Chama Branca escrita por kamis-Campos


Capítulo 10
Inconveniente


Notas iniciais do capítulo

Mais um...



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Pov. Greta

- Vem, Luke! – puxei meu irmão pela gola da camiseta, já que ele estava nos atrasando, muito ocupado com seu cachorro quente ultra recheado. Já eram 10h50min e a barca já anunciava sua saída. Corremos até o portão e embarcamos, em direção a Thera.

Estava morrendo de saudades de meus avôs, a empolgação fazendo meus pés quicar. Sentamos nas poltronas ali e a viagem prosseguiu tranqüila, a não ser de meu irmão reclamando que estava com fome. Perto da proa, podia vê as águas escuras do mar Egeu ondularam em colisão ao barco, o céu azul resplandecer sob minha cabeça.

Depois de quatro horas de viagem, ao longe avisto um conjunto magnífico de ilhas, que estavam alinhadas quase que desordenadas. Com seus penhascos e belas casinhas brancas... Santorini!

Abri um sorriso, quando a grande balsa atracou. A multidão no cais se fez presente, então duas cabecinhas grisalhas e pequeninas tentavam a todo custo enxergar alguma coisa. Vislumbrei os olhares folgais de meu avô e o sorriso doce de minha avó. Sai correndo, sem me importar com minhas malas e pulei nos seus pescoços alegre.

- *Μέλι!– minha avó exclamou em seu melodioso grego. - Γιατί ο Θεός είναι όμορφο.

(n/a: tradução- Querida! Por Deus, está linda./ A partir de agora, os diálogos serão sempre em grego, certo?)

Não tive dificuldade em responder, sabia grego fluentemente, como se fosse minha própria língua... E por um lado, era!

- Ah, vó! – respondi a mesma altura, beijando seu rosto marcado. – Senti tantas saudades!

- E eu? – meu avô fingiu-se magoado. – Assim magoa!

- Vô! – o abracei fortemente o baixinho senhor. Ele sorriu e seus olhos brilharam debaixo de seus óculos meia-lua. – Amo tanto vocês! – os abracei de novo, ao mesmo tempo.

- Também querida! – responderam em uníssono. Fui empurrada para lado, pelo Luke que os rodopiou em seus braços.

- Vô, Vó! – exclamou todo feliz, enquanto eu tentava manter o equilíbrio depois do empurrão. Logo depois, minha mãe veio chorando igual a uma criança e abraçou os pais. Ela sempre parecia muito indefesa ao lado deles. Pelo menos não arrumaria barraco por aqui.

Fomos para a casa de meus avôs e todos os meus parentes estavam lá, até as minhas primas louquinhas. Elas só riam e riam, falando besteiras sem sentido me fazendo ri também. Elas eram sempre muito elétricas, mesmo algumas já terem uns trinta e poucos anos.  

Já iriam dar seis horas, a comilança de boas-vindas estava deliciosa, com as maravilhosas comidas grega e bebidas; dança e música, risadas e tudo mais. Fui até obrigada a dançar o *Zebékiko, foi uma vergonha, mas todos aplaudiram no final.

Ria e me divertia como nunca fiz em anos. Estava realmente feliz, a falta do meu pai já não era tão grande, o buraco em meu peito estava anestesiado, não doía tanto assim. Ao som da música grega, meus familiares se divertiam e eu aproveitei para espairecer. Admitia estar um pouco alterada pelos quatro copos de vinho...

Falando sério, estava bêbada. Não sei por quanto tempo andei, só pude constar que já anoitecia. Cambaleei por um caminho íngreme, estava rindo até do vento quando passava por mim. Estava em frente a um casa grande e havia escadaria em direção ao mar, desci e me vi em uma praia.

Meus olhos caíram em um anjo... O anjo do cais em Atenas, o mesmo demônio de meus sonhos. Ele estava na areia, deitado e de olhos fechados. Em condições normais, daria meia-volta e sairia dali; mas como estava totalmente fora de mim, me arrastei para perto dele e muito inconveniente, cutuquei o seu pé.

Ele não se moveu e decidi empurrar, sorrindo igual a uma retardada.

- Ei! – gritei. – Eeiii! – ele abriu um olho e me analisou, me perdi naqueles olhos e aparti dali, nada fez sentido.

Pov Edward

- Nada...  Nada... Vazio... – Benjamin já estava me irritando, com toda essa implicância com comida. Ele insistia em manter as aparências, sendo que nem precisamos disso tudo. Estamos em um local distante o bastante para que ninguém nos perturbe. – Nada... Vazio... Sem comida... E olha só! – abriu o último compartimento do armário. – Nada!

- Benjamin, pelo amor de Cristo, você não está sendo um pouco exagerado? – disse sentado a um dos bancos do balcão. – Se você ainda não percebeu, não precisamos de comida humana para sobreviver...

- Então, Mrs. Esperto, o que você iria fazer se aparecesse uma pessoa de fora aqui, por acaso? – ele se virou, sorrindo sarcástico. – Ah, não! Mas ela também é como nós, não precisa de comida pra sobreviver, não é mesmo?

- eu não me preocuparia com isso! – dei de ombros.

- Claro, nada te perturba. – revirou os olhos, já saindo da cozinha. – Vou ver mais da casa...

- Ok. – eu disse, sabendo que ficarei um pouco em paz por um minuto e isso era um alivio. Já não basta ter um monte de vozes na minha cabeça, ainda tenho que agüentar Benjamin e sua boca que não se fecha.

Aquela incapacitação de meu poder, fora mais do que confuso. Assustou um pouco, mas logo tudo estava normal, portanto isso não me faz deixar de pensar que aquilo fora apenas uma falha. Tinha algo muito estranho ali! Algo realmente importante faltando.

Meu poder nunca durante esse século falhou; jamais tive tal coisa. É surreal demais para acreditar que isso é por causa da idade; inexplicável demais para ter uma certeza de um perigo; inconveniente demais para se pensar a respeito. Eu só sabia que algo estava errado.

Respirei fundo, mesmo sabendo que não é necessário e levantei-me, a fim de espairecer um pouco. Aquilo tudo me cheirava perigo, e eu não sei ao menos porque disso. Convicção era algo que estava além de minhas vontades. Afinal, eu me sentia incrivelmente bem agora, sem nenhuma sensação estranha.

Andei pela casa enorme e quanto mais observava, mais eu tinha certeza de que Alice é obcecada por grandeza e exageros de todos os modos. Lembrar daquela baixinha fez-me suspirar, eu tinha prometido a mim mesmo esquecê-los, mas é difícil apagar aqueles que estão marcados em meu peito, na minha alma eternamente. Principalmente, aquela que sempre foi meu paraíso na Terra.

Sem perceber, já estava do lado de fora da casa, sentei-me a varanda branca que dava para o mar. Eram seis da tarde, e tudo era muito calmo e aconchegante. A varanda rústica em pedras que cobriam todo chão e o pequeno poço construído ali, misturado a cor branca. Florido com peônias, begônias, lírios, entre outras flores que emolduravam o espaço.

Estava enriquecido pela luz solar, que batia em minha pele e resplandecia cintilante. Sentei-me na beiro do murinho branco do parapeito, pendurando minhas pernas. Não tinha como discordar, aquele lugar era e sempre será belo, especialmente de varandas tão formosas.

Lembrava-me como lembranças embaçadas e inacabadas, minha mãe, quando humano dizer-me muito sobre Atenas, principalmente sobre Thera. Para ela, não havia lugar no mundo que se compare aquelas ilhas. Sim, ela tinha razão, não havia comparação.

O mar Egeu a minha frente, do alto dos penhascos de Thera, sentado em uma das varandas brancas das casas de um vilarejo, tudo parece plausível. Qualquer história, até para os meros humanos, faria sentido; até para os mais céticos com uma visão daquelas, seria inevitável não pensar e imaginar qualquer coisa, por mais que seja a mais ridícula.

Até para um vampiro, pois nada parece ser mais inacreditável do que a beleza de Santorini, ou como preferem os sábios gregos, Kallisté, a mais bela de todas as ilhas gregas. Senti-me culpado e triste por um momento, Renesmee ficaria encantada com tudo isso, mas sabia que seria dez passos para trás depois de toda essa jornada.

Tentando afastar tais pensamentos, olhei de imediato para baixo; para o fundo do penhasco que se estendia em minhas vistas. A vegetação rasteira descia pelo imenso paredão de rochas escuras e lisas, que se se aprofundavam em mais de 500 metros de altura. Desliza até um fino tapete de areia escura, então se esbarravam com as águas.

Fiquei tentado descer aquele imenso precipício, mas eu não sou nenhum delinqüente vampiresco. Havia uma pequena portinhola de ferro toda moldada por tribais e flores, na lateral próximo a entrada da casa. Sorri e andei até ela. A estreita e quadrada escadaria de pedras descia em zig zag até a praia dificilmente acessada.

Sem pressa fui até lá, mesmo parecendo cansativo e assustador para muitos, pra mim eu não tive nenhum problema. Já anoitecia, era quase crepúsculo e senti-me mais confortável assim. Sentei-me na areia escura e com vegetação da praia, e desabei de costas no chão. Fechei os olhos, sentindo a brisa salpicada de sal e água; musgo e grama; hortênsias e... Hortênsias??

Um novo cheiro chegou a minhas narinas, fazendo-as inflarem. Era uma mistura de hortênsias e mar, que não era tão forte no começo, mas logo preencheu todo o ar do ambiente. Meus músculos congelaram; minha mandíbula travou e pendi a respiração. Mesmo acostumado com o cheiro, ainda é muito difícil suportá-lo, sem me saciar, primeiro.

Minha garganta coçou fortemente, à medida que a pulsação molhada de um coração jovem se aproximava. Continuei deitado à areia, de olhos fechados e corpo tenso. Pensei que estivesse longe o suficiente para não ser importunado, vejo que estou meramente errado.

Então algo estalou na minha cabeça... Na verdade, algo se silenciou na minha cabeça. As perturbantes vozes dos pensamentos de todo o mundo, haviam se silenciado e só havia um espaço oco em minha mente, em tudo ao meu redor. Não havia mais nada, um grande paredão escuro novamente se instalou, um grande torpor calou a tudo na minha cabeça. Tentei ouvir os pensamentos da pessoa que agora estava na minha frente de pé, mas um grande NADA persistia.

O que será isso? Realmente, comecei a me preocupar. Fiquei meio tonto e apertei ainda mais os olhos, sentia tudo girar, sem nenhum sentido.

- Ei! – um pé delicado empurrou o meu, que obviamente não se moveu. Não me movi e nem me atrevi a falar. Estava a ponto de um hiato. – Eeeiiii! – a pessoa, que pela voz é uma garota, disse aos berros.

- Posso saber do por que de tanta gritaria? – perguntei irritado, abrindo apenas um olho e a fitando. Não passava de seus vinte e cinco anos, tinha a pele clara e levemente corada, os cabelos loiros e com cachos desordenados caindo sobre os ombros. Olhos azuis cintilavam em minha direção e não saber o que ela pensava era atordoante.

- Você. – ergueu uma sobrancelha, endireitando-se em seus ombros e cruzando os braços. – Sabia que é falta de educação evitar as pessoas? Ainda mais fingir-se de surdo?

- O que quer? – disse emburrado, apoiando-me em meus cotovelos. Não estava com paciência para ironias. – Não está muito longe para uma pessoa normal passear por ai?

- Talvez eu não seja lá muito normal! – sorriu faceira. Sentando-se na areia a minha frente, imitando minha posição.

- Bom pra você. – eu disse dando de ombros, e por um longo tempo fiquei em silêncio, esperando que ela fosse embora. Minha garganta ardia mais do que nunca, estava disposto a fazer de tudo para afastar aquele cheiro tentador de sangue humano, sabia que com ela ali tão perto é ainda mais complicado.

- E você... – apertou os lábios em uma linha rígida a me encarar. Podia sentir o cheiro de álcool quando falava! Ai Jesus, era só que me faltava, uma bêbada. – O que faz aqui?

- Eu moro aqui. – disse entre dentes, evitando um rosnado sair por eles. Aquilo era perturbante, minha cabeça estava vazia, meus sentidos desorientados e com sede. Estava mais do que irritado e confuso, louco por uma resposta pra tudo isso, mas tudo que encontro é só mais problemas e um deles... É essa garota!

Ela realmente não entende que está em perigo? A qualquer momento posso atacá-la e isso é algo que não me agrada, seria imperdoável.

- Sozinho? – perguntou quase que imediatamente.

- Não. – murmurei, começando a remexer em um graveto qualquer, disfarçando minha inquietação.

- Com um amigo?

- Sim. – Céus, porque ela simplesmente não cala a boca? A garota apenas fez “Hmmm” e assentiu como se absorvesse tudo que eu falava a cada mínimo detalhe. E isso estava realmente sendo um incomodo, até quando ela irá com esse interrogatório?

- É de onde? – perguntou depois de um minuto de silêncio. Contorci meu corpo um pouco, bufando e forcei a não ser rude.

- Estados Unidos.

- Sério? – sorriu amplamente. Aproximou-se, pondo-se ao meu lado e fazendo com que minha garganta ardesse ainda mais. Afastei-me no mesmo instante para o lado, evitando qualquer contato.  – Sou de Londres!

- Mesmo? – tentei, mas não pude resistir ser sarcástico. – Desde quando? Ah, espere, eu não me importo!

- Você é assim mesmo antipático ou é de lua? – perguntou sorrindo, para logo depois estender a mão com as unhas de preto. – Sou Greta Agnes. – fiquei um tempo olhando para sua mão, mas a peguei enfim.

- Edw...

- Edward. – meditou, interrompendo-me e eu estreitei meus olhos para seu rosto. De onde ela me conhecia? Como é que sabe meu nome?

- Como sabe meu nome? – perguntei ainda a encará-la desconfiado. Isso é esquisito, como eu queria poder ler sua mente. Estava passando dos limites da sanidade ter tudo isso acontecendo tão rápido. Greta, a dita cuja, viu que a desconfiança e espanto pairavam em meu rosto e sorriu.

- Adivinhei. – apressou-se a dizer. Depois dessa, me levantei e sai andando. Minha garganta parecia em labaredas, como se enfiasse um ferro em brasa na minha boca. E para piorar, essa Greta estava me irritando, profundamente. Mal a conheço e já vem tomando partido de toda minha vida? Que coisa, como pode ser tão inconveniente?

 Aquilo estava indo em uma direção muito perigosa, o melhor é evitá-la ou deixar que ela me evite. Nem que isso eu tenha que ser chato e grosso, ignorante para ser exato. Não queria envolvimento com humanos, outra vez.

Bella! Como eu queria a vê como um erro, mas tudo que posso fazer é imaginá-la sendo uma dádiva para minha existência. Um presente perigosamente envolvido de mistérios e problemas, de felicidades e chances; de amor e a eternidade.

Balancei a cabeça violentamente. Será que eu não posso “simplesmente” esquecê-la?

- Olá?? – gritou Greta sarcasticamente, atrás de mim. – Vai mesmo me deixar falando sozinha? – não respondi, continuei meu caminho pela escadaria. – Você é a pessoa mais rude que eu conheci, sabia? IDIOTA! – eu a ouvi bufar e sentar-se na areia novamente.

Que venha um tsunami e a leve. Que droga! De tantos outros moradores dessa cidade, ela tinha mesmo que parar aqui? Garota bêbada irritante. De alguma forma, eu sabia que ela estava apenas bêbada e logo pela manhã nem se lembraria de seu próprio nome, mas eu tinha que ser cauteloso. Não me importava, só queria paz.

Entrei em casa, fechando a porta e jogando-me ao lado de Benjamin no sofá, que assistia a um jogo de beisebol. Sem fins dramáticos, não me contive em pensar em como o sangue da Greta era delicioso, se eu não tivesse força o suficiente, eu não sabia o que aconteceria... Temia o pior!

E algo estalava em minha mente vazia, inquieta! Como aquela mulher sabia meu nome?

Respirei profundamente. Porque meus poderes estavam se esvaindo?


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Notas finais do capítulo

*O Zebékiko é uma dança desgovernada, cujos passos são ditados pelo coração do dançarino. Nesse momento, dizem os gregos, ele põe sua alma para fora.
Gostaram? Fiz meio que na pressa para postar, desculpe se não estar bom!
Bjos!