Caminhos para o Inferno escrita por Nynna Days


Capítulo 4
Capítulo 3




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/151004/chapter/4

Capítulo 3

Como vocês viram, a escola é um saco. E como em todas as escolas existem as tribos. Por exemplo, a tribo do meu namorado é a dos gostosos, a tribo da Barbie é das populares, a tribo do meu irmão é a dos skatistas e a minha, como eu havia dito antes, é a dos esquisitos. Composta por Kôri, a rebelde, Tina , a nerd, Miguelito, o encalhado e eu, a gótica, mesmo não sendo gótica.

E a minha vida é resumida em : acordar, gritar com o Koren, zoar meus amigos e fugir do meu namorado. E , quase que eu esqueço, viver na sala do diretor James Uyntron.

Ás vezes eu acho que ele tem preconceito contra pessoas que usam preto, mas ele já me negou isso. O diretor Uyntron era até que legalzinho, quando não está me mandando para a sala dele.

Vocês devem estar curiosos para saber o porque de eu estar na sala do diretor. Eu também estava . Até o momento só tinha tido uma aula de filosofia e não tinha aprontado nada, eu acho.

Mas quando eu entrei na sala do diretor e vi Koren sentado na cadeira , eu percebi que tinha alguma coisa de errado. E muito errado.

Era bem mais fácil Koren ir para o circo, se fingindo de

macaco, do que ir para a diretoria.

Koren nunca ia para a diretoria , nunca mesmo. Eu que era a ovelha negra da família e não ele , então ele estar na diretoria era um mal sinal , principalmente contando que eu estava lá também e sem ter aprontado absolutamente nada.

“Por favor, sente-se , Emily.”, o diretor disse , na mesma hora em que Koren me viu passando pela porta do diretor.

Eu me sentei sem objeção. O que havia acontecido de tão grave para sermos chamados na diretoria? Eu conseguia ver os olhos de Koren brilhando com curiosidade. Como eu havia dito antes, Koren nunca tinha ido a diretoria antes, então essa era uma sala nova para ele. Para mim não, eu já conhecia tudo de cor e salteado. Tinha uma estante atrás da mesa do diretor com troféus que a escola tinha ganho. Na própria mesa tinha uma gaveta com aparelhos eletrônicos , revistas e bugigangas que eram pegas dos alunos pelos professores.

O diretor James estava sentado , um pouco inquieto atrás da mesa. Eu me sentei tranquilamente e me recostei na cadeira, enquanto Koren tinha os olhos focados no diretor e ficava se inclinando para frente , apreensivo.

“Eu os chamei aqui porque acabaram de me ligar do hospital.”, ele pausou e nos encarou docilmente e com um pouco de piedade. “Sua mãe teve um problema e está internada.”

“O quê?!”, eu gritei me levantando tão bruscamente da cadeira que ela que ela caiu para trás. Meu mundo estava caindo.

Mas ela estava tão bem de manhã e de repente vai parar no hospital. Isso era sem lógica, irreal.

“Se acalme, senhorita Twist.”, o diretor me pediu.

“Não me peça para me acalmar , James.”, eu disse jogando minha raiva para cima dele. Koren, esse tempo todo havia ficado quieto na mesa, olhando para o nada e eu vi de relance uma lágrima descendo pela sua bochecha.

Meu irmão não merecia isso. Primeiro perde o pai , mesmo que tivesse um ano , fazia falta e agora a mãe internada. Percebi que nós meios que trocamos de papel. Eu era a que estava fazendo escândalo e ele era o chorão.

Tudo o que eu eu soube depois era que estava em meu carro e arrastando Koren comigo em direção ao hospital. Koren não conseguia fechar a porcaria da boca e continuava chorando e soluçando alto.

Uma parte de mim queria mandar o Koren calar a boca, mas outra parte sentia pena dele. Perdeu o pai e agora poderia perder a mãe. Eu meio que tinha perdido o meu pai, já que nunca havia o conhecido e minha mãe estava em um leito de hospital entre a vida e a morte. Eu mesma não sabia como não estava chorando como Koren, mas eu sabia que tinha que ser forte. Era bem capaz de que, se eu demonstrasse fraqueza, Koren ficasse mais desesperado ainda.

Eu tenho que ser forte, eu tenho que ser forte, eu repetia na minha mente sem parar. Quando chegamos ao hospital, Koren se forçou a parar de chorar. Desde que tínhamos entrado na sala do diretor, não trocamos nenhuma palavra. Eu poderia ter o chamado de chorão, poderia ter zoado ele, mas não. Era era a irmã mais velha dele , eu tinha que cuidar dele.

Tive que rebocá-lo até a recepção do hospital. Cara, aquilo já estava cansando. Eu ainda não acreditava que minha mãe estava no hospital, talvez morrendo. Sabia que deveria ter ficado em casa, mas não. Minha mãe tinha que me arrastar da cama.

A recepcionista ficou preocupada me viu rebocando Koren chorando para dentro do hospital. Ele tinha até se forçado a parar, mas não conseguiu e abriu o berreiro na frente da moça. Esse era outro motivo para Koren não ter namorada.

“Eu estou procurando o quarto de Elizabeth Twist, por favor.”, eu disse a recepcionista. Ela continuava nos encarando de relance enquanto mexia em seu computador.

Eu imagino o que ela deve ter visto. Uma garota toda de preto , fula da vida, rebocando um garoto todo despenteado e chorando. Parecia que a gente tinha vindo de um enterro e estava pronto para ir para outro.

“Quarto 302.”, ela respondeu. E antes que você pudesse falar, idiota, eu já estava no elevador com Koren.

Eu já estava a ponto de explodir com Koren se ele não parasse de chorar igual a um bebezinho, então o segurei pelo ombro , o olhei profundamente seus olhos cinzas e disse carinhosamente (uma coisa que não fazia muito com ele).

“Koren, cala a porcaria da boca e fique forte. Você não vai querer que a mamãe te veja desfalecendo na frente dela, não é?”

“Não.”, ele respondeu seguido por um enorme soluço. “Mas e se ela não se recuperar e morrer? Eu vou ser órfão.”, ele estava parecendo uma criancinha de 12 anos de idade, cara.

Era esse momentos que eu tinha que dar uma de irmã mais velha. E, sinceramente, eu odiava esses momentos.

“Não, você não vai ser órfão. Você tem a mim e a vovó ainda. E para de ser pessimista. A mamãe ainda está viva, moleque. E para de chorar.”, eu disse e no mesmo momento a porta de elevador se abriu.

Minha avó estava sentada em uma cadeira na sala de espera. Se eu achava que o Koren estava parecendo um bebê chorão, era porque eu não tinha visto a minha avó. Ela estava acabada.

Assim que nos viu, ela foi nos abraçar. Minha avó ficou falando algumas coisas sem sentido, como “Eu tentei pará-los. Eu juro que eu tentei.”, mas eu não dava muita atenção.

Nós ficamos assim abraçados por um longo tempo, mas eu continuava sendo forte e não me permitia chorar. Mas fiquei surpresa ao ver a MINHA AVÓ desfalecendo na nossa frente. Essa era a mulher com que eu tinha aprendido a ficar forte.

Depois de uns cinco minutos abraçados, o médico da minha mãe veio nos dar notícias. Ele não tinha nenhuma expressão no rosto, então era difícil saber se eram boas ou ruins, as notícias.

“A senhorita Twist quer ver os filhos agora.”, ele nos informou.

“ E como ela está , doutor?”, perguntei já que era a única que conseguia falar com coerência. O doutor me olhou de cima a baixo, me estudando, assim como a recepcionista.

“O quadro dela é instável, mas ela está nos pedindo tanto para ver os filhos que nós abrimos uma exceção.” , ele disse e esticou a mão. “ Eu sou o doutor Mark Silveira.”.

Eu não estava com muito clima para apresentações, mas eu tinha que ser educada com o médico que cuidava da minha mãe.

Ele tinha os cabelos grisalhos , assim como os de minha avó, mas seus olhos eram azuis. Aposto que quando era mais novo deveria ter muitas mulheres caindo aos seus pés, mas quando eu olhei para a sua mão não via nenhuma aliança.

“Eu sou Emily Twist.”, eu disse apertando a sua mão. “Sou a filha mais velha de Elizabeth Twist.”

Vi os olhos do doutor Silveira se arregalaram por baixo do seu óculos. Acho que ele nunca iria imaginar que eu era a filha da minha mãe. O Koren talvez, por causa dos seus olhos cinzas, mas eu, não.

Não me incomodei com esse fato. Tudo o que eu queria no momento era ver a minha mãe e ficar ao lado dela. O que era mais incrível na minha reação era que , até agora, desde que Koren e eu tínhamos saído da sala do diretor Uyntron, não tinha derramado uma lágrima sequer. Vontade eu tinha, mas não me permitia chorar.

Eu tinha que ser forte por Koren. Eu tinha que ser forte pela minha avó. E principalmente, tinha que ser forte pela minha mãe. Então, não tinha tempo para ficar me descabelando por aí. Minha mãe sempre vinha em primeiro lugar, depois os meus sentimentos.

“Você é bastante diferente de sua mãe.”, o doutor Silveira disse.

Na verdade, o que ele queria dizer era: você é estranha demais para ser filha daquela dama. Mas era óbvio que ele não poderia dizer aquelas coisas para os parentes do internado.

“Obrigado”, eu respondi mesmo sabendo que aquela observação não era um elogio. “Poderia nos levar até o quarto de minha mãe agora?”, eu perguntei tentando ser o mais educada possível.

“Por aqui”, o doutor Silveira abriu caminho para que eu e Koren passássemos. Minha avó resolveu ficar para trás. Ela estava

muito abalada para ver a minha novamente.

A iluminação do hospital de Drexel, era boa. Não tinha muita coisa para descrever. Era como todo hospital. Luzes e paredes brancas, tudo iluminado , médicos e enfermeiros passando de um lado para o outro. Nada estava me surpreendendo naquele hospital. Nada, até ver minha mãe deitada no leito do hospital.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Caminhos para o Inferno" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.