Devorar-te-ei: Memórias póstumas de um amor escrita por Nayou Hoshino


Capítulo 21
É hora de mudar




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Quando o dia chegou ao fim e Sebastian não voltou, a ficha finalmente caiu. Em todos aqueles anos, eu já havia ordenado que ele se afastasse, mas... Ele nunca havia obedecido de fato. Então por que o fez logo agora? Quando o contrato não nos prendia mais?

Eu estava livre agora. Algo que secretamente desejei em diversos momentos em minha vida, sempre que Sebastian se tornava alguém difícil demais para se lidar. Mas acreditar que ele havia me abandonado era simplesmente... Impossível.
E não era só eu. Apesar de não terem dito nada, os empregados estavam estranhando a ausência do mordomo, principalmente Meyre, que era sua substituta sempre que ele não estava presente.

Sabia que não podia culpar inteiramente àquele que estava por trás dos ataques dos SM's, aquele que tentava me destruir a todo custo... Eu tinha sido a única a mandar Sebastian embora no calor do momento.
Eu olhei meu reflexo no espelho do quarto. Como a maioria das minhas roupas, minha camisola cobria eficientemente a marca do contrato, então eu a puxei levemente para baixo, apenas para ver que ela não passava de uma mancha disforme em minha pele clara. As correntes que cobriam a marca também desapareciam aos poucos, embora estivessem bem visíveis ainda.
Com o indicador, acariciei minha pele, bem onde a mancha estava. Eu tinha aquela marca desde que podia me lembrar, desde o acidente. Vê-la desaparecer assim... Ver meu salvador partir... E eu não podia fazer nada, não podia recorrer a ninguém...

Ou melhor, havia sim uma pessoa.

Eu desviei meu olhar para a janela do quarto, vendo a lua já alta no céu. Eu poderia ir até lá sem nenhum problema... Talvez até fosse melhor, assim ninguém me veria.
Mas... Sair sem Sebastian enquanto eu estava sendo o alvo de diversos ataques, ainda mais a noite... Só a ideia foi capaz de fazer um arrepio gélido percorrer minha espinha.

Eu agitei minha cabeça negativamente, espantando aquelas ideias. Com certeza Sebastian apenas estava se divertindo comigo como sempre fazia, ele me acordaria amanhã pela manhã com aquele sorriso sedutor e divertido no rosto, gabando-se por eu ter sentido sua falta e me preocupado...

Eu bufei mal humorada e arrumei minha camisola de volta no lugar, voltando a encarar meu reflexo. Eu não podia ser tão... vulnerável.
Se meu próprio mordomo era capaz de me balançar assim, seria ainda mais fácil para os SM's e aquele que os controlava, não é? Chegar até mim e se divertir com meu sentimentalismo...
Lancei um olhar decidido a mim mesma, encarando meus olhos no reflexo por um segundo ou dois antes de finalmente dar as costas ao espelho e ir para a cama.

......


Eu escutei o som das cortinas sendo abertas e logo em seguida senti o calor do sol sobre minha face. Eu estiquei meus braços, com um sorriso vitorioso nos lábios, sabia que Sebastian voltaria... Estava feliz por não ter corrido atrás dele, pra variar.

— Espero que tenha gostado do seu dia de folga. - eu resmunguei, ainda sonolenta, enquanto esfregava meus olhos.

— A-ah! B-bom dia, My lady...! - A voz de Meyre me surpreendeu, fazendo com que eu piscasse rapidamente pra tentar identificar sua figura contra a luz que vinha de fora. - Bardo já está preparando vosso café.

Eu a encarei em silêncio por um longo segundo. Se ela e Bardo faziam as tarefas de Sebastian era porque ele não havia retornado, isso fez meu sorriso desaparecer de imediato enquanto eu me sentava com calma. Eu senti um desagradável aperto em meu peito, que só piorava conforme a ideia de que estava sozinha agora se assentava em minha mente.

Eu não tinha mais família. Juro estava morto. E, agora, Sebastian não estava mais ao meu lado...
A mansão pareceu gigante e silenciosa de repente. Assim como minha vida.
Eu precisava lutar e me manter firme para honrar o sobrenome da minha família, mas... Com que finalidade? Quanto mais avançava, mais perdia. Quanto mais tentava, mais parecia errar... E isso não se aplicava só a minha vida profissional, mas aos meus relacionamentos também.

Meyre saiu depois de me dirigir uma reverência menos desajeitada que o normal, talvez por saber, ou pelo menos sentir, que ela agora precisaria ocupar permanentemente um posto que jamais estaria apta a preencher adequadamente.
Eu me levantei logo em seguida, fazendo minha higiene matinal e me vestindo. Enquanto amarrava o corpete em minha cintura, me peguei sentindo falta da intromissão rotineira de Sebastian, que sempre acabava vendo mais do que devia. Eu só podia estar louca em sentir falta de um demônio pervertido...

Depois de me aprontar, desci para o café, desanimada e a passos lentos. O silêncio era aterrador e incômodo, me sufocando conforme eu tomava o chá. Sentia o gosto aguado invadir meus lábios, genuinamente surpresa por Bardo não ter incendiado nada naquela manhã. Eu estava mal acostumada com Sebastian, era fato, mas tinha certeza de que nunca ficaria satisfeita com nada que qualquer outra pessoa fizesse.

Eu precisava dar um jeito nessa situação.

— Meyre, prepare a carruagem. - eu falei em um tom baixo, apoiando a xícara vazia no pires sobre a mesa.

— Sim, my lady. - ela se curvou levemente e me encarou hesitante por um momento antes de voltar a falar. -... Deseja companhia?

— Não será necessário. Obrigada, Meyre.

Eu me levantei, limpando meus lábios com o guardanapo antes de colocá-lo sobre a mesa.
Subi para terminar de me aprontar, não precisei nem demorar muito, apenas o suficiente para arrumar meus fios de maneira adequada e pegar um casaco para colocar sobre o vestido.

Eu sentia meu coração bater agitado e dolorido em meu peito, evidenciando a falta que Sebastian me fazia e o medo da resposta que poderia receber aonde ia agora. O Undertaker costumava ter todas as respostas, mas dois problemas me preocupavam naquele momento: primeiro, Sebastian era o único capaz de arrancar respostas dele, e segundo, poderia não haver uma resposta diferente da que meu mordomo havia me dado no dia anterior.

Não devia ser muito comum contratos serem desfeitos. Arriscaria dizer que era raro o bastante para não existir mesmo uma solução. Mas isso não era justificativa para que eu não tentasse.

Eu entrei na carruagem e me dirigi ao centro da cidade, onde a loja do Undertaker ficava. Ainda estava cedo, então haviam poucas carruagens no trajeto, apenas uns poucos trabalhadores do mercado passavam com seus produtos para as barracas que ocupavam a praça principal.
Dessa forma, fui capaz de chegar ao meu destino em menos de uma hora, um tempo justo se considerado a agonia que habitava meu ser e ameaçava me levar a um ataque de pânico a qualquer segundo.

Eu praticamente pulei pra fora da carruagem assim que o cocheiro parou e abriu a porta. Foi por muito pouco que não caí quando o vestido prendeu na pequena escada que havia para eu descer. Mas me recompus rapidamente e dei leves batidinhas na saia para arruma-la enquanto caminhava em direção a porta do estabelecimento.

Era a primeira vez que eu estava indo ali sozinha, que enfrentaria o humor duvidoso do shinigami aposentado sem a leal defesa do meu mordomo. Parecia idiota e inconsequente da minha parte, e talvez fosse mesmo, mas não podia ignorar a única fonte que poderia me fornecer respostas naquele momento.
Mal abri a porta e já ouvi uma exclamação surpresa vinda de trás do balcão.

— Ora, ora... Parece que o cachorrinho não estava enganado quando disse que sua dona passaria por aqui...

— ... O que?

Eu parei confusa, sem nem tirar a mão da maçaneta. "Cachorrinho"... Ele estava falando de Sebastian? Meu coração voltou a bater rapidamente, mas de esperança e não de angústia.

— Ele esteve aqui?

Eu dei mais dois passos para o interior da loja, soltando a porta e deixando que ela lentamente se fechasse atrás de mim.

— Ah... Ele esteve sim... - o homem de fios cinzentos abriu um largo sorriso de satisfação. - Avisou que você viria desesperada aqui... Choramingando para que eu lhe ajudasse a encontrá-lo.

— Eu não vim choramingar por ajuda. Eu só...!

— Ah, não? - ele apoiou suas mãos no balcão, curvando suas longas unhas na borda do mesmo. - É uma pena... Ficaria feliz em ajuda-la.

— Você sabe de algo? Ele te contou? - minha voz saiu mais alta do que o normal, evidenciando meu desespero e me fazendo pigarrear tão logo notei isso. - Eu posso pagar pela informação.

— Eu não quero seu dinheiro mundano, ele não pode pagar pela informação que tenho a oferecer.

Eu cerrei meus dentes e o encarei irritada, cruzando meus braços sobre meu peito com decisão. Mantive meu olhar sobre ele por um​ longo segundo, relutante em entrar em seu jogo. Eu não podia ter nenhuma garantia, nunca podia. Mas talvez, só talvez, as palavras dele não fossem um blefe.

— Como posso ter certeza de que você sabe mesmo do que se trata? - eu semicerrei meus olhos

— Eu tenho certeza de que uma garota mimada como você não vai arriscar a única chance de ter seu animal de estimação de volta. - ele retomou sua postura confiante, rindo sem nenhum pudor - Eu posso mudar de idéia sobre te contar... Talvez já tenha mudado, aliás...

— Ok! - eu bati o pé com impaciência e irritação, contendo o desejo insaciável de estocar uma espada bem entre seus olhos. - O que você quer?

Um sorriso ainda mais largo que o primeiro se abriu em seus lábios e ele se debruçou sobre o balcão, quase se deitando, enquanto me encarava firmemente. Ele ficou imóvel por alguns segundos, ao ponto de eu me sentir incomodada com aquele sorriso voltado pra mim.

— Não seria divertido um joguinho de interpretação? - ele disse por fim, com um tom entusiasmado

— Como assim? - eu ergui uma sobrancelha, já impaciente.

— Eu sou o mestre mimado e incapaz de resolver meus próprios problemas. - ele pigarreou - "Oh, como sou fútil e inútil..."

Ele afinou a voz. Não foi preciso estar parecido comigo para eu saber que ele estava me imitando, me provocando da pior e mais vergonhosa forma possível.

— Você vai ser o mordomo. O demônio que só quer se alimentar mas "escolheu esperar" - ele revirou os olhos com desdém. - Agora... - ele voltou a pigarrear para forçar a voz novamente - Agora, eu ordeno que se ajoelhe.

— O que? - eu não contive uma risada seca

— Se ajoelhe.

— Eu não vou fazer isso.

— Se. Ajoelhe. - apesar de ainda ter o sorriso no rosto, sua voz se tornou mais ferina, quase como um rosnado.

Eu cerrei meus punhos com força, sentindo minhas unhas entrarem com força na palma da minha mão. Jamais me rebaixaria a tal nível, mas... Era por Sebastian, por nós.
Se ele não sabia como resolver, eu descobriria e faria tudo voltar ao que era.
Precisava dele, para as missões e para minha vida diária também. Sua presença havia se tornado algo essencial depois de todos aqueles anos...

Eu puxei a saia do meu vestido, de forma que parte de minhas pernas ficassem a mostra, cobertas apenas pela meia calça. Fechei meus olhos, apertando-os com força enquanto respirava fundo. Por que Undertaker me pedia algo assim? Que tipo de prazer ele sentia com isso?
Enquanto me agachava devagar, me pondo sobre meus joelhos, eu ouvia seus espasmos de animação vindos de trás do balcão. Quando finalmente estava ajoelhada, ele finalmente começou a rir, uma risada intensa e extasiada, como se estivesse satisfeito só por me ver nessa posição inferior. Mal sabia eu que ele estava longe de estar satisfeito.

— Agora se curve.

— Você acha mesmo que... - rosnei entredentes

— Pode desistir quando quiser e sair daqui sem sua resposta. - ele lembrou com tranquilidade.

Eu respirei fundo e apoiei minhas mãos no chão empoeirado, abaixando minha cabeça em um impulso rápido o bastante para que eu não mudasse de ideia. Ele irrompeu em mais uma explosão de risadas, mal conseguindo falar direito quando anunciou sua próxima ordem.

— Agora, lata. - ele arfava em meio as risadas.

— Latir?

— Au au, sabe? Como os cachorros costumam fazer. - ele gesticulou com impaciência.

Eu mordi meu lábio inferior com força, sem levantar meu rosto para encara-lo. Teria a certeza de fazê-lo pagar tão logo tivesse conseguido Sebastian de volta. Ah, ele ia pagar sim...

— Au au... - eu sussurrei, sentindo meu rosto queimar violentamente

— Mais alto.

— Au... Au... - eu apertei meus olhos com mais força, tentando ignorar aquela humilhação de alguma forma.

— Acho que você não está tão empenhada em conseguir a informação... - ele zombou com desdém.

— Au... - eu apertei minhas unhas contra o piso amadeirado, tomando fôlego - Au! Au!

Dessa vez ele não riu, mas soltou um suspiro de satisfação, certamente se sentindo vitorioso. Eu demorei alguns segundos para me recompor da vergonha e me levantar. Minhas meias estavam suja da poeira do chão, assim como parte do meu vestido e minhas mãos, mas não me importei. Trivialidades não eram importantes em um momento como aquele, onde meu coração e minha mente só desejavam uma coisa:

— Agora me fale, Undertaker. Como eu posso reestabelecer o contrato. - eu respirei fundo, tentando manter a calma.

— Ah, era isso que você queria saber? - seu tom de surpresa fez minhas pernas bambearem.

— Seu...!

— Relaxe, garotinha. - ele voltou a sorrir - Eu também tenho essa resposta...

— Então fale de uma vez!

— ... mas eu não vou te dizer. - ele deu de ombros, me dando as costas e mexendo em algo atrás de si.

— O... O que?!

— Ordens do seu cão. Ele não quer ser encontrado ou ter qualquer tipo de laço com você... Fim da história.

— Não seja ridículo, Undertaker. Ao menos cumpra com sua palavra... - eu bufei mal humorada, sentindo meu coração quase saltar do peito como efeito das palavras que ele havia dito.

— Você tem que lidar com esse tipo de notícia quando não é uma boa dona. - ele se virou de volta pra mim. - Às vezes os cães fogem... - ele jogou algo pequeno e brilhante em minha direção, ao que eu peguei em um reflexo rápido - E não voltam mais.

Eu abri a mão, sem entender por que ele parecia ter tanta certeza em suas palavras, mas logo a resposta se mostrou pra mim na forma de um broche. O broche do uniforme de Sebastian, com o brasão dos Kyotsu. Ele nunca o tirava... Quer dizer, enquanto eu podia vê-lo, claro. Dizia que era uma honra carregar o meu sobrenome enquanto cumpria com seu dever, mas ele devia falar isso sob a perspectiva mestre/servo, como era de se esperar.

Senti minhas pernas ficarem bambas e o ar escapar de meus pulmões em um suspiro que era um misto de surpresa e decepção. Undertaker costumava pregar peças e se divertir às custas dos outros, principalmente às minhas, mas ele não parecia estar mentindo dessa vez. Sebastian havia passado ali de fato, de outra forma eu não estaria com o seu broche nas minhas mãos agora. E o sorriso vitorioso nos lábios do Undertaker me mostrava que ele estava genuinamente satisfeito, finalmente havia provado sua teoria de que eu e Sebastian não passávamos de mestre e servo, nada mais. Também tinha o fato de que ele não mentiria sobre algo tão sério, não sabendo que seria fácil para Sebastian fazê-lo se arrepender depois...

Todos os fatos apontavam para uma verdade que eu ainda me esforçava para ignorar. Mas ainda mais duvidas povoavam minha mente, sem respostas ou deduções aparentes... Era uma tortura e ao mesmo tempo uma pequena, quase inexistente, parte de mim se sentia aliviada por a culpa da separação não ter sido minha. Não inteiramente, ao menos.

Eu dei as costas para o Undertaker, caminhando até a saída. Ele ainda dizia algo com sua voz sarcástica, mas ignorar foi tudo que fiz logo de cara.
A porta da loja se fechou atrás de mim e o sol invadiu meus olhos com violência graças à diferença de iluminação dentro da loja. Embora doesse, não consegui me incomodar com a claridade, então apenas fiquei de pé na porta da loja, encarando a carruagem solitária que me aguardava.

Sebastian não só tinha ido embora, como tinha se certificado de que não seria encontrado. Deixou claro que mesmo que houvesse uma forma de voltar.... Ele não voltaria.
Era duro acreditar nisso. 

— Para uma dama, a senhorita escolhe lugares muito peculiares para visitar.

Eu demorei alguns segundos para me desligar dos meus pensamentos e reconhecer aquela voz. Olhei para o lado e vi o sorriso galante de Ciel enquanto ele se aproximava devagar.

— O que faz aqui?

A pergunta saiu antes que eu pudesse formulá-la melhor, soando rude. Eu baixei o olhar e suspirei, me preparando para me desculpar, mas Ciel ergueu a mão já recusando.

— Precisei visitar uma das lojas Funtom aqui perto. Estava passando quando vi a senhorita e decidi parar... - ele parou de falar e me encarou com atenção por um momento - Você está bem?

— Ah, estou... - eu respondi ainda um pouco atônita - Bem, eu..  Eu preciso ir agora.

— A encontrarei no evento beneficente de sua majestade, a rainha? - ele sorriu gentil

Eu não estava com clima para festas, não mesmo. E ainda precisaria encontrar alguém para me acompanhar agora que Sebastian... Enfim.
Mas como parte da nobreza e ainda por cima membro da família que serviu, e ainda servia, fielmente a rainha por tantos anos, eu era obrigada a comparecer.
Eu suspirei, apertando minhas mãos e sentindo o broche gélido ainda contra meus dedos.

— Claro, eu estarei lá. - respondi com um meio sorriso.

Eu mencionei caminhar até minha carruagem mas senti a mão de Ciel tocar meu braço, seu toque quente fazendo eu ficar parada no mesmo lugar sem conseguir esboçar uma reação lógica.
Ao contrário do arrepio gélido que o toque do demônio me proporcionava, o toque de Ciel me trazia conforto. Me fazia desejar ser envolvida por aquele calor agradável... Mesmo que eu não pudesse fazê-lo.
Eu o encarei num misto de surpresa e confusão, ignorando o que as pessoas poderiam pensar ao ver a "noiva de luto" na companhia de outro homem enquanto este lhe tocava o braço de forma tão íntima, mas ele apenas sorriu e me soltou, afastando-se para uma distância mais respeitosa e condizente à nossa falta de relação.

— Cuide-se, senhorita Kyotsu. - ele se curvou num gesto cortês, trajando um sorriso sedutor - Nos vemos em breve.

— Certamente, senhor Phantomhive. - eu sorri, igualmente cortês, antes de lhe dar as costas e subir na minha carruagem.

Eu olhei pela janela a figura de Ciel acenar com um sorriso enquanto eu me afastava. Estranhamente, o mal estar e a angústia que eu sentia haviam desaparecido por completo. Se não fosse o pequeno lembrete entre meus dedos do que havia acontecido, talvez eu tivesse me esquecido por completo de que Sebastian me havia abandonado. Como isso era possível?

— Vamos até a casa do lorde Trancy, sem pressa. - eu informei ao coxeiro após bater suavemente na parede atrás de mim, ouvindo-o assentir em um tom servil.

Eu podia estar sozinha agora, mas Alois ainda fazia parte da minha família, mesmo que de uma forma confusa.
Agora, mais do que nunca, eu precisaria de sua ajuda. Eu não era forte o suficiente para lidar com as missões da rainha completamente sozinha.

No fim, sem Sebastian, eu não passava de uma garota. A herdeira sortuda dos Kyotsu.

Perceber isso era o que mais me enraivecia.

 


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