A Princesinha do Olimpo escrita por Phallas


Capítulo 4
Capítulo 4 - Decisão




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"Nada é mais difícil, e por isso mais precioso, do que ser capaz de decidir."

                                     Napoleão Bonaparte

- Seline... vou arrombar essa porta... - Escuto a voz de Físion, depois um baque na porta de madeira do chalé, que permaneceu intacta.

Me levanto e, ainda sonolenta, abro a porta e encontro o sátiro no chão, as pernas de bode para o ar e a mão esfregando a testa. O ajudo a se levantar.

- Essa porta, por acaso, é feita de aço ou coisa parecida?

- O que foi, Físion? - Digo.

- A fogueira é agora. Não achou que ia ficar dormindo para sempre, não é?

- Eu estava cansada e...

- Sim, sim, eu sei. Vá se trocar. Te espero aqui fora e vamos assim que eu arrumar um curativo.

Fecho a porta do chalé e abro o guarda-roupa. Pego a primeira roupa que vejo - um vestido de seda branco - e a visto. Dou uma penteada rápida no cabelo com os dedos.

Saio do chalé e Físion, que estava encostado na porta, cai no chão outra vez. Ele começa a dizer algo parecido com "essas portas não gostam de mim" mas se interrompe quando me vê. Reparo que ele engole com dificuldade.

- Você está... muito bonita... belo vestido... - Gagueja.

- Obrigada. Belos... chifres. - Digo.

- Vamos? - Ele pergunta, me oferecendo o braço.

Passo o meu pelo dele e caminhamos em direção do maior teatro de arena e o lugar, apesar de enorme, está lotado.

Como já era de se esperar, há uma enorme fogueira no meio do teatro, e Quíron tem um microfone nas mãos grandes. Quando nos vê chegando, um grande sorriso toma conta do rosto dele.

- E acho que já devem saber que temos uma pessoa muito especial conosco hoje. - Ele diz, a voz alta e clara.

Todos se viram para procurar a "pessoa muito especial" e eu teria virado para procurar também, se Físion não segurasse meu cotovelo com força e me arrastasse para o centro do teatro.

- Vai, Seline! Urrul! - Ele grita, ao me deixar aqui.

- Esta é Seline Chevalier. É um prazer te ter aqui, filha. - Quíron diz.

Os semi-deuses, antes de pé, agora se ajoelham. Alguns de má vontade, e outros animados e curiosos, como Dominique D'Lembert, que reconheço na multidão de rostos. Vejo também Logan Van Der Wouden, que como todos os outros, agora se levanta, mas sustenta uma expressão desinteressada.

Quíron começa a discursar sobre o que fazemos aqui, e depois o Acampamento canta algumas músicas que desconheço, ao som das liras do chalé de Apolo.

 É claro que tudo seria muito menos constragendor se eu não fosse obrigada a ficar de pé aqui, na frente de todo mundo esse tempo todo. Entretanto, esqueço a vergonha que estou sentindo, quando o rosto de Físion, que estava sumido, aparece no meio de tantos outros rostos, com uma expressão preocupada. Ele faz um sinal com as mãos, mas não é para mim. Quíron para de cantar "Salve a Zeus" na mesma hora e me entrega o microfone.

Tenho certeza absoluta que o assunto sou eu. Não quero ser presunçosa nem nada disso, mas o assunto de tudo aqui ultimamente diz respeito a mim.

Sigo Quíron sem que ele perceba, e o vejo conversando com Físion no escuro.

- Não sei se é uma boa ideia... - Diz o sátiro.

- Mas é isso que eles querem... - Fala o centauro.

- Ainda acho perigoso...

- Ela é forte. Temos que confiar nela a partir de agora...

- Do que estão falando? - Pergunto, me deixando ser percebida.

Físion dá um salto de susto, mas Quíron se vira calmamente com um sorriso no rosto.

- T-temos que ir ao Olimpo, Seline. Agora. - Responde Físion.

- Olimpo? - Repito em voz um pouco alta demais e vejo, só agora me lembrando do microfone em minha mão, minha voz sendo amplificada para o teatro inteiro atrás de mim.

- Olimpo, olimpo, olimpo. - Minha voz ecoa pelo teatro e não há nada que eu possa fazer para impedir.

Todos os semi-deuses param de falar. São dez torturantes segundos em silêncio, até que explodem em falas confusas e emboladas, por serem todas ao mesmo tempo.

- Leve-a até o Olimpo, Físion. - Diz Quíron - Eu os acalmarei. Vão agora.

Do jeito que estamos, eu e o sátiro corremos pela colina e entramos no carro azul-bebê do lado de fora do Acampamento.

                                            ○               ○               ○

Ele dirige em silêncio. Quero fazer perguntas a ele, mas não sei se essa é a hora certa. Se bem que, afinal de contas, quando é a hora certa?

- Físion, o que aconteceu? - Pergunto, finalmente.

Dessa vez, ele não hesita em me responder e nem me dá uma desculpa esfarrapada.

- Eles decidiram o que querem fazer com você. - Físion me diz, e um calafrio percorre minha coluna.

- E o que é? - Indago, embora tenha medo de ouvir a resposta.

- Você saberá quando chegarmos. - Ele responde, e parece estressado, bravo.

Olho pela janela e vejo o Empire State. O caminho foi mais curto dessa vez.

Nós descemos e Antaro, o recepcionista do Olimpo, não está lá. Físion não diz nada, só entra no elevador e aperta o único botão que há - o botão dos deuses. Me pergunto porque Antaro não está e porque o botão está a mostra para qualquer um ver e apertar, mas paro quando olho em volta e vejo o Empire State escuro e vazio.

Quando chegamos ao andar 600º, Físion segura a porta do elevador para que eu passe, mas não me acompanha.

- Acho que você deve ir sozinha. - Ele diz, após ver minha expressão de dúvida. - Ainda estarei aqui quando sair.

Ele me abraça e eu o abraço de volta. O sátiro me dá um sorriso de encorajamento e eu respiro fundo. Muito mais preocupada e nervosa do que estava antes, caminho pela trilha de pedras, mas não vejo nenhum ninfa. Está escuro e a cidade abaixo de mim não possui uma única luz acesa. A única fonte luminosa do lugar vem do palácio dos deuses.

Quando chego à porta, respiro fundo mais uma vez. Com o coração martelando e as mãos tremendo, empurro as portas gigantes.

Dessa vez, os deuses não estão discutindo ou distraídos. Os doze deuses estão em suas formas de gigantes, sentados nos tronos proporcionais. Doze pares de olhos divinos me observam.

- Seline Chevalier. - Diz a voz já familiar de Zeus.


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