Le Téâtre Imaginaire. escrita por Diddy


Capítulo 3
Fragments d'une poésie.


Notas iniciais do capítulo

Bom primeiramente quero desculpar-me pela demora.
Alguns problemas pessoais e circunstâncias extenuantes surgiram por aqui. Então não foi possível terminar o capítulo semana passada.
Mas eu o terminei esta semana! E aqui está.

Obrigada pelos reviews mandados, eles realmente incentivam e motivam bastante! =)

Uma história que se desvenda aos poucos, juntando fragmento por fragmento. Como um quebra cabeça de peças perdidas.

Boa leitura e espero que gostem! ^^



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O vento soprava mais forte causando o farfalhar das árvores e do mato que crescia perto da cerca do quintal. A ventilação dentro da antiga casa causava um assovio assustador, que fazia Eleanor arrepiar-se enquanto observava o céu através da janela da cozinha. O vento era como um sussurro no pé do ouvido, anunciando uma tarde melancólica e chuvosa em casa, de lareira acesa com suas labaredas esquentando os pés, enquanto se lê um bom livro.

Eleanor levava uma feição preocupada e pensativa em seu rosto. Lembrando-se de quando levantou pela manhã, alarmada com os berros assustados de sua sobrinha em seu quarto. E que quando chegou lá correndo, encontrou-a em seu banheiro em estado de choque, com o corpo molhado, nua, e com os seus cabelos curtos e danificados.

Divagou sobre o que poderia ter ocasionado tal perturbação na pequena garota, tentando arranjar uma solução para sua tristeza, uma explicação, pois por mais que ela perguntasse o que havia de errado, a menina não respondia e levava apenas um olhar de terror em seu semblante. Um olhar digno de pena.

Sentia-se mal, e pensava que nunca poderia nem mesmo chegar perto de significar para Mary o que sua mãe um dia significou. Nem ajudá-la com um espírito materno existente em todas as mulheres, pois por mais que Eleanor tentasse, Mary parecia sutilmente se desviar da ajuda. Sentia que havia falhado em seus esforços, ou quem sabe, não havia se esforçado o bastante.

Espantada com o estrago no cabelo da pequena, ela o havia arrumado, deixando em um estilo Chanel. Cortou seu cabelo como se cortasse os cabelos de nilon de uma grande boneca sem vida, com uma aparência bizarra e fria. Sem nenhum sentimento naquele corpo de pano, onde não bate um coração. Onde sangue não pulsa, mas lágrimas escorrem.

Depois da cena que ela presenciou, a mulher de pele dourada resolveu escrever para Verônica, contando-lhe na carta o ocorrido, com esperança de que a recém formada em psicologia pudesse ajudar de alguma forma. Além do que, sua irmã mais velha poderia lhe proporcionar um pouco do que a pequena tanto sentia falta naquela casa que a deixava tão solitária. Um pouco da fraternidade que ela havia perdido aos poucos.

Eleanor tamborilava devagar os dedos na pia apreensivamente, enquanto se apoiava na mesma e distanciava seu olhar castanho para o céu cinzento, que de quando em quando, iluminava-se pelos raios que desciam rasgando o céu, sem piedade. Temia por seu amado marido, que vinha de longe, orando internamente para que ele chegasse antes que aquela chuva cruel começasse a cair.

De relance pensou ter visto uma figura alta, um tipo de vulto, a observando do quintal, mas com um segundo olhar mais atencioso, nada enxergou. Um pouco assustada, esfregou os olhos e suspirou fundo, culpando o sono.

 “Mary parecia estar tão longe daqui.” Um pensamento vazio veio sozinho, repentinamente, fazendo com que Eleanor ficasse mais preocupada ainda com a sobrinha que deixara na cama há algumas horas atrás. Um sentimento vindo de lugar nenhum, que a deixou com medo de ter abandonado a pequenina sozinha naquele quarto, até então assombrado...

                                         Assombrado...?

Resolveu subir as escadarias em espiral até o quarto de sua sobrinha, andando devagar, mas desejando se apressar, porém com medo de tropeçar naquela escada que já havia causado tantos acidentes anteriormente. Subindo degrau por degrau, fazendo a madeira ranger, enquanto se segurava no corrimão, levantava a barra da saia vermelha, até chegar ao corredor de cima. Então se direcionou até a grande porta trabalhada do quarto de Mary, girando a maçaneta prata e empurrando a porta, enquanto batia de leve com as costas das mãos, anunciando sua chegada silenciosa.

- Querida, está com fome? Não comeu nada desde a hora que acordou... – A mulher que entrou com cuidado quebrava o silencio do quarto que se escurecia aos poucos.

 Encontrou a menina que olhava a janela de costas para sua tia, com a tão típica colcha de retalhos em sua cabeça até os seus pés, ela se abraçava com força.

- Um homem. – Marry disse sussurrando.

- Desculpe o que disse? – Eleanor adentrou no quarto, fechando a porta por trás de si, feliz por sua sobrinha estar falando.

- Tem um anjo no quintal titia. – A pequena voltou seu rosto sorrindo de leve, mesmo não entendendo bem o significado de suas próprias palavras.

A tia estranhou e foi andando lentamente para mais perto da menina, evitando fazer barulho. Mary lhe deu passagem para que ela observa-se também o tal suposto anjo que estava no quintal, temendo por ser alguém com más intenções escondido por ali.

E então ele forçou a vista, mas viu a mesma paisagem normal de sempre, o quintal que se entortava todo com a força do vento, sem nada de diferente ali. A não ser por pássaro que estava pousado na árvore perto da janela de Mary. Um pássaro estranho. Era azul e possuía grandes asas, até bem maiores que o corpo. Uma criatura peculiar, e até mesmo bizarra, que ela jamais havia visto em toda sua vida. Mas mesmo assim, não havia nenhum sinal de um anjo no quintal, e imaginou que Mary poderia estar se referindo ao pássaro.

Eleanor olhou para Mary e curvou-se na sua altura encostando a mão na sua testa para medir a temperatura de uma possível febre. A menina estava um gelo como sempre, parecia nunca se esquentar por mais que estivesse agasalhada. Ela não estava com febre, parecia até mesmo perfeitamente saudável, e isso só aumentou sua preocupação quanto à saúde psíquica de sua sobrinha.

Retirou a mão de sua testa, e as duas ficaram se entreolhando em silêncio por alguns segundos, Mary com um nítido olhar confuso sobre sua tia. Eleanor olhou mais uma vez para a árvore em que pousara o pássaro, mas ele já não estava mais lá, como por magia, havia desaparecido. Esfregou os olhos novamente, pensando que deveria dormir mais um pouco, e que os acontecimentos da manhã lhe fizeram mal.

De repente o som da campainha soou ensurdecedor pela casa. Alguém aguardava na porta. E com uma esperança infantil, Eleanor sorriu, torcendo para que fosse seu Christian voltando da longa viagem que fizera.

- Já volto minha querida, vou atender a porta. – E saiu ligeira encaminhando-se para a porta.

Quando a mulher saiu apressada do quarto, Mary já sabia que quem estava na porta era realmente seu tio. Sempre sabia, a campainha dava dois toques rápidos e um longo quando era ele. O que será que ele traria para ela dessa vez?

Novamente olhou para o quintal, mas o homem já não estava mais lá.

Foi até sua cama e retirou seu cobertor, jogando-o de qualquer jeito em cima dos lençóis desarrumados.

Revelou-se então, usando um vestido azul claro, com mangas fofas, um decote princesa contornando seu pescoço fino. Uma grande fita branca, que dava voltas em sua cintura tão fina, e formava um belo laço em suas costas. O vestido lhe caía até pouco acima dos joelhos, e havia rendas em sua borda. Meias três quartos com babados e sapatilhas negras que cintilavam.

O cabelo curto contornava-lhe o rosto, dando uma aparência mais madura, mas ao mesmo tempo infantil, com a franja que lhe caía sobre a testa, invadindo um pouco seus olhos. Um rosto branco, com bochechas levemente avermelhadas. Sem nenhuma maquiagem, sem nenhuma expressão. Grandes olhos azuis, brilhantes, e inocentes. Ela possuía lábios estranhamente sensuais e bem feitos. Com um arco do cupido gracioso, e perfeitamente arredondado. Ela era uma perfeita e frágil boneca de porcelana.

Olhou-se no espelho e quase não reconheceu quem vira. Nunca havia cortado tanto seu cabelo assim. Pegou uma escova e se pôs a penteá-lo com esmero. Os fios logo chegavam ao fim conforme penteava. E percebeu uma leve aparência entristecida nela mesma. Suspirou. Porque já não havia o que dizer.

- Onde está minha linda princesinha? – Mary assustou-se, e deixou a escova cair no chão, virando-se ainda assustada.

- Me desculpe. – O homem de aparência confortadora sorriu, dando uma leve risada. – Devia ter batido antes de entrar Mary.

- Tudo bem... Só estou um pouco assustada hoje. – A menina baixou a cabeça, olhando para o chão e sorriu levemente.

O homem de cabelos castanhos aproximou-se de Mary, lhe dando um terno e carinhoso abraço demorado, apertando e tirando-a de alguns centímetros do chão.

- Seu cabelo está lindo, é bom mudar de vez em quando. – Mary sorriu e covinhas lhe apareceram na face de fantasma.

Christian sentou-se na cama da pequena, fazendo com que o móvel de madeira rangesse, e Marry se sentou do seu lado cruzando as pernas tão adultas.

- Senti sua falta tio Chris. Eu e tia Lea ficamos aqui sozinhas, e temos medo.

- Também senti sua falta meu amor. Não precisa ter medo, nada acontecerá enquanto eu estiver fora. – Passou as mãos nos cabelos ondulados que lhe caíam sobre a face pálida, mas avermelhada.

 O tio carregava uma grande bolsa de couro marrom clara com vários bolsos de todos os lados, e a tirou das costas pousando-a em seu colo.

- Você me parece um pouco triste Mary, espero que o que eu tenho aqui te alegre um pouco. – Ele abriu o zíper da mochila devagar, fazendo um som agradável.

Os olhos de Mary ficaram curiosos, e sua boca se entreabriu. Tentou olhar por cima dos braços do tio que escondiam a bolsa.

- Me mostra! – Ela deu uma risada divertida, contagiante. Que fez até o seu tio rir junto.

Ele estendeu as mãos abertas pra frente como um mímico faz antes de apresentar suas divertidas palhaçadas silenciosas, e ela se acalmou. Então ele abriu a bolsa, e de lá de dentro puxou algo enrolado em um pano branco, com arabescos vermelhos bordados em sua volta. Colocou-o em cima da cama, e foi desenrolando devagar, e do meio do pano surgiu uma pelúcia. Um coelho negro, com grandes orelhas peludas. Vestido com um paletó também negro com detalhes brancos e uma gravata vermelha. Tinha olhos de botões e um sorriso implícito em baixo do nariz rubro e arredondado.

Os olhos de Mary faiscaram, e ela logo pegou o pequeno brinquedo e rodopiou apertando-o conta o peito, sorrindo do orelha a orelha.

- É tão lindo! Tão macio! – Ela agora o erguia para cima, e olhava com felicidade.

- Eu sabia que você ia gostar disso! – O tio também se levantou e carregou a menina no colo girando junto com ela. – Acredita que a maioria o acha assustador?

Christian colocou-a no chão, com o coelho ainda em seus braços finos. E a sola de sua sapatilha ao tocar os tacos de madeira produziu um som aprazível.

- Mas ele é uma graça! – Protestou indignada, com a voz aguda.

Christian concordou com a cabeça e a pendeu para o lado, sem falar por alguns instantes, apenas observando como a menina se parecia com sua tão amada irmã mais nova, como era graciosa e ainda tão jovem, e mal sabia de como fora realmente a morte de sua tão amada mãe, da qual ela tanto sentia saudades. Logo se voltou novamente para o presente, fazendo uma exclamação em voz baixa, lembrando-se de algo mais que ainda fazia parte da surpresa. Então andou depressa e desajeitadamente até a sua bolsa em que tudo cabia.

- Tenho mais uma coisa pra você colocar nele. – Mary o seguiu com pulos.

E então foi tirada da bolsa, uma cartola preta e vermelha com uma pena branca, do tamanho da cabeça do coelho. Mary entusiasmada a tirou das mãos do tio, com um pouco de falta de educação desproposital, e logo o colocou na cabeça de seu mais novo amigo coelho.

Em sua cabeça já pairavam planos de novas roupas que faria para ele. Novos paletós e smokings que deixariam a figura tão sem nenhum resquício de vida em seu corpo de pano e espuma, ainda mais humana.

Ela já o amava, sentia por aquele brinquedo um apreço inestimável e instantâneo. Sentia-se, naquele momento, como se aquele fosse seu tesouro mais precioso e que o guardaria para todo o sempre em total segurança, em um lugar secreto onde somente ela pudesse usá-lo, onde só ela soubesse o caminho e as palavras secretas para se abrir o portão do esconderijo.

Observou Mary sonhar acordada por alguns segundos, com o seu amado coelho, quando se lembrou do que Eleanor lhe disse antes que ele entrasse em seu quarto. Contou-lhe do incidente ocorrido de manhã, e de como Eleanor ficou assustada com o estado da menina.

- Mary. – Seu tio chamou sua atenção e ela logo olhou para ele com os olhos atentos. – Quer-me falar sobre o que aconteceu hoje de manhã?

Emudeceu-se.

- Querida? Está tudo bem?

- Ora, mas o que aconteceu hoje de manhã que não estou lembrada? – Ela sorriu brincalhona.

- Você sabe do que eu estou falando. – Ela balançou a cabeça sorrindo com... Deboche? – Sabe sim. O que há com você?

- Nada tio! Estou bem, não há nada de errado. - Cerrou os olhos, sorrindo de lado, com uma voz exageradamente formal.

Era essa a mesma Mary que há segundos atrás pulava de alegria com uma pelúcia em seus braços? Adotava uma postura diferente, ameaçadora. E quanto aos grandes olhos brilhantes e inocentes? Podia-se dizer que agora eram estranhamente sinistros.

Parecia mais bela do que antes, do que um minuto atrás. A sua voz tinha um tom mais lascivo, digamos assim, e baixo, como de quem conta um segredo.

- Que bom que você está bem, mas se precisar conversar comigo ou com sua tia, não precisa ter medo nem vergonha meu anjo. – Seu tio disse afavelmente.

Ela acenou com a cabeça fazendo que sim, e repetiu “meu anjo” em seu pensamento, quase sem querer. Quase.

Christian continuou olhando para a estranha menina a sua frente, que ela acabara de conhecer, já sem jeito, pois a garota despertava no homem algo estranho, um sentimento nada natural. Pigarreou, e levantou-se alisando suas roupas, querendo sair do quarto.

- Estou faminto, e quanto a você? Sua tia disse que não comeu nada desde a hora em que acordou. – Ele pegou a escova que outrora Mary deixara cair no chão e colocou-a novamente na penteadeira ao lado da cama.

- Estou bem, não sinto fome ainda tio. Mas logo desço para comer alguma coisa. – Sorriu novamente tão doce e delicada. Com seus olhinhos brilhantes outra vez.

De repente uma insegurança surgiu em Christian. Um pensamento surgido da tão estranha garota que ele havia presenciado há minutos atrás.

E se ela na verdade, soubesse exatamente o que estava fazendo, e o que causava?”

Balançou a cabeça em negação, e forçou um sorriso para sua sobrinha que o olhava como quem sabe de tudo. Pegou sua bolsa de couro, e todos os seus movimentos eram seguidos pelos olhos atentos e semicerrados da menina e de seu coelho dos olhos de plástico. Esse nada enxergava, mas parecia ver através de seu pensamento.

A porta se fechou e lá estava Mary sozinha novamente. Agora perdia o interesse no pequeno amigo de pano. Colocou-o na cama, e jogou seus joelhos com força no carpete, como se despencasse. Um profundo sentimento de mágoa a pegou desprevenida. E esse sentimento insistiu para que lágrimas saíssem. E gotas salgadas rolaram pela face já avermelhada, escorrendo pelo pescoço, pingando em seu colo. Não emitia som nenhum, apenas chorava quietinha. Em sua mente, tentou todos os meios possíveis de pedir ajuda. Soluçou. Seus lábios se curvaram em tristeza, suas mãos enxugavam as lágrimas do queixo e limpavam o nariz que escorria. Apoiou as mãos no chão e segurou o carpete com força. Olhou a janela, e a chuva caía com força, acompanhada de furiosos trovões.

Imagens da banheira e de tudo que ouviu lhe invadiram a memória. Medo novamente. Tudo foi preenchido pelo medo. “Eles estão aqui. Eles vieram me pegar”

                                  “Quem sou eu agora? Isso terá fim?

                                     E se não tiver... Que será de mim?”

Uma doce melodia pôs-se a tocar.

- Não chore mon cher. Estou aqui por você. - Alguém falou

Mary se assustou. Então se lembrou dessa voz, já tinha ouvido em algum lugar. Tinha que olhar para trás, e ver quem era. Mas já sabia. Sempre soube, e agora viera para lhe dar alegria. Seu tão sonhado anjo. Virou-se.

                                                  “Pouvez-vous me voir?


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Notas finais do capítulo

Bom, pra ser sincera, não ficou muito como eu esperava que ficasse, mas me agradou.

Se você gostou, mande reviews, se não gostou também. Se tiver algo a me sugerir, por favor não deixe de dizer. E críticas também são muito bem vindas por aqui. ^^

Escrevi no mais puro silêncio dessa casa em que vivo. No mais silencioso cômodo de minha mente.



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