O carro da Sra. Fabray parou na frente da casa dos Berry. Àquela hora, todo o nervosismo que acompanhara Quinn por toda a tarde havia ido embora para ser convenientemente substituído pelo medo. Iria conhecer oficialmente os pais de Rachel, embora não fosse isso que preocupava Quinn. Para Rachel ter feito um escândalo maior que os diários para que fosse ao jantar, alguma coisa ela estava armando. Depois da canção do Baile, Quinn não duvidava mais de nada.

— Pronta? — perguntou Judy, já do lado de fora do carro, na janela do passageiro, esperando uma Quinn paralisada.

— C-claro — respondeu a garota, esforçando-se para abrir a porta com as mãos trêmulas. Após uns minutos de sofrimento, ela conseguiu abri-la com violência, quase derrubando sua mãe.

— Desculpe — murmurou.

— É melhor entrarmos — aconselhou a Sra. Fabray, segurando Quinn pelos ombros.

— Também acho.

Quinn tropeçou algumas vezes até chegar à porta, mas não pôs em risco sua mãe ou seu visual impecável de última hora que ela e Santana arrumaram. Tocou na campainha, seu rosto corando fortemente após o pequeno ato. Imaginou que viraria um tomate muito maduro antes mesmo do jantar terminar.

Um dos pais de Rachel atendeu. Ele sorriu calorosamente e disse seu nome, mas Quinn não ouviu. No fundo do corredor, uma Rachel sorridente com um de seus coletes (que um dia achara ridículo, mas que hoje adorava) e uma saia xadrez muito curta olhava para ela, parecendo orgulhosa de ter aparecido.

— Oi — disse Quinn bobamente quando Sr. Berry Um a deixou entrar para abraçar Rachel.

— Senti sua falta — Rachel disse, se embebedando com o perfume dos cabelos loiros de Quinn.

— Eu também.

Elas ficaram por ali, abraçadas por longos minutos, obviamente percebendo que não poderiam se beijar, não quando os pais estivessem por perto.

— Garotas, o jantar — disse o Sr. Berry Dois educadamente após uns vinte minutos.

Sra. Fabray parecia estar se divertindo. Quinn ouvia a risada dela da sala. Ria de tudo, parando para elogiar desde o cheiro da comida até os quadros pintados por Rachel quando criança nos corredores. Quinn, por outro lado, sentira o coração aliviar totalmente enquanto sentia o de Rachel ao abraçá-la para verem um pouco de TV. Percebera que não precisava ficar nervosa: estava com Rachel e tudo, até um jantar brega daqueles, era bom.

— Já vamos, papai — falou Rachel, levantando-se do colo de Quinn. Estendeu-lhe a mão. — Aceita uma companhia para este jantar? — perguntou sorrindo.

— Claro — respondeu Quinn, cantarolado The Way You Look Tonight, que desde a noite passada era sua música favorita.

— Espere até ouvir a de hoje — disse Rachel, pegando a mão de Quinn e a ouvindo cantar. Contudo, Quinn ficou sem resposta para seu olhar inquiridor.

Quinn poderia dizer que aproveitaria muito mais o jantar se não estivesse preocupada com o que Rachel iria aprontar. Da última vez que alguém lhe cantara algo durante um jantar acabara expulsa de casa. No entanto, no quesito refeição, o jantar estava ótimo. Judy parecia ter enturmado bastante com Leroy, que Quinn descobriu ser o nome do pai de Rachel que atendera a porta, e pedia dicas de como cozinhar uma lasanha vegetariana tão bem. Hiram conversava com Rachel e Quinn, perguntando-as coisas variadas sobre a escola.

— Você recebe muitos solos, Quinn? — ele indagou diretamente, enquanto a garota parava o garfo na metade do caminho à boca, pensando.

— Não muitos — respondeu, pousando o garfo no prato novamente. — Rachel é nossa melhor cantora, é justo que ela fique com mais solos. Devo admitir que quando cantamos juntas foi... inspirador.

— Obrigada — disse Rachel, ficando vermelha. — Sua voz é linda também, Quinn.

Quinn agradeceu com a cabeça e baixou os olhos para seu prato, deixando os Berry conversando sobre o Glee. Comeu o resto da sua lasanha (que, em sua opinião, mesmo sendo vegan, faltava um pouco de carne e bacon) lentamente, observando sua mãe, mais animada que ela, e os dois pais da garota que amava. Pela primeira vez em muitos anos, sentia-se confortável em um jantar de família. Era como se fizesse parte daquilo.

— Bom, já que todos terminaram — falou Rachel, levando o seu prato e o de Quinn para a cozinha —, eu gostaria de fazer um pequeno anuncio. Por favor, Sra. Fabray, Quinn, sigam meus pais até o porão.

Pronto. Quinn morreria dali a pouco, de vergonha ou impressionada pela surpresa de Rachel. Não saberia dizer como conseguira levantar-se da mesa de jantar e seguir Hiram e Leroy até o porão, seu coração quase tendo um ataque ao ver Rachel lá em cima de seu palco particular com um sorriso indecifrável no rosto.

— Quinn, eu sei que você não gosta dessas coisas caretas, mas eu não sabia como lhe pedir algo tão importante — disse Rachel, piscando para a Fabray. — Ontem, eu lhe cantei The Way You Look Tonight, mas foi apenas um aperitivo para o que eu realmente queria fazer hoje. O bracelete... Bem, era algo já programado. Mercedes me deixou fazer isso desde o início. O que você fez ontem, no entanto, forçando Finn a me proteger de Jesse... eu realmente não esperava aquilo, e me deu forças e coragem para fazer o que estou prestes a fazer. — Rachel sorriu mais uma vez. — Você é a garota que eu amo e nenhuma raspadinha na cara vai me convencer do contrario. Então, espero que goste.

Rachel ligou o pequeno rádio aos seus pés.

It's a little bit funny this feeling inside

I'm not one of those who can easily hide

Quinn sentiu os olhos lacrimejarem. Rachel estava cantando Your Song, de Elton John, a música mais romântica que podia se ganhar numa vida inteira.

I don't have much money, but boy if I did

I'd buy a big house where we both could live

And you can tell everybody this is your song

It may be quite simple but now that it's done…

Como, perguntou-se Quinn, Rachel Berry poderia ser tão perfeita? Ela era a melhor coisa que já lhe acontecera, aquilo era fato.

— I hope you don’t mind, I hope you don’t mind... — cantarolou Rachel, descendo do palco e fitando Quinn diretamente, segurando uma de suas mãos — that I put down in words. How wonderful life is while you're in the world.

Duas músicas perfeitas em duas noites maravilhosas. Quinn não tinha palavras para descrever aquilo.

I sat on the roof and kicked off the moss

Well a few of the verses well they've got me quite cross

But the sun's been quite kind while I wrote this song

It's for people like you that keep it turned on

And you can tell everybody this is your song

It may be quite simple but now that it's done

I hope you don't mind, I hope you don't mind

That I put down in words

I hope you don't mind, I hope you don't mind

That I put down in words

How wonderful life is now you're in the world

Quando Rachel terminou de cantar, Quinn a abraçou e a beijou, esquecendo-se de sua mãe e dos pais dela. Rachel era sua, tinha que demonstrar aquilo de alguma forma.

— Quinn, me desculpe se for muito brega ou clichê, mas... — Rachel ficou de joelhos e tirou uma caixinha preta do bolso de trás de sua saia minúscula — eu prometo não ser irritante o tempo todo, prometo dedicar a você uma música por semana no Glee e vou obrigar o Mr. Schue te dar mais solos.

Contudo, antes de dizer as palavras que Quinn queria tanto ouvir, Rachel virou-se para a Sra. Fabray.

— Me permite que eu tenha sua filha? A mãe de Quinn riu, as lágrimas saindo copiosamente.

— Claro! Não vou impedir, não depois do que acabou de fazer

Rachel sorriu, voltando sua atenção para Quinn outra vez, abrindo a caixinha e deixando à mostra um anel dourado com um brilhante no topo. Tirou-o da caixa e o colocou delicadamente no dedo de Quinn.

— Você é minha agora, Fabray — brincou, levantando e abraçando a agora namorada.

— Sempre fui, não? — retrucou Quinn, enquanto Leroy as chamava para comer a sobremesa. — Nem tem graça mais.

Rachel mordeu o lábio, concordando, dando um selinho em Quinn antes de subirem.