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Tenho certeza de que essa minha fraqueza repentina não tem nenhuma ligação com esses cães demoníacos...cães infernais...o que quer que seja que ela tenha dito, acho que o meu problema é a falta de sangue. O que realmente me preocupa é o fato de eu não poder mais ingerir qualquer sangue como Lúcifer disse, não sei se isso é realmente verdade, ou se ele apenas estava brincando.

Eu preciso arranjar um modo de sair daqui, na verdade, eu preciso de um plano, um bom plano de fuga. Merda de dor, mesmo sendo um monstro não consigo a conter, sem contar a perda de sangue, em pensar que a própria Alexis me fez isso. Minha mãe previu que algo assim aconteceria que um dia eu estaria em uma partida de xadrez pronta para levar um xeque-mate sem me sobrar muitas peças para contra-atacar, é por ela que eu irei vencer essa partida, é apenas por ela que eu irei esmagar a cabeça desse peão fantasiado de Rainha.

Estou em uma sala de...espera?! Definitivamente, em uma sala como essa não acharei nada que me ajude a escapar, nenhuma alavanca que me auxilie ou algo assim, mas ao menos essa sala tem uma janela, e as correntes estão presas na parede que fica de frente para ela, se eu conseguir as soltar, posso me jogar pela janela e conseguir influenciar alguns soldados a meu favor. É o plano mais arriscado e idiota da minha vida, mas ele precisa funcionar.

Primeiro puxão...sem efeito, encaro as correntes com raiva, se eu fosse o super-man eu poderia as derreter com a minha visão de calor e depois ir voando salvar os outros. Realmente eu devo ter pirado, como posso começar a lembrar dos personagens de desenho animado numa hora dessas? Deve ser a falta de sangue.

A verdade é que eu chego a sentir um cheiro adocicado no ar de tanta sede. Esse cheiro não é ilusão, eu conheço esse cheiro, a verdade é que eu estava me perguntando onde ela havia se metido, já que desde o momento em que chegamos aqui eu ainda não tinha a localizado.

–Pensei que você tinha se arrependido Scarlett. Há quanto tempo você esta ai? –Perguntei sem a encarar ainda forçando as correntes, e sentindo o meu sangue escorrer ainda mais com esse ato.

–Tempo suficiente para entender a sua atual situação e querer te tirar daí.

–Uma demônio se preocupando com uma vampira? Isso é possível? –Perguntei encarando o sangue que pingava no chão.

–Não te trato como uma vampira desde o dia em que você tirou a Charlotte sozinha do inferno, usando-se como moeda de troca, colocando sua vida em risco. Naquele dia Nyx você conquistou o meu respeito e admiração. Agora fique quieta que eu irei te tirar daí. –Scarlett disse se aproximando das correntes.

–Scarlett. –Falei finalmente a encarando.

–Sim?

–Eu não quero que você me salve.

–Como? Você enlouqueceu com a perda de sangue? A sua intenção não é acabar com a Anne?

–Não, eu não enlouqueci. Acabar com a Anne é uma das coisas que eu mais desejo, mas minha vida não terá valor se eu não a desmascarar e a derrotar em seu próprio jogo.

–Você pretende brincar com a sua vida? Não, melhor ainda, com a vida de todos que dependem de você?

–Eu irei lhe refazer a mesma pergunta... Uma demônio se preocupando com uma vampira?

–Eu não lhe disse a resposta? –Scarlett me perguntou irritada.

–Não, não a verdadeira resposta. –Falei a encarando firmemente nos olhos.

–Certo, depois que eu vi suas memórias e pensamentos minha opinião sobre você mudou subitamente, você é uma pessoa um tanto complicada e nada confiante, isso me intriga ainda mais, afinal como alguém assim consegue ser uma guerreira? É realmente não consigo te entender Nyx Night. –Scarlett falou rapidamente andando de um lado para o outro.

–Você não é a primeira que me diz isso. Existem duas coisas que eu quero que você faça enquanto a minha execução é preparada. Primeiro avise a todos menos ao Vinicius para que tentem se soltar daqui duas horas, só assim eu poderei negociar com a Anne. Segunda, peça para a Charlotte ficar atenta que são vocês duas que libertaram os outros. Um último favor recupere as espadas, e me entregue amanhã antes de salvar os outros. Acho melhor...cof...cof... você ir, se alguém te pegar nosso plano já era. –Falei cuspindo um pouco de sangue enquanto tossia.

–Você esta bem? –Scarlett perguntou se aproximando e tirando o pedaço de camiseta que impedia a sua visão do meu ferimento, e apertando para estancar o sangramento do mesmo. –Quem fez isso em você? Está doendo muito?

–Faça o que eu pedi, estou me recuperando lentamente, não se preocupe comigo. –Eu disse tentando me afastar de suas mãos.

–Você pode morrer...

–Eu estou bem. –Gritei esquecendo aonde me encontro, o que ocasionou em alguns passos vindo na direção da sala qual eu estou presa, e mais uma grande onda de dor intensa. –Vá, tem alguém vindo.

***

Segundos antes do guarda aparecer Scarlett desapareceu, deixando apenas alguns pingos do meu sangue aonde antes se encontrava.

–O que esta acontecendo aqui? –Um guarda gritou colocando a cabeça para dentro da sala.

–Chame a Anne aqui agora, quero fazer um trato com ela. Chame-a ou do contrário, todos iremos fugir e destruir todas as vamcorps. –Gritei furiosa, forçando os braços com brutalidade.

O guarda saiu correndo, parece que consegui colocar medo o suficiente nele, talvez minha reputação esteja tão ameaçadora que até um capanga de merda como esse me teme. Espero conseguir negociar.

–O que esta havendo? O que você quer sua louca? –Anne perguntou entrando gritando dentro da sala onde estou presa.

–Deixe-me ver o Vinicius.

–Porque eu deixaria?

–Último desejo, todo o condenado a morte tem esse direito.

–Certo, eu deixarei já que hoje à noite fico livre de você para sempre. –Anne disse se retirando da sala com um sorriso no rosto.

O que aconteceu? Eu ainda não entendi, ela realmente deixou eu me despedir do Vinicius, eu realmente não precisei a ameaçar? Deus, ela deve estar tramando algo, preciso cumprir o plano com precisão e eficácia.

–Aqui está o que você pediu Nyx, aproveite é apenas uma hora. –Alexis disse jogando Vinicius dentro da sala.

–Nyx, como você conseguiu que a Anne me deixasse vê-la? Eu estava preocupado. –Vinicius disse correndo e me abraçando.

–Consegui fazer valer o meu último desejo antes de hoje à noite. –Falei sorrindo doloridamente, já que o mesmo deve ter me quebrado algumas costelas com a força de seu abraço.

–Você não vai morrer eu não... O que é isso? –Vinicius perguntou encarando sua camisa branca manchada de sangue, e depois olhando para mim até encontrar o ferimento.

–É só um ferimento, ele já esta cicatrizando. A Anne fez algo pra você? Machucou-te?

–Não, mas foi ela quem te feriu? E o seu ferimento não esta cicatrizando, parece que uma arma enorme foi enfiada em seu abdômen e deixada ai para que você não possa se curar. Eu estou preocupado Nyx, você não pode morrer. –Vinicius disse segurando o meu queixo.

–Não, foi a Alexis, não sei de que material orgânico do qual a mão dela é feita, só sei que ele realmente machuca, e nas minhas atuais condições é difícil se regenerar, eu só não posso fazer muitos movimentos bruscos. Eu não morrerei Vinicius, vendo minha alma para Lúcifer mais não morro, não darei esse gosto para a Anne. –Falei sorrindo tentando o tranqüilizar, o que resultou em um dos seus famosos olhares que ele usa quando segundo o mesmo estou sendo irresponsável, o que no meu ponto de vista não é verdade.

–De forma alguma você ira entregar a sua alma para Lúcifer, eu não permitirei isso, deixe que eu resolvo, peço para a Anne que liberte você e os...

–Se eu não posso entregar minha alma para Lúcifer, você não pode fazer tratos com a Anne, ela quer te usar como um brinquedo novamente Vinicius é tão complicado você entender? Ela quer brincar de dominar.

–Lúcifer quer te ter como uma guarda-costas pessoal que vai atender todos os seus caprichos, isso se ele não tiver ainda outras intenções a seu respeito. –Vinicius disse me encarando de cima a baixo. –Falando nisso, onde você arranjou essas roupas?

–Uma demônio me incorporou e acabou com a minha camiseta e calça favorita, como eu estava em meio a uma viagem um tanto quanto complicada ainda não tive o prazer de trocar esses trapos. Sem falar que ela esta me dando a maior dor de cabeça a respeito do Dennis. –É mesmo, faz algum tempo que aquela louca não diz nada sobre ele, será que finalmente se curou da sua obsessão? Ou será que de alguma forma tudo piorou? Deus eu realmente preciso sair logo daqui.

–Como assim? Uma demônio não pode...

–Estar apaixonada por um lobisomem você diz? Não tenho certeza se ela realmente o ama, mas que de certa forma algo nele a atrai, e ultimamente ando vendo muitas coisas estranhas que acho que isso soaria até normal aos meus ouvidos. Só não quero ter que agüentar ela o chamando de cachorrinho pra lá e pra cá, e ter o meu corpo usado para o beijar novamente. –Falei lembrando o pobre Dennis confuso me encarando como se ele tivesse visto algo assustador.

–Ela fez o quê? Como o...como o Dennis reagiu? –Vinicius perguntou, esquecendo a situação que eu atualmente me encontro, tendo os ciúmes novamente dominando o seu corpo e mente.

–O cachorrinho...putz, viu esse negócio pega. Bem, o Dennis ficou tão assustado quanto pode, sem falar que ele está com um pouco de medo de mim, pra dizer a verdade eu estou com medo de mim, não ter certeza do que está acontecendo consigo mesmo é muito aterrorizante.

–EU ainda não entendi porque você me tratou tão mal ao telefone outro dia, não era como se fosse você.

–Realmente não era eu.

–Como? Era a sua voz, o Dennis realmente entregou o celular pra você, não me diga que essa demônio havia te incorporado naquele exato momento?

–Sim, eu pedi para que ela o fizesse, não sei se você lembra mais Victor tirou um pouco do meu sangue, e enquanto tirava ele me colocou um rastreador, foi por isso que eu pedi que ela me incorporasse, para que eu descobrisse a localização do rastreador e o removesse.

–Conseguiu o retirar?

–Aconteceram alguns problemas técnicos, mas a Scarlett o retirou para mim. Mesmo sendo uma demônio, a mesma tem se mostrado muito confiável.

–Uma demônio virou a sua amiga? Vejo o tipo de gente que convive com você enquanto estou fora.

–Tipo de gente? Vinicius qualquer vampiro, que suga sangue está próximo de ser um demônio, se já não o for. Não defendo o tipo de vida que levam, nem o tipo de vida que levamos, apenas estou dizendo para que não diga coisas que você mesmo não entende.

Vinicius ficou me encarando tristemente por alguns momentos como se pedisse perdão, ao mesmo tempo em que me perguntava algo.

–Existe mais alguma novidade Nyx? Algo que você quer me contar, algo que todo mundo inclusive a Anne esta me escondendo? Qual é a verdadeira razão de você ter me chamado aqui?

–A Helena me fez pensar em uma possibilidade e foi por isso que inicialmente queria te ver.

–Por quê?

–Caso aconteça algo. Caso eu morra. Mesmo que isso não aconteça, quero que você tome conta das vamcorps, elas não podem ficar sem uma supervisão adequada, e como eu não posso o fazer, quero pedir isso pra você, a única pessoa em que confio.

–A pessoa mais adequada para isso seria você. Nyx a guerreira aqui é você e não eu. Porque você não pode assumir as Vamcorps?

–Porque eu sou um anjo negro. Porque eu já não sei o que devo fazer para remediar essa maldição. Porque eu tenho medo de te machucar Vinicius. Isto foi algo que eu escolhi sem saber, eu fiz a maior burrice da minha vida, por isso eu passava mal, mas não sabia o porque. Desculpe-me pedir isso a você, entendo se você quiser rejeitar o meu pedido.

–Nyx...

–Mesmo que meu atual objetivo seja tirar-te da Anne, não vou poder ter você comigo quando isso acabar. Essa deve ser a minha punição pelos meus pecados, nunca poder ter aquilo que eu mais desejo, engraçado, não é? –Perguntei para ele deixando algumas lágrimas rolarem. –Minha mãe me disse um pouco antes de morrer: “Lute, lute por tudo aquilo que deseja ter e defender. Faça cada inimigo ter medo de sua determinação; Proteja seus amigos, e os honre; Lute por seu amor e o conquiste; Mas o essencial... Não se esforce tanto filha...”

–Sua mãe era uma mulher sábia, gostaria de tê-la conhecido.

–Ela não era sábia. –Gritei em desespero. –De alguma forma ela sabia que tudo isso iria acontecer, de alguma forma ela sabia que eu iria virar esse monstro maldito, ela sabia que iria morrer por isso parou de lutar.

–O que você esta fazendo agora Nyx não é parar de lutar? Você mesma disse que ira morrer várias vezes desde que eu entrei nessa sala, realmente acredita nisso? –Vinicius me perguntou indagador.

–Eu...-perguntei me acalmando e tentando pensar.

–Já entendi porque você não consegue fugir daqui. Essas correntes têm uma relação com a sua atual condição, são correntes feitas de cães demoníacos, não são? E você também não conseguiu ingerir sangue pelo o que Dennis me contou, isso prejudicou muito o seu quadro, por isso não consegue cicatrizar os ferimentos. –Vinicius disse enrolando uma manga de sua camisa.

–O que você pensa que esta fazendo? Não pense em...

–Não estou pensando, estou fazendo. Se você não ingerir sangue agora, você pode morrer sabia disso? Seus ferimentos são muito graves, a perda de sangue é em demasia. Você vai beber este sangue nem que eu tenha de obrigá-la. –Vinicius disse passando as presas sob um machucado ainda não cicatrizado do seu braço, deixando o sangue escorrer.

–Vinicius eu...

–Quando sua mãe morreu não havia mais nada o que fazer por ela, e mesmo depois dela ter descoberto que estava para morrer continuou lutando, do contrário não à porque dela ter lhe dito aquilo. Não irei deixar você se entregar assim pra Anne, não sem lutar, porque está não seria a Nyx que eu conheci há tanto tempo, essa não é a Nyx que amo. –Vinicius disse colocando o seu braço por onde escorria o sangue em minha boca.

O sangue dele é diferente. Não tem o mesmo gosto do animal que eu tomei antes, eu pensei que nesta atual condição, era para que nenhum sangue além o de anjo, ou de um demônio pudesse me satisfazer. Será que...? Meu sangue deve ter o afetado. Meu sangue o manchou...Meu deus, amaldiçoei o ser que mais amo.

–Vinicius. –Chamei-o sentindo as lágrimas querendo vir novamente, enquanto eu lambia os meus lábios aproveitando o seu saboroso sangue. –Você...ainda não teve nenhuma mudança? Você ainda é só um vampiro comum, certo?

–Não, eu estou igual, por que...

–Vinicius, sua hora acabou. –Alexis disse colocando sua cabeça dentro da sala.

Vinicius se encaminhou em direção à porta, com a cabeça baixa, parecia à postura de quem acabara de ser derrotado, de quem perdeu algo muito precioso.

–Ele não pode me dar um beijo de despedida? –Perguntei tentando parecer fraca.

–Rápido, se demorarem muito... -Alexis sorriu transformando o seu braço em uma ponta de lança.

–O que você tem em mente? –Vinicius perguntou antes de selar nossos lábios.

–Anne modificou as memórias dela, não a odeie, porque eu não a odeio.

–Agora eu entendo o porquê da indiferença.

–Andem logo. –Alexis gritou da porta.

–Prometa que você as assumirá para mim, prometa que você as defenderá. Em resposta eu prometo que darei um jeito, que tentarei de todas as formas me livrar dessa maldição para voltar pra você. –Falei para Vinicius em uma tentativa frustrada de sorrir.

–Eu as assumirei, cuidarei delas até que você possa voltar. E sem dúvidas encontrarei o antídoto para você. –Vinicius disse ao alcançar a porta, ainda sem se virar.

–Obrigada.

–Vamos, -Alexis disse pegando o braço do Vinicius e o arrancando da sala- vocês me dão nos nervos.