Devorar-te-ei: Memórias póstumas de um amor escrita por Nayou Hoshino


Capítulo 6
Não me obrigue a te amar... E isso é uma ordem!




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— A senhorita quer que eu prepare seu banho? — Sebastian perguntou, pegando meu casaco e fechando a porta da mansão.

— Não precisa. Já pedi para Marye fazer isso... — respondi, apressando-me para subir as escadas. — Não precisarei mais de você hoje, está liberado.

Subi as escadas e fui direto para meu quarto. Sentei-me em minha cama e comecei a me despir, assim que tirei minhas luvas pude ver pequenas manchas em torno de meus pulsos. Não pude evitar de me lembrar do momento, um tanto quanto estranho, no qual os lábios de Sebastian tocaram os meus... A sensação maravilhosa... Toda aquela ternura...

Levantei-me e sacudi a cabeça espantando todas essas memórias para longe. Terminei de tirar a minha roupa e fui para o banheiro, logo afundando todo o meu corpo na água quente da banheira.

Continuei ali por um bom tempo, até que senti minhas mãos começarem a enrugar. Levantei-me e peguei meu roupão, enrolando-me nele. Estava prestes a abrir a porta do banheiro quando Sebastian o fez, sorrindo ao ver meu rosto corar bruscamente.

— O que é que você quer?! — eu abaixei a cabeça, tentando me controlar enquanto apertava o roupão até o pescoço, privando Sebastian de qualquer "vista privilegiada" que pudesse ter.

— É o conde Tokudaiji. Ele acabou de chegar carregado por dois de seus empregados. Está muito ferido. — ele começou, logo dando um passo para trás para que eu pudesse sair do banheiro e me sentar na cama.

— Tem certeza que é ele? Nós acabamos de sair da mansão... Estava tudo bem até agora há pouco, certo? — perguntei enquanto pegava minha roupa de dormir.

— Pouco depois que saímos ele foi atacado por um grupo de SM. Aparentemente, poucos sobreviveram e alguns ainda estão desaparecidos...

Senti um arrepio percorrer minha espinha. Meu primo, meu noivo e, aparentemente, meu amor de infância estavam naquele baile. Até agora apenas meu noivo tinha chegado... Será que algo tinha acontecido aos outros?!

Como que lendo meus pensamentos Sebastian soltou um longo suspiro e continuou.

— Não se preocupe. Seu primo e a noiva dele estão bem, saíram do baile logo após a senhorita. E... Aquele garoto que dançou com my lady também está bem, só um pouco traumatizado...

— Entendo... Amanhã logo pela manhã resolveremos este caso. Por agora só quero descansar um pouco. — resmunguei, começando a me vestir de costas para Sebastian.

— E quanto ao conde?

— Assim que cuidar de seus ferimentos, leve-o para um quarto e dê-lhe algo para beber. Eu irei falar com ele amanhã...

— Amanhã? — Sebastian ergueu uma das sobrancelhas, aparentemente sem entender o que eu quis dizer.

— Ele deve estar cansado, nesse estado não vai conseguir nos dizer o que aconteceu. Deixe-o dormir um pouco.

— Como quiser, my lady...

Assim que Sebastian saiu do quarto, joguei-me na cama e respirei fundo. Foi difícil agir normalmente perto dele, fingir que o beijo não acontecera e que eu não estava nervosa, nem pirando de tão confusa.

Tão logo me acalmei um pouco, levantei e peguei minha roupa de dormir. Não demorei muito para me vestir, sentia meu corpo pesado, cansado... Abotoei os últimos botões de minha camisola e me deitei. Fiquei pensando em tudo o que tinha acontecido, resolvi esquecer o beijo e agir normalmente, afinal, tinha coisas mais importantes com o que me preocupar.

Fechei os olhos e tentei dormir, inexplicavelmente o cheiro de Sebastian estava impregnado em meus lençóis e, quanto mais eu me mexia, mais o cheiro se espalhava... Ele estava jogando um jogo comigo, essa era a única explicação plausível para o que estava acontecendo.

— Sebastian! — gritei, vendo meu mordomo aparecer poucos segundos depois.

— Sim, my lady?

— Não sei o que você planeja com isso, — disse séria, indicando os lençóis — Mas quero que pare agora! E isso é uma ordem ouviu bem?! Você não acha que tenho muito mais coisas com as quais me preocupar?!

— Perdão, my lady... Mas... não compreendo... — ele realmente parecia confuso... Mas eu não estava disposta a cair no jogo dele.

— Você está jogando comigo Sebastian?! Está tentando me enlouquecer, fazendo-me pensar em você a todo instante? Me lembrar do beijo e tudo o mais...? — indaguei, atropelando as palavras.

Sebastian ficou sério por mais alguns segundos e logo em seguida sorriu, se aproximando cada vez mais de mim — que a essa altura do campeonato já estava de pé a poucos metros da minha cama. Eu fui dando pequenos passos para trás, até que pude sentir a cama atrás de mim.

Me desequilibrei e caí deitada na cama, Sebastian debruçou-se sobre mim, aproximando nossos rostos.

— Eu não estou fazendo nada, my lady... Tudo isso é coisa da sua cabeça, seus sentimentos... — ele aproximou os lábios do meu ouvido, sussurrando — Você está pensando demais em mim, digo, em nós.

Eu fiquei em silêncio por alguns segundos, apreciando o hálito quente dele em meu pescoço... o ritmo de nossas respirações quase se sincronizando...

Logo eu voltei a mim e o empurrei bruscamente.

— Esqueça o que eu disse. — eu virei para o lado, ainda deitada, dando as costas à ele. — Pode sair.

— Sim, my lady... Como preferir... — ele disse, enquanto caminhava até a porta.

Eu fechei meus olhos. Só queria dormir logo e esquecer tudo o que tinha acontecido hoje... Antes do quarto escurecer completamente, pude ouvir Sebastian dizer, quase que sussurrando:

— Boa noite, my lady...

Eu apenas me encolhi mais ainda sobre meu lençol e respondi num tom ainda mais baixo:

— Boa noite...Sebastian...

Naquela noite, dormi logo. Porém não sonhei com nada... Apenas com um eterno paraíso negro, onde não havia cor ou som para me orientar.

Começo a desconfiar que algo muito ruim está prestes a acontecer... mas ainda não sei o que, nem por quê...

Tudo o que me resta então é continuar sentada nesse paraíso negro e esperar que alguém venha me buscar.


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