Novos Começos escrita por Tenteitudo


Capítulo 10
Soluçoes


Notas iniciais do capítulo

Oi, desculpem, passei os últimos 15 dias no hospital com uma pessoa da minha família que está doente... A situação é bem ruim e eu estou exausta, cheguei a brigar com a minha namorada por que nem ela eu consigo ver mais... :(

Acho que vou tentar me organizar para postar capítulos mais curtos com mais freqüência, mas não prometo nada, o medico disse que ela vai permanecer pelo menos mais 10 dias e eu não tenho ninguém que possa ficar lá com ela...

Enfim, dedico o capitulo a todos os meus leitores pacientes, muito obrigada por continuarem lendo :) E pra minha namorada que gritou comigo e me fez gritar de volta, mas foi por uma boa causa... Eu te amo! :)

Abraços, A.



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Estava tão quente. Santana tirou seu casaco e pendurou no cabideiro, não adiantou muito. Ela sentia as palmas das mãos úmidas e sua garganta fechar, a consciência de que olhos azuis observavam suas costas era sufocante. Sr Branca de Neve veio miando da cozinha e se esfregou em suas pernas. De certa forma, era reconfortante... há alguns anos ela teria que se esforçar para não chutar o bichinho, mas agora, ela até que gostava dele...
"Eu estou exausta. Acho que vou tomar um banho e descansar, está bem?" Diz a latina, sem olhar para trás e se dirigindo as escadas.
"Espera San..."A morena mordeu o lábio e parou no segundo degrau. "Acho que precisamos conversar." Brittany se aproximou dela e colocou uma mão no corrimão.
"Britt..."
"Por favor, S, eu não gosto quando a gente não conversa."
Santana respira fundo e se vira, encontrando olhos azuis lacrimejando em sua direção. "Eu... Depois do banho, ok? Prometo que conversaremos depois do banho."
A dançarina aperta a rosa branca em sua mão e faz que sim com a cabeça. "Eu senti saudades S..."
A morena desce os degraus e une seus lábios aos de sua esposa pela primeira vez em dias. "E eu te amo B."
Brittany se agarrou ao contato e levou uma mão ao rosto da latina, tentando prolongar o momento, mas logo elas se afastaram e a loira se viu sozinha no hall de entrada.
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"Natasha." Cumprimentou Rachel com um aceno de cabeça. Uma parte dela estava sentida que fosse Natasha e não Meg a esperando no aeroporto em Chicago. Não era como se ela não gostasse de suas novas assistentes, elas eram necessárias afinal, mas Natasha parecia estar sempre com medo (olhos verdes arregalados e atentos, como se esperassem por algo ruim) e seus cabelos tingidos de loiro passavam tempo demais cobrindo sua face. A diva cogitou a hipótese de comprar um amarrador para ela, ou algo assim, ela gostava de enxergar os olhos das pessoas quando se dirigia a elas.
Pelo menos Vivian, a assistente numero dois, usava os cabelos pretos presos, ou atrás das orelhas. Vivian era bonita e aparentemente inteligente, mas sua animação constante a respeito de absolutamente tudo era um pouco irritante. Seu sorriso era grande e as vezes parecia forçado demais... Na verdade, o que mais irritava Rachel na assistente numero dois era que ela conseguia se identificar com a menina. Quero dizer, pequena morena, excessivamente animada com coisas aleatórias... Soa familiar, não é mesmo? Pelo menos com seu antigo eu... Rachel sinceramente esperava que tivesse mudado com o passar dos anos. (E que Vivian mudasse também... Logo, de preferência.)
"Então, quais são os planos para hoje?" Perguntou a diva, olhando pra a frente enquanto andava pelo aeroporto ao lado da assistente numero um. Ela havia passado a viagem inteira se preparando para o que estava por vir, inclusive uma improvável demissão, mas o que saiu da boca de Natasha a surpreendeu, bem como a ausência de câmeras e repórteres para recepcionar sua chegada.
"Vamos parar no hotel para você se preparar e temos uma hora para chegarmos ao pavilhão das audições."A voz da loira falsa era baixa e isso era outra coisa que irritava a morena. Por que certas pessoas pareciam incapazes de se comunicar em um tom audível para humanos? Isso que seus ouvidos eram excepcionalmente bons graças aos anos de pratica vocal.
"O que?" Rachel franziu a testa, sem ter certeza se havia ouvido direito. Ela estava esperando por reuniões com caras de terno enfurecidos, ameaças de cortes de participação, repercussão da mídia, qualquer coisa, menos ir direto para as audições.
Natasha repetiu o que havia acabado de dizer e guiou a cantora até um carro preto estacionado em área proibida perto da porta do aeroporto. Algumas pessoas a reconheciam pelo caminho e pareciam incertos quanto a se aproximar ou não, alguns acenavam e ela retribuía o gesto com um pequeno sorriso, sentindo-se cansada demais para ser Rachel Berry.
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Casa, pensou Quinn quando abriu a porta do apartamento de Rachel depois de uma viagem de carro relativamente tensa até ali. Ela largou sua mala de mão perto da porta e desejou que Jessie não estivesse com Kurt. Ela não queria ficar sozinha, mas não queria humanos por perto e buscar o cachorro significaria ter que falar com humanos... Talvez mais tarde ela ligasse para Dave. É, ele poderia trazer Jessie e não fazer perguntas ou comentários...
Ela não ascende as luzes, ou abre as janelas, apenas caminha pelo apartamento tão familiar agora e chega ao quarto, sentando na cama e tirando as botas. Ela joga o tronco para trás e suas costas atingem o colchão macio, seus olhos pegam o breve reflexo das estrelas no teto e ela pensa novamente, Casa...
O que era casa? Ela estava em casa? De certa forma sim, mas ao mesmo tempo, não. Ela não sabia mais aonde pertencia e a morte de Judy a fez perceber isso. Seu antigo apartamento nunca havia parecido realmente uma casa para ela, mesmo antes do episodio com Michael, e a Mansão Fabray... Bem, acho que é um pouco obvio que a mansão Fabray não era o lugar mais acolhedor para se viver...
Quinn fechou os olhos e regrediu para o passado por um momento, tentando lembrar de quando era pequena. Imagens começaram a se formar e ela se viu com Olivia, brincando no jardim em um dia de sol, o vento bagunçando seus cabelos e acariciando sua face quando o balanço subia e descia no ritmo que sua irmã mais velha estava estabelecendo. A pressão leve e momentânea das mãos dela em suas costas e uma risada fácil que saia pelos lábios de ambas. Ela sorriu também, ao mesmo tempo em que um lagrima deslizou por sua bochecha, escorrendo pela lateral de seu rosto e entrando em sua orelha. Judy. Sua mãe sorria... Ela estava sentada em uma toalha na grama usando um vestido florido de verão, óculos de leitura e um chapéu de aba gigante. Uma revista qualquer repousava ao seu lado, o vento brincava com as paginas que faziam barulho e ela observava suas duas meninas. E Russel... Russel não estava lá, ele nunca estava lá.
A loira mordeu o lábio e abriu os olhos no escuro, dissolvendo a lembrança. Ela virou de lado e as lagrimas agora corriam silenciosamente e pingavam da ponta de seu nariz. Por alguns poucos momentos, a mansão havia sido sua casa, sua mãe e sua irmã representavam casa. E agora Olivia tinha sua própria família, Daniel e Evelyn. Judy já não existia mais, não fisicamente pelo menos e Russel... Ele nunca contou de verdade. A pessoas que uma vez haviam representado conforto e segurança não estavam mais por perto. Já fazia algum tempo que era assim, mas perder sua mãe a fez perceber o quanto ela era sozinha.
Claro, ela tinha amigos e suas crianças e pessoas que se importavam com ela e NY, mas não era a mesma coisa. Quinn pressionou as costas da mão contra o nariz, não querendo se levantar para procurar papel e continuou chorando. Ela não conseguia parar...
Rachel... Ela tinha Rachel. Mas a morena estava tão longe... Ela abraçou os próprios joelhos. Talvez Quinn pudesse construir um lar com Rachel, assim como Olivia havia feito com Daniel. Elas podiam morar juntas, mas aquele apartamento não era seu, as coisas ali haviam sido escolhidas por outras pessoas, a cama, os móveis, nada era realmente seu.
Ela esfregou os olhos, respirou fundo e sentou devagar. Era isso que ela iria fazer, construir um lar com Rachel. Mas antes ela ia levantar, assoar o nariz, lavar o rosto.
Ela apanhou o telefone celular no caminho e discou o numero que já sabia de cor havia alguns anos.
"Quinn? Você já voltou? Está tudo bem?"
"Sim..." Ela não tinha certeza se conseguiria falar e sua voz saiu tremida e anasalada.
"Você precisa de alguma coisa?"
Ela fez que sim com a cabeça antes de lembrar que Dave não podia vê-la. "Você está ocupado agora?"
"Não, acabei de sair do consultório e estava indo pra casa..." Era um pouco estranho recorrer a Dave Karofsky em uma hora daquelas, mas as coisas haviam mudado tanto desde o ensino médio. "Quer que eu passe ai? Você está em casa?"
Ela hesitou antes de responder que sim mais uma vez. "Será que você pode trazer o Jessie?"
"Sim, claro, eu já to indo pra ai." Ele respondeu prontamente.
"Obrigada..." Falou ela baixinho.
"Tem mais alguma coisa que você precise, Q?"
Ela pensou por um momento, sentindo mais água transbordar por seus ductos lacrimais. "Só um abraço..." Finalizou ela, em um sussurro inaudível.
====/====
Santana deixava a água morna escorrer por suas costas enquanto encarava um ponto fixo na parede do banheiro. Ela estava tão perdida em pensamentos que não percebeu a porta se abrindo e nem o vulto branco através do vidro fosco embaçado. Brittany, por outro lado, estava bem ciente da presença de sua esposa e acompanhava seus movimentos através do Box. Ela precisava da proximidade, mesmo que fosse assim, de certa forma em segredo.
Ela ficou parada, escorada na porta de braços cruzados, esperando. A latina desligou a água e pegou duas toalhas, enxugando o cabelo com uma e enrolando o corpo com outra (o que não deu muito certo considerando-se o tamanho de sua barriga, mas o roupão estava pendurado na porta e a toalha era apenas provisória.)
Foi só quando deu um passo para fora do Box que ela percebeu que não estava sozinha, Brittany estava bem a sua frente, o roupão aberto em suas mãos e os olhos fechados. A morena não pode deixar de sorrir com a visão. "B? O que você está fazendo?"
"Te esperando..." Respondeu ela, sentindo o corpo de sua esposa deslizar para dentro do roupão que segurava. Ela soltou as bordas e Santana ajustou o nó frouxo acima da barriga.
"Obrigada." Ela se virou para encontrar a loira ainda de olhos fechados. "Você sabe que não precisa fechar os olhos... Na verdade, acho que você nunca fez isso antes..."
"As coisas nunca foram assim antes..." Murmurou B, mordendo o lábio.
"Você pode abrir os olhos agora." Ela sentiu um desconforto no estomago ao mesmo tempo em que Valerie se mexeu.
Brittany piscou algumas vezes e sorriu timidamente, se aproximando hesitante. "Podemos conversar agora?"
A latina respirou fundo e fez que sim, levando uma mão ao abdômen e arqueando uma sobrancelha.
"O que foi? Ela está..."
"Sim... Quer sentir?" Perguntou Santana, dando um passo a frente e pegando a mão de Brittany sem esperar por uma resposta. "Ela sempre se mexe assim quando ouve a sua voz, sabia?"
"Sério?"
"Huhum..." A morena posiciona a mão de sua esposa na parte de baixo de sua barriga, mas os movimentos cessaram. "Converse com ela..." Sussurrou San, mantendo a mão da loira firme no lugar.
Brittany dirige seus olhos pra os de Santana e começa a falar. "Oi... Eu não sei o que dizer..."
"Você sempre soube o que dizer, lembra quando descobrimos que eu estava grávida? Você conversava com ela todas as noites, e manhãs, e... o tempo inteiro..." Sorri ela. "Eu sinto falta disso..."
"É estranho agora..."
"O que?"
"Talvez eu tenha gastado todas as palavras cedo demais. Eu realmente não sei o que dizer pra ela." A loira move o polegar para cima e para baixo, tentando encontrar palavras.
San a observa por um momento antes de se afastar. "Acho que o banheiro não é o melhor lugar para se ter essa conversa B..."
...
O quarto parece maior do que o normal, ou talvez menor, Brittany não consegue se decidir, ela nunca vivenciou algo como o que esta vivenciando agora. Culpa. Ela não quer se sentir culpada.
"Então..." Começa Santana, sentando na cama e esticando as pernas, tentando se sentir confortável.
Brittany levanta os olhos do chão e eles caem sobre a morena. "Eu não sei por onde começar S... Eu não sei o que devo fazer agora..." Ela senta aos pés da cama. "Mas eu quero fazer alguma coisa, não quero te perder. Não quero perder a nossa filha e tudo o que temos juntas, San, eu realmente te amo..."
"Você não vai me perder, tudo vai ficar bem, mas a gente precisa resolver algumas coisas, entender o que está acontecendo." Ela não era assim, Santana não sabia como lidar com esse tipo de coisa, mas ela faria o que fosse preciso para preservar o seu amor por Brittany, inclusive mudar. Ela havia mudado tanto pela mulher a sua frente que já não sabia mais como se definir além dela, como se sem Brittany, não restasse mais Santana. E ela sabia que a loira se sentia da mesma forma, elas se sentiam perdidas longe uma da outra. "Eu não sei mais quem eu sou..." Pensou a latina em voz alta, sem querer.
"O que você disse?" Olhos azuis brilharam em sua direção.
Santana levantou a cabeça, ela sabia que não teria como mentir para Brittany e, na realidade, mentir era a ultima coisa que ela pensava em fazer. "Você ouviu... Mas não é ruim, sabe? Não saber mais quem sou."
"Como pode não ser?" B parecia realmente confusa.
"Por que você fez de mim o que eu sou hoje, Britt... E eu não me imagino em uma vida aonde você não exista. Eu não faço a menor ideia do que eu seria agora se não tivesse te conhecido. Você da sentido a tudo o que eu faço." Ela sorri um pouquinho. "Lembra no colégio quando você só queria que eu não tivesse medo de te amar? E eu fingi namorar Karofsky? Eu fiz aquilo por que te amava demais e precisava me proteger, me descobrir de verdade... E sei que continuei sendo covarde e fugindo depois que descobri e demorei séculos para fazer alguma coisa em relação a nós, mas tudo o que eu fiz entre minha declaração no ensino médio e o dia em que te dei aquela flor," Ela gesticula em direção a mesa de cabeceira, aonde a rosa branca descansava ao lado do abajur rosa florido. "foi por sua causa. Todos os namorados que tive, eu não queria te machucar, eu sabia que a única pessoa da qual eu não poderia te proteger era de mim mesma. E até hoje, todos esses anos, nós vivemos tão bem e nossa vida foi tão maravilhosa..." Ela seca uma lagrima que escapou de seu olho e se repreende por chorar. "Mas agora, acho que o inevitável aconteceu e eu estou te machucando de novo... Não quero te machucar."
"San..."
"Então, não se preocupe em me perder e em não saber como começar essa conversa, você não vai me perder, eu nunca poderia te deixar, por que eu só existo por sua causa e você não precisa começar nada, eu vou fazer isso, nosso casamento é minha responsabilidade, eu deveria estar cuidando dele."
"Isso não é verdade." Brittany aperta os olhos, sentindo-se irritada. "Nosso casamento é nossa responsabilidade, esse é o problema, você sempre quer controlar tudo. Eu estou sendo idiota dessa vez, eu fodi com tudo, então, por favor, me deixe levar a culpa."
Santana arregala os olhos, fazia tempo que ela não ouvia Brittany falar dessa forma. "Não foi isso que eu quis dizer..."
"Foi sim, S, você sempre está disposta a levar a culpa, sempre tentando me proteger. Eu tenho 26 anos, acho que não preciso mais ser protegida." Ela levanta da cama e para perto da janela, afastando a cortina e cruzando um braço. "Estou cansada de você se responsabilizar por tudo. Quando eu abri o estúdio, você pagou todas as contas, quando resolvemos nos mudar para uma casa, você tratou com os vendedores de casa... Casamento, doenças, dinheiro, segurança, tudo, você sempre cuidou de tudo. E então, decidimos engravidar e eu fiquei tão feliz." A loira ouve Santana se movendo, mas não vira para ver. "Depois da primeira inseminação em me senti tão bem, era a primeira vez que eu estava tomando responsabilidade por alguma coisa. Era minha responsabilidade te dar um filho San, construir uma família..." Ela sente mãos gentis em seus braços e se esforça para não esquivar-se. "E então o primeiro aborto... Eu lembro do sangue e da dor e como tudo ficou escuro e quando eu acordei no hospital. Você estava lá e mais uma vez, você foi forte por nós duas..."
"B..." A latina vira sua esposa para si e a abraça, depositando um beijo em sua bochecha e sentindo a umidade das lagrimas que agora fluíam livremente.
"E eu me senti tão triste e eu não conseguia acreditar e nem entender que aquela vidinha dentro de mim não existia mais. Mas você me explicou tudo e nós choramos juntas e você disse que podíamos tentar de novo." Ela abaixa os olhos para Santana e percebe que ela também está chorando.
"E nós tentamos de novo..." Murmura a morena.
"E eu perdi de novo e de novo... 3 vezes San. E eu lembro da dor e do sangue e da dor... era como se alguém estivesse arrancando um pedaço da minha barriga, bem em baixo, com uma faquinha de plástico sem ponta, como a rotina extra de exercícios de Sue Sylvester costumava me fazer sentir, só que pior, eu doía inteira S, não só no corpo." Ela leva a mão para a parte baixa de seu próprio abdômen e morde o lábio. "Mas nada disso se comparou ao que eu senti quando, todas as vezes, você aparecia e me dizia a mesma coisa."
2 anos atrás.
Uma dor irritante se construía em sua cabeça, logo acima do olho esquerdo. Dores de cabeça não eram algo comum para Brittany e ela se sentia exausta, mas não sabia o por que. Ela tentou abrir os olhos, mas eles estavam tão pesados... E o esforço fazia a sua cabeça doer ainda mais. Ela podia ouvir um barulho distante, uma voz misturada com um apito, era um som familiar e a loira logo o conectou a Santana, a voz dela e o apito...
"Acorde meu amor..." A voz era suave, quase um sussurro que penetrava diretamente em seu ouvido, as sensações começaram a voltar conforme sua consciência retornava e ela sentiu lábios deslizando por sua face, juntamente com a voz. Era bom... "Por favor, B, abra os olhos..." Brittany percebeu algo um tanto quanto incomum no modo como sua esposa soava e demorou apenas alguns segundos para que ela reconhecesse tristeza. Santana estava chorando. Essa ideia a fez abrir os olhos devagar, retraindo-se quando a luz do aposento encontrou sua retina.
Um teto cinza. Ela não conseguia lembrar-se de nenhum lugar em sua vida que tivesse um teto cinza. E aqueles apitos... A cada Bip sua cabeça pulsava. Sua visão foi entrando em foco lentamente e ela encontrou uma testa morena no travesseiro ao seu lado. "San?"
"Britt..."
"O que está acontecendo?" A dançarina se moveu um pouco, mas uma dor aguda surgiu em seu abdômen e ela sentiu ânsia de vomito junto com falta de ar... "Eu sinto dor S, por que eu sinto dor?"
"Shhh..." Murmurou a morena, ficando em pé e acariciando os cabelos de sua esposa. "B," Ela inspirou profundamente e se forçou a engolir as lágrimas. "aconteceu uma coisa meu amor... Você não lembra do que aconteceu?"
A loira chacoalhou a cabeça, se arrependendo logo em seguida, seus olhos caíram no cano transparente que saia de seu próprio braço e na camisola branca que envolvia seu corpo. "San, por que eu estou no hospital?" Ela mordeu o lábio. "Eu lembro de estar no estúdio e então tudo ficou escuro e antes disso..." Brittany moveu seu braço livre de soro para a barriga e seus olhos se encheram de água. "Nosso bebê, S, o que..."
"Shhh..." Ela a abraça de novo e beija sua testa. "Acho que ele, ou ela, não... Nosso bebê não vai mais nascer B, eu sinto muito." A neurologista desata em lagrimas e Britt enterra o rosto em seu pescoço, tentando absorver o que havia acabado de ouvir, ela nunca fora boa nessas coisas, em entender o que estava acontecendo. "Eu tentei... mas você estava sangrando tanto e... Desculpa."
Brittany não responde, o que ela poderia dizer? Sua cabeça tentava encontrar um motivo para o que havia acontecido, será que era a dança em excesso? Será que ela era fraca? O talvez aquelas mulheres da igreja tivessem razão e Deus a estivesse punindo por ter se casado com outra mulher. Ela nunca havia pensado duas vezes quanto ao seu amor por Santana até aquele momento, talvez se ela fosse um homem, o bebê ficasse bem. Mas isso não fazia sentido, por que como alguém podia ser punido por amar? Ela não havia feito nada de errado. Nunca. Mas ainda assim, ela havia acabado de perder a coisa que mais queria, uma vida. Sua família.
"Mas nós vamos tentar de novo, está bem?" Sussurrou San, contra seu ouvido, se movendo para depositar um beijo em seus lábios.
Ela não queria tentar de novo, ela não queria ter perdido em primeiro lugar, mas ela não podia dizer isso para Santana, ela sabia que sua esposa não iria entender, nem ela mesma entendia. Tentar de novo não parecia certo naquele momento.
"Eu te amo B."
Ela levantou os olhos para sua mulher e a informação pareceu se acomodar em seu cérebro. Não era muito agradável.
"Eu também S." Ela falou baixinho, fechando os olhos e tentando entender por que não estava chorando como Santana.
"E então eu parei de tentar..." Brittany se afastou e abraçou o próprio corpo. "Decidimos que queríamos uma família e eu não consegui te dar isso, San, minha única responsabilidade..."
"Mas nós vamos ser uma família agora, nós já somos..." Santana sente como se houvesse acontecido algum tipo de inversão de papeis entre elas, até mesmo seu modo de falar estava mais parecido com o da loira do que o normal. Talvez fossem os anos de convivência.
"Eu sei, mas era para ser eu. Eu deveria estar grávida, eu queria estar grávida! Eu quero ser mãe, mas não me sinto mãe." Tantas emoções percorrem seu rosto que Santana se sente tonta tentando acompanhar, felicidade, raiva, tristeza e amor.
"Desculpa..." Era tudo o que ela podia dizer. "Eu realmente não sabia que você se sentia assim B."
"Não."
"O que?"
"Você não sabia, você não precisa se desculpar. Me deixa fazer isso, por favor." Ela implora, mas a latina não sabe exatamente pelo que ela está implorando. "Santana?"
San arqueia as sobrancelhas ao ouvir seu nome completo.
"Eu quero que você sente." Ela faz o que a dançarina pede. "E escute."
Brittany fica de cócoras entre suas pernas e descansa a cabeça em seu joelho. Um silêncio estranho cai sobre as duas e os dedos da loira entreabrem o roupão da latina, percorrendo a parte inferior de sua barriga cuidadosamente.
"Desculpa." Começa ela. "Eu sei que tenho me mantido distante ultimamente e não posso nem dizer que foi sem querer por que isso seria mentira. Eu te amo... Amo vocês duas, mas é tão difícil pra mim..." Ela para, sentindo a bebê se mover e sorrindo suavemente. "Ela voltou a mexer, S."
"Ela está respondendo... Ela está dizendo que te ama também..." Murmura a latina, prendendo uma mecha loira atrás da orelha da dançarina e engolindo as próprias lágrimas.
Brittany levanta e senta na cama, ao lado de sua esposa, alcançando sua mão e entrelaçando seus dedos. "Me desculpa, de verdade, eu sinto muito por não ter dado atenção pra você. É só que... É tão difícil te ver vivendo aquilo que eu queria estar experimentando. Eu tenho me sentido tão inútil ultimamente, especialmente quando estou perto de você. É como se eu não fizesse parte disso tudo, como se eu não fosse necessária."
"Mas você é." Responde Santana depois de alguns segundos de silencio. "Eu nunca achei que fosse engravidar, nunca quis engravidar. Se não fosse por você, nada disso estaria acontecendo, a Valerie não estaria entrando em nossas vidas e sinceramente, eu não estaria tão feliz."
"Mas eu não estou te fazendo feliz agora. Já faz dias que eu não te beijo direito, que eu não te toco... Faz mais de um mês que não fazemos sexo. E não é só por causa do bebê por que antes você tocava em mim, mas agora... É estranho e eu me sinto perdida. Não gosto de me sentir perdida, San."
"Eu achei que você não quisesse mais ficar perto de mim, B."
"Será que podemos voltar ao que éramos antes? Eu sei que a Valerie é nossa, apesar de tudo. Nossa filha, de nós duas, mesmo que eu não tenha dado um pedacinho de mim pra ela e eu vou amá-la sempre, por que ela vai ser uma mini-Santana!" Os olhos azuis brilham e a latina ri ao imaginar como será sua filha. "Ela vai ser totalmente linda! E inteligente!"
"E vai cuidar da mãe dela como eu cuido." A neurologista vira o rosto de Brittany para sua direção e pressiona seus lábios contra os dela. "Está tudo bem? Nós estamos bem?"
A loira faz que sim com a cabeça. "Eu prometo que não vou me afastar mais."
"E eu prometo não deixar que você se afaste." Sussurra a morena, beijando-a novamente.
"Será que eu posso te tocar agora?"
Santana responde afastando os cabelos loiros para o lado e traçando uma trilha de beijos pelo seu pescoço.
"San?"
A morena levanta a blusa branca lentamente, sentindo a maciez da pele quase translúcida e fixando seus olhos nos azuis. "Eu realmente senti saudades..."
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Notas finais do capítulo

Comentarios me deixam muito feliz...

Exclusivamente Faberry no próximo e a primeira parte do aniversario da Rachel... A Meg (assistente da Rachel) e a Quinn vão bolar algo especial... ;)