas isso não me impedia de levar alguns golpes.

Rose parecia bastante conformada por ficar com Christian e seu comportamento estava sendo exemplar. Vez por outra, eu lia os relatórios dos outros guardiões sobre os seus testes e sempre eram muito bons, inclusive do próprio Stan que elogiava mas com ressalva dela buscar se gloriar em uma participação dela em um ataque. Não conversamos mais sobre o que ocorreu no seu primeiro teste, mas eu fiquei bem atento às atitudes dela.

*Certo dia, quando cheguei para o treino da tarde, Rose me olhou com surpresa.

“Você não percebeu que está sangrando até a morte?” ela exclamou e eu toquei, intuitivamente, no lugar onde eu sentia um pouco de dor. Eu realmente não percebi que tinha cortado a minha bochecha em uma luta que tive antes de vir para o ginásio.

“Eu não exageraria tanto. Não é nada.” Falei, sem me importar de fato com aquilo.

“Não será nada até você ter uma infecção”

Era um exagero dela, um excesso de cuidado até. Algo com o qual eu não estava acostumado. Nós dhampirs não tínhamos o organismo tão frágil assim. Nós podíamos suportar mais do que isso.

“Anda!” ela falou, autoritariamente, apontando para o banheiro do ginásio. Eu não ousei desobedecer e segui até lá com ela.

“Rose, realmente não precisa desse cuidado todo. Você está exagerando. Depois do treino, eu lavarei o rosto durante o banho e amanhã já estará praticamente cicatrizado” falei protestando, mas ela não me deu ouvidos, antes pegou uma caixa de primeiros socorros, tirou um pouco de algodão e começou a limpar delicadamente o meu corte. Sentindo que ela não desistiria, fiquei quieto, tentando não pensar o quão próximos estávamos. O aroma que vinha dos seus cabelos, a respiração dela perto de mim, tudo contribuía para acender novamente o desejo que eu sentia por ela. Estes últimos tempos nós não tivemos recaídas amorosas, mas andávamos em uma pequena linha, prestes a ceder a qualquer momento.

 Seus olhos me observavam atentamente, com a expressão tranqüila, e eu reuni todo autocontrole que pude para não me deixar levar por aquele olhar. Ela continuou limpando o corte e quando tocou nos meus cabelos, para afastá-los do meu rosto, senti meu corpo todo responder aquele toque de forma muito perigosa. Então, em um gesto rápido, puxei meu rosto para trás, me afastando dela. Sabendo que eu não resistiria a tanta proximidade por muito tempo, segurei a sua mão bruscamente.

“Chega” minha voz quase sem forças, denunciando o que eu estava sentindo “Eu estou bem” falei relutante, sem conseguir soltar a mão dela. Era muito difícil resistir a tanta paixão que percorria dentro de mim. Eu passava noites e mais noites em claro lutando contra este sentimento e geralmente achava que estava fazendo um bom trabalho, mas sempre era assim. Bastava um toque dela para eu saber que eu já tinha sido vencido por este sentimento.

A expressão de Rose mostrava que ela estava sentindo o mesmo, mas ela já tinha entendido que não podíamos ficar juntos.

“Tem certeza?” ela perguntou, também com a voz trêmula.

“Sim” falei suavemente, sentindo um imenso carinho por ela “obrigado, Roza”.

Eu soltei a sua mão e nós saímos apressadamente dali. Prosseguimos o treino em silêncio e quando terminou, cada um de nós seguimos os nossos caminhos. A sensação do toque dela ficou comigo por toda a noite. Não consegui dormir, toda vez que eu fechava meus olhos, a imagem dela voltava para minha mente. Foi uma longa noite.


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Notas finais do capítulo

*Gente, essa parte não pertece a Shadow Kiss. Ela foi narrada como uma lembrança de Rose em Blood Promise. Mas como se refere a esta época, achei que poderia colocar aqui.