Only You escrita por Lúcia Hill


Capítulo 12
Capitulo - Desconfiança


Notas iniciais do capítulo

Javier fora o único que não caira nas mentiras do forasteiro, já que fora o único a ver a morte do pobre Raul Cortez. Estaria se vingando de Luiza?



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/149285/chapter/12

Era manha de sábado e as leves brisas percorriam toda a extensão do casarão, os galos cantavam por todo o quintal, anunciando o alvorecer.

Javier já estava em pé há quase duas horas. Preparava o feno para os cavalos, que estavam nas baias do imenso celeiro. Parecia fazer suas obrigações com raiva bem evidente.

Carlos parou perto da porta do celeiro e cruzou os braços, observando Javier amontoar o feno perto da baia do Relâmpago, como sempre fazia toda manhã.

— Bom dia, Javier. — saudou, desprendendo-se da porta.

Javier nem o encarou, continuou seu dever e apenas balançou a cabeça. Era evidente seu mau humor, gerado pela tal visita do primo morto ou que, pelo menos, todos achavam que estava.

Carlos se aproximou alguns passos, e parou na frente da baia da égua malhada, acariciou o animal.

— Pelo visto, a tal visita de ontem revolveu ressuscitar? — questionou Carlos, afagando o belo animal.

Javier, por fim, parou, limpou a testa suada com a costa da mão, e fungou feito um dos cavalos. Não estava nem um pouco a fim de conversar.

— Quem é vivo sempre aparece, não é? — retrucou.

Carlos se voltou para encará-lo. Ninguém havia engolido aquela história mal contada do rapaz, era praticamente impossível, já que o jovem havia morrido. Só havia um problema, ninguém, além de Javier e o coronel Ernesto, tinha certificado que era o corpo do rapaz ou, pelo menos, o que restara dele, já que morrera preso nas ferragens da caminhonete praticamente destruída pelo fogo.

— Não acredito em milagres. — retrucou Carlos, encarando-o curioso.

— Está insinuando que estou mentindo, peão? — vociferou.

Carlos balançou a cabeça, de forma lenta e negativa. Apenas como os demais, queria compreender se o rapaz que esteve noite passada era Raul Cortez, ou apenas um farsante querendo colocar a mão nos papéis da escritura da fazenda Nova Fronteira.

Javier passou pelo peão, deixando-o sozinho no imenso celeiro. Carlos ficou observando-o desaparecer na direção do casarão.

Cole já havia colocado a mesa do café; o doce aroma dos grãos torrados ia longe. Seu tradicional bolo de milho, coberto por uma leve camada de cobertura de coco estava pronto.

O peão adentrou de forma brusca e sentou-se a mesa, pegou uma caneca para tomar seu café, como sempre fazia. A velha criada ficou observando-o.

— Que é? Também irá me questionar? — perguntou, antes de solver seu gole de café.

Antes que pudesse responder, Luiza adentrou a cozinha e, com um sorriso radiante, sentou-se ao lado oposto do de Javier.

— Que foi, dormiu mal? — questionou, enquanto colocava o café na pequena xícara de porcelana.

Javier levantou-se e saiu, deixando-a sem resposta. Luiza nem deu importância para aquela atitude, continuou a tomar seu café, enquanto conversava com Cole a respeito dos afazeres do casarão.

Javier terminava de empilhar a lenha picada perto da porta da pequena casinha de entrada. Avistou uma caminhonete branca se aproximar de longe, fechou ambos os punhos e trincou os dentes.

Vou desmascarar esse sem vergonha. — pensou, com os olhos fixos na pequena estrada de terra. A caminhonete era praticamente da mesma marca e cor do acidente perto do canto dos santos.

O rapaz saiu do veículo com um sorriso largo no rosto, saudou Javier de longe, nem se quer se aproximou do peão, que mantinha a expressão fechada, com os olhos fixados nele. Rapidamente o jovem seguiu na direção da porta de entrada.

— Deve contar a verdade a senhora Luiza, só assim ela irá acreditar que esse moço não é o senhor Raul. — palpitou Carlos, perto da árvore.

Javier voltou-se para encará-lo, largou a tora que segurava no chão e caminhou para outro rumo.

— Cabeça dura. — murmurou Carlos, pegando a tora e a colocando sobre as demais.

Luiza recepciona o rapaz com imensa alegria. Antes de ambos se assentarem no sofá, pediu para Cole servir duas xícaras de café.

— Vejo que tem pessoas que não estão felizes em me ver. — disse o rapaz, encarando-a.

Luiza fez uma careta a princípio. Esqueceu-se que o peão foi contra ela aceitar aquele rapaz dentro do casarão, mas ela era bem crescidinha para aceitar ou acreditar em qualquer coisa que quisesse.

Ambos ficaram ali, conversando, por algumas horas, fazia anos que não conversava com Raul, e poderia ser enganada muito fácil, já que a última vez que o viu ambos tinham 16 anos.

— Não vejo o porquê de meu pai me falar que você havia morrido. — questionou-o.

Aquela pergunta quase o fizera engasgar com o café. Rapidamente, o rapaz colocou a xícara sobre a mesinha central e a encarou, com um ar de surpreso.

— Também não sei te falar, só que, um dos caras que tentou me matar me falou o nome dele, eu achei impossível, mas depois de quase uma semana preso, comecei a acreditar. — mentiu, de forma descarada.

Luiza se endireitou e permaneceu observando-o, detalhadamente. Parecia um pouco nervoso quando ela tocava no assunto da suposta morte, compreendia que ele ainda temia por sua vida, mas era estranha sua forma de apertar as mãos, uma das coisas que nunca vira Raul fazer, o que se lembra, era de um tique que seu primo tinha no dedo médio.

— Está tudo bem com você? Parece-me nervoso. — perguntou a jovem.

Ele mostrou um sorriso rápido.

— Sim, é que tudo está mudado, você mudou muito, ainda me lembro de quando nos vimos a uns cinco ou dez anos atrás. — balbuciou um pouco confuso.

Luiza arqueou a sobrancelha, eram exatamente uns sete anos apenas, já que o vira pela última vez quando tinha 16 anos e hoje contava 24 anos. Ela apenas sorriu, disfarçada, para ele não desconfiar que ela não engolira sua mentira.

Assim que o rapaz saiu, em direção da caminhonete, se deparou com o peão encostado na sua porta, ele estava segurando o chapéu entre as mãos.

— Veio me questionar, peão? — grunhiu.

Javier levantou seus olhos para encará-lo, mostrou um sorriso irônico e arqueou a sobrancelha, depreendendo-se da caminhonete e dando a passagem para o rapaz.

— Se eu desconfiar que você esteja aprontando, não irei segurar minha imensa vontade de quebrar seus dentes, seu mentiroso, pois sei que o verdadeiro Raul Cortez morreu carbonizado e, outra coisa, ele detestava a família do coronel Braxden. — vociferou.

O rapaz engoliu em seco e se apressou a entrar na caminhonete, antes que acabasse levando uma lição de Javier. Sem demoras, saiu cantando pneu na direção da pequena estrada.

Luiza permaneceu observando a atitude do peão, inerte, no início da pequena escadaria central da entrada. Alguns fatos que Javier havia dito estavam se encaixando com a descrição.

Ao se voltar para trás, deparou-se com o olhar atento da garota, fez uma reverência com a cabeça e caminhou na direção do celeiro.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Boa Leitura!