Le Téâtre Imaginaire. escrita por Diddy


Capítulo 4
Rêverie


Notas iniciais do capítulo

Peço desculpas novamente pelo atraso na postagem do capítulo. Mas ocorreram alguns problemas com a conexão da minha internet aqui em casa, e levou um tempo até que fosse corrigido. Agora que consegui estabilizar a conexão, vou ler algumas histórias que fiquei de ler. Haha. E como de praxe agradeço pelos reviews. Sem dúvida nenhuma eles incentivam bastante o escritor.
Devaneio libertino. Realidade em ruínas. Paralelo imperfeito. Cicatriz amaldiçoada. Desejo inconsciente e insano por liberdade. Desconhecimento da alma. Construção de um novo caminho. Fantasia fatídica. O mundo real, abstrato. Afirmações contraditórias. O fim do começo.

O começo do fim...

Leia com carinho. Escrevi de coração. =)
Boa leitura.



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Devagar seu rosto virou-se para trás, e sua cabeça pendeu ligeiramente para o lado, com olhos de vidro estilhaçados. Com mil cacos quebrados a refletirem, como um espelho, a sua própria alma ali na sua frente, somente a alguns passos dela mesma. Uma visão deturpada da salvação de uma alma inocente; estendia-se como uma enorme sombra. E somente a sombra exibia no chão, grandes asas negras. Mas Mary não percebeu, pois estava sobre as asas no chão, como protegida.

                                     “Sombras não vivem na escuridão.”

Sua boca entreabriu-se e suas últimas lágrimas escorreram do rosto pálido. Seu olhar percorria toda a visão a sua frente. Desde o sorriso travesso, até os botões do paletó. E aqueles olhos cor de sangue... Não poderia ser um bom presságio.

A menina levantou-se e deu alguns passos a frente. Mostrou-se então a figura ainda indefinida muito maior do que a pequena Mary, totalmente deslumbrada com a situação toda.

- Quem... É você? – Ela indagou por fim, cortando a atmosfera de mistério e silêncio. A voz saiu como se escorregasse do canto da boca, como que tivesse caído no ar sem querer.

- Você realmente não sabe minha querida Mary? Estive com você há tanto tempo... – Mary reconhecia aquela voz doce. Já ouvira antes, e como poderia se esquecer?

Um raio cortou os céus iluminando o quarto. Um trovão rugiu com fúria quebrando montanhas ao meio. A chuva batia na janela e as árvores no jardim dançavam, cantando com os mortos. Agora tão tenebroso aquele quintal, que outrora fora tão radiante e alegre.

O sino da igreja badalou, anunciando três horas da tarde. Badalaram os sinos, como se estivessem purificando, do morro de sua igreja, todos os arredores. Mas até mesmo o tiquetaquear do relógio de Mary em seu quarto, podia fazer isso, sem muito esforço.

Um devaneio inocente no breu de um quarto. Escondia um diabólico demônio, ou um imaculado anjo? As lágrimas do céu anunciavam aos deuses do mundo humano, um acontecimento por eles não controlado.

 “A história apenas começou.” Dizia o vento fazendo um brinde enquanto assoviava.

O começo do fim.” Argumentou ligeiro o sol tristonho atrás das nuvens.

 -... Vincent... – Mary calou a todos, e como uma adivinhação soprada no ouvido. A palavra saiu naturalmente de sua boca, e sem saber como, ela levou os dedos até os lábios.

- Foi esse o nome que recebi. – Sorriu satisfeito, mostrando os dentes brancos. Perfeitamente alinhados, um sorriso grande e bonito. Digno de um bom retrato.

Suas mãos nas costas, com postura disciplinada e olhar rebelde e brincalhão. Falava em bom som e claramente.

- Você é real? Ou estou mesmo ficando maluca? – Ela deu um passo para trás, com os olhos bem abertos.

- Meu anjo. Maluca seria se você gritasse quando tivesse me visto. Todos nós somos loucos por aqui.

Mary aproximou-se vagarosamente, atenta a qualquer ação do homem. Aproximou-se com permissão do mesmo. Ergueu sua mão e tocou o cabelo que caía pelos ombros, cabelos lisos e negros. Compridos e macios. Deslizou a mão pelo paletó do coelho negro, e subitamente procurou-o pelo quarto, mas não estava em lugar nenhum.

Ela não estava mais em lugar nenhum. Estava lá onde ninguém mais poderia encontrá-la agora.

Sentia a temperatura através da roupa, a respiração calma e compassada. Observou o estranho destaque que tinha seus olhos em seu rosto corado. Sua boca era bonita, e seu lábio inferior maior que o superior, seu arco subia e descia, como uma montanha. Ele a olhava vigilante, apenas com os olhos, sem baixar a cabeça.

- Você não pode ser real. Não estava aqui, e depois estava em um instante. – Ela franziu o cenho, falando sem medo. Já que não era real, não podia fazer mal a ela.

- Agora você vê. – Ele disse de outro lugar do quarto. Ela olhou em volta a procura da voz e ao voltar-se para frente, já não estava mais lá. Confusa, seu coração palpitou amedrontado.

– Agora não vê mais. – Um sussurro ecoou com doçura carregando uma risada implícita, em tom baixo perto de Mary.

Ela girou em torno de si, procurando em cada canto do quarto. Havia desaparecido como por mágica. Respirou dificilmente, tentando se convencer de que aquilo não passou de sua imaginação. E que ele não voltaria novamente. Porém depois da ultima observação, um desânimo invadiu seu peito. Talvez fosse bom se ele voltasse outra hora. Um perfume gostoso invadiu o quarto, fazendo com que Mary respirasse fundo para sentir o cheiro, sabia do que era, mas não sabia dizer.

Cheiro de Vincent...” Conclui enfim.

Sentou-se em sua cama, e refletiu sobre o que havia acabado de acontecer ali. Colocou a mão em sua testa, e ajeitou seu cabelo facilmente, colocando-o atrás da orelha. Baixou suas duas mãos no colchão, e sentiu algo ao fazer isso. Tocou em alguma coisa que estava ali antes dela se sentar. Puxou o ar para dentro e levantou a mão rapidamente quando viu que o coelho estava ali jogado. Levantou-se desastrada, deixando a cartola do pobrezinho cair no chão empoeirado. Tropeçou em seus próprios pés enquanto tentava se equilibrar, até que finalmente tropicou em algo e caiu de costas no chão.

Com um resmungo de dor ela se sentou, levantando o corpo, para ver o que a tinha feito cair. Cruzou as pernas e observou ali no chão, uma caixinha prateada que não estava ali antes. Prata fosca, mas ainda assim brilhava. Mary abriu a caixinha devagar e no mesmo instante, um brilho de sol iluminou o quarto, começando com Mary ali sentada, examinando a caixa. Como se quando ele tivesse aberto a caixa, abrisse nos céus uma passagem para o sol.

Uma musica começou a tocar com lentidão e o volume aumentava gradualmente. No tampo da caixa, na parte de dentro, havia um espelho que refletia a pequena, enquanto era ressoado o som metálico das notas que vinham seguidas, formando uma doce melodia. Uma música suave, daquelas de caixinha de música pôs-se a tocar de forma sublime.

No reflexo ela o viu novamente e olhou para trás com esperança de encontrá-lo desta vez, mas nada. Ela a estava enganando, brincando com ela. Olhou para a cama a sua frente e lá estava ele, jogado como o coelho estava. Deitado na cama dela, com os braços estendidos. Ele viu como era real ao sentar-se na cama, ficando ereto novamente pegando a cartola do chão. Soprou-a fazendo uma fumaça de poeira voar no ar e limpando os lados dela, com as mangas do paletó. Só observava as ações, com um arrepio na espinha, que subia e descia. Um nó no estomago, cheio de preocupação. Um aperto no coração causado pelo medo de que algo ruim acontecesse com ela.

Colocou a cartola negra na cabeça ajeitando-a, mas ainda assim ela ficou sutilmente torta. Levantou-se graciosamente apesar da altura e ajeitou sua roupa com cuidado.

Mary ia fechar a caixinha de música quando ele estendeu a mão para ela e disse melodiosamente.

- Concede-me uma dança senhorita? – Luvas brancas envolviam sua mão.

- Somente se você me disser de onde veio. – Mary se levantou depois da proposta feita, com vontade de sorrir para ele, que sorria a todo instante de olhos cerrados.

Ele pareceu pensativo por um momento, e o sorriso se fechou com decepção, o que quase fez com que Mary se arrependesse de propor tal acordo. Abaixou sua mão, que Mary recusou uma vez, parecia ele pensar na resposta que ia dar. Como se quisesse ser realmente convincente. Mary não pode recusar uma dança assim.

- Sou seu. Sou você, assim como eu sou eu. Assim como você sou eu. Somos nós entende? Daqueles difíceis de desatar. – Parou de falar por um instante, inexpressivo, só para ver se ela prestava atenção, então pensou e continuou. - Sou tão real quanto essa caixinha de música tocando. Você consegue ouvi-la não é? Vim para lhe ajudar. Para sair desse mundo junto com você. O que você acha de irmos para outro lugar?

Sorriu com inocência. Ele tinha olhos expressivos que exigiam atenção. Um meigo olhar que pedia carinho. Faiscou invisível o brilho cego daqueles olhos que badalavam os sinos da autodestruição, que se escondia por trás da máscara do desespero que alimentava sua realidade. Não, ele realmente pode ajudá-la. Dando a ela o que ela mais quer.

- Para onde nós vamos? – Ela disse pausadamente, tomando cuidado com cada palavra dita. – Para onde você vai me levar?

- Para onde quisermos. É um lugar escondido aqui mesmo. Como uma ferida entende? Um rasgo.

- Aqui mesmo? – Ela não entendia. Não conseguia compreender do que o estranho falava. Mas em seu íntimo, ela tinha certeza absoluta, que tudo ficaria bem.

- Daqui nós podemos ir para onde quisermos. Agora, dance comigo meu anjo. – Novamente, com aquele sorriso de satisfação e olhos sombrios cerrados, ele lhe estendeu a mão, confiante.

Seu braço se ergueu, a perna dormente de ficar sentada. A menina se levantou, cheia de encantamento. Andou com um pouco de dificuldade devido à dormência, mas ignorou esse fato. Suas mãos se tocaram.

Vincent fechou os olhos e suspirou fundo aliviado. A mão dele era quente, grande, a dela era gelada e pequena. A caixinha de música tocava e de repente um sentimento estimulante cresceu no centro de Mary. Ela queria dançar.

Apoiou com certa dificuldade a mão sobre o ombro de Vincent. Ele com delicadeza a segurou pela cintura enquanto guiava-a pelo quarto. Ela deixava-se ser conduzida por ele, e logo entraram em um ritmo com sincronismo. Conforme a música da caixinha ia ficando cada vez mais rápida, os dois aceleravam o compasso, levados pela sinfonia contagiante da alegre e suave música.

Ela sabia o que fazer, sem nem mesmo saber como, seus pés se moviam com suavidade, livremente. Ele era ágil enquanto guiava a menina, prestando atenção em cada giro, cada passo, cada piscar de olhos, cada fio de cabelo que se jogava com a força do movimento. Para lá... Para cá...

O sol brilhou por inteiro. Como se convidado para assistir a um casal dançando apaixonadamente. Mas quem ela ama mais, a não ser ela mesma, depois de não considerar mais ninguém digno de seu amor egoísta? E o amor transbordou.

Cada gotícula de chuva que resolveu ficar para espiar a luz do sol refletiu, como um espelho, uma luz branca projetando no azul do céu, agora tão claro, um arco multicolorido. Em um meio círculo perfeito, que contornava a paisagem, então despercebida de Mary, que brincava alegre com seu mais novo amigo. Ou brinquedo?

Logo a música foi parando, cada vez mais lenta, parando aos poucos. E terminando com uma nota perdida, sem continuação ao fim. Vincent fez uma reverencia galante no final, e beijou-lhe as costas das mãos da menina. Sorrindo faceiro, alegre por ela estar alegre, instigado pelas covinhas que ela exibia pela felicidade que adquiriu em uma simples dança, levada por um estranho no meio da tarde.

Felicidade que ela desconhecia há tempos. Que havia se esquecido de sentir. Não lembrava mais do gosto, nem do aroma. E agora tudo vinha tão claro, tão nostálgico.

Fechou os olhos por alguns segundos, e como seu habitual olhou pela janela, para observar o quintal. Sem querer fez rimas, reparou na incrível mudança no clima.

No céu exibia-se elegante. Um imenso arco revigorava sua alegria. Tornava o momento, outrora tão intrigante, num instante de magia.

E sorriu de verdade.

Com sua tristeza agora perdida.

O momento se foi enfim, terminando com um beijo de despedida.

Suave e quente.

Irreal, incoerente.


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Notas finais do capítulo

Bom, é isso. Acho que o capítulo dessa vez foi bem menor.
Desculpem-me, parecia tão grande haha.

Ficou até mais poético, penso. Mas bem, espero que apreciem a história. Mande conselhos, e críticas construtivas.
Digam-me no que acham que erro, no que acerto, quem sabe assim eu possa evoluir ainda mais.

Obrigada a todos e até a próxima que já estou escrevendo.

Muitos Beijos! ;*



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