Caminhos para o Inferno escrita por Nynna Days


Capítulo 6
Capítulo 5




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Capítulo 5

No dia seguinte todos na escola já estavam sabendo da morte de minha mãe. Kôri não veio para a escola comigo porque queria me dar um tempo. Ela nem ao menos sabia o porquê de estarmos na escola um dia depois que nossa mãe morreu na nossa frente.

Dormi com Koren ontem a noite. Ele ficou até as três chorando no meu ombro e eu não tinha tido a oportunidade de chorar pela minha mãe ainda. Estava com olheiras, claro, mas não por chorar , como Koren, mas sim, por ficar acordada a noite toda ao lado de Koren.

Minha avó estava cuidando do enterro, que seria amanhã, então não estaria me casa o dia inteiro. Muitas pessoas foram me dar os pêsames pela minha mãe, mas de todas elas , a que mais me surpreendeu foi a Barbie.

Quando cheguei a escola de carro, não fui direto falar com meus amigos, como fazia toda manhã. Fui caminhar pela escola , pegando um pouco de ar. E parar de ouvi os rumores sobre mim.

Até quando minha mãe morre, eles tem que falar de mim? Fui para a parte mais deserta da escola. Atrás do estacionamento. No estacionamento tinha muitas vagas, cada uma com o nome do aluno a que pertencia e que possuía um carro. Mas atrás do estacionamento existia um tipo de jardim , com muito tipos de flores, entre elas a rosa. Minha mãe sempre teve o cheiro de rosa. Feminino e delicado. Ir lá me lembrava dela. Mas enquanto eu passava pelo estacionamento para ir até o jardim, encontrei um grupo de estudantes do terceiro ano , fofocando sobre a morte de minha mãe.

“Ouvi falar que a gótica nem chorou quando viu a mãe morta.”, uma garota disse.

“E a mãe dela morreu na frente dela.”, disse Derek da minha aula de história.

“Disseram que foi ataque cardíaco.”, outra garota disse. “Mas em uma mulher tão jovem e bonita. Isso é tão ...”, ela pausou assim que me viu. “Meus pêsames pela sua mãe, Emily.”, ela disse e todos os outros que estavam com ela murmuraram também.

Eu apenas assenti e continuei indo ao jardim, sem perceber que tinha dito meu nome e não me chamado de esquisita ou gótica. Era a primeira vez que a verdade incomodava tanto. Pensei que teria um pouco de paz quando chegasse lá, mas estava errada. Encontrei a Barbie sentada no único banco que tinha ali, olhando para as flores.

“Meus pêsames, Polly.”, ela disse. Nem quando estávamos de

luto deixávamos de implicar uma com a outra.

Meu primeiro pensamento quando vi a Barbie, era de virar as costas e ir embora. Mas eu estava sem humor para aguentar mais fofocas sobre a morte de minha mãe e muito menos humor para aguentar meus amigos pedindo detalhes de como foi e tentando me animar.

Andei naturalmente até a Barbie e me sentei ao seu lado. Como sempre, ela estava com uma blusa azul florida e uma calça jeans clara, enquanto eu continuava com as minhas roupas pretas.

Mas hoje ninguém poderia questionar. Parecendo ler a minha mente, Barbie disse, sem tirar os olhos das flores:

“Pelo menos hoje ninguém vai implicar por você usar preto.”

“É”, respondi olhando para as rosas vermelhas que estavam mais perto. Percebi que a maioria estava murchando. Deveria ser por causa do frio, mas preferia me iludir pensando que elas também estavam de luto.

Ficamos um bom tempo em silêncio olhando as rosas. Estávamos matando aula, isso era certo. Mas eu estava pouco me leixando. Se fosse para tomar advertência, que levasse. Se fosse expulsa, não ligava. Nada disse traria a minha mãe de volta. Barbie também estava matando aula.

Barbie não parecia a mesma. Parecia meio ... perdida.

Olhando o nada, exatamente como minha mãe tinha feito antes de

morrer. Seu cabelo liso estava preso em um rabo de cavalo loiro e caía até um pouco acima da cintura. Hoje estava frio também, mas não como ontem. Eu tinha saído atrasada de casa então fiz uma transa rápido no meu cabelo e fui embora. Olhando para a Barbie e me comparando, me sentia um verdadeiro lixo.

“Sabe...”, Barbie disse de repente, me tirando das comparações do seu cabelo com o meu. “acho que sua mãe não morreu de causas naturais.”

Tirei os olhos das rosas murchas e a encarei. Katy me encarou de volta e ficamos um bom tempo assim. Ela esperava uma resposta minha, enquanto eu estava louca pra perguntar que diabos estava acontecendo com aquela garota.

“Ela teve um infarte.”, disse somente.

Os olhos azuis de Katy se desviaram de mim por um momento e percebi a sua bochecha ficando vermelha. Ela estava com vergonha. Era a primeira vez que nós abaixávamos a guarda uma a com a outra. Eu até que gostei e se ela não fosse uma vaca traiçoeira, poderíamos ser amigas.

“Eu sei que ela teve um infarte, mas eu estou falando que esse infarte não foi de causas naturais.”, ela pausou e voltou a olhar para as flores enquanto falava. “Pode até parecer loucura, mas ás vezes eu sinto coisas não muito normais.”, ela me olhou de novo. “Loucura, não é?”

Eu não sabia o que dizer. Primeiro porque ela realmente parecia louca. E segundo, porque essa loucura fez sentido. Os médicos disseram que minha mãe estava com um ótimo estado de saúde. Viveria uns cem anos, se quisesse e, de repente, ela morre do nada. Parecia loucura. Na verdade, era loucura. Mas uma loucura que tinha razão.

“Como assim? Você 'senti' quanto tem algo esquisito?”, perguntei querendo saber mais sobre essa descoberta. Havia me esquecido com quem estava falando e até que estávamos na escola , matando aula.

“Não exatamente 'esquisito', senão poderia te sentir de longe.”, ela parou e riu sem humor da própria piada, depois ficou séria novamente. “Eu sinto coisas fora do normal. Incomuns. Como , por exemplo, um arrepio toda vez que passo por uma casa antiga onde pessoa morreram. Um frio na barriga quando saio de casa a meia noite em noite de lua cheia. Parece ridículo, mas é a verdade. E se você acredita ou não, eu não ligo.”, ela deu de ombros.

Ela tinha voltado a ser a Barbie de novo. Pelo o que ela estava me relatando ( e se fosse verdade), então a Barbie possuía em tipo de senso paranormal. O arrepio, era fantasma. O frio na barriga, lobisomens. Interessante. Mas tinha uma coisa me incomodando nessa história.

“Por que está me contando tudo isso?”, perguntei no momento em que o sinal bateu.

“Na verdade, eu não sei. Só senti que deveria lhe contar.”, ela sorriu para mim e começou a pegar seu material do banco. “E também, por causa da minha suspeita sobre a morte de sua mãe. Mas agora,”, ela se levantou e tirou o pouco de terra que tinha em sua roupas. Eu me levantei também e permaneci ao seu lado. “É melhor nós irmos para a aula antes que o diretor mande um mandado de busca para nós duas. E também, voltaremos a ser a Barbie e a Polly e é melhor essa conversa nunca ter existido.”.

“Tudo bem.”, eu concordei. O que os meus amigos diriam se soubessem que estive batendo um papo sobre as sensações sobrenaturais da Barbie? Iria pirar, certamente.

Andamos em silêncio até a frente do estacionamento e cada uma foi para o seu lado para a sua próxima aula, mas fui impedida pelo diretor Uyntron que me chamou novamente na sala dele. Estava me sentindo em uma reprise de um filme de terror.

Esse cara deve me amar. Já era a segunda vez na semana que me chamava a sala dele. Assim que entrei , encontrei Koren sentado, chorando, de novo. Dois dias chorando e na frente do diretor, é demais.

“Sente-se Emily.”, o diretor James disse.

O diretor James Uyntron deveria estar na faixa dos quarenta anos, mas seus olhos mel nunca perdiam a beleza. Seu cabelo castanho já estava ficando branco nos lados.

Me joguei na cadeira ao lado de Koren e me recostei nela. Koren apenas me olhou de cima a baixa e prendeu o choro. Moleque esperto. A expressão de James não era dura, mas sim, de preocupação.

“Quem morreu dessa vez, James?”, perguntei tentando parecer a mesma.

“Emily Twist, se comporte.” , James me repreendeu. “E é diretor Uyntron, entendeu?”

“Dá pra falar logo o que nós estamos fazendo aqui, James?!”, eu disse ignorando seu comentário. Vinha tantas vezes na diretoria que James e eu já éramos íntimos. Tanto quanto ele não me chamava mais de 'senhorita Twist' , não o chamava de 'diretor Uyntron', mas aprecia que ele queria mater as formalidades na frente de Koren.

“Eu poderia lhe dar uma advertência. Sabia , senhorita Twist?”, ele disse duramente. Manter as formalidades, como havia dito.

“Estava demorando.”, disse revirando os olhos. “Mas sério, diretor Uyntron”, fiz o nome dele aparecer entre aspas. “ o que você quer?”

“Estou liberando vocês dá aula essa semana. Vocês estão de luto e nem deveria estar na escola. Conhecia Elizabeth muito bem, e era uma pessoa muito boa.”, ele parecia perdido em pensamentos enquanto falava. Me perguntei se James já havia gostado de minha mãe antes.

Não seria uma surpresa muito grande se isso acontecesse. Era natural da maioria dos homens gostar da mamãe. Ela era linda e boa. Um anjo. Perfeita. Por isso me livrava dos castigos, que eram muitos. Tive vontade de rir, mas apenas dei um sorriso educado.

“Obrigado.”, disse e me virei para Koren, que não tinha dito uma palavra se quer. “Vamos , Koren.”

Koren apenas acenou e se levantou da cadeira indo atrás de mim na direção do estacionamento. Parei no lado do motorista e me recostei no teto do carro para encarar Koren que esperava no lado do passageiro eu abrir a porta.

“Você é um fraco, sabia?”, disse estreitando meus olhos e balançando minha cabeça.

“E você é uma insensível.”, ele retorquiu com raiva. “ Nossa mãe morreu e o que você faz? Fica discutindo com o diretor e fingi que a vida continua normal. Você não se importa com a nossa mãe morta. Aposto que para você é um alívio. Você só se importa com você mesma e com aquele seu namoradinho mauricinho. Se a mamãe morreu ou não, pouco te importa.”

Aquilo me deixou realmente fula da vida. Me aproximei de Koren tão rápido que nem deu tempo dele dizer ' Jesus'. Agarrei sua blusa, de manga, no peito e o joguei de costa no carro. Não sei de onde inha vindo aquela força, mas me senti pressionando suas costas com tanta força que deixaria uma marca depois.

“Agora escuta aqui, moleque.”, minha voz estava saindo em uma rosnado, quase não reconhecia como minha. “Eu me importo sim que a nossa mãe morreu, mas não posso ficar presa nisso. Ela não vai voltar só porque fiquei chorando por aí e me descabelando. E não estou chorando também por sua causa, seu ignorante. Tenho que ser forte pra te dar apoio, idiota. Quem vai cuidar de você enquanto está quase entrando em depressão? Agora entrar na porcaria do carro e vamos para casa e guarde as lágrimas pro enterro, entendeu?” Koren acenou com os olhos arregalados e eu o soltei.

Nunca havia me comportado desse jeito com Koren antes. Toda vez que ele me irritava , apenas o ignorava e fingia que ele não existia no mundo. Mas no momento que ele falou que eu não me importava com a minha mãe , algo estourou dentro de mim.

Voltei para o meu lado do carro e abri as portas. Se era assim que Koren queria ser tratado, como um fraco, então era assim que o trataria. Ele ficou um tempo lá fora , vendo se o atacaria de novo, mas depois de uma segundos respirando fundo eu já havia me acalmado. Ele entrou no carro e eu dirigi para casa em silêncio.

Idiota, ignorante, fraco, eu estava xingando mentalmente Koren de todos os nomes que costumava falar para ele. Meus olhos estavam completamente na estrada, mas minha mente estava gritando pra mim matar o Koren.

“Hey, desculpa pelo o que eu disse.”, Koren tentou se desculpar. Ele iria ver a desculpa que ele ganharia. Um soco bem dado no nariz.

“Não desculpo, não.”, respondi bruscamente.

“É que você está tão... não sei, fria.”, ele tentou , mas isso só havia me tirado mais do sério. Agarrei o volante com as força , mas continuei com meus olhos na estrada. Ele me chamou de 'fria'. Era bem pior que gótica, esquisita ou estranha. Queria dizer que não me importava com ninguém.

“O que a chave abria?”, Koren perguntou depois de ver que não o responderia pelo ' fria'. Mas aquilo me chamou a atenção. A chave ainda estava no bolso da calça que havia usado ontem. Nem tive a oportunidade de tocá-la depois que guardei no bolso enquanto minha mãe estava morrendo no hospital.

“Não sei. Não tive tempo de ver.”, respondi um pouco mais suave por causa da dúvida.

“Hum”, foi a última coisa que ele disse até que chegamos em casa.

Minha avó ainda não havia chegado, deveria estar resolvendo as coisas para o enterro da minha mãe. Koren foi para o seu quarto e eu para o meu.

Snickssah estava dormindo em cima da minha cama assim que eu cheguei. Meu quarto era grande, sempre foi. Em uma das paredes ficava meu computador e minha estante de livros, em outros, ficava meu armário e no final do quarto, ficava o meu banheiro. Minha cama ficava em frente a janela que era oposta a porta. Meu quarto era cinza escuro, por isso de manhã não conseguia enxergar muito bem.

“Oi, garoto.”, cumprimentei Snickssah. Ele andou até mim e ficou se esfregando na minha perna pedindo carinho. Joguei minha mochila me um canto do meu quarto e abaixei para poder coçar atrás de suas orelhas. Ele ficou ronronando , conforme eu coçava. Fiquei um bom tempo assim, até que me levantei e fui tomar um banho. Meu banheiro não era tão grande quanto meu quarto, óbvio, mas também não era pequeno. Deixei que o chuveiro lavasse toda aquela raiva que ainda sentia e a levasse para longe.

Korinna devia está preocupada por não ter me visto o dia todo na escola. Colin também. Tina e Miguelito também. Depois eu ligaria para eles. Tinha outras coisas para me preocupar, como , por exemplo, o que a Barbie tinha me dito hoje de manhã.

Será que ela tinha mesmo uma faro para mistério? Mas era óbvio que fantasmas, lobisomens ou coisas do gênero não existiam. Apenas lendas urbanas. A Barbie deveria está apenas zoando com a minha cara. Mas então ela é uma ótima atriz.

Assim que saí do banheiro, fiz uma rabo de cavalo no meu cabelo e parei em frente ao espelho. Meus olhos verdes estavam cansados, com olheiras , como eu havia dito antes. Minha pele estava com um bronzeado fraco, assim que fizesse sol , voltaria a praia. Meu cabelo parecia mais preto do que antes , mas deveria ser impressão minha.

Seus olhos são idênticos aos do seu pai. Verde esmeralda.

As palavras de minha mãe ressoaram em minha cabeça, como se ela estivesse ao meu lado, sussurrando elas para mim. Suspirei e saí do banheiro. Já havia passado tempo demais me admirando.

Daqui a pouco teria o desejo de pintar meu cabelo de loiro , colocar lentes de contato azuis e pedir para meus amigos me chamar de Barbie.

Coloquei a primeira regata preta que achei no meu armário e uma calça de moletom. Era engraçado que, toda vez que entrava no meu quarto apenas de calcinha e sutiã ou enrolada em uma toalha , Snickssah nunca estava por perto, só depois que estava completamente vestida.

Peguei o Mistério da Avenida 16 e me joguei na cama , querendo ler e passar o tempo. Então quando comecei a ler o prólogo do livro me peguei em um dilema. Se eu não acreditava na Barbie ou que seres sobrenaturais existiam , por que lia esse livros?

Me distraiam, só isso. Me faziam entrar em um mundo que queria que existisse. Um mundo onde você é a poderosa e tem muitos homens atrás de você, onde tem aventura a cada esquina , onde a história se desenvolve em torno de você. Eu queria isso, mas era impossível.

Nos meus 17 anos, a coisa mais incomum que encontrei até hoje, foi esse amor que Korinna e Cristinne tem por Koren. Fala sério, o garoto é um bebê chorão. Mas, sinceramente, criaturas sobrenaturais não existem. Bem, nunca vi uma até hoje.

Subi a escada preocupada. Ouvi uns barulhos na cozinha, mas deveria mesmo ir? Eu amo muito o Tom, mas também amo minha vida. Deveria deixar o desgraçado morrer, me traiu. Ainda com a minha melhor amiga, mas tinha algo que me dizia que eu deveria salvá-lo, mesmo sendo estúpido.

O frio era agonizante. Expirei e vi uma nuvem branca saindo da minha boca. Será que era verdade a história sobre fantasmas nessa casa. Achava loucura, mas assim que uma séries de coisas estranhas começaram a acontecer, comecei a duvidar da minha capacidade de dedução.

Consegui descer as escadas com o menor barulho possível. Então andei no corredor em direção a cozinha. Jurava que tinha visto um tipo de luz branca saindo pelo batente da porta, mas sumiu rápido demais para eu ter certeza. Então com um movimento só abri a porta e encontrei...

“Emi!”, Koren me chamou tirando minha atenção do livro na parte em que Melinda descobriria que sua casa estava sendo assombrada.

“Que foi, moleque?!”, gritei de volta.

“Telefone!”, respondeu. Não me chamou de esquisita e sem piadas? Ele deveria ainda estar se sentindo culpado pelo que me disse no estacionamento.

Telefone? Deveria ser Korinna querendo saber o porquê de eu não ter aparecido na escola. Ou Tina querendo me perguntar com que roupa iria para o encontro com Léo, sexta-feira. Ou Miguelito querendo desabafar esse amor que sente pela amiga da Barbie.

“Alô?”, eu disse pegando a extensão do telefone e me jogando na minha cama de novo.

“Oi, baby.”

Era Colin, meu namorado, do outro lado do telefone. Esqueci de avisá-lo que iria para casa mais cedo hoje. Ás vezes eu me perguntava o que Colin via em mim. Eu era apenas uma garota morena , de olhos verdes e 1,60 de altura que gostava de ler livros sobrenaturais , mesmo sabendo que nada disso existia e usava preto o tempo todo.

“Ah, oi , Colin.”, disse um pouco sem ânimo. Esperava que ele interpretasse isso como a tristeza o luto , e não, o desconforto por ele ligar.

“Eu iria perguntar se estava tudo bem, mas seria uma pergunta idiota.”, ele disse. Conseguia ouvi o sorriso em sua voz. “Não te vi o dia todo, fiquei preocupado.”

“Saí cedo da escola.”, respondi.

Como eu havia dito antes, Colin não era meu príncipe encantado (se é que eu tinha um). Nunca o amei, nem ao menos gostava dele. Tudo o que existia era atração puramente física. Eu por seu 1,80 , ombros largos e abdômen definido e ele pelas vantagens corporais que Deus havia me dado.

“Estou com saudades. Será que poderia passar aí na sua casa agora?”, ele perguntou.

Não. Certamente , não. Você vai ser jogado da janela por mim se pensar em vir a minha casa. Isso era tudo o que pensei em dizer mas o que saiu da minha boca foi: “É melhor não. Minha avó está cuidando do enterro e Koren ainda está arrasado.”, mordi meu lábio inferior.

Bem, eu não estava mentindo. Mas não estava dizendo toda a verdade. Não poderia chamar o nosso namoro de “ honesto”, porque eu sabia que tínhamos nosso segredos ente nós. Ás vezes me chutava mentalmente por prendê-lo sempre a mim. Ele merecia algo melhor que eu, mas toda vez que tocávamos no assunto , ele se desviava e mudava de assunto.

“Então tudo bem. Posso esperar.”, ele disse calmamente, mas conseguia ouvir o desapontamento em sua voz. “Eu te amo.”

Pronto! Terminou o meu dia. Não iria mentir para ele (mesmo sendo isso que eu secretamente queria), Colin não merecia.

“Bom, eu tenho que ir.”, disse evasivamente. “Acho que Koren está me chamando.”

“Tchau.”, ele disse e desligou o telefone.

Soltei o ar que nem sabia que estava segurando e me joguei novamente na minha cama. Havia escapado por pouco. Assim que soltei o telefone, ouvi minha barriga roncando. Será que minha avó já havia voltado?

Na ordem do segundo andar, os quartos ficavam assim: o meu, minha mãe, Koren e vovó. Então, foi fácil ver Koren sentado na cama da minha mãe enquanto eu ai ao quarto da minha avó. Ele estava de costas para a porta entre aberta , vendo uma foto que ficava em cima da cômoda da minha mãe. Era uma foto minha, Koren e da mamãe na neve. Koren tinha sete anos e eu oito.

“Se lembra que você pegou um resfriado porque ficou muito tempo na neve?”, eu disse entrando no quarto. Koren levou um susto quando ouviu a minha voz. Acho que ele pensava que eu iria namorar uma hora pelo telefone.

“E você ficou fula da vida? Lembro. Foi a primeira vez que você me deu um cascudo.”, ele disse no momento em que me sentei ao seu lado na cama.

Desde que nossa mãe tinha morrido ficamos mais próximos um do outro. E tirando aquela briga no estacionamento, não discutíamos também. Sempre existi o lado bom e o lado ruim das coisas. Esse é o equilíbrio perfeito das coisas.

“Sinto falta dela, também.”, disse mesmo sem Koren mencionar nada. “Mesmo não parecendo , eu sinto falta dela me acordando de manhã. Me contando histórias de dormir ou cantando aquelas músicas que eu achava ridícula em alguns filmes infantis.”.

Então , um milagre aconteceu. Koren e eu rimos juntos. Antes , eu achava que era mais fácil um elefante passar voando pela minha janela do que meu irmão rir de algo que eu disse.

“Queria te pedir uma coisa, se você não se importar.”, Koren estava inquieto mexendo na foto.

“Desembucha, moleque.”, eu disse. Tinha voltado ao meu bom humor rebelde.

Koren encarou a foto, evitando me olhar diretamente. Vi ele=corar levemente antes de levantar o queixo e me encarar , tentando se mostrar forte.

“Sei que parece muita falta de respeito, ou não, como você quiser interpretar, mas...”, ele me deu aquele olhar de cachorrinho sem dono. “Será que você pode me levar a casa do Teddy, depois do enterro da mamãe?”

A dois dias atrás , ficaria feliz em dar um bom e velho merecido Não na cara dele. Mas eu sabia que todos nós precisávamos de um espaço para colocar a cabeça no lugar.

“Tudo bem.”, eu respondi e dei um sorriso. Koren deu um arregalou os olhos de tão surpreso.

“É tudo isso. Sem me perguntar ou questionar? Ou até mesmo implicar?”, ele perguntou.

Mas eu apenas balancei o dedo indicando que não.

“Agora,”, eu disse puxando ele pelo braço , o forçando a levantar, exatamente como nossa mãe fazia comigo. “está na hora do senhor dormir.”, na verdade, eram apenas dez da noite e no dia seguinte não haveria aula em consideração ao enterro da minha mãe. Mas eu precisava de um momento sozinha.

“Mas , Emi.”, Koren começou a reclamar enquanto eu o puxava porta a fora. Mas o cortei.

“Nada de ''mas, Emi''. Vá para o seu quarto ou vá jantar. O que preferir.”, sem mais nenhuma palavra fechei a porta em sua cara. Pressionei as costas na porta com o alívio imediado. Tinha coisas para resolver ali.

Me arrastei de volta para a cama que ficava ao lado da cômoda, felizmente. O quarto de minha mãe maior que o meu, obviamente, e mais iluminado. Ele era um amarelo sol, bem oposto do meu opaco cinza.

Primeira gaveta da cômoda. , me lembrei.

Eu teria que fazer isso antes que minha avó esvaziasse o quarto de minha mãe amanhã ou quando ela chagasse, sei lá. A princípio pensei que minha mãe tinha errado a localização do que quer que eu tivesse procurando. Tudo o que havia na primeira gaveta eram as camisolas dela. Algumas de seda , outras de algodão. Todas lindas e delicadas, assim como a falecida dona. Ignorei as camisolas e fui mais fundo na gaveta. Ela era toda de madeira do século que eu nem pensava em nascer. Então, depois de tanto fuxicar as camisolas de minha mãe , senti algo de capa dura na minha mãe. Tinha também uma coisa fria e de ferro.

Puxei com toda força para fora da cômoda para descobrir que era um tipo de diário, e a coisa fria e de ferro que eu tinha sentido era o cadeado. Coloquei a mão dentro do meu sutiã e puxei a chave.

Não me julguem, não tinha bolso na minha calça de moletom e muito menos na minha regata.

No começo fiquei com medo de descobrir o que havia dentro. Claro! Eu iria descobrir todos os segredos da minha mãe, ela queria isso. Por isso tinha me dado a chave, mas seria os SEGREDOS dela. Isso poderia ser o maior sonho de qualquer filha, mas, no momento, estava sendo meu maior pesadelo. Sentei na cama de novo e me preparei mentalmente para abrir o diário da minha mãe.

Sem esperar o que realmente vinha


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